Resumos
A eficiência das estirpes de Bradyrhizobium com características Hup+ (SR e USDA-110), Hup- (29W) e Hup hr (SEMIA-587) foi avaliada em caupi (Vigna unguiculata L.), cultivares IPA-202, BR-3 e VITA-4. Os resultados mostraram que VITA-4, em relação à nodulação, revelou-se superior às demais, e apresentou interação efetiva com as estirpes SEMIA-587 e USDA-110. Entretanto, quanto à eficiência nodular, a combinação IPA-202 x SEMIA-587 alcançou maior atividade da nitrogenase (ARA) com eficiência relativa próxima a 1,0. A ARA detectada nas estirpes SR e SEMIA-587 foi similar, porém, superior às estirpes USDA-110 e 29W, evidenciando que as estirpes Hup+ e Hup hr alcançaram maiores atividades enzimáticas. Os teores de leghemoglobina (Lb) detectados nas estirpes SR e USDA-110 foram positivamente relacionados com as respectivas ARA, contudo, a relação entre teor de Lb e ARA obtido para 29W-Hup- foi variável, sugerindo que, na ausência da hidrogenase, o sistema da nitrogenase fica afetado podendo influir no fluxo de Lb ao bacteróide. A avaliação do teor de N mostrou que não houve diferença entre cultivares, entretanto, foi detectada diferença significativa entre as estirpes. As estirpes Hup+ obtiveram maiores acúmulos de N, evidenciando que os sistemas simbióticos que menos liberam H2, acumulam mais N no hospedeiro.
Hup; hidrogenase; fixação de N2; nodulação; Vigna unguiculata
The effectiveness of Bradyrhizobium strains with characteristics Hup+ (SR and USDA-110), Hup- (29W) and Hup hr (SEMIA-587), was evaluated in cowpea (Vigna unguiculata L.), cultivars IPA-202, BR-3 and VITA-4. Results showed that nodulation in VITA-4 was superior, with a positive interaction when inoculated with strains SEMIA-587 and USDA-110. However, when comparing nodule efficiency, the combination IPA-202 x SEMIA-587 presented the highest nitrogenase activity, with a relative efficiency around 1.0. Nitrogenase activities were similar in plants inoculated with the strains SR and SEMIA-587, and higher, with strains USDA-110 and 29W. These results indicate that strains with Hup+ and Hup hr were able to achieve higher enzymatic activities. Leghemoglobin (Lb) content detected in strains SR and USDA-110 was positively correlated to nitrogenase activity. However, correlations between Lb and nitrogenase activity were highly variable in nodules containing strain 29W-Hup-, indicating that imbalances in the nitrogenase system in the absence of hydrogenase may affect the flow of Lb to the bacteroids. Significant differences on the plant N content were found among the strains studied, but not among cultivars. Plant inoculated with Hup+ strains were more efficient to accumulate N, indicating that N-fixing systems retaining H2 may accumulate additional N in the host.
