Resumo
In this work, we report the synthesis and the photoluminescence features of Eu(III)-doped yttrium-aluminium oxide obtained by non-hydrolytic sol-gel routes. After heating the powders above 600 ºC the XRD patterns show the presence of the Y4Al2O9 (YAM) and Y3Al5O12 (YAG) phases. At 800 and at 1500 ºC the PL spectra display the Eu(III) lines characteristic of the YAM monoclinic phase. The 5D0->7F2 transition is favored relatively to the 5D0->7F1 lines. However, at 1100 ºC the cubic YAG is the preferential phase and the 5D0->7F1 transition dominates the spectrum. The Eu(III) ions lie in a centrosymmetrical site. The different solvents used in the sol-gel synthesis also change the relative proportion between these two phases. This is monitored analyzing the modifications in the relative intensity between the 5D0->7F2 and the 5D0->7F1 transitions.
YAG; Eu III; sol-gel
YAG; Eu III; sol-gel
ARTIGO
Óxido misto de ítrio-alumínio dopado com Eu(III)
Eu(III)-doped aluminium yttrium oxide
Eduardo J. NassarI,* * e-mail: ejnassar@unifran.br ; Lilian R. AvilaI; Paula F. S. PereiraI; Omar J. de LimaI; Lucas A. RochaI; Cesar MelloI; Katia J. CiuffiI; Luis D. CarlosII
IUniversidade de Franca, Av. Dr. Armando Salles Oliveira, 201, 14404-600 Franca - SP
IIDepartamento de Física, CICECO, Universidade de Aveiro, 3810-193 Aveiro - Portugal
ABSTRACT
In this work, we report the synthesis and the photoluminescence features of Eu(III)-doped yttrium-aluminium oxide obtained by non-hydrolytic sol-gel routes. After heating the powders above 600 ºC the XRD patterns show the presence of the Y4Al2O9 (YAM) and Y3Al5O12 (YAG) phases. At 800 and at 1500 ºC the PL spectra display the Eu(III) lines characteristic of the YAM monoclinic phase. The 5D0®7F2 transition is favored relatively to the 5D0®7F1 lines. However, at 1100 ºC the cubic YAG is the preferential phase and the 5D0®7F1 transition dominates the spectrum. The Eu(III) ions lie in a centrosymmetrical site. The different solvents used in the sol-gel synthesis also change the relative proportion between these two phases. This is monitored analyzing the modifications in the relative intensity between the 5D0®7F2 and the 5D0®7F1 transitions.
Keywords: YAG; Eu III; sol-gel.
INTRODUÇÃO
Terras raras dopando vidro têm atraído a atenção da comunidade científica, devido às suas potenciais aplicações como dispositivos ópticos1. A química do sol-gel já é conhecida há bastante tempo, porém só nas últimas décadas tem sido explorada, principalmente pelo uso dos alcóxidos, os quais envolvem a produção de uma suspensão coloidal com subseqüente transformação em um gel viscoso e, posteriormente, um sólido2. Existe uma série de vantagens para o uso do processo sol-gel tradicional, tais como baixas temperaturas, incorporação de espécies orgânicas, entre outras, mas algumas limitações podem interferir no produto final, principalmente a sensibilidade dos precursores e a umidade.
O processo sol-gel não-hidrolítico recentemente desenvolvido tem sido empregado como metodologia alternativa, devido à sua versatilidade como método de preparação de óxidos inorgânicos3. A rota sol-gel não-hidrolítica envolve a reação de um haleto metálico com um doador de oxigênio, tal como álcool ou éter, para formar um alcóxido na ausência de umidade, com posterior formação do óxido inorgânico4. A literatura sobre essa metodologia tem aumentado nos últimos anos. O processo tem sido usado para a obtenção de óxido de alumínio e silício contendo diferentes tipos de compostos3,5-9 .
Óxido misto de ítrio e alumínio possui particular interesse quando dopado com terras raras, principalmente devido a suas propriedades ópticas em lasers no estado sólido e luminóforos10-12. Esses materiais são normalmente sintetizados a altas temperaturas através de reações no estado sólido entre os óxidos de ítrio e alumínio. Tais condições induzem a vários problemas tais como tamanho de partículas e formação de diferentes fases9,10. A versatilidade do método sol-gel tem motivado a preparação de óxidos dopados com terras raras para aplicações fotônicas13-15.
