Acessibilidade / Reportar erro

Fixação de nitrogênio: estrutura, função e modelagem bioinorgânica das nitrogenases

Nitrogen fixation: structure, function and bioinorganic modeling of the nitrogenases

Resumo

Biological nitrogen fixation, catalyzed by nitrogenases, contributes about half of the nitrogen needed to global agriculture. For forty years synthetic chemists and theoreticians have tried to understand and model the structure and function of this important metalloenzyme. Ten years after the first report on the crystal structure of the MoFe protein, scientists still have not been able to synthesize a chemical equivalent of the FeMo cofactor nor the structure knowledge revealed the key to its catalytic activity. This paper with 104 references presents a review of the most relevant advances in chemical nitrogen fixation and their relation with the nitrogenases.

nitrogenase; dinitrogen complexes; iron-molybdenum cofactor


nitrogenase; dinitrogen complexes; iron-molybdenum cofactor

REVISÃO

Fixação de nitrogênio: estrutura, função e modelagem bioinorgânica das nitrogenases

Nitrogen fixation: structure, function and bioinorganic modeling of the nitrogenases

Fábio Souza Nunes* * e-mail: fsnunes@quimica.ufpr.br ; Angela Cristina Raimondi; Antonio Carlos Niedwieski

Departamento de Química, Universidade Federal do Paraná, CP 19081, 81531-990 Curitiba - PR

ABSTRACT

Biological nitrogen fixation, catalyzed by nitrogenases, contributes about half of the nitrogen needed to global agriculture. For forty years synthetic chemists and theoreticians have tried to understand and model the structure and function of this important metalloenzyme. Ten years after the first report on the crystal structure of the MoFe protein, scientists still have not been able to synthesize a chemical equivalent of the FeMo cofactor nor the structure knowledge revealed the key to its catalytic activity. This paper with 104 references presents a review of the most relevant advances in chemical nitrogen fixation and their relation with the nitrogenases.

Keywords: nitrogenase; dinitrogen complexes; iron-molybdenum cofactor.

INTRODUÇÃO

Dinitrogênio (N2) é o composto mais abundante que contém nitrogênio e, ao mesmo tempo, é o menos reativo deles. É uma fonte atrativa para a obtenção de compostos nitrogenados necessários na indústria, como a amônia, empregada na produção industrial de fertilizantes, explosivos, plásticos e vernizes.

Em 18861 provou-se empiricamente a fixação biológica de nitrogênio, ou seja, a conversão de nitrogênio gasoso em outras espécies químicas nitrogenadas promovida por alguns organismos denominados diazótrofos, que empregam o nitrogênio fixado na biossíntese de proteínas e ácidos nucléicos2. Em 1913, Haber e Bosch implantaram um processo industrial capaz de converter o N2 gasoso em amônia. Este processo de fixação química de nitrogênio emprega ferro metálico como catalisador e depende de altas temperaturas (» 500 ºC) e pressões (200-600 atm) para combinar N2 e H2 produzindo amônia em grande escala3. As condições drásticas e a necessidade de um catalisador no processo Haber-Bosch são exigidas devido à alta estabilidade da molécula de N2 em condições ambientes. Apesar da reação envolvida ser exotérmica e termodinamicamente favorecida, a quebra da ligação NºN requer uma energia de ativação bastante alta (1035 kJ/mol)4. O mecanismo de formação da amônia no processo de Haber-Bosch ainda é desconhecido, embora seja evidente que a etapa limitante do processo seja a quebra da tripla ligação, NºN, formando íons nitretos, N3-.

As condições amenas presentes na fixação biológica (20 ºC, 0,8 atm, potencial redox de ~ 500 mV)4 em contraste àquelas empregadas no processo Haber-Bosch estimularam a busca do agente biológico responsável pela catálise da ativação e fixação do nitrogênio5. No período de 1930-1936, Bortels6 descreveu que o molibdênio e, numa menor extensão, o vanádio eram necessários para a fixação biológica de dinitrogênio atmosférico por bactérias do solo. O conjunto de enzimas responsável pela fixação de N2 em meio biológico foi denominado nitrogenase.

As descobertas que se seguiram revelaram que, independente do tipo de organismo fixador de nitrogênio do qual são isoladas, as nitrogenases são enzimas compostas por duas metaloproteínas, as quais possuem propriedades e requerimentos similares para atividade, como a ausência de dioxigênio, uma fonte de redutores de baixo potencial redox e a hidrólise de MgATP (ATP = adenosina 5'-trifosfato).

Uma pesquisa detalhada sobre os mecanismos da fixação de N2 começou no início da década de 60 com a primeira preparação reprodutível de extratos ativos de células na catálise da redução de N21,7. Já em 1964, os químicos interessaram-se pelo problema, impulsionados pela descoberta de Vol'pin de que a hidrólise de alguns complexos organometálicos em baixo estado de oxidação produziam quantidades significativas de amônia8. Em 1965, Allen e Senoff9 publicaram a descoberta do primeiro complexo sintético de dinitrogênio, [Ru (NH3)5N2]2+.

Hoje, a pesquisa sobre a fixação de nitrogênio acumula 40 anos e a busca pela fonte de fertilizantes de baixo custo continua. Conhecemos a estrutura da nitrogenase de molibdênio com grande detalhe4, mas o mecanismo a nível molecular da fixação de N2 está longe de ser completamente compreendido.

A ESTRUTURA E O MODO DE AÇÃO DA NITROGENASE DE MOLIBDÊNIO

A nitrogenase de molibdênio consiste de uma ferro-proteína (Fe-proteína) e de uma molibdênio-ferro-proteína (MoFe-proteína). A Fe-proteína funciona como doadora de elétrons para a MoFe-proteína (que contém o cofator da enzima, FeMoco), num processo dependente de hidrólise de MgATP.

Em 1992, a primeira estrutura de raios-X (com resolução de 2,8 Å) foi descrita por Kim e Rees2, com sucessivos melhoramentos na resolução em 1997 (2,0 Å)2 e em 1999 (1,6 Å)2. A determinação da estrutura cristalográfica da MoFe-proteína permitiu uma visão mais detalhada da constituição da enzima e de seu provável sítio ativo4,10. A Fe-proteína é um dímero de subunidades idênticas, com uma massa molar total de ~60 kDa. As duas subunidades estão conectadas covalentemente por um agregado [4Fe-4S], e contêm, cada uma, um sítio de ligação de nucleotídeos (MgATP e MgADP). Aparentemente, existe uma modulação alostérica no acoplamento do nucleotídeo e o comportamento redox do agregado metálico, envolvendo dois (ou mais) estados conformacionais da Fe-proteína.

A MoFe-proteína existe como um tetrâmero a2b2 com massa molar total de ~240 kDa e possui quatro centros redox: dois cofatores FeMoco (Figura 1a) localizados nas subunidades a (alojados a ~ 10 Å sob a superfície da proteína) e dois clusters P de composição [8Fe:7S], cada um constituído por dois cubanos [4Fe-3S] ligados em ponte por um átomo de enxofre hexacoordenado. Os clusters P estão situados na interface das subunidades a e b, também a cerca de 10 Å abaixo da superfície da proteína4 e, ligados à cadeia protéica através de resíduos de cisteína.


Duas possíveis valências foram propostas para os íons metálicos no cofator FeMoco para a enzima no seu "resting state": MoIV6FeII FeIII e MoIV4FeII3FeIII11.

A geometria não usual (trigonal prismática) dos seis átomos centrais de ferro é, talvez, a característica mais marcante do cofator. Estes átomos estão na superfície de uma esfera de raio de 2,0 Å do centro do cofator e estão ligados individualmente a três átomos de enxofre. Por sua vez, os nove átomos de enxofre estão equidistantes do centro de uma segunda esfera, de raio igual a 3,3 Å12.

Dez anos após a primeira determinação estrutural da nitrogenase, uma análise cristalográfica de alta resolução (1,16 Å) revelou segredos ainda desconhecidos sobre o cofator FeMoco12. Os resultados mostraram a existência de um ligante coordenado a seis átomos de ferro no centro do cofator (Figura 1b). A densidade eletrônica deste ligante é mascarada em estruturas com resolução maior que 1,55 Å. O refinamento cristalográfico a 1,16 Å é consistente com um ligante contendo um átomo doador leve, possivelmente nitrogênio. A biossíntese do cofator é complexa e não completamente conhecida, mas acredita-se que o papel deste nitrogênio intersticial possa estar relacionado com sua estabilização13. Com esta recente descoberta, pode-se afirmar que a geometria em torno dos átomos de ferro é, portanto, tetraédrica e não trigonal prismática como indicado pelas estruturas anteriores.

