Benedictus Philadelpho de Siqueira. Rev. Saúde em Debate, agosto, 1991.
Quando se analisa o Ensino Médico no Brasil é fácil, realmente, constatar sua ineficiência em grande parte das escolas e faculdades, a falta de infra-estrutura das mesmas, no que diz respeito aos laboratórios, biotérios, equipamentos e bibliotecas. É fácil constatar o estado de falência das estruturas departamentais atuais, incapazes até mesmo de estimular a produção de conhecimento novo, uma vez que dificultam, ou até mesmo impedem, a interdisciplinaridade.
É fácil constatar a inadequação da política de recursos humanos, que albergando professores desestimulados, com remuneração aviltante, sem apoio e estímulo para a reciclagem periódica, para a participação em Congressos de especialidade, para a produção científica, resulta em profissionais com pouco envolvimento com suas instituições de ensino.
É relativamente fácil discutir este ensino e avaliá-lo, tendo por base modelos pedagógicos ultrapassados, que nos levarão a conclusões óbvias, quase paralizadoras, e sem impacto sobre a formação profissional e sem compromisso com a saúde da população. O difícil - o grande desafio que se nos coloca - é a superação da fase atual da utilização de modelos pedagógicos ultrapassados, baseados em marcos teóricos que não nos possibilitam a correção da trajetória dos paradigmas educacionais. Esta atitude nos permitiria uma nova análise, e quem sabe, a construção de uma estrutura curricular onde poderiam permear a busca da interdisciplinaridade e a conferição dos atributos que o novo profissional deve ter, na perspectiva da construção de um sistema de Saúde competente e mais justo para todos os cidadãos.
Recentemente, o trabalho desenvolvido por várias entidades médicas, entre as quais a ABEM, sobre a avaliação do Ensino Médico no país, teve a apresentação dos dados preliminares, mas de grande importância, no XXIX Congresso Brasileiro de Educação Médica e I Forum Nacional de Avaliação do Ensino Médico, realizado em outubro de 1991, em Campinas - SP.
Torna-se de grande importância que estas entidades aprofundem o trabalho de diagnóstico inicial, elaborando propostas baseadas em novos modelos conceituais, para a Educação Médica, que com o apoio da Sociedade Brasileira, permitam vislumbrar um novo horizonte para a formação dos profissionais de Saúde, particularmente o médico.
Elza Cotrim Soares
Professora da UNICAMP / Departamento de Clínica Médica. Coordenadora do Núcleo Regional da ABEM/SP.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
30 Jun 2021 -
Data do Fascículo
Jan-Dec 1991