A rota sol-gel não-hidrolítica pode ser utilizada para preparar óxido de ítrio-alumínio dopado com íons de terras raras. O controle da reação dos cloretos de ítrio, alumínio e európio realizado em tubo selado com temperatura e atmosfera controladas, utilizando álcoois e éteres como doadores de oxigênio para a formação in situ dos alcóxidos, e posterior tratamento térmico, conduz à formação dos óxidos mistos16, os quais tem despertado enorme interesse por apresentarem novas propriedades físico-químicas17.
Neste trabalho, reportamos a síntese e as propriedades luminescentes do íon Eu III dopando o óxido de ítrio e alumínio obtido pela rota sol-gel não-hidrolítica. A partir dos cloretos de ítrio e alumínio e éter diisopropílico ou etanol, como doadores de oxigênio, a mistura permaneceu em refluxo a uma temperatura constante em atmosfera de argônio. O cloreto de európio III foi utilizado como sonda estrutural. O gel formado foi tratado a 400, 800, 1100 e 1500 ºC. As amostras foram caracterizadas por difração de raios-X, microscopia eletrônica de varredura, análise termogravimétrica e fotoluminescência.
PARTE EXPERIMENTAL
Preparação do óxido de ítrio-alumínio
O material foi sintetizado via modificação do método descrito por Acosta6. 1,0 g de cloreto de alumínio (AlCl3), 20 mL de cloreto de ítrio 0,10 mol/L e 20 mL de etanol (EtOH) ou éter diisopropílico (i-Pr2O) foram usados como doadores de oxigênio. A essa mistura foi adicionado 1% de EuCl3 em relação ao alumínio. A mistura permaneceu em refluxo por 3 h a 110 ºC, em 50 mL de diclorometano (previamente destilado) sob atmosfera de argônio. O condensador foi acoplado a um banho termostático, e a temperatura foi mantida em 5 ºC. Depois de 90 min formou-se o gel; o sólido foi obtido após a remoção do solvente sob vácuo. O sólido sofreu tratamento térmico em temperaturas de 400, 800, 1100 e 1500 ºC durante 3 h.
Análise termogravimétrica (TGA/DTA)
A análise termogravimétricafoi realizada em um Thermal Analyst 5000 - TA Instruments SDT Q 600 TGA-DTA, em atmosfera de nitrogênio, com vazão de 100 mL/min e razão de aquecimento de 10 ºC min-1, no intervalo de temperatura de 25 a 1500 ºC.
Difração de raios-X (DRX)
As medidas de difração de raios-X foram realizadas à temperatura ambiente em um Rigaku Geigerflex D/max-c "diffractometer system" usando radiação CuKa (l = 1,54 Å), 2q entre 4 e 80º, com resolução de 0,05º. Utilizou-se como base de dados dos raios-X o ICDD-PDF-4.
Fotoluminescência (FL)
Os espectros de emissão e excitação foram obtidos à temperatura ambiente em um espectrofluorimetro Jobin Yvon-Spex (HR 460), utilizando uma fotomultiplicadora Hamamatsu R928. Utilizou-se como fonte de excitação uma lâmpada de Xe (150 mW) acoplada a um monocromador (TRIAX 180). Todos os espectros de excitação foram corrigidos, subtraindo-se o espectro da lâmpada.
Microscopia eletrônica de varredura (MEV)
As imagens de microscopia eletrônica de varredura foram registradas em um microscópio Hitachi S-4100, com potência de 25 kV. As amostras foram previamente cobertas com um filme de carbono.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Difração de raios-X (DRX)
As Figuras 1 e 2 apresentam o DRX do óxido misto preparado com éter e álcool, como doadores de oxigênio, respectivamente. Pode-se observar a presença de diferentes fases do óxido misto de ítrio e alumínio, independente do doador de oxigênio utilizado na preparação da amostra. Após a secagem a 100 ºC, o difratograma apresentou uma mistura de cloreto de ítrio e alumínio. O tratamento a 400 ºC apresentou estrutura amorfa; a 700 ºC o óxido começou a apresentar estrutura organizada e várias fases apareceram, tais como AlCl3.6H2O, YCl3.6H2O, AlEuO3, EuOCl, YOCl, Y2O3, Al2O3, (Y.95Eu.05)O3, Al2Y4O9 e Al5Y3O12.
