Resumos
Este trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos de fontes de cálcio (Ca), aplicadas em pré-colheita, no controle de "bitter pit" e na qualidade físico-química de maçãs 'Catarina'. Os experimentos foram conduzidos durante três safras (2004/2005, 2005/2006 e 2006/2007) em um pomar comercial localizado em São Joaquim, SC. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com quatro repetições. As fontes de Ca testadas foram CaCl2, Calboron, Sett, Aminolom Floración, Max Fruit, S-CaB, Cal Super, Wuxal Cálcio, Orgasol Ca, CalSOL 15, Coda-Ca-L e CodaSal-Plus 2000. As pulverizações foram iniciadas do estádio J (frutos verdes) e finalizaram 30 dias antes da colheita dos frutos. Avaliaram-se a incidência e severidade de "bitter pit" na colheita (safras 2005/2006 e 2006/2007) e após três (safra 2005/2006) e cinco meses (safra 2006/2007) de armazenamento refrigerado. A incidência de "bitter pit" no tratamento controle (sem fonte de Ca) foi 24% e 46% nas safras de 2005/2006 e 2006/2007, respectivamente. Somente na safra 2004/2005, os tratamentos CaCl2, Calboron+CaCl2, Sett, Calboron e S-CaB aumentaram o teor de Ca nos frutos. Pulverizações em pré-colheita de CaCl2, Calboron e Sett na safra 2005/2006, e de CaCl2 e CalSOL 15 (10 e 15 aplicações) na safra 2006/2007, reduziram a incidência de "bitter pit", sem ocasionar alterações significativas nos teores de Ca, N e K nos frutos em relação ao controle. Os resultados obtidos mostram que as fontes de Ca testadas foram pouco efetivas para aumentar o teor deste elemento no fruto e controlar o "bitter pit"em maçãs 'Catarina', havendo uma tendência do cloreto de cálcio ser mais efetivo em controlar este distúrbio fisiológico. Nas três safras, a pulverização pré-colheita com diferentes fontes de Ca não afetou o rendimento, o peso médio e a qualidade físico-química dos frutos.
Malus domestica Borkh; cálcio; fruto; distúrbio fisiológico
The objective this work was to evaluate the effects of sources of calcium (Ca), sprayed at preharvest, on bitter pit control and physico-chemical quality of 'Catarina' apples. The experiments were conducted during three seasons (2004/2005, 2005/2006 and 2006/2007) in a commercial orchard, in São Joaquim, State of Santa Catarina, Southern Brazil. The experiment followed the randomized block design, with four repetitions. The sources of Ca tested were CaCl2, Calboron, Sett, Aminolom Floración, Max Fruit, S-CaB, Cal Super, Wuxal Cálcio, Orgasol Ca, CalSOL 15, Coda-Ca-L and CodaSal-Plus 2000. The spraying of treatments started at the phenological stage J (green fruit) and finished 30 days before fruit harvest. The incidence and severity of bitter pit was assessed at harvest (in 2005/2006 and 2006/2007), and after three (in 2005/2006) and five (in 2006/2007) months of cold storage. The control treatment (without Ca) exhibited incidences of bitter pit of 24% and 46% in 2005/2006 and 2006/2007, respectively. Only in 2004/2005, the treatments CaCl2, Calboron + CaCl2, Sett, Calboron and S-CaB increased the Ca content in the fruits. Preharvest sprayings with CaCl2, Calboron and Sett in 2005/2006, and with CaCl2 and CalSOL 15 (10 and 15 sprayings) in 2006/2007, reduced the incidence of bitter pit, without significantly changing the fruit contents of Ca, N and K in comparison to the control. The results show that the source of Ca tested did not increase consistently the Ca content in the fruit and had small efficiency to control bitter pit in 'Catarina' apples, with a slightly higher efficiency for calcium chloride to control the disorder. In all three seasons, the preharvest spraying with different sources of Ca had no significant effect on yield, fruit weight and physico-chemical quality of the fruits at harvest.
Malus domestica Borkh; calcium; fruit; physiological disorder
Pulverização de fontes de cálcio em pré-colheita para o controle de "bitter pit" em maçãs 'Catarina'1 1 (Trabalho 097-10).