A formação do complexo entre a Fe-proteína e a MoFe-proteína é uma etapa essencial à catálise de reações realizadas pela nitrogenase14. Acredita-se que a redução biológica de N2 processa-se em três etapas4: 1) a redução da Fe-proteína por ferredoxinas ou flavodoxinas, 2) a transferência multieletrônica da Fe-proteína para a Mo-Fe proteína, (em que um elétron é transferido de cada vez) acoplada à hidrólise de até duas moléculas de MgATP por elétron transferido4,15,16 e 3) a redução propriamente dita do substrato no sítio ativo da MoFe-proteína.

Sob condições ótimas, a redução de N2 catalisada pela nitrogenase de molibdênio pode ser representada pela equação1:

N2 + 8e- + 8H+ + 16MgATP ® 2NH3 + H2 + 16MgADP + 16Pi

AS NITROGENASES ALTERNATIVAS

Contrariando as considerações históricas sobre a importância essencial do molibdênio para o funcionamento das nitrogenases17, ainda na década de 80 descobriu-se que várias classes de bactérias são capazes de fixar nitrogênio em condições de deficiência de molibdênio, utilizando sistemas enzimáticos alternativos, como a nitrogenase de vanádio e ferro (nitrogenase VFe)10,18, ou a que contém apenas ferro10 como metal de transição (nitrogenase Fe). Um quarto tipo de nitrogenase foi recentemente caracterizado na bactéria termofílica Streptomyces thermoautotrophicus, cuja propriedade mais notável é a dependência de oxigênio e do radical superóxido - ambos nocivos para a maioria das nitrogenases. O nitrogênio é fixado segundo a equação: N2 + 8e- + 8H+ + 4-12MgATP ® 2NH3 + H2 + 4-12MgADP + 4-12 PO43-. A reação é acoplada à oxidação de monóxido de carbono realizada por uma enzima do tipo desidrogenase, que contém molibdênio. Esta enzima usa os elétrons da oxidação do CO para reduzir oxigênio até radicais superóxidos que, por sua vez, são reoxidados a O2 por uma enzima superóxido óxidoredutase, que contém manganês. Os elétrons são finalmente transferidos para uma MoFe-nitrogenase, que reduz nitrogênio até amônia19.

Antes da determinação da estrutura cristalina da nitrogenase de molibdênio, estudos de EXAFS forneceram importantes detalhes sobre o ambiente químico do molibdênio na Mo-proteína4. As atribuições baseadas nesta técnica foram confirmadas pela estrutura de raios-X de cristal.

Os centros redox presentes na nitrogenase de vanádio foram investigados por EPR, MCD (Dicroísmo Circular Magnético), Mössbauer e espectroscopias de absorção de raios-X, como EXAFS, mas não se dispõe ainda de estruturas de raios-X de cristal desta e da nitrogenase contendo apenas ferro10.

Na nitrogenase de vanádio observa-se um terceiro tipo de subunidade além da a e b; a subunidade d é componente essencial para estabilizar a estrutura quaternária hexamérica a2b2d2. Dados espectroscópicos indicam VII ou VIV numa geometria octaédrica distorcida no cofator FeVco10,18,21. Na realidade, foi possível extrair o cofator ferro-vanádio das VFe-proteínas, na forma de um agregado de átomos contendo V, Fe e S numa estequiometria aproximadamente igual a VFe5-7S4-610,17.

Sob condições ótimas a 30 ºC e em presença de quantidade saturante de N2, a vanádio-nitrogenase catalisa a redução de N2 segundo a equação18:

N2 + 12 e- + 12H+ + 24MgATP ® 2NH3+ 3H2 + 24MgADP + 24Pi

Os estudos espectroscópicos da proteína que contém apenas ferro estão limitados à espectroscopia de EPR, que tem sido usada para identificar os tipos de centro redox20.

Nas três classes de enzima (Mo, V ou Fe) observa-se a conservação dos resíduos de aminoácidos, aos quais se ligam os centros metálicos, sugerindo a presença de centros redox homólogos10.

A FORMAÇÃO DE H2 E A EFICIÊNCIA DAS NITROGENASES

Prótons competem com N2 como substrato passível de redução pelas nitrogenases. Esta competição diminui a eficiência das enzimas. No caso da Mo-nitrogenase, um máximo de 25% dos elétrons que fluem pelo sistema são utilizados para a produção de H2, contra até 50% no que diz respeito à vanádio-nitrogenase17,18,22. A evolução de hidrogênio é espontânea e não depende da ligação de qualquer outro substrato para acontecer.

A formação de HD pela nitrogenase de molibdênio quando da redução de N2, na presença de D2, é um dos fenômenos mais interes santes e ainda não completamente compreendido, associado à fixação biológica de nitrogênio. O fenômeno está associado exclusivamente à redução de N2. A formação de HD requer que a molécula de D2 sofra redução no sítio ativo da enzima, de acordo com a equação: D2 + 2H+ + 2e-® 2HD. Não existem evidências da inserção de deutério nas moléculas de amônia, sugerindo que a formação de HD e a redução de N2 ocorrem em sítios diferentes no cofator FeMoco23. Uma racionalização possível é a ligação de N2 ao átomo de molibdênio, por exemplo, ativando o sítio de ferro para a coordenação de D2, que reagiria com um fluxo de elétrons dos clusters P e com prótons do solvente para formar HD. Em uma segunda explicação, acredita-se que o sítio de ligação de N2 no FeMoco seja formado por triidretos. Com a liberação de H2 acoplada à redução de N2 até NH3 o sítio ativo teria D2 na presença de hidretos, favorecendo a formação de HD23. Reatividade semelhante foi observada em modelos bioinorgânicos como o [CoH3(PPh3)3] 24. Neste contexto, é sabido que triidreto-complexos de ferro como [FeH3(dmpe)2]+ (dmpe = Me2PCH2CH2PMe 2) reagem com doadores, como MeCN, liberando H2 e formando [FeH(MeCN)(dmpe)]+ 23.

O MODO DE LIGAÇÃO DO N2 NO SÍTIO ATIVO DAS NITROGENASES

Apesar do grande avanço após a caracterização estrutural da nitrogenase de molibdênio, ainda existem muitas dúvidas sobre o seu mecanismo de ação. O modo eficiente com que a enzima controla o fluxo de íons hidrogênio e de elétrons de forma catalítica ainda é alvo de várias especulações e hipóteses. Outra questão situa-se no modo como o N2 se liga ao cofator da nitrogenase. Não há resposta definitiva para esta questão, mas praticamente todos os modelos da nitrogenase assumem a manutenção da estrutura fechada do cofator FeMoco, determinada para o "resting state" da enzima. Acredita-se que a ativação da molécula de N2 ocorra, por exemplo, a) via ligação a seis átomos de ferro, dentro da gaiola do cofator; b) do lado de fora da gaiola, através da coordenação a quatro centros de ferro; ou c) através da ligação ao átomo de molibdênio, após a labilização do ligante homocitrato (Figura 2).


A ligação aos seis átomos de ferro nos faz pensar se o nitrogênio intersticial, descoberto por Rees não estaria associado ao processo de fixação ou seria ele parte de um resíduo de aminoácido? A ligação via átomo de ferro é justificada pelo fato deste metal encontrar-se presente em todos os tipos de nitrogenases. Além disso, a geometria trigonal não usual apresentada pelos seis sítios de ferro centrais no cofator FeMoco induz à idéia de que esta insaturação na esfera de coordenação poderia ser relevante para a ligação de substratos e outros ligantes3,21. Acredita-se ser pouco provável que diferentes substratos satisfaçam igualmente os requisitos estéreos do sítio ativo da nitrogenase. A ligação a múltiplos centros de ferro no cofator eliminaria este problema. As propriedades espectrais da nitrogenase da Klebsiella pneumoniae indicam que ligantes como fenilselenol, tiofenol e 2-bromotiofenol se ligam a átomos de ferro do cofator FeMoco21. Por outro lado, a rica química de compostos modelo da nitrogenase que utilizam molibdênio ou metais correlatos como vanádio, aponta fortemente para a participação destes metais na ligação e no mecanismo de redução de N221,22,26,27.

A MODELAGEM DAS NITROGENASES

A formação de amônia a partir de H2 e N2 é termodinamicamente favorável (DGº = -31,8 kJ/mol a 25 ºC e 1 atm)4. O processo torna-se não espontâneo a aproximadamente 190 ºC, enquanto a quebra da ligação tripla N-N ocorre a temperaturas muito mais elevadas (~3200 ºC). As altas temperaturas são minimizadas com o uso de altas pressões e catalisadores. O processo industrial está tão bem otimizado que não há interesse no desenvolvimento de condições alternativas mais brandas. Apesar do apelo econômico relacionado à grande disponibilidade de N2 atmosférico e à importância industrial da amônia, o interesse em compreender o funcionamento da nitrogenase tem sido exclusivamente acadêmico.