Hup; hydrogenase; N2 fixation; nodulation; Vigna unguiculata
Eficiência simbiótica de estirpes Hup+, Huphr e Hup- de Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium elkanii em cultivares de caupi1 1 Aceito para publicação em 29 de setembro de 1998. 2 Bióloga, Centro de Citricultura, IAC, Rod. Anhangüera, Km 158, Caixa Postal 4, CEP 13490-000 Cordeirópolis, SP. Bolsista RHAE/CNPq. 3 Eng. Agr., Ph.D., Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA), Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. Bolsista do CNPq. E-mail: burity@ipa.br 4 Bióloga, Dr a, IPA. Bolsista do CNPq. 5 Bióloga, Estudante de mestrado, Dep. de Solos, UFRPe, Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. 6 Bióloga, M.Sc., Estudante de doutorado, Michigan State University, A378 PSSB, East Lansing, MI 48824, USA. E-mail: melottom@pilot.msu.edu 7 Eng a Agr a, Dr a, Laboratório de Biologia Celular e Molecular, CENA-USP, Av. Centenário, 303, CEP 13416-000 Piracicaba, SP. E-mail: tsai@cena.usp.br
Alessandra Alves de Souza2 1 Aceito para publicação em 29 de setembro de 1998. 2 Bióloga, Centro de Citricultura, IAC, Rod. Anhangüera, Km 158, Caixa Postal 4, CEP 13490-000 Cordeirópolis, SP. Bolsista RHAE/CNPq. 3 Eng. Agr., Ph.D., Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA), Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. Bolsista do CNPq. E-mail: burity@ipa.br 4 Bióloga, Dr a, IPA. Bolsista do CNPq. 5 Bióloga, Estudante de mestrado, Dep. de Solos, UFRPe, Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. 6 Bióloga, M.Sc., Estudante de doutorado, Michigan State University, A378 PSSB, East Lansing, MI 48824, USA. E-mail: melottom@pilot.msu.edu 7 Eng a Agr a, Dr a, Laboratório de Biologia Celular e Molecular, CENA-USP, Av. Centenário, 303, CEP 13416-000 Piracicaba, SP. E-mail: tsai@cena.usp.br , Hélio Almeida Burity3 1 Aceito para publicação em 29 de setembro de 1998. 2 Bióloga, Centro de Citricultura, IAC, Rod. Anhangüera, Km 158, Caixa Postal 4, CEP 13490-000 Cordeirópolis, SP. Bolsista RHAE/CNPq. 3 Eng. Agr., Ph.D., Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA), Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. Bolsista do CNPq. E-mail: burity@ipa.br 4 Bióloga, Dr a, IPA. Bolsista do CNPq. 5 Bióloga, Estudante de mestrado, Dep. de Solos, UFRPe, Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. 6 Bióloga, M.Sc., Estudante de doutorado, Michigan State University, A378 PSSB, East Lansing, MI 48824, USA. E-mail: melottom@pilot.msu.edu 7 Eng a Agr a, Dr a, Laboratório de Biologia Celular e Molecular, CENA-USP, Av. Centenário, 303, CEP 13416-000 Piracicaba, SP. E-mail: tsai@cena.usp.br ,Márcia do Vale Barreto Figueiredo4 1 Aceito para publicação em 29 de setembro de 1998. 2 Bióloga, Centro de Citricultura, IAC, Rod. Anhangüera, Km 158, Caixa Postal 4, CEP 13490-000 Cordeirópolis, SP. Bolsista RHAE/CNPq. 3 Eng. Agr., Ph.D., Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA), Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. Bolsista do CNPq. E-mail: burity@ipa.br 4 Bióloga, Dr a, IPA. Bolsista do CNPq. 5 Bióloga, Estudante de mestrado, Dep. de Solos, UFRPe, Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. 6 Bióloga, M.Sc., Estudante de doutorado, Michigan State University, A378 PSSB, East Lansing, MI 48824, USA. E-mail: melottom@pilot.msu.edu 7 Eng a Agr a, Dr a, Laboratório de Biologia Celular e Molecular, CENA-USP, Av. Centenário, 303, CEP 13416-000 Piracicaba, SP. E-mail: tsai@cena.usp.br , Maria Luiza Ribeiro Bastos da Silva5 1 Aceito para publicação em 29 de setembro de 1998. 