Palavras-chave
Hipertrofia Ventricular Esquerda; Diagnóstico por Imagem; Eletrocardiografia/métodos; Ecocardiografia/métodos; Cardiomiopatia Hipertrófica; Disfunção do Ventrículo Esquerdo
Keywords
Hypertrophy, Left Ventriculat; Diagnostic Imaging; Electrocardiography/methods; Echocardiography/methods; Cardiomyopathy, Hypertrophic; Ventricular Dysfunction, Left
Palavras-chave
Hipertrofia Ventricular Esquerda; Diagnóstico por Imagem; Eletrocardiografia/métodos; Ecocardiografia/métodos; Cardiomiopatia Hipertrófica; Disfunção do Ventrículo Esquerdo
Keywords
Hypertrophy, Left Ventriculat; Diagnostic Imaging; Electrocardiography/methods; Echocardiography/methods; Cardiomyopathy, Hypertrophic; Ventricular Dysfunction, Left
A Hipertrofia Ventricular Esquerda (HVE) é definida como um aumento da massa do ventrículo esquerdo (VE), que pode ser secundária a um aumento da espessura das paredes (HVE concêntrica), aumento do tamanho da cavidade (HVE excêntrica) ou ambos. A apresentação do VE hipertrofiado depende principalmente da doença subjacente, sendo a HVE concêntrica resultante na maioria dos casos da sobrecarga de pressão no VE (hipertensão arterial ou estenose aórtica), enquanto a HVE excêntrica depende principalmente das sobrecargas de volume no VE (insuficiências mitral e aórtica) e cardiomiopatias dilatadas. Outras causas de HVE incluem os defeitos do septo ventricular, cardiomiopatia hipertrófica e alterações fisiológicas associadas ao treinamento atlético.1
A presença de HVE é clinicamente importante por estar associada com aumento da incidência de insuficiência cardíaca, arritmias ventriculares, insuficiência vascular periférica, dilatação da aorta, eventos cerebrovasculares e morte súbita ou após infarto do miocárdio.2
A HVE pode ser diagnosticada pelo eletrocardiograma (ECG) ou pelo ecocardiograma, sendo este o procedimento de escolha por ter sensibilidade muito maior que o ECG.3 O ECG é uma ferramenta útil, mas imperfeita na detecção da HVE; sua utilidade se deve principalmente ao baixo custo e sua disponibilidade universal, sendo realizado rotineiramente nas avaliações cardiológicas. O ecocardiograma tem um custo maior, mas não exagerado, e também tem estado amplamente disponível. Ainda, para avaliação da massa ventricular são empregadas as técnicas mais acessíveis do método. Em poucas situações a ressonância magnética cardíaca pode ser necessária, só quando as condições técnicas inviabilizem a avaliação ecocardiográfica.4
O cálculo da massa ventricular esquerda pela ecocardiografia pode ser feito por diferentes técnicas – unidimensional, bidimensional ou tridimensional, mas sempre com o objetivo de quantificar o miocárdio daquela câmara, baseado em fundamentos comuns e, portanto, com resultados semelhantes. Os padrões de normalidade são preconizados pelas associações internacionais de ecocardiografia (ASE, EACI)5 e endossados pela maioria dos autores.6 Desta forma se observa na ecocardiografia uma uniformidade dos resultados da HVE, baseados em poucos parâmetros estudados.5,6
Na eletrocardiografia a situação é oposta. Já em 1969, Romhilt et al.7 descreviam 33 critérios eletrocardiográficos para o diagnóstico de HVE, e todos se mostravam com baixa sensibilidade.7 No correr dos anos, alguns critérios se solidificaram como os mais empregados na prática clínica para o diagnóstico da HVE no ECG, mas ainda não há consenso nesta seleção. Em artigo recente, Wang et al.,8 estudaram o desempenho de sete critérios do ECG em pacientes chineses com HVE no ecocardiograma. Encontraram uma sensibilidade de 15%-31,9% e especificidade de 91,6%-99,2% na amostra global, com melhor sensibilidade na HVE concêntrica. Os melhores descritores de HVE nesta pesquisa8 foram os critérios de Sokolow-Lyon voltagem, Cornell voltagem, Cornell produto e R aVL voltagem.