A fixação biológica de nitrogênio corresponde, hoje, a cerca da metade de toda a fonte de nitrogênio para a agricultura mundial, o restante vem de fertilizantes produzidos quimicamente através da amônia do processo Haber-Bosch13. A produção de amônia é a segunda no mundo, perdendo apenas para o H2SO4. A redução da molécula de N2 até amônia requer seis elétrons. Embora este processo seja termodinamicamente favorável (DGº = -62,7 kJ/mol, 25 ºC, pH = 7), ele é complicado devido à estabilidade cinética da molécula de N2 . Existe uma grande barreira energética associada à quebra da ligação tripla. Comparando-se as energias das ligações tripla, dupla e simples na molécula de N2, 929, 413 e 161 kJ/mol, respectivamente, observa-se que a energia necessária para a quebra da ligação tripla corresponde a mais de 50% da energia total de ligação da molécula26. Outra dificuldade está na quebra da ligação M-N de um nitreto-, hidrazido- ou amideto-complexo, justificando o uso comum de agentes redutores muito fortes (como sais do grupo principal22 ou amálgama de sódio28) na modelagem da função da enzima. O lítio é o único elemento do grupo principal capaz de reduzir N2 em condições ambientes.

Metais de transição em baixo estado de oxidação com menor poder redutor, freqüentemente, demonstram capacidade para interagir com dinitrogênio5,26,27,29. Embora o potencial de redução não seja comparável ao do metal alcalino, a retrodoação torna a molécula de N2 mais susceptível à dissociação, mostrando que a coordenação de N2 é pré-requisito essencial para as transformações subseqüentes.

A eficiência do sistema biológico tem inspirado químicos sintéticos a preparar e caracterizar complexos metálicos com estruturas moleculares muito próximas àquela do cofator da nitrogenase30. Entretanto, apesar da grande semelhança estrutural, até hoje, nenhum dos modelos estruturais mostrou atividade para a redução de N2(g) ou para estabilizar um complexo de dinitrogênio.

Passados dez anos desde a resolução da estrutura de raios-X da nitrogenase de molibdênio, ficou evidente que o domínio estrutural não garantiu o conhecimento da função da enzima, nem tão pouco revelou o procedimento para a síntese de catalisadores competitivos. A complexidade estrutural da nitrogenase4, associada ao fato de que a atividade catalítica da enzima é suportada pela parte protéica (cofatores isolados não catalisam a redução de N2), faz com que a grande maioria dos estudos concentrem-se em modelos funcionais (e não estruturais) da metaloproteína, basicamente complexos de metais de transição de baixa massa molar.

A necessidade de íons de metais de transição na fixação de nitrogênio sugeriu que complexos metálicos contendo dinitrogênio, análogos aos complexos carbonilo já conhecidos (CO e N2 são isoeletrônicos), fossem bons modelos. Grande parte dos compostos-modelo descritos ao longo dos anos compõe basicamente três classes:7 a maior delas é constituída por complexos que contém N2 ligado ao metal na forma terminal (M-N2), em que o comprimento da ligação N-N não é muito maior que o da molécula livre e há pequena evidência de ativação31,32. A segunda classe contém N2 terminal, mas ligando dois átomos metálicos em ponte, com distâncias N-N muito próximas às do N2 livre (M-NºN-M)58. A terceira classe também contém N2 ligado em ponte mas, neste caso, a distância N-N é consideravelmente maior que a da forma livre (M=N-N=M)54. O objetivo final é ativar a molécula de nitrogênio. O trabalho pioneiro de Chatt25 sobre a preparação de complexos de molibdênio e tungstênio contendo N2 representa bem os esforços nesta área. Chatt descreveu, pela primeira vez, a redução de N2 em meio prótico por complexos do tipo [M(N2)(PR3)4] (M = Mo ou W) em uma relação N2/M de 1:125 (Figura 3). Apesar da possibilidade de síntese de compostos contendo N2 coordenado, há uma enorme dificuldade em garantir uma natureza catalítica ao processo de redução. Numa seqüência de protonações do tipo M-N2, M-N=N-H, M=N-NH2, MºN-NH37, o principal obstáculo é manter um fluxo contínuo de seis elétrons originados do metal, provocando a sua oxidação, acoplado ao fornecimento de íons H+ e, ao mesmo tempo, assegurar a integridade da ligação M-N2, a estabilidade das espécies intermediárias e a regeneração do metal à sua forma reduzida no final do processo11. Apesar de se poder manter um suprimento de íons hidrogênio através de um ácido mineral, são raros os sistemas-modelo descritos até hoje que apresentam este tipo de propriedade de forma catalítica. Pelo contrário, a grande maioria dos sistemas-modelo age de forma estequiométrica e não cíclica.


OS MODELOS QUÍMICOS PARA A FUNÇÃO DAS NITROGENASES

A polinuclearidade e o baixo estado de oxidação dos metais no sítio ativo da nitrogenase parecem ser fatores importantes no processo de ativação e redução do dinitrogênio26. O cofator FeMoco funciona, aparentemente, como uma fonte de elétrons onde os metais interagem através de ligações em ponte.

Vários complexos-modelo de molibdênio22,26,33-36, vanádio26,27,37-45, ferro23,33,40,45-47, titânio48, nióbio49,50, zircônio5,51 e outros metais, como tungstênio35, rutênio23,52,53, ósmio23, cobalto45, ouro29,54 e samário55 foram sintetizados e caracterizados. Em alguns destes estudos, a atividade é catalítica26,37,41,48 para produção de amônia. Um dos modelos mais eficientes é aquele de molibdênio(III)22. Os complexos de MoIII catalisam a redução de N2 apenas na presença de redutores fortes, como uma mistura de hidróxidos de Ti(OH)3 e Mg(OH)2 ou de amálgama de sódio. Para entender melhor o papel único do molibdênio(III) nestes sistemas, recorremos ao recente trabalho de Cummins34 que descreveu a síntese do complexo {Mo[NBut (C6H3Me 2)]3} e a quebra, passo a passo, da tripla ligação do N2, formando o nitreto complexo, {NºMo[NBut(C6H3 Me2)]3}. Para este sistema, supõe-se que a quebra da ligação tripla se dê pela formação de uma ligação em ponte ("end on") do N2 a dois centros de molibdênio (Figura 4). A reação é movida termodinamicamente pela estabilidade elevada da ligação MoºN, enquanto que a configuração eletrônica d3 permite a transferência de seis elétrons para o N2 coordenado. Resultados semelhantes também foram descritos por Gambarotta para vanádio42 e nióbio49.


Os trabalhos do grupo de Shilov22,26,41 são bons exemplos da química da fixação de N2. O aspecto único do trabalho de Shilov foi o desenvolvimento de sistemas que fixam N2 em água/metanol (2-10% de água). Hidróxidos de MoIII, VII, TiII, NbIII e TaIII apresentam uma intensa atividade catalítica quando recém preparados na mistura de solventes. Este constitui um dos modelos funcionais mais simples e mais eficientes da nitrogenase, reduzindo N2 até amônia, produzindo hidrazina intermediariamente. A reação é rápida à temperatura ambiente e também a baixas temperaturas, apresentando rendimentos de até 65%. Estes são sistemas heterogêneos e combinam potenciais de redução negativos com configurações d2 ou d3, e alguns são genuinamente catalíticos, embora os mecanismos definitivos nunca tenham sido determinados.

Shilov sugere que a condição importante para a redução do N2 é a formação de um complexo polinuclear com vários centros doadores, capazes de transferir pelo menos quatro elétrons em meio prótico. A estrutura exata do complexo polinuclear de VII na mistura V(OH)2/Mg(OH)2 é desconhecida. Postula-se que os íons de vanádio são unidos por pontes O-Mg-O, formando complexos binucleares do tipo VNNV como intermediários de reação41 (Figura 5).


A necessidade do desenvolvimento de um sistema de catálise homogênea levou Shilov à descoberta de que complexos de VII com catecóis são capazes de reduzir N2 em água e em soluções alcoólicas, com um rendimento de até 75% (em metanol), tendo amônia como único produto22. Estudos de EPR de soluções contendo VII e catecol em metanol, na presença de diferentes concentrações de LiOCH3 e NaOCH3, indicaram a presença de complexos trinuclares com uma estrutura flexível o suficiente para permitir a formação de uma ponte N-N entre dois átomos de vanádio (Figura 6). A etapa determinante do mecanismo de redução do N2 coordenado envolveria a interação de dois complexos trinucleares, formando um complexo tetranuclear V4N2, e um dímero de VII, que seria responsável pela produçao de H237.