2 Bióloga, Centro de Citricultura, IAC, Rod. Anhangüera, Km 158, Caixa Postal 4, CEP 13490-000 Cordeirópolis, SP. Bolsista RHAE/CNPq. 3 Eng. Agr., Ph.D., Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA), Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. Bolsista do CNPq. E-mail: burity@ipa.br 4 Bióloga, Dr a, IPA. Bolsista do CNPq. 5 Bióloga, Estudante de mestrado, Dep. de Solos, UFRPe, Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. 6 Bióloga, M.Sc., Estudante de doutorado, Michigan State University, A378 PSSB, East Lansing, MI 48824, USA. E-mail: melottom@pilot.msu.edu 7 Eng a Agr a, Dr a, Laboratório de Biologia Celular e Molecular, CENA-USP, Av. Centenário, 303, CEP 13416-000 Piracicaba, SP. E-mail: tsai@cena.usp.br , Maeli Melotto6 1 Aceito para publicação em 29 de setembro de 1998. 2 Bióloga, Centro de Citricultura, IAC, Rod. Anhangüera, Km 158, Caixa Postal 4, CEP 13490-000 Cordeirópolis, SP. Bolsista RHAE/CNPq. 3 Eng. Agr., Ph.D., Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA), Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. Bolsista do CNPq. E-mail: burity@ipa.br 4 Bióloga, Dr a, IPA. Bolsista do CNPq. 5 Bióloga, Estudante de mestrado, Dep. de Solos, UFRPe, Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. 6 Bióloga, M.Sc., Estudante de doutorado, Michigan State University, A378 PSSB, East Lansing, MI 48824, USA. E-mail: melottom@pilot.msu.edu 7 Eng a Agr a, Dr a, Laboratório de Biologia Celular e Molecular, CENA-USP, Av. Centenário, 303, CEP 13416-000 Piracicaba, SP. E-mail: tsai@cena.usp.br e Siu Mui Tsai7 1 Aceito para publicação em 29 de setembro de 1998. 2 Bióloga, Centro de Citricultura, IAC, Rod. Anhangüera, Km 158, Caixa Postal 4, CEP 13490-000 Cordeirópolis, SP. Bolsista RHAE/CNPq. 3 Eng. Agr., Ph.D., Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA), Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. Bolsista do CNPq. E-mail: burity@ipa.br 4 Bióloga, Dr a, IPA. Bolsista do CNPq. 5 Bióloga, Estudante de mestrado, Dep. de Solos, UFRPe, Caixa Postal 1022, CEP 50761-000 Recife, PE. 6 Bióloga, M.Sc., Estudante de doutorado, Michigan State University, A378 PSSB, East Lansing, MI 48824, USA. E-mail: melottom@pilot.msu.edu 7 Eng a Agr a, Dr a, Laboratório de Biologia Celular e Molecular, CENA-USP, Av. Centenário, 303, CEP 13416-000 Piracicaba, SP. E-mail: tsai@cena.usp.br
Resumo - A eficiência das estirpes de Bradyrhizobium com características Hup+ (SR e USDA-110), Hup- (29W) e Huphr (SEMIA-587) foi avaliada em caupi (Vigna unguiculata L.), cultivares IPA-202, BR-3 e VITA-4. Os resultados mostraram que VITA-4, em relação à nodulação, revelou-se superior às demais, e apresentou interação efetiva com as estirpes SEMIA-587 e USDA-110. Entretanto, quanto à eficiência nodular, a combinação IPA-202 x SEMIA-587 alcançou maior atividade da nitrogenase (ARA) com eficiência relativa próxima a 1,0. A ARA detectada nas estirpes SR e SEMIA-587 foi similar, porém, superior às estirpes USDA-110 e 29W, evidenciando que as estirpes Hup+ e Huphr alcançaram maiores atividades enzimáticas. Os teores de leghemoglobina (Lb) detectados nas estirpes SR e USDA-110 foram positivamente relacionados com as respectivas ARA, contudo, a relação entre teor de Lb e ARA obtido para 29W-Hup- foi variável, sugerindo que, na ausência da hidrogenase, o sistema da nitrogenase fica afetado podendo influir no fluxo de Lb ao bacteróide. A avaliação do teor de N mostrou que não houve diferença entre cultivares, entretanto, foi detectada diferença significativa entre as estirpes. As estirpes Hup+ obtiveram maiores acúmulos de N, evidenciando que os sistemas simbióticos que menos liberam H2, acumulam mais N no hospedeiro.