Povoa et al.,9 em publicação nesta revista, estudaram 13 critérios eletrocardiográficos de HVE em 2458 pacientes hipertensos submetidos a ecocardiograma, classificados pela faixa etária e submetidos a rigorosa análise estatística. Entre os pacientes com idade ≥ 80 anos tiveram melhor desempenho os critérios de Perugia (sensibilidade 44,7%, especificidade 89,3% e DOR - diagnostic odds ratio: 6,8) e (Rmax + Smax) x duração (sensibilidade 39,4%, especificidade 91,3%, DOR 6,8). Nos pacientes com idade < 80 anos, além destes índices citados, o critério de Narita, descrito em 2019,10 também teve um bom desempenho. Nesta pesquisa, tradicionais índices tiveram sensibilidade diagnóstica inferior: Sokolow-Lyon voltagem > 35 mm com 12%-15,7% nas diferentes faixas etárias e Cornell voltagem com 17,3%-21% de sensibilidade.9
Entendemos, em conclusão, que o eletrocardiograma continua sendo importante ferramenta na prática cardiológica diária, bastante valioso quando indica HVE, mas com sensibilidade diagnóstica ainda modesta, apesar das novas pesquisas nesta área.
Referências
- 1 Levy D, Garrison RJ, Savage DD, Kannel WB, Castelli WP. Left ventricular mass and incidence of coronary heart disease in an elderly cohort. The Framingham Heart Study. Ann Intern Med.1989;110(2):101-7.
- 2 Eskerud I, Gerdts E, Larsen TH, Lonnebakken MT: Left ventricular hypertrophy contributes to myocardial ischemia in non-obstructive coronary artery disease (the MicroCAD study. Int J Cardiol. 2019;286:1-6.
- 3 Verdecchia P, Carini G, Circo A, Dovellini E, Giovannini E, Lombardo M et al. Left ventricular mass and cardiovascular morbidity in essential hypertension: the MAVI study. J Am Coll Cardiol. 2001; 38(7):1829-35.
- 4 Devereux RB: Is the electrocardiogram still useful for detection of left ventricular hypertrophy? Circulation. 1990;81(3):144-6.
- 5 Lang RM, Badano LP, Mor-Avi V, Afilalo J, Armstrong A, Ernande L, et al. Recommendations for cardiac chamber quantification by echocardiography in adults: an update from the American Society of Echocardiography and the European Association of Cardiovascular Imaging. J Am Soc Echocardogr. 2015; 28(1):1-39.
- 6 Barberato SH, Romano MMD, Beck ALS, Rodrigues ACT, Almeida ALC, Assunção BMBL, et al. Posicionamento sobre indicações da ecocardiografia em adultos – 2019. Arq Bras Cardiol. 2019;113(1):135-81.
- 7 Romhilt DW, Bove KE, Norris RJ, Conyers E, Conradi S, Rowlands DT, et al. A critical appraisal of the electrocardiographic criteria for the diagnosis of left ventricular hypertrophy. Circulation. 1969; 40(2):185-95.
- 8 Wang D, XU JZ, Zhang W, Chen Y, Li J, An Y, et al. Performance of electrocardiographic criteria for echocardiographically diagnosed left ventricular hypertrophy in Chinese hypertensive patients. Am J Hypertens. 2020; 33(9)831-6.
- 9 Povoa FF, Luna-Filho B, Bianco HT, Amodeo C, Povoa R, Bombig MTN. Desempenho do Eletrocardiograma no diagnóstico da hipertrofia ventricular esquerda em hipertensos idosos e muito idosos. Arq Bras Cardiol. 2021; 117(5):924-931.
- 10 Narita M, Yamada M, Tsuchima M,Kudo N, Kato T, Yokono Y Novel electrocardiographic criteria for the diagnosis of left ventricular hypertrophy in the Japanese general population. Int Heart J. 2019; 60(3):679-87.