Resumo
α,β-unsaturated lactones possessing an alkylidene appendage group at the γ-position, are frequently termed γ-alkylidenebutenolides. Over the past decades, an increasing number of these compounds have been isolated from various natural sources. Members of this class of substances vary greatly in structural complexity and functionality. Besides that, many of them have been shown to display a wide range of biological activities. The γ-alkylidenebutenolides has attracted the attention of the organic synthetic chemists resulting in the development of a variety of process to synthesize them. This article review is concerned with the different approaches that can be utilized to prepare γ-alkylidenebutenolides.
γ-alkylidenebutenolides; α,β-unsaturated lactones; butenolides
γ-alkylidenebutenolides; α,β-unsaturated lactones; butenolides
REVISÃO
Estratégias para a síntese de γ-alquilidenobutenolídeos
Strategies for the synthesis of γ-alkilidenebutenolides
Luiz Cláudio Almeida Barbosa; Róbson Ricardo Teixeira* * e-mail: robsonr.teixeira@ufv.br ; Patrícia Fontes Pinheiro; Célia Regina Álvares Maltha; Antônio Jacinto Demuner
Departamento de Química. Universidade Federal de Viçosa, Av. P.H. Rolfs, s/n, 36570-000 Viçosa - MG, Brasil
ABSTRACT
α,β-unsaturated lactones possessing an alkylidene appendage group at the γ-position, are frequently termed γ-alkylidenebutenolides. Over the past decades, an increasing number of these compounds have been isolated from various natural sources. Members of this class of substances vary greatly in structural complexity and functionality. Besides that, many of them have been shown to display a wide range of biological activities. The γ-alkylidenebutenolides has attracted the attention of the organic synthetic chemists resulting in the development of a variety of process to synthesize them. This article review is concerned with the different approaches that can be utilized to prepare γ-alkylidenebutenolides.
Keywords: γ-alkylidenebutenolides; α,β-unsaturated lactones; butenolides.
INTRODUÇÃO
Butenolídeos correspondem a γ-lactonas insaturadas, podendo apresentar anéis dos tipos I ou II (Figura 1).
Certos Δ3-butenolídeos que possuem um grupo alquilideno localizado na posição γ (estrutura geral III, Figura 1) são conhecidos genericamente como γ-alquilidenobutenolídeos.
Durante as últimas décadas, um grande número de γ-alquilidenobutenolídeos foi isolado de várias fontes naturais. Muitos membros dessa família, alguns deles mostrados na Figura 2, apresentam importantes atividades biológicas, incluindo atividade antibiótica, apresentada pelos compostos protoanemonina (1),1 lissoclinolídeo (8)6 e rubrolídeos (15-20);11 inibição da biossíntese do colesterol, observada com as substâncias xerulina (5), ácido xerulínico (6) e diidroxerulina (7);5 citotoxicidade, observada com os goniobutenolídeos A (10) e B (11)8 e os nostoclídeos I (12) e II (13).9 Outros exemplos dessa classe de butenolídeos são os compostos 29-31. A substância 29 é conhecida por ativar a germinação de sementes,13 enquanto a pirroxantina (30)14 e peridinina (31)15 correspondem aos γ-alquilidenobutenolídeos de maior complexidade estrutural já isolados e desempenham papel importante na fotossíntese de algas e dinoflagelados, respectivamente.
Os γ-alquilidenobutenolídeos têm sido considerados atrativos alvos sintéticos devido à diversidade estrutural que apresentam, bem como às suas propriedades biológicas. Como consequência, vários procedimentos sintéticos vêm sendo desenvolvidos para o preparo dessas substâncias.16 Nesta revisão são descritos vários métodos que podem ser utilizados para a síntese de γ-alquilidenobutenolídeos.