Termos para indexação: Hup, hidrogenase, fixação de N2, nodulação, Vigna unguiculata.
Symbiotic efficiency of Hup+, Huphr and Hup-Bradyrhizobium japonicum and Bradyrhizobium elkanii strains in cowpea cultivars
Abstract - The effectiveness of Bradyrhizobium strains with characteristics Hup+ (SR and USDA-110), Hup- (29W) and Huphr (SEMIA-587), was evaluated in cowpea (Vigna unguiculata L.), cultivars IPA-202, BR-3 and VITA-4. Results showed that nodulation in VITA-4 was superior, with a positive interaction when inoculated with strains SEMIA-587 and USDA-110. However, when comparing nodule efficiency, the combination IPA-202 x SEMIA-587 presented the highest nitrogenase activity, with a relative efficiency around 1.0. Nitrogenase activities were similar in plants inoculated with the strains SR and SEMIA-587, and higher, with strains USDA-110 and 29W. These results indicate that strains with Hup+ and Huphr were able to achieve higher enzymatic activities. Leghemoglobin (Lb) content detected in strains SR and USDA-110 was positively correlated to nitrogenase activity. However, correlations between Lb and nitrogenase activity were highly variable in nodules containing strain 29W-Hup-, indicating that imbalances in the nitrogenase system in the absence of hydrogenase may affect the flow of Lb to the bacteroids. Significant differences on the plant N content were found among the strains studied, but not among cultivars. Plant inoculated with Hup+ strains were more efficient to accumulate N, indicating that N-fixing systems retaining H2 may accumulate additional N in the host.
Index terms: Hup, hydrogenase, N2 fixation, nodulation, Vigna unguiculata.
Introdução
Na redução da molécula de N2 a NH3 , no processo biológico da fixação do N2, é inevitável a liberação do H2, envolvendo, assim, um gasto adicional de energia-ATP e de outros redutores, que são fornecidos pelo metabolismo do hospedeiro. Entretanto, quando a inoculação rizobiana é realizada com estirpes de Rhizobium e Bradyrhizobium que possuem atividade da hidrogenase positiva Hup+, a oxidação do H2 liberado pela nitrogenase é realizada através de uma reação independente de ATP, reciclando H+ e liberando ATP, produzindo, desta forma, uma economia substancial de substratos de carbono (McRae et al., 1978), e, conseqüentemente, uma economia energética da fixação biológica do N2.
Segundo Mellor & Werner (1990), a inoculação de estirpes Hup+ em leguminosas reduziu as perdas do fluxo de elétrons para a atividade da nitrogenase de 30% para 4%. O contrário foi observado com as estirpes denominadas Hup- (Siqueira & Franco, 1988). Outros autores sugerem que a quantidade de H2 liberado na síntese da enzima nitrogenase e hidrogenase depende da bactéria (Dixon, 1967; Carter et al., 1978). Lima (1981) verificou uma relação positiva entre eficiência relativa dentro das cultivares, dentro das estirpes, e da interação destes com o teor de N das plantas, e é confirmado por Hungria & Neves (1986), que concluíram, em trabalhos com feijoeiro, que a liberação do H2 pelos nódulos segue a atividade da nitrogenase, e os sistemas simbióticos que liberam maior quantidade de H2 acumularam menores teores de N fixado nos tecidos, e houve efeito da cultivar e da estirpe na eficiência relativa dos elétrons destinados à nitrogenase.
Em relação ao transporte de N, Hungria et al. (1989), utilizando estirpes isogênicas com diferenças em relação ao gene hup, concluíram que a eficiência do nódulo formado (mg N2 fixado por grama de nódulo em peso de matéria seca) foi significantemente maior para as estirpes Hup+, o que confirma diferenças no metabolismo do nódulo. A inoculação com estirpes Hup+ pode otimizar o processo de fixação de N2, reduzindo a perda de N em folhas senescentes, com conseqüente aumento da eficiência de translocação de N para as sementes (Neves & Hungria, 1987).