Preharvest spraying with commercial sources of calcium for bitter pit control in 'Catarina' apples
José Masanori KatsurayamaI; Cassandro Vidal Talamini do AmaranteII; Cristiano André SteffensIII; Adilson José PereiraI
IMSc., Pesquisador da Estação Experimental de São Joaquim (Epagri). Cx. Postal 81, CEP 88600-000, São Joaquim-SC. E-mail: masanori@epagri.sc.gov.br; pereira@epagri.sc.gov.br
IIPh.D., bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq. Professor do Departamento de Agronomia, Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV), Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Av. Luiz de Camões, 2090, Bairro Conta Dinheiro, CEP 88520-000, Lages-SC. E-mail: amarante@cav.udesc.br
IIIDr., Professor do Departamento de Agronomia, CAV/UDESC, Av. Luiz de Camões, 2090, Bairro Conta Dinheiro, CEP 88520-000, Lages-SC. E-mail: steffens@cav.udesc.br
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos de fontes de cálcio (Ca), aplicadas em pré-colheita, no controle de "bitter pit" e na qualidade físico-química de maçãs 'Catarina'. Os experimentos foram conduzidos durante três safras (2004/2005, 2005/2006 e 2006/2007) em um pomar comercial localizado em São Joaquim, SC. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com quatro repetições. As fontes de Ca testadas foram CaCl2, Calboron, Sett, Aminolom Floración, Max Fruit, S-CaB, Cal Super, Wuxal Cálcio, Orgasol Ca, CalSOL 15, Coda-Ca-L e CodaSal-Plus 2000. As pulverizações foram iniciadas do estádio J (frutos verdes) e finalizaram 30 dias antes da colheita dos frutos. Avaliaram-se a incidência e severidade de "bitter pit" na colheita (safras 2005/2006 e 2006/2007) e após três (safra 2005/2006) e cinco meses (safra 2006/2007) de armazenamento refrigerado. A incidência de "bitter pit" no tratamento controle (sem fonte de Ca) foi 24% e 46% nas safras de 2005/2006 e 2006/2007, respectivamente. Somente na safra 2004/2005, os tratamentos CaCl2, Calboron+CaCl2, Sett, Calboron e S-CaB aumentaram o teor de Ca nos frutos. Pulverizações em pré-colheita de CaCl2, Calboron e Sett na safra 2005/2006, e de CaCl2 e CalSOL 15 (10 e 15 aplicações) na safra 2006/2007, reduziram a incidência de "bitter pit", sem ocasionar alterações significativas nos teores de Ca, N e K nos frutos em relação ao controle. Os resultados obtidos mostram que as fontes de Ca testadas foram pouco efetivas para aumentar o teor deste elemento no fruto e controlar o "bitter pit"em maçãs 'Catarina', havendo uma tendência do cloreto de cálcio ser mais efetivo em controlar este distúrbio fisiológico. Nas três safras, a pulverização pré-colheita com diferentes fontes de Ca não afetou o rendimento, o peso médio e a qualidade físico-química dos frutos.
Termos de indexação:Malus domestica Borkh., cálcio, fruto, distúrbio fisiológico.
ABSTRACT
The objective this work was to evaluate the effects of sources of calcium (Ca), sprayed at preharvest, on bitter pit control and physico-chemical quality of 'Catarina' apples. The experiments were conducted during three seasons (2004/2005, 2005/2006 and 2006/2007) in a commercial orchard, in São Joaquim, State of Santa Catarina, Southern Brazil. The experiment followed the randomized block design, with four repetitions. The sources of Ca tested were CaCl2, Calboron, Sett, Aminolom Floración, Max Fruit, S-CaB, Cal Super, Wuxal Cálcio, Orgasol Ca, CalSOL 15, Coda-Ca-L and CodaSal-Plus 2000. The spraying of treatments started at the phenological stage J (green fruit) and finished 30 days before fruit harvest. The incidence and severity of bitter pit was assessed at harvest (in 2005/2006 and 2006/2007), and after three (in 2005/2006) and five (in 2006/2007) months of cold storage. The control treatment (without Ca) exhibited incidences of bitter pit of 24% and 46% in 2005/2006 and 2006/2007, respectively. Only in 2004/2005, the treatments CaCl2, Calboron + CaCl2, Sett, Calboron and S-CaB increased the Ca content in the fruits. Preharvest sprayings with CaCl2, Calboron and Sett in 2005/2006, and with CaCl2 and CalSOL 15 (10 and 15 sprayings) in 2006/2007, reduced the incidence of bitter pit, without significantly changing the fruit contents of Ca, N and K in comparison to the control. The results show that the source of Ca tested did not increase consistently the Ca content in the fruit and had small efficiency to control bitter pit in 'Catarina' apples, with a slightly higher efficiency for calcium chloride to control the disorder. In all three seasons, the preharvest spraying with different sources of Ca had no significant effect on yield, fruit weight and physico-chemical quality of the fruits at harvest.