SÍNTESE DE γ-ALQUILIDENOBUTENOLÍDEOS VIA REAÇÕES DE LACTONIZAÇÃO DE γ-CETOÁCIDOS, γ-HIDROXIÁCIDOS E OUTROS COMPOSTOS CARBONILADOS
A reação de lactonização de γ-cetoácidos corresponde a um dos primeiros procedimentos desenvolvidos para a síntese de γ-alquilidenobutenolídeos.17 Um exemplo de aplicação desse método é a conversão do ácido γ-oxo-pent-2-enoico na substância protoanemonina (1) (Esquema 1).18 Outro exemplo dessa reação é a conversão do ácido 2-hidroxi-2-(4-oxo-tetra-idro-2H-piran-3-il)malônico na desoxipatulina (32).3 Nesse caso, o rendimento da transformação não foi relatado.
A ciclização de γ-hidroxiácidos, seguida de reação de eliminação, resulta na formação de γ-alquilidenobutenolídeos. Um exemplo do uso dessa estratégia pode ser visto na síntese das substâncias goniobutenolídeo A (10) e goniobutenolídeo B (11) (Esquema 2).19
O orto-éster 33 foi preparado em oito etapas a partir do ácido mandélico. O tratamento da substância 33 com quantidade catalítica do ácido 10-canforsulfônico resultou na formação da lactona 34, que, ao reagir com DBU, resultou na formação dos butenolídeos 35-37 (na proporção de 2,2:0,6:1). Posterior remoção do grupo tert-butildimetilsila levou à obtenção do gonobutenolídeo A (10) e gonobutenolídeo B (11) na proporção de 3:1.
Exemplos de outros compostos carbonilados que podem ser utilizados em processos de lactonização visando a obtenção de γ-alquilidenobutenolídeos são ilustrados no Esquema 3.20
Processos de carbonilação
Durante o desenvolvimento de uma metodologia para a síntese de quinonas a partir de o-iodoaril alquenil cetonas, Negishi e Tour descobriram que a exposição desses substratos à atmosfera de monóxido de carbono, na presença de Pd(OAc)2/PPh3 (5 mol%) e trietilamina (5 equivalentes), em acetonitrila, resultava na formação de γ-alquilidenobutenolídeos, conforme ilustrado no Esquema 4. 21
A formação dos produtos 39 e 40 foi racionalizada considerando-se o envolvimento de um complexo acilpaládio que sofre um processo de ciclização promovido pela base trietilamina presente no meio reacional (Esquema 5). O complexo acilpaládio é resultante de dois processos consecutivos: adição oxidativa do haleto de arila ao complexo de paládio, seguida da inserção de monóxido de carbono.
As descobertas do grupo de Negishi motivaram o desenvolvimento de metodologias estereosseletivas para a síntese de γ-alquilidenobutenolídeos. Por exemplo, a exposição de triflatos aromáticos 41 à atmosfera de monóxido de carbono na presença de Pd(OAc)2 e do ligante 1,3-difenilfosfinapropano (dppp) resultou na formação de 3-ilidenofitalidas 42 (Esquema 6). É importante destacar que somente estereoisômeros de configuração Z para a ligação dupla exocíclica ao anel foram isolados.22
As (Z)-β-iodoenonas 43 são substratos que podem ser carbonilados na presença de PdCl2(PPh3)2 e trietilamina, para produzir γ-alquilidenobutenolídeos (Esquema 7).23
Os processos de carbonilação ocorrem com rendimentos satisfatórios, resultando, no caso dos substratos 43a-f, na formação de butenolídeos que apresentam estereoquímica Z (> 98%) relativa à ligação dupla exocíclica. Nesses casos, os estereoisômeros E não foram observados por meio da espectroscopia de RMN. Contudo, conforme pode ser observado no Esquema 7, a estereosseletividade não é tão elevada quando os substratos não possuem substituintes no átomo de carbono alfa da ligação dupla (compostos 43g e 43h), havendo aumento da proporção do isômero com ligação dupla exocíclica E. Esse fato indica que o tamanho do substituinte R1 influencia o curso estereoquímica da reação com respeito à configuração da nova ligação C=C formada. A síntese das β-iodoenonas 43, requeridas para o processo de carbonilação, pode ser realizada a partir dos alquinos correspondentes (Esquema 8).