Em feijoeiro, segundo Pahwa & Dogra (1983), os efeitos resultantes da utilização de estirpes contendo hidrogenase mostraram aumentos da ordem de 14-53% e 21-65% no peso da matéria seca e no N total das plantas, respectivamente, em relação às plantas inoculadas com estirpes que não apresentam hidrogenase.
Kalia et al. (1985), em trabalhos com soja infectada com estirpes Hup+ e Hup-, afirmam que a maior eficiência da estirpe com hidrogenase está relacionada apenas a uma maior atividade específica da nitrogenase, sendo indiferente se a enzima hidrogenase está presente ou não.
Existe um efeito do genótipo da planta hospedeira sobre a atividade Hup, que tem sido identificado em experimentos feitos com diferentes espécies de leguminosas infectadas com a mesma estirpe de rizóbio. Por uma razão qualquer, não conhecida, o fenótipo Hup+ é reprimido de acordo com o hospedeiro. Sendo assim, um terceiro fenótipo em termos de expressão da atividade da hidrogenase tem sido estabelecido: Huphr (hydrogen uptake host-regulated) (Van Berkum, 1990).
Rodrigues (1992) chama a atenção para os resultados que indicam a influência dos hospedeiros na expressão da enzima hidrogenase, porque isto poderia levar a conclusões errôneas sobre a caracterização da estirpe quanto ao gene hup, e sugere que a enzima hidrogenase provavelmente apresenta funções diferentes, de acordo com a espécie estudada, e os benefícios de sua atividade seriam variáveis conforme o macrossimbionte.
Há diferentes hipóteses e controvérsias sobre a influência da inoculação de estirpes Hup+ e Hup- na eficiência do processo da fixação simbiótica do N2. O presente trabalho foi elaborado com o objetivo de determinar a eficiência de algumas estirpes de Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium elkanii com características Hup+, Huphr e Hup- no desenvolvimento do caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.).
Material e Métodos
O experimento foi instalado em casa de vegetação, no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP), utilizando-se vasos de Leonard (1,0 L), com vermiculita e sílica, na proporção 2:1, autoclavados por uma hora, a 120ºC. Todos os vasos receberam semanalmente 750 mL de solução nutritiva (Hoagland & Arnon, 1950) modificados por Contado (1990), e completados com água esterilizada ou solução nutritiva, quando necessário.
Foram utilizadas quatro estirpes de Bradyrhizobium, com características definidas, sendo duas Hup+, denominadas SR e USDA-110 (ambas B. japonicum), uma Hup-, denominada 29W (B. elkanii), e uma Huphr, denominada SEMIA-587 (B. elkanii), que apresenta a característica Hup+ regulada pelo hospedeiro.
As estirpes cresceram em meio sólido YM, e, posteriormente, em meio líquido (Vincent, 1970), a 28oC, com agitação até alcançarem uma população de 108 células/mL.
As cultivares utilizadas foram: IPA-202 (Empresa IPA); BR-3 (Embrapa-CNPAF); VITA-4 (Embrapa-CPATU). As sementes foram esterilizadas com hipoclorito de sódio 10%, pré-germinadas, e, após quatro dias, transplantadas para os vasos. Em seguida, procedeu- se à inoculação, nelas, de l mL da suspensão bacteriana. Após cinco dias, foi realizado o desbaste, ficando duas plantas por vaso, e estas receberam nova inoculação e foram cobertas com uma camada de areia autoclavada, para evitar contaminação. A coleta foi realizada 45 dias após o plantio, seccionando-se a planta 10 cm acima do nível do solo; a parte aérea das plantas foi acomodada em sacos de papel e levada para secagem em estufa (65oC) até atingir peso constante. O N foi determinado pelo método de Kjeldahl, descrito por Bremner (1965). Na análise da atividade da nitrogenase, foi utilizado o método da redução de acetileno, proposto por Hardy et al. (1968). O etileno foi determinado em um cromatógrafo modelo Beckmann CG-65 com detector de ionização de chama. Na atividade da hidrogenase utilizou-se o método descrito por Saito (1978); a liberação do H foi determinada por meio de um cromatógrafo Varian, modelo 3700, usando-se o detector de condutividade térmica. A seguir, foi avaliada a nodulação.