Index terms:Malus domestica Borkh., calcium, fruit, physiological disorder.
INTRODUÇÃO
O Brasil, em curto espaço de tempo, passou de um país importador para autossuficiente e exportador mundial de maçãs. A produção brasileira, em torno de 1,3 milhão de toneladas, está concentrada nas cultivares Fuji e Gala, e seus clones (ABPM, 2009), ambos suscetíveis à sarna da macieira [Venturia inaequalis Cke. Wint. (Spilocaea pomi Fr.)], o que requer uso intensivo de fungicidas.
A cultivar Catarina é tardia, produz frutos de boa qualidade (tamanho grande e bom formato) e apresenta resistência à sarna e à mancha foliar da 'Gala' [Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc], principais doenças da macieira no Brasil (CAMILO; DENARDI, 2002). Entretanto, a expansão desta cultivar está limitada pela manifestação de "bitter pit" nos frutos (AMARANTE et al., 2006a).
O "bitter pit" é um distúrbio fisiológico ocasionado pela deficiência de Ca nos frutos, que compromete a permeabilidade seletiva das membranas celulares e leva ao dano e necrose das células (IUCHI et al., 2001). Segundo Argenta e Suzuki (1994), o aumento na incidência de "bitter pit" em frutos armazenados ocorre nos primeiros três meses e estabiliza do terceiro ao sexto mês. Segundo Fallahi et al. (1997), o "bitter pit" em maçãs pode ser minimizado elevando-se o teor de Ca na polpa para >250 mg kg-1 de massa seca. Dris e Niskanen (1999) afirmam que maçãs com teor de Ca inferior a 45 mg kg-1 de massa fresca são suscetíveis ao "bitter pit". Segundo estes mesmos autores, em adição ao teor de Ca, são importantes as relações deste elemento com outros nutrientes, na capacidade de armazenamento dos frutos. A qualidade de maçãs geralmente é reduzida pelos baixos teores de Ca e altos teores de N, K e Mg no tecido do fruto (ARGENTA; SUZUKI, 1994). Os teores ideais de minerais (base em massa fresca) em maçãs são Ca > 60 mg kg-1 (PERRING, 1979), K < 950 mg kg-1 de (TERBLANCHE, 1981) e Mg < 40 mg kg-1 (TERBLANCHE, 1981). Segundo Amarante et al. (2006a), maçãs 'Catarina' com valores altos de relações nutricionais Mg/Ca, (K+Mg)/Ca e (K+Mg+N)/Ca na epiderme são mais suscetíveis à incidência de "bitter pit".
Em pomares comerciais de maçã, a pulverização pré-colheita com fontes de Ca é uma prática comum na prevenção de "bitter pit" (ERNANI et al., 2008). Para as condições brasileiras, as fontes de Ca recomendadas para a cultura da macieira são o cloreto de cálcio comercial, cálcio quelatizado e o nitrato de cálcio (SUZUKI; BASSO, 2002). O cloreto de cálcio é a fonte mais utilizada pelos produtores, nas concentrações de 0,4-0,6%, com 8 a 12 pulverizações durante o crescimento dos frutos (ERNANI et al., 2008). A eficiência da pulverização pré-colheita de Ca depende da suscetibilidade das cultivares ao "bitter pit" (MOOR et al., 2006a; 2006b), da temperatura e umidade relativa do ar (IUCHI et al., 2001), do número de aplicações (ERNANI et al., 2008), da quantidade de Ca aplicado (Rosenberger et al., 2004), da época de aplicação (NEILSEN et al., 2005) e, principalmente, da fonte de Ca utilizada (LÖTZE et al., 2008). Segundo Rosenberger et al. (2004), a pulverização pré-colheita de Ca em doses inferiores a 3,0 kg ha-1 ano-1 não reduz a incidência de "bitter pit" em maçãs 'Honeycrisp', mas, a partir da dose de 3,25 kg ha-1 ano-1, a incidência é menor na colheita.