A utilidade sintética dessas reações de carbonilação foi demonstrada na síntese do bovolídeo (2) (Esquema 9).23
Reações de ciclização entre enol éteres de silício e cloreto de oxalila
Os enol éteres de silício e o cloreto de oxalila são usados em várias reações de ciclização, catalisados por ácidos de Lewis, que podem ser utilizados para a síntese de compostos heterocíclicos incluindo γ-alquilidenobutenolídeos.24 Essas reações possuem elevada regio e estereosseletividade. Alguns desses processos serão abordados nessa seção.
Os ácidos pulvínicos e vulpínicos, derivados do ácido tetrônico (Figura 3), constituem um grupo de substâncias naturais isoladas de diferentes liquens e espécies de fungos. Eles são pigmentos amarelos ou de cor laranja e apresentam propriedades biológicas, como atividade antimicrobiana, antioxidante, anti-inflamatória, antitumoral e antiviral.25
Ahmed e Langer26 relataram a síntese de vários ácidos pulvínicos naturais a partir dos α-hidroxi-γ-alquilidenobutenolídeos 48a-d. A síntese desses butenolídeos envolve a reação de ciclização entre éteres de silício 47a-d e o cloreto de oxalila (Esquema 10).
Os compostos 48a-d foram convertidos nos correspondentes triflatos 49a-d, que, submetidos a reações de acoplamento de Suzuki27 com os ácidos borônicos pertinentes, resultaram na obtenção de vários ácidos pulvínicos,26 conforme exemplificado na Tabela 1.
Além de serem úteis como blocos construtores para o preparo de ácidos pulvínicos, os α-hidroxi-γ-alquilidenobutenolídeos podem ser convertidos em γ-lactonas saturadas,28 um tipo de unidade estrutural encontrada em vários produtos naturais. Assim, a hidrogenação catalítica (Pd/C) dos butenolídeos 50a-f resulta na formação de γ-lactonas saturadas 51a-f com bons rendimentos e com diastereosseletividade syn:anti>98:2. Cabe salientar que a hidrogenação preferencial da ligação dupla exocíclica dos compostos 50a-f resulta na formação de intermediários a partir dos quais os estereoisômeros syn são formados preferencialmente, considerando-se que o segundo processo de hidrogenação ocorre pela face menos impedida da ligação dupla endocíclica (Esquema 11).28
Na presença de Pd(PPh3)4 e ácido hexilborônico, os triflatos 53 originam novas lactonas 54, nas quais o grupo hidroxila da posição alfa foi substituído por um átomo de hidrogênio (Esquema 12).29
A formação desses butenolídeos pode ser explicada considerando-se as etapas de adição oxidativa, transmetalação, β-eliminação de hidreto e eliminação redutiva, mostradas no ciclo catalítico do Esquema 13.29 É importante destacar que, na presença do catalisador Pd(PPh3)4, alquil boranos sofrem rápida β-eliminação de hidreto.
Essa transformação é sinteticamente útil uma vez que certos γ-alquilidenobutenolídeos, como o piperolídeo30 e seu epóxi-derivado30 (Figura 4), são desprovidos de substituintes na posição alfa.
Reações de ciclização entre enol éteres de silício e cloreto de oxalila também são úteis para a síntese de ésteres, análogos aos ácidos pulvínicos e vulpínicos.31 Assim, a reação entre os éteres 57a-d e o cloreto de ácido resulta na obtenção dos ésteres γ-alquilidenotetrônicos 58a-d (Esquema 14).
As reações são catalisadas pelo ácido de Lewis Me3SiOTf e apresentam elevada regiosseletividade. Os compostos 58a-d foram isolados como estereoisômeros, possuindo, predominantemente, estereoquímica Z (razão Z:E > 98:2).31 Quando convertidos nos correspondentes triflatos 59, os ésteres γ-alquilidenotetrônicos podem ser acoplados com diferentes organoestananas (acoplamento de Stille32), resultando nos derivados 60a-i funcionalizados no carbono alfa (Esquema 15).31
Além disso, por meio de conversões de grupos funcionais, é possível também utilizar ésteres tetrônicos para síntese de ácidos pulvínicos, conforme exemplificado no Esquema 16 para a obtenção do composto 62 a partir do éster 58d.