O trabalho de Shilov impulsionou fortemente a química de complexos trinucleares de vanádio. Os relatos são relativamente recentes, e dados sobre sua reatividade são praticamente inexistentes. Os complexos mais conhecidos contêm a unidade central {V3O} rodeada por seis carboxilatos bidentados e em ponte, como os originalmente descritos por Glowiak56. Leigh descreveu a preparação de [M3(µ-Cl)33 -Cl)2(tmeda)3]+, onde M = Ti, V, Fe, Co e Ni, e tmeda = N,N,N',N'-tetrametiletilenodiamina57 , sendo a estrutura cristalina38 e as propriedades espectrais39 do complexo [V3Cl5(tmeda)3] (BPh4) conhecidas. Mais recentemente, a síntese e a caracterização estrutural do primeiro complexo trinuclear heterobimetálico contendo vanádio(II) e ferro(II) do tipo [VxFe3-x(µ-Cl)33-Cl)2(tmeda)3 ]+ foram descritas40. Nenhum destes compostos, no entanto, apresentaram capacidade de coordenação ou de redução de N2.

Gambarotta58 isolou o primeiro composto homobimetálico de vanádio contendo N2 coordenado, [{(2-Me2NCH2C6H 4)2VPy}2(µ-N2 )] (Figura 7) através da reação entre [VCl2(tmeda)] (tmeda = N,N,N',N'-tetrametiletilenodiamina) e 2-Li(CH2NCH3)2C 6H4 na presença de piridina, confirmando que V(II) é suficientemente reativo para interagir com N2. Em complexos trinucleares de samário(III) com o ligante tetraaza calix-tetrapirrol, Gambarotta55 descreveu a redução por quatro elétrons da molécula de N2 coordenado, observando-se distâncias N-N de 1,502(5) e 1,525(4) Å.


A importância da polinuclearidade para a ativação da molécula de N2 também foi demonstrada por Ferguson43, na produção de hidrazina e amônia a partir da protonação do complexo binuclear de vanádio(II) [(Mes)3V(µ-N2)V(Mes) 3]-, Mes = 2,4,6-Me3C6H2.

O desenvolvimento de complexos como [H2Fe(CO)4] e [ZrHCl(h5-C5H5)]35 capazes de agir como fontes de hidrogênio para protonar o N2, ao invés de um ácido mineral, é uma estratégia bastante interessante e relativamente recente59. As dificuldades nas sínteses destes tipos de compostos foram significativamente superadas quando Hidai35,52 descobriu que o complexo [RuCl(Ph2PCH2 CH2PPh2)2] + reage reversivelmente com H2, produzindo o complexo [RuCl(h2-H2)(Ph2PCH 2CH2PPh2)2] +. Hidai35 investigou a reatividade do N2 coordenado a metais em complexos do tipo [M(N2)2(L)4] (M = Mo ou W e L = fosfina terciária). O tratamento de cis-[W(N2)2 (PMe2Ph)4] com excesso de trans-[RuCl(h2-H2)(difosfina) 2]+ sob atmosfera de H2 (1 atm) e condições controladas de temperatura (55 ºC) chega a rendimentos totais acima de 70% de amônia, e traços de hidrazina, dependendo da difosfina utilizada e do contra-íon do complexo de diidrogênio35 (Figura 8). Nestes sistemas, apenas um íon hidrogênio, formado pela clivagem heterolítica da molécula de H2 coordenada ao rutênio, é utilizado para formar a ligação N-H, de forma que são necessários pelo menos três equivalentes do complexo de diidrogênio para formar um equivalente de amônia. O hidreto remanescente não é utilizado para formar uma nova ligação N-H. Além disso, todos os elétrons requeridos para a formação de NH3 são fornecidos pelo tungstênio, que não é regenerado após sua oxidação a WVI.


Leigh23 também realizou estudos cinéticos com complexos deste tipo contendo Fe, Ru e Os. Foram estudadas reações de substituição de diidrogênio e dinitrogênio em complexos do tipo [FeH(L) (difosfina)2]+ (L = H2 ou N2) (difosfina = R2PCH2CH2PR2 (R = Et ou Me) ou P(CH2CH2PR'2) 3 (R' = Me ou Ph) por ligantes L' (MeCN, PhCN ou Cl-), em acetona ou thf. A determinação dos parâmetros de ativação levaram a uma proposta mecanística para estas reações, em que a perda de H2/N2 pelo diidrogênio/dinitrogênio complexo é determinante na velocidade do processo, seguida pela rápida coordenação de L'.

Estes estudos levantam a questão se não seria o H2 a fonte de elétrons para a redução de N2 no meio biológico, ao mesmo tempo em que aproximam a química dos complexos de dinitrogênio da catálise Haber-Bosch.

Pickett36 descreveu a redução de N2 em meio alcoólico (metanol, etanol ou isopropanol) sob condições brandas e controladas, gerando amônia e um nitreto-complexo a partir do complexo trans-[W(N2)2(Ph2 PCH2CH2PPh2)2 ]. Neste caso, o ciclo catalítico foi completado através de uma redução eletroquímica. Mais recentemente, o autor propôs36 mecanismos de redução de N2 no sítio ativo da nitrogenase com base na redução, também eletroquímica, do diazeno-complexo [Mo2Cp2(µ-SMe)3 (µ-h2-H-N=N-R)]+.

Em contraste com a inabilidade de redutores mais fortes como Na, K ou Cs, estes resultados demonstram definitivamente a capacidade de complexos metálicos em ligar N2, quebrar a tripla ligação e promover a hidrogenólise da ligação M-N.

REAÇÕES DE INSERÇÃO DE DINITROGÊNIO E A QUÍMICA ORGANOMETÁLICA DAS NITROGENASES

Complexos de dinitrogênio podem sofrer reações de alquilação ou protonação de um átomo de nitrogênio terminal, permitindo a síntese de moléculas orgânicas sofisticadas. Excelentes resultados neste sentido têm sido descritos pelo grupo de Hidai52,60 e por Mori61, observando-se várias transformações úteis em síntese orgânica (Figura 9). Estas descobertas são muito importantes porque demonstram que é realmente possível usar N2 como material de partida. A conversão destes processos em ciclos catalíticos é o grande desafio para torná-los comercialmente viáveis.


Na busca por modelos competitivos para a nitrogenase, encontram-se descritas reações com outros substratos além do N259,62,63. As nitrogenases podem, por exemplo, reduzir acetileno a etileno e ciclopropeno a ciclopropano e propeno. Os modelos para explicar esta atividade da enzima baseiam-se na complexação do hidrocarboneto seguida de protonação. Os modelos clássicos são hidreto-complexos de molibdênio(0), [MoH4(Ph2PCH2CH 2PPh2)2], [MoH4(PMePh2)4] 64 e de ferro(II), [FeH(H2)(dmpe)2]+ 62,64,65, cuja química foi revista por Henderson59 e Leigh62. Em geral, os produtos da protonação de ciclopropeno na presença de complexos de metais de transição são diversos e dependem não apenas do tipo de metal, mas também do ácido e do solvente usados. Isto torna a interpretação da atividade da nitrogenase ainda mais difícil. As evidências sugerem que a redução ocorre através da complexação do substrato seguida do fluxo de prótons e elétrons, tal que a protonação do metal precede a transferência para o hidrocarboneto.

COMPLEXOS-MODELO PARA A LIGAÇÃO DO N2 NAS NITROGENASES

Um bom exemplo da capacidade de coordenação de N2 a com plexos metálicos é encontrado nos trabalhos de Fryzuk5,51. Complexos de zircônio(II) com ligantes amideto-fosfinas tri- e tetradentados (gerados in situ) reagem com N2, formando complexos binucleares com ligações "side on", como mostrado na Figura 10. Um destes complexos possui a maior distância N-N jamais medida [1,548(7) Å versus 1,098(1) Å do N2 livre], indicando uma redução de quatro elétrons. Estes compostos reagem com H2(g), resultando em uma hidrogenação parcial.


Sharp54 recentemente demonstrou a auto-montagem do cluster [(LAu)6(N2)]2+, L = PPh2Me dentre outras, a partir da reação de duas subunidades trinucleares de ouro com hidrazina. O produto contém N2 atuando como ponte entre os seis átomos de ouro, em uma estrutura semelhante a uma gaiola (Figura 11). O cluster decompõe-se em meio ácido com protonação completa ou parcial e rendimentos de 13 a 100% de NH3, dependendo da natureza do ligante auxiliar (fosfina), demonstrando que a ligação de N2 a seis átomos de ouro pode facilitar a clivagem da ligação N-N. A distância de ligação N-N no cluster é de 1,457(14) Å, indicando uma ligação simples. A separação entre os dois átomos de ouro é muito grande, maior que 3,6 Å, mostrando claramente que a estrutura do cluster hexanuclear é mantida graças à molécula de N2 em ponte.


