Dr. Hermann von Ihering
A 9 de Outubro de 1850, nascia em Giessen, na Alemanha, o Dr. HERMANN VON IHERING que, trinta anos mais tarde, deveria vir para o Brasil a fim de inaugurar, entsre nós, uma fase áurea para os estudos de História Natural. Com tanto desvelo e proficiência se houve nesse mister que a disciplina da qual era um verdadeiro mestre, implantou-se, definitiva e solidamente nos meios científicos do nosso País.
Doutor em filosofia, por vocação natural, formou-se o Dr. IHERING, em medicina, atendendo a um desejo paterno. Sua tese, defendida em 1876, na Universidade de Erlangen, versou sobre a "Significação do aparelho auditivo dos Molluscos, tendo-se em vista a sua classificação natural".
Zoólogo por excelência, concorreu à cátedra respectiva, da mesma Universidade, com o trabalho "Anatomia comparada do sistema nervoso dos moluscos", monografia apresentada em 1877.
Já em 1890, sua produção era apreciável, contando o jovem cientista com uma bagagem notável, na qual figuravam cerca de quarenta memórias e numerosos artigos dos quais a metade versava sobre assuntos malacológicos.
Atraído pelo nosso clima tropical e seduzido pelas maravilhas referidas por Fritz Müller a respeito do Brasil, para cá se dirigiu e, após curta permanência na Capital, fixou-se no R. G. do Sul, erigindo pitoresca vivenda em uma ilha situada na foz do rio Camaquam.
Tal como acontecera no seu país de origem, aquele homem que a todos surpreendia pela sua extraordinária robustez física trabalhava e produzia febrilmente, encantado pela exuberância da nossa flora, fascinado pela variedade da nossa fauna.
Em 1892, Cezario Mota foi buscá-lo para organizar um Museu de História Natural, em S. Paulo. Confiaram-lhe o acervo do Museu Sertório que funcionava anexo à Comissão Geográfica e Geológica, célula mater do Museu Paulista, franqueado ao público em 1895.
Dessa época até o ano de 1916, o grande naturalista dedicou-se inteiramente ao desenvolvimento da organização que soube dirigir com alma e coração. Ampliou-lhe as coleções, firmou-lhe solidamente a reputação no exterior, imprimindo-lhe vigoroso cunho científico. Ao lado de Garbe, Lutz, Loefgren, Derby, Bicego, Pinder e tantos outros, criou período dos mais fecundos para as Ciências Naturais, no nosso País.
Discípulo eminente de Virchow, seguiu as pegadas de Claus e de Leuckart. Em 1911 dizia - "Aqui no Brasil, onde vivo desde o ano de 1880, liguei novamente atenção a assuntos de antropologia e etnologia, procurando antes de tudo por ps nossos conhecimentos sobre os indígenas atuais em relação com os achados arqueológicos e com as informações contidas na literatura antiga". Disse mais: "Ocupei-me particularmente da biologia dos insetos e, entre eles, de preferência, com a vida dos Himenoptieros sociais e também da entomologia econômica, cujo estudo introduzi no Brasil".
Assim, com mão de mestre, dominou inúmeros setores científicos, tendo tido ocasião de demonstrar a pujança do seu grande saber.
Além das publicações inseridas na Revista do Museu Paulista, colaborava concomitantemente em cerca de 24 periódicos nacionais e estrangeiros. Assim, trabalhou incessantemente até quasi os 80 anos, sacrificando os seus interesses particulares em prol do trabalho intelectual, aliás proficientíssimo.
Deixando a direção do Museu Paulista, a 16 de Agosto de 1916, com rápida passagem por Santa Catarina e, depois, pela Argentina, rumou para a Alemanha, fixando residência na pequena cidade de Buedingen, onde veio a falecer a 26 de Fevereiro de 1930.
A seu respeito, disse o nosso saudoso Franco da Rocha: "Von Ihering não era um homem desses que desaparecem todos os dias, sem que façam grande faltia, a não ser para os seus íntimos. Êle trabalhou muito e o resultado desse trabalho aí está nos livros e revistas científicas em que colaborou".
Fornecendo-nos alguns dados biográficos, diz-nos o seu ilustre filho, Dr. Rodolpho von Ihering, lio encantador livrinho "Contos... de um Naturalista", publicado em 1924: "Possa o velho naturalista perceber ainda, algum dia, que os filhos do país que êle adotara como pátria, lhe agradecem o muito que fez em prol da ciência no Brasil".
Relembrando, embora modestamente, o nome venerando desse grande zoólogo, no instante em que se comemora o primeiro centenário do seu nascimento, a direção do "Boletim do Instituto Paulista de Oceanografia", deseja pôr em relevo a gratidão que a pátria brasileira testemunha a esse incomparável cultor da História Natural, reafirmando, assim, aquele conceito de Diderot: "A imortalidade é uma espécie de vida que se adquire na memória dos homens".
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
18 Jun 2012 -
Data do Fascículo
Jun 1950