Outros exemplos de reações de ciclização entre enol éteres de silício análogos aos compostos 57a-d com cloreto de oxalila foram recentemente descritos na literatura.33
Um grupo de γ-alquilidenobutenolídeos, do qual fazem parte a patulina (3),3 o ligustilídeo (4)4 e a piptocarfina A (14) (Figura 2),10 possuem estruturas policíclicas. Langer e colaboradores desenvolveram um processo para a síntese de vários γ-alquilidenobutenolídeos bicíclicos.34 O método consiste na ciclização regiosseletiva entre o derivado sililado 65 e o cloreto de oxalila, catalisada por Me3SiOTf, resultando na obtenção da lactona 66. A reação de Mitsunobu35 entre 66 e diferentes álcoois alílicos resultou na obtenção dos derivados 67, que foram subsequentemente convertidos nos butenolídeos bicícliclos 68 via reação de metátese por fechamento de anel (Esquema 17).36 Os compostos 69-71 também foram preparados pela utilização dessa metodologia.34
Compostos dicarbonilados cíclicos também podem ser usados na obtenção de γ-alquilidenobutenolídeos bicíclicos (Esquema 18).37
Reações de eliminação estereosseletivas
Uma estratégia, baseada em reações de β-eliminação, tem sido aplicada à síntese de vários γ-alquilidenobutenolídeos naturais e sintéticos.38-45 A eliminação de água a partir de 5-hidroxialquilfuranonas, diastereoisomericamente puras e apresentando as estruturas 74 ou 76, leva à formação dos estereiosômeros (Z)-75 ou (E)-77 (Esquema 19). Embora processos similares tenham sido previamente descritos na literatura,47 coube ao grupo de Brückner mostrar a versatilidade e aplicabilidade dessa metodologia na síntese de diferentes γ-alquilidenobutenolídeos.38-45
As lactonas 74 ou 76 envolvidas nesses processos de eliminação podem ser preparadas, por exemplo, a partir de carboidratos38,41 ou por reações de adição aldólica.43,46 O processo de eliminação de água pode ser realizado na presença das misturas de anidrido tríflico/piridina ou azodicarboxilato de dietila (DEAD)/Ph3P.
A síntese da frelingina (9)43,44 corresponde a um dos muitos exemplos de aplicação dessa metodologia (Esquema 20).38-45 A reação entre aldeído 78 e o furano 79 na presença de BF3.Et2O levou à formação do aduto 80 com diastereosseletividade superior a 99%. A reação de acoplamento, catalisada por paládio, entre o aduto 80 e o furano 81 resultou na obtenção da substância 82, que é similar à lactona 74 (Esquema 19) no tocante às configurações dos centros estereogênicos. O tratamento de 82 com azodicarboxilato de dietila (DEAD) e excesso de PPh3 resultou na frelingina (9) com 94% de rendimento como uma mistura de estereoisômeros Z/E (92:8) (Esquema 20).
Os processos de β-eliminação realizados com as furanonas diastereoisomericamente puras do tipo 74 ou 76 não conduzem, exclusivamente, aos correspondentes estereoisômeros Z-75 ou E-77 (Esquema 19). A síntese da frelingina apresentada no Esquema 20 corresponde a um exemplo que corrobora essa afirmativa. O processo de β-eliminação a partir da lactona 82 resultou na formação de uma mistura dos estereoisômeros Z/E numa proporção de 92:8. Essas observações indicam que as reações de β-eliminação que empregam 5-hidroxialquilfuranonas diastereoisomericamente puras não são estereoespecíficas e/ou os produtos de eliminação podem estar em equilíbrio sob as condições utilizadas para a realização das reações. É importante salientar que várias metodologias similares à desenvolvida por Brückner,38-45 mas que envolvem a eliminação de outras substâncias, como HI ou ácido benzenossulfônico, são descritas na literatura.48
Conforme descrito anteriormente, a síntese de γ-alquilidenobutenolídeos pode ser efetuada a partir de 5-hidroxialquilfuranonas que são previamente sintetizadas e subsequentemente submetidas às reações de eliminação. No entanto, na literatura são descritas rotas sintéticas envolvendo a síntese de γ-alquilidenobutenolídeos via reações de eliminação de misturas diastereoisoméricas de 5-heteroalquilfuranonas análogas às 5-hidroxialquilfuranonas.49 Boukouvalas e Maltais50 relataram que a reação de adição entre os aldeídos 83 e o furano 84, na presença do ácido de Lewis TBDMSOTf, resulta na formação de uma mistura dos diastereoisômeros 85 nas proporções apresentadas no Esquema 21.