Será esta a forma como o N2 se liga nas nitrogenases? Esta proposta está de acordo com a recente descoberta do nitrogênio intersticial no cofator da nitrogenase de molibdênio. A grande distância de separação entre dois átomos de molibdênio no síto ativo da FeMo nitrogenase é desfavorável, no entanto, a esta hipótese. O mesmo argumento aplica-se se considerarmos a participação de um sistema heterobimetálico, Mo-N2-Fe. A proposta mais aceita atualmente é a de que o N2 se liga ao heteroátomo (Mo ou V) e que os elétrons para a redução são transferidos para o N2 através dos clusters P, os prótons tendo origem no solvente, H2O7.

Inúmeros trabalhos sobre a modelagem da nitrogenase através da realização de cálculos teóricos estão descritos11. Os modelos descrevem prováveis "turn-over states" para o cofator FeMoco e o modo de ligação com os substratos, bem como possíveis mecanismos de redução centrados tanto no ferro, como no molibdênio.

Os modelos de ligação existentes, no entanto, não permitem racionalizar o fato de que o interior do cofator FeMoco é grande o bastante para acomodar o N2, mas não os intermediários de redução, como N2H4 ou duas moléculas de amônia.

Sellmann e Sutter33 apresentaram uma nova alternativa baseada na quebra de uma das ligações Fe-S-Fe do sítio ativo da enzima. Este modelo surgiu após a investigação de complexos-modelo contendo ligantes organosulfurados11,53. Os resultados mais significativos foram obtidos com complexos de ferro. Os autores prepararam o diazeno-complexo [m-N2H2{Fe('NHS 4')}2] e propuseram um ciclo catalítico hipotético para a fixação de N2 (Figura 12)66. No ciclo, N2 liga-se ao fragmento [Fe('NHS4')] e o complexo resultante é reduzido até o amim-complexo, passando pelos complexos contendo os intermediários da redução, N2H2 e N2H4. Não há evidências experimentais para a existência do complexo de dinitrogênio, no entanto, os complexos de NH3, N2H2 e N2H4 foram sintetizados e completamente caracterizados, em particular, o diazeno-complexo66,67. O estado de baixo spin do ferro(II) é imposto por restrições estéreas do ligante 'NHS4', uma característica possivelmente garantida pela cadeia protéica da nitrogenase. A labilidade da ligação Fe-S e a basicidade de Brönsted também foi observada no modelo sintético, conferindo reversibilidade para as reações de dissociação, bem como um fluxo de prótons e elétrons68. Estas observações permitiram vislumbrar um estado ativado ("turn-over state") para o cofator FeMoco, onde uma ponte Fe-S-Fe é aberta permitindo a coordenação de aminoácidos e moléculas de água vizinhas aos centros de ferro. Isto daria origem a dois centros de ferro(II) pentacoordenados, como ilustrado na Figura 13, que poderiam ligar N2 com a subseqüente redução acoplada ao fluxo de prótons. Este modelo prevê ainda que os heteroátomos, Mo ou V, agiriam apenas como moduladores do potencial redox da enzima.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sintetizando os avanços mais relevantes sob o ponto de vista da modelagem da nitrogenase, destacamos os trabalhos de Shilov, Gambarotta, Fryzuk, Cummins, Sharp, Sellmann e Hidai que apontam para a necessidade da interação cooperativa de vários metais para a obtenção de complexos robustos de N2 e reduções significativas de N2. A redução catalítica da amônia é possível em condições brandas. Quanto mais extensa a ativação e a funcionalização da molécula de N2, mais a ligação M-N se aproxima de uma função M-amideto ou nitreto. Com metais de transição do início da série e lantanídeos, estas unidades M-amideto são particularmente estáveis e quebradas apenas sob condições hidrolíticas. Estes resultados são pouco atrativos para a construção de ciclos catalíticos. A questão principal é balancear a estabilidade das ligações M-H e M-C com a M-N. Um processo catalítico necessariamente requer a labilização da molécula funcionalizada resultante da ativação do N2, para permitir a regeneração do complexo em baixo estado de oxidação. Neste sentido, há pouca esperança para os metais do início da série. Além disso, observa-se que a inércia da ligação M-N2 aumenta com a capacidade de retrodoação do metal. Em geral, complexos de N2 mais estáveis são obtidos com metais ricos em elétrons e em baixo estado de oxidação. Complexos de dinitrogênio com metais do início da série de transição são tipicamente lábeis, e a labilidade aumenta com o aumento do número de oxidação. Portanto, a química dos metais de transição do meio para a direita da tabela periódica deve ser mais promissora.

Descobertas importantes relacionadas ao uso de N2 como material de partida viável e a elaboração de estruturas moleculares complexas, como nos trabalhos de Hidai, foram obtidas em poucos casos.

A recente descoberta do grupo de Rees sobre o átomo de nitrogênio intersticial no cofator FeMoco proporcionará uma nova era de possibilidades, para os químicos sintéticos, para a ativação de N2. Os resultados obtidos até o momento são muito interessantes porque provam a viabilidade do uso de dinitrogênio como material de partida mas, na sua maioria, sem catálise. Por outro lado, a criação de ciclos catalíticos viáveis requer a inserção direta de N2 em ligações reativas como M-H ou M-C.

As tentativas de modelagem da estrutura e da reatividade do cofator através de métodos teóricos deverão ser reconsideradas face à presença do nitrogênio intersticial e dos seus efeitos sobre a estrutura e o estado de oxidação dos átomos de ferro. O desafio continua.

AGRADECIMENTOS

Ao PRONEX (fase 1), FUNPAR e CNPq pelo suporte financeiro. Ao Prof. Dr. F. de O. Pedrosa, Depto. de Bioquímica - UFPR, pelo apoio na formação do nosso grupo de pesquisa.

REFERÊNCIAS

1. Eady, R. R.; Leigh, G. J.; J. Chem. Soc., Dalton Trans. 1994, 2739.

2. Kim, J. S.; Rees, D. C.; Biochemistry 1994, 33, 389; Kim, J. S.; Rees, D. C.; Science 1992, 257, 1677; Peters, J. W.; Stowell, M. H. B.; Soltis, S. M.; Finnegan, M. G.; Johnson, M. K.; Rees, D. C.; Biochemistry 1997, 36, 1181; Mayer, S. M.; Lawson, D. M.; Gormal, C. A.; Roe, S. M.; Smith, B. E.; J. Mol. Biol. 1999, 292, 871.

3. Leigh, G. J.; Science 1998, 279, 506.

4. Howard, J. B.; Rees, D. C.; Chem. Rev. 1996, 96, 2965; Burgess, B. K.; Lowe, D. J.; Chem. Rev. 1996, 96, 2983; Lawson, D. M.; Smith, B. E.; Metal Ions in Biological Systems 2002, 39, 75.

5. Fryzuk, M. D.; Johnson, S. A.; Coord. Chem. Rev. 2000, 200-202, 379.

6. Bortels, H.; Arch. Mikrobiol. 1930, 1, 333; Bortels, H.; Zentralbl. Bakteriol. Parasitenkd. Infektionskr. Abt. 1936, 2, 193.

7. Leigh, G. J.; Science 1995, 268, 827.

8. Vol'pin, M. E.; Schur, V. B.; Dokl. Acad. Nauk. 1964, 156, 1102.

9. Allen, A. D.; Senoff, C. V.; Chem. Commun. 1965, 621.

10. Eady, R. R.; J. Inorg. Biochem. 2001, 86, 42; Eady, R. R.; Chem. Rev. 1996, 96, 3013.

11. Lovell, T.; Li, J.; Case, D. A.; Noodleman, L.; J. Am. Chem. Soc. 2002, 124, 4546; Reiher, M.; Salomon, O.; Sellmann, D.; Hess, B. A.; Chem. --Eur. J. 2001, 7, 5195; Reiher, M.; Sellmann, D.; Hess, B. A.; Theor. Chem. Acc. 2001, 106, 379; Lovell, T.; Li, J.; Liu, T. Q.; Case, D. A.; Noodleman, L.; J. Am. Chem. Soc. 2001, 123, 12392; Durrant, M. C.; Inorg. Chem. Commun. 2001, 4, 60; Rod, T. H.; Norskov, J. K.; J. Am. Chem. Soc. 2000, 122, 12751.

12. Einsle, O.; Tezcan, F. A.; Andrade, S. L. A.; Schmid, B.; Yoshida, M.; Howard, J. B.; Rees, D. C.; Science 2002, 297, 1696.

13. Smith, B. E; Science 2002, 297, 1654.

14. Maritano, S.; Fairhurst, S. A.; Eady, R. R.; J. Biol. Inorg. Chem. 2001, 6, 590.

15. Chiu, H. J.; Peters, J. W.; Lanzilotta, W. N.; Ryle, M. J.; Seefeldt, L. C.; Howard, J. B.; Rees, D. C.; Biochemistry 2001, 40, 641.

