Acessibilidade / Reportar erro

5. Avaliação de fontes emboligênicas

AVALIAÇÃO DE FONTES EMBOLIGÊNICAS

5. Avaliação de fontes emboligênicas

O sucesso do tratamento ou a redução das sequelas na fase aguda do acidente vascular encefálico isquêmico (AVEI) depende fundamentalmente do reconhecimento precoce da doença, da extensão do processo e do diagnóstico etiológico correto. É importante enfatizar que se identifiquem situações que possam mimetizar AVEI e necessitem intervenção imediata (hipoglicemia, encefalopatia hipertensiva, convulsão etc.), para se evitar, em tais circunstâncias, medidas terapêuticas inapropriadas1. Tanto a prevalência como a incidência do AVEI aumentam com a idade e comorbidades associadas. Dados recentes sugerem uma maior incidência de AVEI sucedendo o ataque isquêmico transitório (AIT), principalmente na primeira semana. O risco precoce de AVEI depois de AIT varia de 15%-20% em 90 dias2. Diretrizes mais recentes aconselham que a avaliação e o manuseio dos pacientes com AIT deveriam ocorrer dentro de uma ou duas semanas do evento, na tentativa de se prevenir o risco de futuro AVEI3.

5.1 - Doença cardioembólica

O evento neurológico cardioembólico é definido quando, na ausência de doença cerebrovascular em paciente com AVEI não lacunar, uma potencial fonte cardioembólica é identificada. A evidência de AIT prévio ou AVEI em mais de um território vascular ou embolia sistêmica corrobora o diagnóstico clínico de AVEI cardioembólico. Considerando-se estabelecido o diagnóstico de AVEI ou AIT, a literatura mostra um percentual de cerca de 20% quando se trata de fonte cardioembólica. Essa prevalência pode atingir 40% quando se inclui os AVEI criptogênicos, podendo atingir até 50% em pacientes mais jovens4.

Nesses cenários, o ETT e ETE tornam-se indispensáveis para identificar a etiologia da doença cardioembólica. Embasados em estudo retrospectivo, alguns autores discordam da utilidade da ETE como recurso de rotina diagnóstica nos pacientes com mais de 65 anos de idade5. Análise multivariada ajustada para idade, espessamento da placa ateromatosa, presença de doença coronária e hipertensão arterial identificaram o forame oval patente (FOP) como um fator de risco independente para AVEI criptogênico, tanto em indivíduos jovens como em mais idosos6. Mesmo em pacientes sem evidência clínica de fonte emboligênica cardíaca, a ETE foi bastante útil na prevenção secundária, para AVEI, nos pacientes de baixo risco cardiovascular7. Estudo prospectivo recente, utilizando a ETE com contraste e comparando pacientes com e sem FOP versus pacientes sem e com aterosclerose identificada pelo espessamento médio/intimal da carótida, sugere que um mecanismo não aterosclerótico pode mediar o evento cerebrovascular na presença de FOP8. Quando o AIT ou AVEI ocorre em pacientes de alto risco, o ecocardiograma é fundamental e, diante eventos criptogênicos, a realização da ETE pode elucidar possíveis riscos (Tabela 28). Na presença de trombose pélvica, trombose venosa profunda (TVP), embolia pulmonar (EP) ou síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS), a possibilidade de embolia paradoxical torna-se mais provável9-11, justificando-se uma investigação etiológica mais acurada nesse grupo de pacientes (Tabela 29). A decisão do fechamento do FOP em pacientes com AVEI criptogênico permanece ambígua12,13. A conduta deve ser individualizada conforme cada caso, levando-se em conta a experiência do operador, o pleno esclarecimento do médico da conduta a ser tomada e, obviamente, o consentimento do paciente.

  • 1. Adams, HP Jr, Zoppo G, Alberts MJ, Alberts MJ, Bhatt DL, Brass L, et al. Guidelines for the early management of adults with ischemic stroke. A guideline from the American Heart Association/American Stroke Association Stroke Council, Clinical Cardiology Council, Cardiovascular Radiology and Intervention Council, and the Atherosclerotic Peripheral Vascular Disease and Quality of Care Outcomes in Research Interdisciplinary Working Groups. Stroke. 2007; 38: 1655-711.
  • 2. Wu CM, McLaughlin K, Lorenzetti DL, Hill MD, Manns BJ, Ghali WA. Early risk of stroke after transient ischemic attack: a systematic review and meta-analysis. Arch Intern Med. 2007; 167 (22): 2417-22.
  • 3. Sacco RL, Adams R, Albers G, Benavente O, Furie K, Goldstein LB, et al. Guidelines for prevention of stroke in patients with ischemic stroke or transient ischemic attack: a statement for healthcare professionals from the American Heart Association/American Stroke Association Council on Stroke: co-sponsored by the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention: the American Academy of Neurology affirms the value of this guideline. Circulation. 2006; 113 (10): e409-e49.
  • 4. Cheitlin MD, Armstrong WF, Aurigemma GP, Beller GA, Bierman FZ, Davis JL, et al. ACC/AHA/ASE 2003 guideline update for the clinical application of echocardiography: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. J Am Soc Echocardiogr. 2003; 16 (10): 1091-110.
  • 5. Vitebskiy S, Fox K, Hoit BD. Routine transesophageal echocardiography for the evaluation of cerebral emboli in elderly atients. Echocardiography. 2005; 22 (9): 770-4.
  • 6. Handke, Harloff A, Olschewski M, Hetzel A, Manfred O, Andreas H, et al. Patent foramen ovale and cryptogenic stroke in older patients. N Engl J Med. 2007; 357: 2262-8.
  • 7. Tatani SB, Fukujima MM, Lima JC, Ferreira LDC, Ghefter CGM, Prado GF, et al. Impacto clínico da ecocardiografia transesofágica em pacientes com acidente vascular cerebral sem evidência clínica de fonte emboligênica cardíaca. Arq Bras Cardiol. 2001; 76: 453-7.
  • 8. Rodés-Cabau J, Noël M, Marrero A, Rivest D, Mackey A, Bertrand OF, et al. Atherosclerotic burden findings in young cryptogenic stroke patients with and without a patent foramen ovale. Stroke. 2009; 40: 419-25.
  • 9. Cramer SC, Rordorf G, Maki JH, Kramer LA, Grotta JC, Burgin WS, et al. Increased pelvic vein thrombi in cryptogenic stroke: results of the Paradoxical Emboli from Large Veins in Ischemic Stroke (PELVIS) study. Stroke. 2004; 35: 46-50.
  • 10. Sorensen HT, Horvath-Puho E, Pedersen L, Baron JA, Prandoni P. Venous thromboembolism and subsequent hospitalization due to acute arterial cardiovascular events: a 20-year cohort study. Lancet. 2007; 370: 1773-9.
  • 11. Santana GF, Mendes DM. Associação de forame oval patente e síndrome da apnéia obstrutiva do sono como causa de acidente vascular cerebral. Rev Bras Ecocardiogr Imagem Cardiovasc. 2009; 22 (1): 65-8.
  • 12. Windecker S, Meier B. Patent foramen ovale and cryptogenic stroke: to close or not to close? Closure: what else! Circulation. 2008; 118: 1989-98.
  • 13. Messé SR, Kasner SE. Patent foramen ovale in cryptogenic stroke: not to close. Circulation. 2008; 118: 1999-2004.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Jul 2010
  • Data do Fascículo
    Dez 2009
Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC Avenida Marechal Câmara, 160, sala: 330, Centro, CEP: 20020-907, (21) 3478-2700 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil, Fax: +55 21 3478-2770 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@cardiol.br