A eliminação do grupo tert-butildimetilsililoxila a partir desses diastereoisômeros foi possível empregando-se DBU em clorofórmio. Posterior acidificação da mistura reagente levou à formação dos nostoclídeos I (12) e II (13).50 O processo de eliminação é altamente estereosseletivo; somente os estereoisômeros que apresentam a ligação dupla exocíclica com configuração Z foram obtidos. Esse fato foi atribuído à presença do grupo isopropila na posição β.50,51 No entanto, Xu e colaboradores sintetizaram vários γ-alquilidenobutenolídeos a partir de furan-2(5H)-onas desprovidas de substituintes na posição β;52 um exemplo representativo é mostrado no Esquema 22.
As reações de alquilidenação entre estas furanonas e vários aldeídos aromáticos foram conduzidas na presença de carbonato de sódio e sob condições de refluxo. Conforme relatado pelos autores, os γ-alquilidenobutenolídeos foram obtidos exclusivamente como estereoisômeros Z.52
O grupo de pesquisa do LASA - Laboratório de Análise e Síntese de Agroquímicos, da Universidade Federal de Viçosa, vem desenvolvendo vários trabalhos voltados para a descoberta de novos compostos com atividade herbicida ou reguladora de crescimento de plantas, empregando-se produtos naturais como modelos.53,54 Entre os metabólitos secundários utilizados como compostos-modelo55 estão os nostoclídeos I (12) e II (13).9 Conforme mencionado anteriormente, esses compostos apresentam moderada citotoxicidade contra células Neuro-2a CCL 131 e KB CCL 17. Além disso, suspeita-se que possam ser agentes alelopáticos. Essa hipótese parece ser reforçada pela semelhança dos nostoclídeos com o composto cianobacterina (86), um metabólito secundário que é um efetivo algicida produzido como uma substância alelopática pela cianobactéria Scytonema Hofmanni (Figura 5).56
Nesse contexto, diversos análogos aos nostoclídeos foram sintetizados segundo a rota sintética apresentada no Esquema 23.57
O furfural foi utilizado como material de partida para o preparo da lactona 89.58 O tratamento dessa lactona com DIPEA na presença de TBDMSOTf, em DCM e à temperatura ambiente, levou à formação in situ do correspondente sililfurano 90 (Esquema 23). Esse composto, na presença do ácido de Lewis TBDMSOTf (empregado em excesso na referida reação), adicionou-se aos aldeídos aromáticos, gerando os adutos aldólicos 91, que também não foram isolados. A etapa-chave na obtenção dos análogos aos nostoclídeos 92a-b correspondeu à reação de eliminação do grupo tert-butildimetilsililoxila, promovida por DBU, sob condições de refluxo em diclorometano. Foram preparados mais de trinta compostos análogos aos nostoclídeos utilizando essa metodologia.
A grande maioria das 3-benzil-5-arilidenofuran-2(5H)-onas foi obtida com a ligação dupla exocíclica apresentando configuração Z. A única exceção a essa generalização corresponde à furanona 3-benzil-5-(2,4,6-trimetoxibenzilideno)furan-2(5H )-ona (93), que apresenta configuração E, como confirmado pelo experimento de difração de raios X de monocristal (Figura 6).59 Uma racionalização para esses fatos foi recentemente descrita na literatura.60
Todos os compostos preparados foram submetidos a ensaios in vitro para avaliar seus efeitos sobre o transporte de elétrons, direcionado pela luz, da água para um oxidante não biológico (reação de Hill), utilizando-se cloroplastos isolados de espinafre.57 Foi verificado que, entre os compostos submetidos à avaliação da atividade fitotóxica, 21 substâncias reduziram significativamente a taxa de transporte de elétrons, direcionado pela luz, na concentração de 10 μmol L-1.