16. Syrtsova, L. A.; Timofeeva, E. A.; Russ. Chem. Bull. 2001, 50, 1789.

17. Eady, R. R.; Robson, R. L.; Richardson, T. H.; Miller, R. W.; Hawkins, M.; Chem. Rev. 1987, 244, 197.

18. Rehder, D.; J. Inorg. Biochem. 2000, 133.

19. Ribbe, M.; Gadkari, D.; Meyer, O.; J. Biol. Chem. 1997, 272, 26627; Shestakov, A. F.; Shilov. A. E.; Russ. Chem. Bull. 2001, 50, 2054.

20. Siemann, S.; Schneider, K.; Drottboom, M.; Muller, A.; Eur. J. Biochem. 2002, 269, 1650.

21. Leigh, G. J.; New J. Chem. 1994, 18, 157.

22. Shilov, A. E.; J. Mol. Catal. A: Chem. 1987, 41, 221.

23. Helleren, C. A.; Henderson, R. A; Leigh, G. J.; J. Chem. Soc., Dalton Trans. 1999, 1213.

24. Malunowi, E.; Tyrlik, S.; J. Organomet. Chem. 1974, 72, 269.

25. Chatt, J.; Pearman, A. J.; Richards, R. L.; Nature 1972, 253, 39.

26. Bazhenova, T. A.; Shilov, A. E.; Coord. Chem. Rev. 1995, 144, 69.

27. Gambarotta, S.; J. Organomet. Chem. 1995, 500, 117.

28. Didenko, L. P.; Gavrilov, A. B.; Shilova, A. K.; Strelets, V. V.; Ysarev, V. N.; Shilov, A. E.; Makhanev, V. D.; Banerjee, A. K.; Pospishil; Nouv. J. Chem. 1986, 10, 584.

29. Frykuk, M. D.; Love, J. B.; Rettig, S. J.; Young, V. G.; Science 1997, 275, 1445.

30. Han, J.; Coucouvanis, D.; Inorg. Chem. 2002, 41, 2738.; Zhou, H. C.; Su, W. P.; Achim, C.; Rao, V. P.; Holm, R. H.; Inorg. Chem. 2002, 41, 3191; Malinak, S. M.; Coucouvanis, D.; Prog. Inorg. Chem. 2001, 49, 599; Han, J.; Beck, K.; Ockwig, N.; Coucouvanis, D.; J. Am. Chem. Soc. 1999, 121, 10448; Lang, J. P.; Kawaguchi, H.; Tatsumi, K.; Chem. Commun. 1999, 2315; Arikawa, Y.; Kawaguchi, H.; Kashiwabara, K.; Tatsumi, K.; Inorg. Chem. 1999, 38, 4549; Dance, I.; J. Chem. Soc., Chem. Commun. 1998, 523; Tyson, M. A.; Coucovanis, D.; Inorg. Chem. 1997, 37, 3808; Yoo, S. J.; Hu, Z.; Goh, C.; Bominaar, E. L.; Holm, R. H.; Münck, E.; J. Am. Chem. Soc. 1997, 119, 8732;

31. Roussel, P.; Scott, P.; J. Am. Chem. Soc. 1998, 120, 1070.

32. Evans, W. J. ; Ulibarri, T. A.; Ziller, J. W.; J. Am. Chem. Soc. 1988, 110, 6877.

33. Sellmann, D.; Sutter, J.; Acc. Chem. Res. 1997, 30, 460.

34. Laplaza, C. E.; Cummins, C. C.; Science 1995, 268, 861.

35. Nishibayashi, Y.; Wakiji, I.; Hirata, K.; DuBois, M. R.; Hidai, M.; Inorg. Chem. 2001, 40, 578; Nishibayashi, Y.; Takemoto, S.; Shotaro, I.; Hidai, M.; Inorg. Chem. 2000, 39, 5946; Hidai, M.; Takahashi, T.; Yokotake, I.; Uchida, Y.; Chem. Lett. 1980, 645.

36. Pickett, C. J.; Talarmin, J.; Nature 1985, 317, 652; Le Grand, N.; Muir, K. W.; Petillon, F. Y.; Pickett, C. J.; Schollhammer, P.; Talarmin, J.; Chem.-- Eur. J. 2002, 8, 3115.

37. Luneva, N. P.; Moravsky, A. P.; Shilov, A. E.; Nouv. J. Chim. 1982, 6, 245.

38. Hughes, D. L.; Larkworthy, L. F.; Leigh, G. J.; McGarry, C. J.; Sanders, J. R.; Smith, G. J.; de Souza, J. S.; J. Chem. Soc., Chem. Commun. 1994, 2137.

39. Niedwieski, A. C; Leigh, G. J.; Soares, J. F.; Nunes, F. S.; Motta Neto, J. D.; Int. J. Quantum Chem. 2002, 88, 245; Niedwieski, A. C.; Hitchcock, P. B.; Motta Neto, J. D.; Wypych, F.; Leigh, G. J.; Nunes, F. S.; J. Braz. Chem. Soc. 2003, 14, 750.

40. Evans, D.J.; Hitchcock, P. B.; Hughes, D. L.; Leigh, G. J.; Nicholson, B. H.; Nunes, F. S.; Niedwieski, A. C.; Soares, J. F.; Inorg. Chim. Acta 2001, 319, 147.

41. Shilov, A. E.; Denisov, N. T.; Efimov, O. N.; Shuvalov, V. P.; Shuvalova, N. I.; Shilova, A. K.; Nature 1971, 231, 460; Zones, S. I.; Palmer, M. R; Palmer, J. C.; Doemeny, J. M.; Schrauzer, G. N.; J. Am. Chem. Soc. 1978, 100, 2113.

42. Berno, P.; Gambarotta, S.; Angew. Chem., Int. Ed. 1995, 34, 822; Berno, P. Gambarotta, S.; Angew. Chem.1995, 107, 871.

43. Ferguson, R.; Solari, E.; Floriani, C.; Osella, D.; Ravera, M.; Re, N.; Chiesi-Villa, A.; Rizzoli, C.; J. Am. Chem. Soc. 1997, 119, 10104.

44. Nekola, H.; Wang, D.; Gruning, C.; Gatjens, J.; Behrens, A.; Rehder, D.; Inorg. Chem. 2002, 41, 2379.

45. Davies, S. C.; Durrant, M. C.; Hughes, D. L.; Richards, R. L.; Sanders, J. R.; J. Chem. Soc., Dalton Trans. 2000, 4694.

46. Leigh, G. J.; Gimenez-Tenorio, M.; J. Am. Chem. Soc. 1991, 113, 5862.

47. Franke, O.; Wiesler, B. E.; Lehnert, N,; Nather, C.; Ksenofontov, V.; Neuhausen, J.; Tuczek, F.; Inorg. Chem. 2002, 41, 3491.

48. van Tamelen, E.; Acc. Chem. Res. 1970, 3, 361; Vol'pin, M. E.; Schur, V. B.; Kudryavtsev, R. V.; Prodayko, L. A.; J. Chem. Soc., Chem. Commun. 1968, 1038; Sobota, P.; Janas, Z.; Inorg. Chim. Acta 1981, 53, L11.

49. Tayebani, M.; Gambarotta, S.; Bensimon, C.; Organometallics 1998, 17, 4282.

50. Kawaguchi, H.; Matsuo, T.; Angew. Chem., Int. Ed. 2002, 41, 2792.

51. Fryzuk, M. D.; Haddad, T. S.; Retting, S. J.; J. Am. Chem. Soc. 1990, 112, 8185; Cohen, J. D.; Fryzuk, M. D.; Loher, T. M.; Mylvaganam, M.; Retting, S. J.; Inorg. Chem. 1998, 37, 112.

52. Nishibayashi, Y.; Iwai, S.; Hidai, M.; Science 1998, 279, 540.

53. Sellman, D.; Engl, K.; Heinemann, F. W.; Sieler, J.; Eur. J. Inorg. Chem. 2002, 1079.

54. Shan, H.; Yang, Y.; James, A. J.; Sharp, P. R.; Science 1997, 275, 1445.

55. Guan, J.; Dube, T.; Gambarotta, S.; Yap, G. P. A.; Organometallics 2000, 19, 4820; Jubb, J.; Gambarotta, S.; J. Am. Chem. Soc. 1994, 116, 4477.

56. Glowiak, T.; Kubiak, M.; Jezowska-Trzebiatowska, B.; Bull. Acad. Pol. Sci., Ser. Sci. Chim. 1977, 25, 359.

57. Handley, D. A.; Leigh, G. J.; Inorg. Chim. Acta 2001, 314, 14.

58. Edema, J. J. H.; Gambarotta, S.; Meetsma, A.; J. Am.Chem. Soc. 1989, 111, 6878.

59. Henderson, R. A.; J. Chem. Soc., Dalton Trans. 1995, 503; Jia, G.; Morris, R. H.; Schweitzer, C. T.; Inorg. Chem. 1991, 30, 594.