O objetivo deste trabalho foi avaliar as diferentes fontes de Ca em pulverização pré-colheita no controle de "bitter pit" e sua influência nos atributos qualitativos das maçãs 'Catarina'.
MATERIAL E MÉTODOS
Os três experimentos foram conduzidos em pomar comercial, implantado em 2001, localizado no município de São Joaquim (SC), durante as safras de 2004/2005 (experimento 1), 2005/2006 (experimento 2) e 2006/2007 (experimento 3). Foi utilizada a macieira cultivar Catarina sobre o porta-enxerto Marubakaido, com interenxerto de M.9 (20cm de comprimento), no espaçamento de 5x1m (2.000 plantas por hectare).
Os atributos químicos e físicos do solo (Cambissolo Húmico), na profundidade de 0-20cm, são apresentados na Tabela 1. Segundo interpretação da Comissão de Química e Fertilidade do Solo (CQFS-RS/SC, 2004), a área possui textura argilosa, alto teor de matéria orgânica, acidez do solo neutralizada, baixa disponibilidade de P, alta disponibilidade de K, Ca e Mg, e baixa relação Ca/Mg.
Na Tabela 2, são listados os produtos comerciais testados em pulverização pré-colheita da cultivar Catarina durante as safras de 2004/2005 a 2006/2007, e a quantidade aplicada por hectare de cálcio e dos outros nutrientes.
O delineamento experimental adotado foi o em blocos ao acaso, com quatro repetições, sendo as parcelas compostas de seis plantas úteis, com uma planta de bordadura em cada extremidade da parcela.
No experimento 1 (safra de 2004/2005), foram avaliados os seguintes tratamentos: 1 - Testemunha (sem pulverização de Ca); 2 - Calboron (quatro aplicações de 4,0 kg ha-1) + CaCl2 'escama' (sete aplicações a 0,6%) + Calboron (uma aplicação de 4,0 kg ha-1); 3 - Sett (12 aplicações de 3,0 L ha-1); 4 - CaCl2 'escama' (duas aplicações a 0,3% + 10 aplicações a 0,6%); 5 - Calboron (quatro aplicações de 4,0 kg ha-1 + sete aplicações de 3,0 kg ha-1 + uma aplicação de 4,0 kg ha-1); 6 - Aminolom Floración (12 aplicações de 3,0 L ha-1); 7 - Max Fruit (12 aplicações de 3,0 L ha-1), e 8 - S-CaB (12 aplicações de 1,0 kg ha-1).
No experimento 2 (safra de 2005/2006), avaliaram-se os seguintes tratamentos: 1 - Testemunha (sem pulverização de Ca); 2 - Calboron (15 aplicações de 3 kg ha-1); 3 - Sett (15 aplicações de 3 L ha-1); 4 - CaCl2 'escama' (duas aplicações a 0,4% + 13 aplicações a 0,6%); 5 - Cal Super (15 aplicações de 2 L ha-1); 6 - Cal Super (15 aplicações de 3 L ha-1); 7 - Cal Super (15 aplicações de 4 L ha-1); 8 - Wuxal Cálcio (15 aplicações de 1 L ha-1), e 9 - Orgasol Ca (10 aplicações de 1 L ha-1).
Os tratamentos avaliados no experimento 3 (safra de 2006/2007) foram: 1 - Testemunha (sem pulverização de Ca); 2 - CalSOL 15 (CaCl2 líquido, com cinco aplicações de 3 L ha-1, no terço final de crescimento dos frutos); 3 - CalSOL 15 (10 aplicações de 3 L ha-1, nos dois terços finais de crescimento dos frutos); 4 - CaCl2 (formulação farelado/pó, com duas aplicações a 0,4% + 13 aplicações a 0,6%); 5 - Cal Super (15 aplicações de 2 L ha-1); 6 - Cal Super (15 aplicações de 3 L ha-1); 7 - Cal Super (15 aplicações de 4 L ha-1); 8 - CalSOL 15 (15 aplicações de 3 L ha-1, distribuídas ao longo de todo o período de crescimento dos frutos), e 9 - Coda-Ca-L (10 pulverizações de 1 L ha-1) + CodaSal-Plus 2000 (via solo, com duas aplicações de 5 L ha-1 + 15 aplicações de 2 L ha-1).