O teor de leghemoglobina (Lb) nos nódulos foi mensurado segundo Wilson & Reisenaur (1963). A Eficiência Relativa (ER) dos elétrons destinados à ativi-dade da nitrogenase foi calculada pela equação ER = (l - H2 liberado)/C2H2 reduzido, de acordo com Schubert & Evans (1976).
Os resultados foram submetidos à análise de variância, conforme o delineamento experimental em blocos ao acaso, com arranjo fatorial 4 x 3 (estirpes x cultivares), com três repetições. Para a separação entre médias, foi aplicado o teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Resultados e discussão
A inoculação da estirpe SEMIA-587 (Tabela 1) proporcionou maior número de nódulos, alcançando valor médio de 115 nódulos por planta, enquanto a inoculação da estirpe 29W de característica Hup- alcançou valores médios de 65 nódulos por planta, sendo similar à nodulação proporcionada pela inoculação com a estirpe SR denominada como Hup+. Em relação à comparação entre as cultivares testadas, os resultados demonstraram, de modo geral, comportamento superior da cultivar VITA-4 em relação às demais, com uma nodulação significativamente maior em comparação às cultivares IPA-202 e BR-3. Ressalva-se a interação efetiva entre a cultivar VITA-4 com as estirpes SEMIA-587 e USDA-110.
Na Tabela 1, onde são apresentadas as interações cultivar x estirpe nas determinações da nitrogenase e no número de nódulos, observou-se que os resultados mais significativos foram observados na segunda amostragem (65 dias após o plantio), com destaque para as cultivares VITA-4 e IPA-202. O número de nódulos aumentou significativamente nessa época, em comparação com a primeira amostragem aos 45 dias. Entretanto, as interações do número de nódulos em resposta às diferentes estirpes foram observadas já aos 45 dias na cultivar VITA-4, com destaque para as estirpes SEMIA-587 e USDA-110, que apresentaram, em média, 180 nódulos por planta. Aos 65 dias, essas estirpes quase duplicaram a nodulação, nessa variedade. Quanto à atividade da nitrogenase, observou-se aos 65 DAP, uma baixa resposta varietal da BR-3, tanto em relação à estirpe quanto à época de amostragem, o que demonstra uma baixa eficiência na FBN dessa cultivar.
Aos 45 dias, não foram observadas interações significativas nos parâmetros de desenvolvimento da planta (matéria seca e acúmulo de N da parte aérea e teor de leghemoglobina nos nódulos), porém aos 65 dias, fortes interações foram observadas nesses parâmetros (Tabelas 1 e 2), provavelmente devido ao substancial incremento da nodulação após o primeiro período de amostragem. De forma geral, as estirpes Hup+ proporcionaram os aumentos mais significativos, apesar da forte interação observada com os hospedeiros.
Quanto à eficiência nodular, os resultados sugerem que a interação entre as cultivares e as estirpes Hup+ e Huphr apresentaram ER igual à unidade, o que indica o funcionamento da atividade da enzima hidrogenase, e, possivelmente, ausência da hidrogenase na estirpe 29W (Hup-), em associação com as três cultivares (Tabela 3). Segundo Hungria & Neves (l986), valores de ER acima de 0,75 correspondem a uma ação da enzima hidrogenase com liberação de elétrons para o processo de fixação de N2.