60. Nishibayashi, Y.; Iwai, S.; Hidai, M.; J. Am. Chem. Soc. 1998, 120, 10559; Hidai, M.; Mizobe, Y.; Chem. Rev. 1995, 95, 1115; Hidai, M.; Ishii, Y.; J. Mol. Catal. A: Chem. 1996, 107, 105.

61. Mori, M.; Hori, K.; Akashi, M.; Hori, M.; Sato, Y.; Nishida, M.; Angew. Chem., Int. Ed. 1998, 37, 5.

62. Leigh, G. J.; McMahon, C. N.; J. Organomet. Chem. 1995, 500, 219.

63. Bazhenova T. A.; Bazhenova, M. A.; Petrova, G. N.; Mironova, S. A.; Kinet. Catal. 2002, 43, 351; Benton, P. M. C.; Christiansen, J.; Dean, D. R.; Seefeldt, L. C.; J. Am. Chem. Soc. 2001, 123, 1822.

64. Hills, A.; Hughes, D. L.; Jimenez-Tenorio, M.; Leigh, G. J.; McGeary, C. A.; Rowley, A. T.; Bravo, M.; McKenna, C. E.; McKenna, M. –C.; J. Chem. Soc., Chem. Commun. 1991, 522.

65. McKenna, C. E.; McKenna, M. –C.; Huang, C. W.; Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 1979, 76, 4773.

66. Sellmann, D.; Utz, J.; Blum, N.; Heinemann, F. W.; Coord. Chem. Rev. 1999, 190, 607.

67. Sellmann, D.; Soglowek, F.; Knoch, F.; Ritter, G.; Dengler, J.; Inorg. Chem. 1992, 31, 3711; Sellmann, D.; Soglowek, F.; Knoch, F.; Moll, M. J.; Angew. Chem., Int. Ed. 1989, 28, 1271.

68. Sellmann, D.; Hofmann, T; Knoch, F.; Inorg. Chim. Acta 1994, 224, 61; Sellmann, D.; Friedrich, H.; Knoch, F.; Z. Naturforsch., B: Chem. Sci. 1993, 48, 1675.