As pulverizações iniciaram a partir do estádio 'J' (frutos verdes) e encerraram 30 dias antes da colheita comercial. Na safra de 2004/2005 (experimento 1), o intervalo entre as aplicações dos tratamentos foi de 14 dias, e nas safras de 2005/2006 (experimento 2) e 2006/2007 (experimento 3), o intervalo foi de 10 dias. As pulverizações foram realizadas manualmente, com uma bomba estacionária, pressão de 200 lb pol-1, e volumes de calda de 1.000L ha-1 na safra de 2004/2005 e 1.200L ha-1 nas safras de 2005/2006 e 2006/2007.
No período da plena floração até a colheita dos frutos da cultivar Catarina, as temperaturas médias dos meses de outubro de 2004 a abril de 2005, outubro de 2005 a abril de 2006 e outubro de 2006 a abril de 2007, no município de São Joaquim (SC), foram de 15,2ºC, 15,5ºC e 16,1ºC, respectivamente. A precipitação pluviométrica foi de 688,7 mm, 784,5 mm e 1.083 mm durante a condução dos experimentos 1 (safra de 2004/2005), 2 (safra de 2005/2006) e 3 (safra de 2006/2007), respectivamente. Na safra de 2004/2005, as precipitações foram menores nos meses de outubro a janeiro, na safra de 2005/2006, as precipitações foram menores no período de fevereiro a abril, e na safra de 2006/2007, os meses de outubro e abril apresentaram as menores precipitações.
Na maturação comercial, foram colhidos, por parcela, 30 frutos na safra de 2004/2005 (10 frutos para avaliar os atributos qualitativos e 20 frutos para os atributos nutricionais), 35 frutos na safra de 2005/2006 (10 frutos para avaliar os atributos qualitativos, 20 frutos para os atributos nutricionais e cinco frutos para avaliar a severidade de "bitter pit" na colheita e após três meses de armazenamento refrigerado a 0ºC/95-100% UR), e 50 frutos na safra de 2006/2007 (10 frutos para avaliar os atributos qualitativos, 20 frutos para os atributos nutricionais e 20 frutos para avaliar a severidade de "bitter pit" na colheita e após cinco meses de armazenamento refrigerado a 0ºC/95-100% UR).
Nas safras de 2005/2006 e 2006/2007, os frutos foram avaliados quanto à incidência de "bitter pit" (%) na colheita.
Os atributos de maturação e qualidade avaliados foram índice de iodo-amido, firmeza de polpa, teor de sólidos solúveis (SS), acidez titulável (AT) e coloração vermelha dos frutos, segundo metodologia descrita por Girardi et al. (2004). O índice de iodo-amido foi realizado em frutos cortados transversalmente e imerso em solução de iodo, com leitura na escala de 1 a 5 pontos, onde 1 indica a menor e 5 a maior conversão de amido para açúcar. A firmeza da polpa (em Newton) foi determinada com duas medições em lados opostos do fruto, com penetrômetro, ponteira de 11,1 mm de diâmetro. O teor de SS (ºBrix) foi medido com refratômetro digital (Atago, Japão). A AT (% de ácido málico) foi determinada em suco de cinco frutos, por titulometria de neutralização com NaOH 0,1N até pH 8,2. A coloração dos frutos foi determinada visualmente, utilizando as escalas 1; 2; 3 e 4, correspondentes a 0-25%, 26-50%, 51-75% e 76-100% da área superficial vermelha, respectivamente.
Para a análise do teor de nutrientes nos frutos, foi removida uma fatia longitudinal, contendo tecidos de casca e polpa, porém sem pedúnculo e semente, para a determinação dos totais de Ca, N, P, K e Mg (em mg kg-1 de massa fresca), no Laboratório de Fisiologia e Nutrição Vegetal da Epagri - Estação Experimental de Caçador-SC, segundo metodologia descrita por Freire (1998). O teor de N foi determinado pelo método semimicro Kjeldahl. O teor de P foi determinado por espectrofotometria visível, e os teores de K, Ca e Mg, determinados por espectrofotometria de absorção atômica.
Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística, utilizando o programa SAS (SAS INSTITUTE, 2002). Foi realizada análise de variância (ANOVA) e teste de comparação de médias (Tukey; p<0,05) para as diferentes variáveis.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De forma geral, o menor teor de Ca foi encontrado na testemunha, sendo muito similar aos demais tratamentos (Tabelas 3; 4 e 5). Nas safras de 2005/2006 (Tabela 4) e 2006/2007 (Tabela 5), a pulverização pré-colheita com diferentes fontes de Ca não aumentou o teor de Ca nos frutos. Todavia, na safra de 2004/2005, observou-se que o teor de Ca nos tratamentos CaCl2, Calboron+CaCl2, Sett, Calboron e S-CaB foi superior à testemunha, e o tratamento Max Fruit não diferiu da testemunha (Tabela 3).