Analisando o efeito das estirpes, a atividade da nitrogenase detectada com as estirpes SR e SEMIA-587 foi similar, mas superior às estirpes USDA-110 e 29W. Porém, as estirpes com característica Hup+ e Huphr, quando inoculadas nas cultivares IPA-202 e VITA-4, evidenciaram maiores atividades enzimáticas do que a estirpe 29W com característica Hup- (Tabela 1). Observou-se, também, que a estirpe 29W apresentou ER bastante inferior ao limite citado por Hungria & Neves (1986); conseqüentemente, ocorreu liberação de H2 na reação catalizada pela nitrogenase para redução de N2 atmosférico (Tabela 3). Os valores da ER alcançados com a estirpe 29W variaram entre 0,43 a 0,0, significativamente inferiores às demais estirpes.
Os teores de Lb aos 65 DAP detectados na interação entre as estirpes e as variedades, estão correlacionados com a atividade da nitrogenase, na qual foram observados os maiores teores de Lb nas associações com as estirpes contendo Hup+ (SR e USDA-110) e Huphr (SEMIA-587). A relação entre o teor de Lb e a atividade da nitrogenase encontrada em nódulos contendo a estirpe 29W (Hup-) foi inferior às demais interações. Pela determinação do N acumulado, evidenciou-se que não houve diferença entre as cultivares estudadas; entretanto, foi detectada diferença significativa entre as estirpes avaliadas. As estirpes com características Hup+ obtiveram maiores acúmulos de N (Tabela 2), o que evidencia que os sistemas simbióticos que menos liberam H2 podem acumular maiores quantidades de N no hospedeiro.
Resultados similares foram encontrados por Pahwa & Dogra (l983), segundo os quais, os efeitos resultantes da utilização de estirpes contendo hidrogenase mostraram aumentos no peso da matéria seca (l4-53%) e no N total das plantas (21-65%), em relação às plantas nas quais foram inoculadas estirpes que não apresentam hidrogenase. La Favre & Focht (l983), com feijão-guandu, não obtiveram resultados conclusivos sobre a superioridade da estirpe Hup+ durante a simbiose, porém foi uma estirpe contendo a enzima hidrogenase a que obteve o rendimento mais significativo de N-total da parte aérea em relação aos demais tratamentos.
Rodrigues (l992), em trabalhos com soja inoculada com estirpes Hup+ e Huphr, não encontrou diferenças significativas quanto à atividade da nitrogenase total e atividade da nitrogenase específica. Contudo, as mesmas estirpes Hup+ apresentaram maiores contrastes nos valores em N-total e matéria seca em caupi, com diferenças significativas em relação aos mesmos parâmetros estudados em soja. Assim, uma demonstração de que a enzima hidrogenase provavelmente apresenta funções diferentes de acordo com a espécie estudada, e que desta forma os benefícios de sua atividade seriam variáveis de acordo com o hospedeiro. Outros autores (Dixon, 1967; Carter et al., 1978) sugerem que a quantidade de H2 liberado depende da bactéria, uma vez que ela possui informações genéticas para a síntese das enzimas nitrogenase e hidrogenase. Efeitos da eficiência da interação foram encontrados por Lima (l981) e Hungria & Neves (l986).
Neste trabalho, foi possível diferenciar o desempenho simbiótico, tanto entre as cultivares de caupi como entre as estirpes de B. japonicum e B. elkanii, com adicional efeito de interação. As estirpes de características Hup+, porém, apresentaram maiores eficiências simbióticas.
Conclusões
1. A inoculação das estirpes de característica Hup+, nas cultivares de caupi IPA-202 e VITA-4, apresenta as maiores eficiências na fixação de N2 e contribui para ganhos significativos de nitrogênio acumulado na planta.
2. A estirpe de B. elkanii com característica Huphr (SEMIA-587) comporta-se como Hup+ nas cultivares de caupi IPA-202, VITA-4 e BR-3.
Referências
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
07 Nov 2005 -
Data do Fascículo
Out 1999
Histórico
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Recebido
29 Set 1998 -
Aceito
29 Set 1998