Compostos contendo cloro ou bromo no anel do grupo benzila foram também preparados.61,62 Foi observado que, como uma tendência geral, os compostos não bromados apresentaram atividade inibitória - sobre o transporte de elétrons na reação de Hill - um pouco mais acentuada do que os correspondentes compostos contendo bromo.57
Foi ainda verificado que vários compostos contendo um átomo de cloro no grupo benzila são capazes de interferir no crescimento radicular das espécies Sorghum bicolor e Cucumis sativus.62
Reações de lactonização de ácidos alquil-2-en-4-inoicos
Os ácidos alquil-2-en-4-inoicos, na presença de metais de transição, como Pd (II),63,64 Ag(I),64-67 Ag(0)66,68 ou Hg(II),69 sofrem um processo de lactonização que resulta na formação de γ-alquilidenobutenolídeos. A adição do grupo carboxila à ligação tripla resulta na formação do intermediário 94; a protonólise deste intermediário origina o correspondente γ-alquilidenobutenolídeo (Esquema 24).
Um dos exemplos70-72 de aplicação dessa metodologia na síntese de γ-alquilidenobutenolídeos corresponde à preparação do lissoclinolídeo (8) (Esquema 25).71 A etapa-chave corresponde à reação de lactonização do ácido 96, sintetizado a partir do álcool 95, mediada por Ag(I). A síntese total foi finalizada empregando-se a reação de acoplamento de Stille32 entre o brometo 97 e a organoestanana (E)-3-tributilestanilpropen-2-ol.71
Os processos de lactonização que empregam ácidos alquil-2-en-4-inoicos apresentam importantes vantagens como economia de átomos,73 compatibilidade com vários grupos funcionais além de as reações ocorrerem em condições brandas. Contudo, um problema associado a esses processos é a formação competitiva de piran-2(2H)onas (Esquema 26).
A formação dos butenolídeos a partir dos ácidos alquil-2-en-4-inoicos ocorre segundo um processo de ciclização 5-exo-dig, enquanto as piranonas são formadas por um processo 6-endo-dig, sendo ambos favoráveis, de acordo com as Regras de Baldwin.74
A quantidade de piran-2(2H)-ona obtida nessas reações depende de vários fatores, como o tipo de catalisador usado, o estado de oxidação do metal constituinte do composto de transição que exerce o papel de catalisador, o tipo de substituinte presente no ácido carboxílico empregado como material de partida, além do solvente empregado na reação.
Processos Tandem
Embora os ácidos alquil-2-en-4-inoicos, precursores dos processos de lactonização mencionados anteriormente, possam ser previamente sintetizados, eles podem ser gerados in situ e subsequentemente submetidos ao processo de lactonização (processos Tandem).75-81 Este tipo de processo foi primeiramente descrito em 1993 por Lu e colaboradores, os quais descobriram que vários Z-γ-alquilidenobutenolídeos podem ser preparados a partir da reação entre o ácido Z-bromopropenoico e diferentes alquinos.75 As reações foram realizadas na presença de PdCl2(PPh3)2 (3 mol%), CuI (3 mol%) e Et3N (2 equivalentes), em acetonitrila e na temperatura ambiente. As reações se processam com rendimentos satisfatórios e com elevada estereosseletividade (Esquema 27).
A utilidade desta metodologia foi demonstrada na síntese de vários γ-alquilidenobutenolídeos,77-81 incluindo a síntese total (30% de rendimento) da diidroxerulina (7).81 Na etapa-chave (Esquema 28), a reação entre o hidrocarboneto polinsaturado 98 e o ácido Z-3-iodopropenoico, realizada na presença de Pd(PPh3)4, CuI, Et3N e BHT, forneceu a diidroxerulina (7) com 70% de rendimento e estereosseletividade superior a 96%.81
Os processos Tandem previamente descritos são realizados na presença de um catalisador de paládio. Recentemente, Duchêne e colaboradores desenvolveram uma metodologia, isenta de paládio, na qual alquinos terminais e ácidos 3-iodo carboxílicos α,β-insaturados, na presença de CuI e K2CO3, podem ser convertidos nos correspondentes γ-alquilidenobutenolídeos (Esquema 29).82 Somente butenolídeos que apresentam a ligação dupla exocíclica com estereoquímica Z foram observados. Além disso, não foi detectada a formação de piran-2(2H)-onas.