Em todos os DRX não foram observados picos referentes ao óxido de európio, indicando que o íon Eu III está fazendo parte da estrutura, provavelmente ocupando a posição do ítrio no material.
Na temperatura de 100 ºC observou-se 2q característicos dos cloretos de ítrio e alumínio; a partir de 700 ºC os picos aparecem em 2q em torno de 31º, característico da fase Al2Y4O9 (YAM) e 33º, característico do Al5Y3O12 (YAG).
TGA-DTA
As análises termogravimétricas das amostras apresentaram três transformações endotérmicas distintas a 100, 200 e 400 ºC, as quais podem ser atribuídas à perda de moléculas de água e do solvente, como se pode ver nas Figuras 3a, 3b, 4a e 4b. A amostra obtida utilizando EtOH como doador de oxigênio apresentou uma perda de massa de 58%, já para o i-Pr2O a perda de massa é de 63%. A perda de massa ocorre principalmente entre 120 e 300 ºC. A análise térmica diferencial indica uma transformação exotérmica a 870 ºC, a qual foi atribuída a uma transição de fase, provavelmente dos óxidos de ítrio e alumínio em óxidos mistos, pois a partir de 800 ºC os picos em 31º e 33º são observados no DRX7.
Microscopia eletrônica de varredura (MEV)
As Figuras 5 e 6 apresentam as imagens das amostras preparadas com os diferentes doadores de oxigênio, tratadas a 1100 e 1500 ºC. A Figura 5 apresenta o MEV da amostra preparada com etanol e a Figura 6, com éter.
As imagens da microscopia mostraram que as amostras preparadas com éter como doador estão mais densas que as preparadas com etanol como doador. A evaporação rápida do solvente conduz à densificação do material, levando à formação de uma estrutura irreversível, isto é observado na amostra preparada com éter como doador de oxigênio, tendo a estrutura do YAG como fase preferencial. A lenta evaporação do etanol conduziu à formação do YAG a 1100 ºC porém, quando tratada a 1500 ºC, a fase preferencial é a estrutura do YAM.
Propriedades luminescentes
As Figuras 7 e 8 mostram os espectros do íon Eu III dopando o óxido de ítrio-alumínio, para as amostras preparadas a partir do EtOH e i-Pr2O como doadores de oxigênio, respectivamente. O máximo de emissão foi fixado em 611 nm (5D0® 7F2). As linhas finas foram atribuídas às transições entre os níveis 7F0 e 5L6 , 5D1 - 3.
Os espectros de excitação para as amostras tratadas a 400 ºC apresentam banda de transferência de carga (BTC) em 288 nm para o doador EtOH e 290 nm para o i-Pr2O. As amostras tratadas a 800 ºC não apresentam a BTC. Para as amostras tratadas a 1100 e 1500 ºC observa-se pequena banda na região de maior energia, ao redor de 260 nm, correspondente à matrix Y2O318.
A amostra preparada com o álcool apresenta espectro favorecendo a transição 5D2 (466 nm), ao passo que o éter favorece a transição 5L6 (394 nm), como pode ser observado nas Figuras 7 e 8. Os espectros de emissão do íon Eu III na matriz ítrio-alumínio excitado em 395 nm, nível 5L6, são mostrados nas Figuras 9 e 10, tendo como doadores de oxigênio álcool e éter, respectivamente.
Na Figura 9, onde se utilizou álcool como doador de oxigênio, observaram-se semelhanças espectrais nas amostras tratadas a 800 e 1500 ºC; já a tratada a 1100 ºC apresenta uma nova fase. Na Figura 10 a fase favorecida é a mesma para as três temperaturas.
A Tabela 1 apresenta os comprimentos de onda de emissão para as amostras preparadas com etanol e éter.