Recebido em 15/10/02

Aceito em 10/3/03

  • 1. Eady, R. R.; Leigh, G. J.; J. Chem. Soc., Dalton Trans 1994, 2739.
  • 2. Kim, J. S.; Rees, D. C.; Biochemistry 1994, 33, 389;
  • Kim, J. S.; Rees, D. C.; Science 1992, 257, 1677;
  • Peters, J. W.; Stowell, M. H. B.; Soltis, S. M.; Finnegan, M. G.; Johnson, M. K.; Rees, D. C.; Biochemistry 1997, 36, 1181;
  • Mayer, S. M.; Lawson, D. M.; Gormal, C. A.; Roe, S. M.; Smith, B. E.; J. Mol. Biol. 1999, 292, 871.
  • 3. Leigh, G. J.; Science 1998, 279, 506.
  • 4. Howard, J. B.; Rees, D. C.; Chem. Rev 1996, 96, 2965;
  • Burgess, B. K.; Lowe, D. J.; Chem. Rev. 1996, 96, 2983;
  • Lawson, D. M.; Smith, B. E.; Metal Ions in Biological Systems 2002, 39, 75.
  • 5. Fryzuk, M. D.; Johnson, S. A.; Coord. Chem. Rev 2000, 200-202, 379.
  • 6. Bortels, H.; Arch. Mikrobiol 1930, 1, 333;
  • Bortels, H.; Zentralbl. Bakteriol. Parasitenkd. Infektionskr. Abt 1936, 2, 193.
  • 7. Leigh, G. J.; Science 1995, 268, 827.
  • 8. Vol'pin, M. E.; Schur, V. B.; Dokl. Acad. Nauk. 1964, 156, 1102.
  • 9. Allen, A. D.; Senoff, C. V.; Chem. Commun. 1965, 621.
  • 10. Eady, R. R.; J. Inorg. Biochem. 2001, 86, 42;
  • Eady, R. R.; Chem. Rev. 1996, 96, 3013.
  • 11. Lovell, T.; Li, J.; Case, D. A.; Noodleman, L.; J. Am. Chem. Soc. 2002, 124, 4546;
  • Reiher, M.; Salomon, O.; Sellmann, D.; Hess, B. A.; Chem. --Eur. J. 2001, 7, 5195;
  • Reiher, M.; Sellmann, D.; Hess, B. A.; Theor. Chem. Acc. 2001, 106, 379;
  • Lovell, T.; Li, J.; Liu, T. Q.; Case, D. A.; Noodleman, L.; J. Am. Chem. Soc. 2001, 123, 12392;
  • Durrant, M. C.; Inorg. Chem. Commun. 2001, 4, 60;
  • Rod, T. H.; Norskov, J. K.; J. Am. Chem. Soc. 2000, 122, 12751.
  • 12. Einsle, O.; Tezcan, F. A.; Andrade, S. L. A.; Schmid, B.; Yoshida, M.; Howard, J. B.; Rees, D. C.; Science 2002, 297, 1696.
  • 13. Smith, B. E; Science 2002, 297, 1654.
  • 14. Maritano, S.; Fairhurst, S. A.; Eady, R. R.; J. Biol. Inorg. Chem. 2001, 6, 590.
  • 15. Chiu, H. J.; Peters, J. W.; Lanzilotta, W. N.; Ryle, M. J.; Seefeldt, L. C.; Howard, J. B.; Rees, D. C.; Biochemistry 2001, 40, 641.
  • 16. Syrtsova, L. A.; Timofeeva, E. A.; Russ. Chem. Bull 2001, 50, 1789.
  • 17. Eady, R. R.; Robson, R. L.; Richardson, T. H.; Miller, R. W.; Hawkins, M.; Chem. Rev. 1987, 244, 197.
  • 18. Rehder, D.; J. Inorg. Biochem 2000, 133.
  • 19. Ribbe, M.; Gadkari, D.; Meyer, O.; J. Biol. Chem. 1997, 272, 26627;
  • Shestakov, A. F.; Shilov. A. E.; Russ. Chem. Bull. 2001, 50, 2054.
  • 20. Siemann, S.; Schneider, K.; Drottboom, M.; Muller, A.; Eur. J. Biochem 2002, 269, 1650.
  • 21. Leigh, G. J.; New J. Chem 1994, 18, 157.
  • 22. Shilov, A. E.; J. Mol. Catal. A: Chem. 1987, 41, 221.
  • 23. Helleren, C. A.; Henderson, R. A; Leigh, G. J.; J. Chem. Soc., Dalton Trans 1999, 1213.
  • 24. Malunowi, E.; Tyrlik, S.; J. Organomet. Chem. 1974, 72, 269.
  • 25. Chatt, J.; Pearman, A. J.; Richards, R. L.; Nature 1972, 253, 39.
  • 26. Bazhenova, T. A.; Shilov, A. E.; Coord. Chem. Rev 1995, 144, 69.
  • 27. Gambarotta, S.; J. Organomet. Chem. 1995, 500, 117.
  • 28. Didenko, L. P.; Gavrilov, A. B.; Shilova, A. K.; Strelets, V. V.; Ysarev, V. N.; Shilov, A. E.; Makhanev, V. D.; Banerjee, A. K.; Pospishil; Nouv. J. Chem. 1986, 10, 584.
  • 29. Frykuk, M. D.; Love, J. B.; Rettig, S. J.; Young, V. G.; Science 1997, 275, 1445.
  • 30. Han, J.; Coucouvanis, D.; Inorg. Chem. 2002, 41, 2738.;
  • Zhou, H. C.; Su, W. P.; Achim, C.; Rao, V. P.; Holm, R. H.; Inorg. Chem. 2002, 41, 3191;
  • Malinak, S. M.; Coucouvanis, D.; Prog. Inorg. Chem. 2001, 49, 599;
  • Han, J.; Beck, K.; Ockwig, N.; Coucouvanis, D.; J. Am. Chem. Soc. 1999, 121, 10448;
  • Lang, J. P.; Kawaguchi, H.; Tatsumi, K.; Chem. Commun. 1999, 2315;
  • Arikawa, Y.; Kawaguchi, H.; Kashiwabara, K.; Tatsumi, K.; Inorg. Chem. 1999, 38, 4549;
  • Dance, I.; J. Chem. Soc., Chem. Commun. 1998, 523;
  • Tyson, M. A.; Coucovanis, D.; Inorg. Chem. 1997, 37, 3808;
  • Yoo, S. J.; Hu, Z.; Goh, C.; Bominaar, E. L.; Holm, R. H.; Münck, E.; J. Am. Chem. Soc. 1997, 119, 8732;
  • 31. Roussel, P.; Scott, P.; J. Am. Chem. Soc. 1998, 120, 1070.
  • 32. Evans, W. J. ; Ulibarri, T. A.; Ziller, J. W.; J. Am. Chem. Soc. 1988, 110, 6877.
  • 33. Sellmann, D.; Sutter, J.; Acc. Chem. Res 1997, 30, 460.
  • 34. Laplaza, C. E.; Cummins, C. C.; Science 1995, 268, 861.
  • 35. Nishibayashi, Y.; Wakiji, I.; Hirata, K.; DuBois, M. R.; Hidai, M.; Inorg. Chem. 2001, 40, 578;
  • Nishibayashi, Y.; Takemoto, S.; Shotaro, I.; Hidai, M.; Inorg. Chem 2000, 39, 5946;
  • Hidai, M.; Takahashi, T.; Yokotake, I.; Uchida, Y.; Chem. Lett 1980, 645.
  • 36. Pickett, C. J.; Talarmin, J.; Nature 1985, 317, 652;
  • Le Grand, N.; Muir, K. W.; Petillon, F. Y.; Pickett, C. J.; Schollhammer, P.; Talarmin, J.; Chem.-- Eur. J. 2002, 8, 3115.
  • 37. Luneva, N. P.; Moravsky, A. P.; Shilov, A. E.; Nouv. J. Chim. 1982, 6, 245.
  • 38. Hughes, D. L.; Larkworthy, L. F.; Leigh, G. J.; McGarry, C. J.; Sanders, J. R.; Smith, G. J.; de Souza, J. S.; J. Chem. Soc., Chem. Commun. 1994, 2137.
  • 39. Niedwieski, A. C; Leigh, G. J.; Soares, J. F.; Nunes, F. S.; Motta Neto, J. D.; Int. J. Quantum Chem 2002, 88, 245;
  • Niedwieski, A. C.; Hitchcock, P. B.; Motta Neto, J. D.; Wypych, F.; Leigh, G. J.; Nunes, F. S.; J. Braz. Chem. Soc 2003, 14, 750.
  • 40. Evans, D.J.; Hitchcock, P. B.; Hughes, D. L.; Leigh, G. J.; Nicholson, B. H.; Nunes, F. S.; Niedwieski, A. C.; Soares, J. F.; Inorg. Chim. Acta 2001, 319, 147.
  • 41. Shilov, A. E.; Denisov, N. T.; Efimov, O. N.; Shuvalov, V. P.; Shuvalova, N. I.; Shilova, A. K.; Nature 1971, 231, 460;
  • Zones, S. I.; Palmer, M. R; Palmer, J. C.; Doemeny, J. M.; Schrauzer, G. N.; J. Am. Chem. Soc. 1978, 100, 2113.
  • 42. Berno, P.; Gambarotta, S.; Angew. Chem., Int. Ed 1995, 34, 822; Berno, P. Gambarotta, S.; Angew. Chem.1995, 107, 871.
  • 43. Ferguson, R.; Solari, E.; Floriani, C.; Osella, D.; Ravera, M.; Re, N.; Chiesi-Villa, A.; Rizzoli, C.; J. Am. Chem. Soc. 1997, 119, 10104.
  • 44. Nekola, H.; Wang, D.; Gruning, C.; Gatjens, J.; Behrens, A.; Rehder, D.; Inorg. Chem. 2002, 41, 2379.
  • 45. Davies, S. C.; Durrant, M. C.; Hughes, D. L.; Richards, R. L.; Sanders, J. R.; J. Chem. Soc., Dalton Trans. 2000, 4694.
  • 46. Leigh, G. J.; Gimenez-Tenorio, M.; J. Am. Chem. Soc 1991, 113, 5862.
  • 47. Franke, O.; Wiesler, B. E.; Lehnert, N,; Nather, C.; Ksenofontov, V.; Neuhausen, J.; Tuczek, F.; Inorg. Chem 2002, 41, 3491.
  • 48. van Tamelen, E.; Acc. Chem. Res. 1970, 3, 361;
  • Vol'pin, M. E.; Schur, V. B.; Kudryavtsev, R. V.; Prodayko, L. A.; J. Chem. Soc., Chem. Commun 1968, 1038;
  • Sobota, P.; Janas, Z.; Inorg. Chim. Acta 1981, 53, L11.
  • 49. Tayebani, M.; Gambarotta, S.; Bensimon, C.; Organometallics 1998, 17, 4282.
  • 50. Kawaguchi, H.; Matsuo, T.; Angew. Chem., Int. Ed. 2002, 41, 2792.
  • 51. Fryzuk, M. D.; Haddad, T. S.; Retting, S. J.; J. Am. Chem. Soc. 1990, 112, 8185;
  • Cohen, J. D.; Fryzuk, M. D.; Loher, T. M.; Mylvaganam, M.; Retting, S. J.; Inorg. Chem 1998, 37, 112.
  • 52. Nishibayashi, Y.; Iwai, S.; Hidai, M.; Science 1998, 279, 540.
  • 53. Sellman, D.; Engl, K.; Heinemann, F. W.; Sieler, J.; Eur. J. Inorg. Chem 2002, 1079.
  • 54. Shan, H.; Yang, Y.; James, A. J.; Sharp, P. R.; Science 1997, 275, 1445.
  • 55. Guan, J.; Dube, T.; Gambarotta, S.; Yap, G. P. A.; Organometallics 2000, 19, 4820;
  • Jubb, J.; Gambarotta, S.; J. Am. Chem. Soc. 1994, 116, 4477.
  • 56. Glowiak, T.; Kubiak, M.; Jezowska-Trzebiatowska, B.; Bull. Acad. Pol. Sci., Ser. Sci. Chim. 1977, 25, 359.
  • 57. Handley, D. A.; Leigh, G. J.; Inorg. Chim. Acta 2001, 314, 14.
  • 58. Edema, J. J. H.; Gambarotta, S.; Meetsma, A.; J. Am.Chem. Soc. 1989, 111, 6878.
  • 59. Henderson, R. A.; J. Chem. Soc., Dalton Trans 1995, 503;
  • Jia, G.; Morris, R. H.; Schweitzer, C. T.; Inorg. Chem 1991, 30, 594.
  • 60. Nishibayashi, Y.; Iwai, S.; Hidai, M.; J. Am. Chem. Soc. 1998, 120, 10559;
  • Hidai, M.; Mizobe, Y.; Chem. Rev. 1995, 95, 1115;
  • Hidai, M.; Ishii, Y.; J. Mol. Catal. A: Chem. 1996, 107, 105.
  • 61. Mori, M.; Hori, K.; Akashi, M.; Hori, M.; Sato, Y.; Nishida, M.; Angew. Chem., Int. Ed. 1998, 37, 5.
  • 62. Leigh, G. J.; McMahon, C. N.; J. Organomet. Chem. 1995, 500, 219.
  • 63. Bazhenova T. A.; Bazhenova, M. A.; Petrova, G. N.; Mironova, S. A.; Kinet. Catal. 2002, 43, 351;
  • Benton, P. M. C.; Christiansen, J.; Dean, D. R.; Seefeldt, L. C.; J. Am. Chem. Soc. 2001, 123, 1822.
  • 64. Hills, A.; Hughes, D. L.; Jimenez-Tenorio, M.; Leigh, G. J.; McGeary, C. A.; Rowley, A. T.; Bravo, M.; McKenna, C. E.; McKenna, M. C.; J. Chem. Soc., Chem. Commun. 1991, 522.
  • 65. McKenna, C. E.; McKenna, M. C.; Huang, C. W.; Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 1979, 76, 4773.
  • 66. Sellmann, D.; Utz, J.; Blum, N.; Heinemann, F. W.; Coord. Chem. Rev. 1999, 190, 607.
  • 67. Sellmann, D.; Soglowek, F.; Knoch, F.; Ritter, G.; Dengler, J.; Inorg. Chem 1992, 31, 3711;
  • Sellmann, D.; Soglowek, F.; Knoch, F.; Moll, M. J.; Angew. Chem., Int. Ed. 1989, 28, 1271.
  • 68. Sellmann, D.; Hofmann, T; Knoch, F.; Inorg. Chim. Acta 1994, 224, 61;
  • Sellmann, D.; Friedrich, H.; Knoch, F.; Z. Naturforsch., B: Chem. Sci. 1993, 48, 1675.
  • *
    e-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Dez 2003
    • Data do Fascículo
      Dez 2003

    Histórico

    • Recebido
      15 Out 2002
    • Aceito
      10 Mar 2003
    Sociedade Brasileira de Química Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), CP6154, 13083-0970 - Campinas - SP - Brazil
    E-mail: quimicanova@sbq.org.br