Nas safras de 2004/2005 a 2006/2007, o teor de Ca nos frutos dos diversos tratamentos não ultrapassou 42 mg kg-1 de massa fresca, condição que favorece a manifestação de "bitter pit". Segundo Dris e Niskanen (1999), maçãs com teor de Ca na polpa fresca abaixo de 45 mg kg-1 apresentam maior suscetibilidade. Conforme Amarante et al. (2006a), maçãs 'Catarina' com teor de Ca na polpa inferior a 32 mg kg-1 de massa fresca apresentam maior severidade de "bitter pit"
Vários trabalhos demonstram a baixa eficiência das fontes de Ca em pulverização pré-colheita no acúmulo de Ca nos frutos, mas a adoção desta prática reduz a incidência de "bitter pit" (NEILSEN; NEILSEN, 2002; ERNANI et al., 2008). Cabe salientar que a metodologia de amostragem para determinação de nutrientes em maçãs (polpa + casca) tende a subestimar a absorção e o acúmulo de Ca na epiderme do fruto, em tratamentos de pulverização pré-colheita com fontes de cálcio (ERNANI et al., 2008).
O teor de Ca nos frutos é prejudicado pelo hábito de crescimento vigoroso da cultivar Catarina, com lançamentos longos e excessivo aumento na área foliar, ocasionando aumento da transpiração na planta, que reduz o aporte de Ca aos frutos via xilema no início do ciclo vegetativo. Segundo Monge et al. (1994), a entrada de Ca no fruto pelo pedúnculo é mais lenta que outros nutrientes, e a sua saída do fruto para a folha pode ser mais rápida e abundante quando a transpiração é excessiva, alcançando perdas de até 10 mg kg-1 de peso fresco.
A pulverização pré-colheita com CaCl2, Sett e Calboron reduziu a relação N/Ca na safra de 2004/2005 (Tabela 3). Tratamentos com CaCl2, Calboron+CaCl2, Sett e Calboron na safra de 2004/2005 (Tabela 3) e com CaCl2 na safra de 2005/2006 (Tabela 4) reduziram a relação K/Ca. Os tratamentos com CaCl2, Calboron+CaCl2 e Calboron, na safra de 2004/2005 (Tabela 3), e com CaCl2, na safra de 2005/2006 (Tabela 4), reduziram a relação (K+Mg)/Ca. Somente o tratamento com CaCl2 reduziu as relações nutricionais N/Ca, K/Ca e (K+Mg)/Ca nas três safras (Tabelas 3; 4 e 5). Todavia, nenhuma fonte de Ca resultou em valor da relação nutricional (K+Mg)/Ca considerado adequado, visando a reduzir o risco de "bitter pit, que é <27 em maçãs 'Gala' (ARGENTA; SUZUKI, 1994) e <32 em maçãs 'Golden Delicious' (NACHTIGALL; FREIRE, 1998). Resultados recentes comprovam a importância da menor relação Mg/Ca na epiderme dos frutos, na redução da suscetibilidade ao "bitter pit" em maçãs 'Catarina' (AMARANTE et al., 2006a) e 'Gala' (AMARANTE et al., 2006b). Segundo Moor et al. (2006a), a ocorrência de "bitter pit" em maçãs 'Krameri Tuviõun' apresentou correlação positiva com os valores da relação Mg/Ca.
A cultivar Catarina mostrou-se altamente suscetível ao "bitter pit" avaliado na colheita dos frutos, com incidência no tratamento-testemunha de 24% e 46%, nas safras de 2005/2006 e 2006/2007, respectivamente (Tabelas 3 e 4). Na safra de 2005/2006, os tratamentos com CaCl2, Sett e Calboron apresentaram incidência pré-colheita de 1,9; 5,5 e 10,4%, respectivamente, representando reduções de 22,0; 18,4 e 13,5%, respectivamente, em relação à testemunha (Tabela 6). Na safra de 2006/2007, os tratamentos com CaCl2 e com 15 e 10 pulverizações de CalSOL 15 apresentaram incidência pré-colheita de "bitter pit" de 18,7; 15,9 e 19,7%, respectivamente, representando reduções de 26,8; 25,8 e 29,6% em relação à testemunha (Tabela 7).