Utilização de compostos organoestananas
A síntese estereosseletiva de E-5-(tributilestanilmetileno)-furan-2(5H )-onas (100) pode ser conseguida tratando-se os ésteres de estrutura geral 99 com a alquinil tributil estanana,83 na presença de 1 mol% de Pd(PPh3)4 (Esquema 30).
Enquanto nenhuma explicação foi fornecida para a estereosseletividade observada, neste trabalho observou-se que os compostos 100 podem ser empregados para a síntese de γ-alquilidenobutenolídeos por meio do acoplamento de Stille,32 conforme exemplificado no Esquema 31.
A reação com iodobenzeno forneceu o produto 101, cuja configuração da ligação dupla exocíclica (Z) foi invertida com respeito à configuração desta ligação no material de partida 100a. Esse feito foi atribuído à menor estabilidade do estereoisômero E, devido a uma interação desfavorável entre o átomo de hidrogênio 4 do anel lactônico e os átomos de hidrogênio orto do anel benzênico (Esquema 31).83
Quando alquinetos de tributil estanho são substituídos, γ-alquilidenobutenolídeos ou piranonas podem ser produzidos, dependendo da natureza do substituinte84 (Esquema 32).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O isolamento de uma grande variedade de γ-alquilidenobutenolídeos de fontes naturais motiva a busca por metodologias para a síntese de membros dessa classe de compostos. Como consequência, vários métodos sintéticos eficientes regio e estereosseletivos têm sido desenvolvidos. As reações de ciclização entre enol éteres de silício e cloreto de oxalila, que envolvem a formação de uma ligação carbono-carbono e uma ligação carbono-oxigênio, geralmente ocorrem com excelente regiosseletividade. Essas reações são versáteis quando se considera a variedade estrutural de γ-alquilidenobutenolídeos que podem ser preparados por esses processos. Além disso, muitos dos butenolídeos obtidos podem ser subsequentemente funcionalizados, o que aumenta ainda mais as possibilidades de variação estrutural. Esse aspecto é importante quando se considera o desenvolvimento de novos fármacos e agroquímicos.
Já os processos Tandem são bastante promissores, considerando-se a economia de átomos associada a eles e a compatibilidade com vários grupos funcionais. Ademais, trabalhos recentes demonstram que a formação competitiva de piranonas em reações Tandem usadas na síntese de γ-alquilidenobutenolídeos é suprimida pela utilização de um sistema catalítico composto de CuI e K2CO3 que aumentará o potencial de aplicação desse processo.
Cabe destacar que a utilidade sintética dos diferentes métodos descritos nesta revisão tem sido demonstrada na síntese de vários γ-alquilidenobutenolídeos de menor ou maior complexidade. Contudo, muitas dessas aplicações são restritas aos grupos de pesquisa que desenvolveram os métodos, como, por exemplo, os processos de carbonilação.
Embora uma variedade de métodos para a síntese de γ-alquilidenobutenolídeos tenha sido descrita na literatura, pode-se antecipar que novos métodos, mais eficientes em termos de economia de átomos, que apresentem baixo custo, de elevada regio e estereosseletividade e que levem em conexão com as preocupações ambientais, serão desenvolvidos.
AGRADECIMENTOS
À FAPEMIG e ao CNPQ, pelo apoio financeiro e pelas bolsas de pesquisa (L. C. A. Barbosa) e doutorado (P. F. Pinheiro); e à CAPES, pela bolsa PRODOC (R. R. Teixeira).
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Recebido em 21/8/09; aceito em 12/1/10; publicado na web em 12/5/10
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
05 Ago 2010 -
Data do Fascículo
2010
Histórico
-
Recebido
21 Ago 2009 -
Aceito
12 Jan 2010