As amostras obtidas utilizando álcool como doador de oxigênio apresentam três bandas na região da transição 5D0® 7F0, uma fraca banda em 578,5 nm aparece na amostra tratada a 800 e 1100 ºC e desaparecendo em 1500 ºC. Um comportamento similar é observado para as bandas em 590,4, 591,1 e 596,4 nm, correspondente à transição 5D0® 7F1. A transição 5D0® 7F1 é a mais importante no espectro da amostra tratada a 1100 ºC, indicando a fase cúbica como a preferencial do YAG. A 1500 ºC a fase preferencial é a monoclínica relativa ao YAM.
Para as amostras preparadas com éter como doador de oxigênio, a fase YAG é formada a 800 ºC e permanece até 1500 ºC.
A transição 5D0® 7F2 ocorre através de um mecanismo de dipolo elétrico; ela é chamada de transição hipersensitiva, visto que a intensidade relativa é facilmente alterada quando ocorrem alterações estruturais no ambiente do íon. A transição 5D0® 7F1 é de natureza dipolo magnético e é muito pouco afetada pelas mudanças estruturais. A razão das áreas das bandas relativas às transições 5D0® 7F2 / 5D0® 7F1 no espetro de emissão indica um sítio de simetria relativa, visto que a intensidade será zero quando o íon está em um centro de simetria, e pode ser largo em sítios distorcidos19. Isto é observado em nossos espectros de emissão na transição de fases entre YAG e YAM.
A fase cristalina Al2Y4O9 monoclínica tem três sítios cristalográficos distintos, dois de baixa simetria, cada com o grupo pontual Cs20. O terceiro sítio pode ser descrito com um octaedro distorcido, com sete oxigênios a uma distância maior21. Este fato explica a maior intensidade da transição 5D0® 7F2 em relação a 5D0® 7F1.
A fase cúbica Al5Y3O12 dopada com íons Eu III ocupa as posições do Y III. Nesta fase o Eu III ocupa dois diferentes sítios cristalográficos22, que são os sítios S6 e C2. O sítio S6 tem o nível 5D0 87 cm-1 mais alto que o 5D0 do C223.
As Figuras 11 e 12 mostram os espectros de emissão do íon Eu III na matriz de alumínio/ítrio quando excitado em 464 nm, preparadas em álcool e éter como doadores de oxigênio, respectivamente.
Observa-se a emissão preferencial do YAM quando excitado no nível 5D2 para as amostras preparadas com álcool. Para as amostras preparadas com éter observou-se fraca emissão da fase YAG quando excitado em 464 nm.
Na Tabela 2 são apresentados os tempos de vida para as transições 5D0® 7F2 e 5D0® 7F1 do íon Eu III na matriz de alumínio/ítrio preparadas com diferentes doadores de oxigênio a diferentes temperaturas.
O tempo de vida acima de 1,00 ms sugere ambiente sem moléculas de água. O tempo de vida da transição em 611 nm, excitado em diferentes comprimentos de onda (395 e 464 nm) apresenta valores similares; isto se deve à contribuição apenas da fase YAM. O elevado tempo de vida da transição 5D0® 7F1 em 590 nm está relacionado somente com a fase YAG.
CONCLUSÃO
A presente investigação demonstra a preparação de óxidos de alumínio/ítrio pela rota sol-gel não-hidrolítica. A fase formada depende do tipo de doador de oxigênio utilizado na preparação in situ do alcóxido de alumínio e ítrio.
A fase YAG pode ser obtida a baixas temperaturas, a 800 ºC foi observada a formação da estrutura do YAG quando se utilizou éter diisopropílico como doador de oxigênio.
Os tempos de vida confirmaram a presença de diferentes fases estruturais.
A metodologia sol-gel não-hidrolítica é um processo eficiente na preparação de matrizes mistas contendo alumínio/ítrio bem como apresenta boas condições para obtenção do YAG a baixas temperaturas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPESP pelas bolsas e auxílios concedidos. A Dra. R. A. Sá Ferreira, da Universidade de Aveiro pela ajuda nas medidas de fotoluminescência.
Recebido em 12/3/04; aceito em 22/9/04; publicado na web em 28/1/05
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
04 Maio 2005 -
Data do Fascículo
Mar 2005
Histórico
-
Recebido
12 Mar 2004 -
Revisado
22 Set 2004 -
Aceito
28 Jan 2005