Resultados sobre a eficiência das fontes de Ca em pulverização pré-colheita no controle de "bitter pit" são contraditórios. Neste trabalho, os tratamentos Cal Super (2; 3 e 4 L ha-1), Wuxal Cálcio e Orgasol Ca, na safra de 2005/2006, e os tratamentos CalSOL 15 (5 aplicações), Cal Super (2; 3 e 4 L ha-1) e Coda-Ca-L+CodaSal-Plus 2000 na safra de 2006/2007, não reduziram a incidência. Estes dados corroboram os resultados de diversos autores, que relatam diferenças no controle de "bitter pit" em função das fontes de Ca utilizadas (DRIS; NISKANEN, 1999; NEILSEN et al., 2005; MOOR et al., 2006b; PERYEA et al., 2007; LÖTZE; THERON, 2007).
Na safra de 2005/2006, apesar da redução significativa na incidência de "bitter pit" nos tratamentos com CaCl2, Calboron e Sett, os teores totais de N, P, K, Ca e Mg dos frutos destes tratamentos não diferiram em relação à testemunha (Tabela 4). Somente o tratamento com CaCl2 reduziu as relações K/Ca (=27) e (K+Mg)/Ca (=29) nos frutos, em relação à testemunha (Tabela 4), e foi o tratamento mais efetivo na redução da incidência de "bitter pit" (=1,9%).
A severidade de "bitter pit" na colheita (inicial) e durante o armazenamento refrigerado (final) dos frutos foi mais intensa na safra de 2005/2006, comparando com a safra de 2006/2007 (Tabelas 6 e 7). A pulverização pré-colheita com diferentes fontes de Ca não afetou a severidade na colheita e após três meses de armazenamento na safra de 2005/2006 (Tabela 6). Na safra de 2006/2007, o tratamento com CaCl2 reduziu a severidade em relação à testemunha, avaliada na colheita e após cinco meses de armazenamento refrigerado, sendo o tratamento que apresentou menor evolução do distúrbio durante o período de armazenamento (de 0,3 manchas para 0,4 manchas por fruto) (Tabela 7). Resultados similares foram obtidos por Moor et al. (2006a), que controlaram o "bitter pit" em maçãs 'Krameri Tuviõun' com a pulverização pré-colheita de cloreto de cálcio e nitrato de cálcio, cujo efeito persistiu até o final do armazenamento.
Os atributos de rendimento, peso médio, firmeza da polpa, área superficial vermelha, índice de iodo-amido, teor de SS, AT e relação SS/AT de frutos não foram alterados pela pulverização com diferentes fontes de Ca, nas três safras (dados não apresentados). Ernani et al. (2008) também não observaram mudanças no rendimento, maturação e qualidade de maçãs 'Gala', com o aumento no número de pulverizações pré-colheita com CaCl2.
Convém comentar que existe no mercado grande número de formulações que podem ser utilizadas como fontes de Ca para a aplicação em pré-colheita, visando ao controle de "bitter pit". Todavia, os resultados obtidos neste trabalho mostram que nenhuma fonte de cálcio testada apresentou efeito consistente no aumento do suprimento de Ca aos frutos e na redução do "bitter pit" em maçãs 'Catarina', ao longo de três safras. Portanto, como o CaCl2 é de fácil aquisição pelos produtores e apresenta baixo custo, em relação a outras formulações comerciais disponíveis no mercado, sua utilização na pulverização em pré-colheita mostra-se a mais indicada.
CONCLUSÕES
As fontes de cálcio testadas pouco afetaram o teor deste nutriente no fruto e, portanto, possuem pouca eficiência no controle de "bitter pit"em maçãs 'Catarina', havendo uma tendência de o cloreto de cálcio ser mais efetivo em controlar este distúrbio fisiológico. Adicionalmente, os atributos de rendimento e qualidade dos frutos da cultivar Catarina não foram afetados pela pulverização na pré-colheita com diferentes fontes de cálcio.
Recebido em 19-04-2010.
Aceito para publicação em: 28-09-2010.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
03 Jun 2011 -
Data do Fascículo
Jun 2011
Histórico
-
Recebido
19 Abr 2010 -
Aceito
28 Set 2010