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AVALIAÇÃO DE MÉTODO DE ENSINO PARA PREENCHIMENTO DE DECLARAÇÃO DE ÓBITO

Sumário:

As estatísticas de mortalidade ainda representam, na maioria dos países, a principal fonte de informações sobre as condições sanitárias da população, mas a sua utilidade depende do preenchimento correto de cada declaração de óbito. Assim deve ser ensinada ao médico e ao estudante de medicina a maneira apropriada de preenchê-lo. Em uma aula participativa, de 50 minutos, para 53 alunos do quarto ano médico, foi distribuída uma declaração de óbito e, com o uso de histórias clínicas, ensinada a maneira de preenchê-la. Ao final da sessão, todos os alunos julgaram a sessão instrutiva, quanto ao conteúdo, e a maioria (92%) julgou agradável a forma de sua apresentação. Diante do resultado da avaliação, concluiu-se que o método é recomendável, embora não se possa adiantar seu impacto no futuro preenchimento das declarações de óbito.

Summary:

Mortality statistics are the main source of information about the population's health, but their use fulness depends on correctly fulfilling each death certificate. For this reason, physicians and medical student should be taught to appropriately complete death certificates. During a class of 50 minutes durantion, fourth year medical students were taught how to fill out death certificates using clinical case histories and actual certificates. All the students felt that the class was instructive, and the majority, 92%, said the presentation of the material was enjoyable. Based on these results, it was concluded that this teaching method can be recommended, although no one can guarantee its impact on future adequate completion of death certificates.

Introdução

Na maioria dos países as estatfsticas de mortalidade ainda representam a principal fonte de informações sobre as condições sanitárias da população, em nível local, regional e nacional11. SIRKEN, M. G.; ROSEMBERG, H. M.; CHEVARLEY, F. M.; CURTIN, L. R. The quality of cause of death statistics. Am. J. Public Health, 77:137-39, 1987.. Como toda estatística a sua utilidade é, em parte, função da qualidade dos dados de cada documento original, no caso, a declaração de óbito. É reconhecida a deficiência de seu preenchimento em nosso meio22. PEREIRA, M. G. & CASTRO, E. S. Avaliação do preenchimento de declaração de óbito. Rev. Saúde Pública, São Paulo, 15:14-9, 1981.. Uma das possibilidades de intervenção aprimoradora, já que o médico é o responsável pelo seu preenchimento, é atuar precocemente junto ao estudante de medicina. No entanto, o ensino do preenchimento de uma declaração de óbito é uma tarefa delicada, visto que pode ser julgada, preconceituosamente, como desinteressante e de finalidade burocrática. Diante de nossa recente experiência na qual os estudantes do quarto ano médico, cursando a disciplina de Epidemiologia Geral, avaliaram positivamente nosso método de ensino, resolvemos relatá-lo neste artigo.

Material e Métodos

Um total de 53 alunos, em dois semestres consecutivos (1987 e 1988), esteve presente à sessão dedicada ao ensino do preenchimento do atestado. A transmissão do tema realizou-se em aproximadamente 50 minutos, em sala de aula. A parte inicial da exposição foi dedicada a descrever sucintamente a utilidade das estatísticas na mortalidade, como indicador das condições de saúde, e a motivar os alunos para aimportância do preenchimento correto da declaração de óbito. A seguir, um modelo em branco da declaração oficial foi distribuído a cada aluno e lido pelo instrutor, em conjunto com os estudantes. Cada item era analisado. discutindo-se a sua finalidade. As definições existentes no verso do atestado (nascimento vivo, óbito fetal, causa de morte e natimorto) também foram comentadas, A maior parte do tempo foi dedicada ao preenchimento da parte IV da declaração - o “ates tado médico” propriamente dito - que versa sobre a causada morte. Com essa finalidade foi utilizado material didático, proveniente da obra “O atestado de óbito”33. LAURENTI, E.; MELLO-JORGE, M. H. P. O atestado de óbito. São Paulo, Centro Brasileiro de Classificação de Doenças. Universidade de São Paulo, 1983. 51p., que apresenta histórias clínicas adequadas a esse treinamento específico. Para cada história clínica o livro fornece a forma correta de preenchimento, contrastada com a de atestados médicos originais, muitos dos quais preenchidos incorretamente. As duas formas foram transpostas para transparências e utilizadas durante a exposição. Um aluno voluntário lia a história clínica, pausadamente, por duas vezes, enquanto os demais preenchiam o atestado. Subseqüentemente, a forma incorreta era mostrada na transparência, seguindo-se rápida discussão, ao final da qual a forma correta era projetada. Sete histórias clínicas foram discutidas dentre as 14 existentes na publicação.

Ao final, cada estudante avaliou a sessão, sem se identificar, por meio de respostas a duas perguntas, cada qual com cinco alternativas mutuamente exclusivas. Pedia-se, também, sugestões para melhorar o ensino do tema. As duas perguntas, com as respectivas alternativas:

de respostas, foram as seguintes:

  1. O que você achou da apresentação do assunto? Muito agradável, agradável, maisou menos, pouco agradável e desagradável.

  2. Você achou a sessão instrutiva? Muito instrutiva, instrutiva, mais ou menos, pouco instrutiva ou nada instrutiva.

Os estudantes não tinham conhecimento da eventual publicação do resultado da avaliação.

Resultados e Discussão

A tabela mostra os resultados, em conjunto, das duas sessões realizadas. Todos os alunos julgaram a sessão instrutiva ou muito instrutiva. Quanto à forma de apresentação foi apontada como agradável ou muito agradável por 49 entre 53 estudantes (92%). Dessa maneira, consideramos tratar-se de uma alternativa válida para a abordagem do tema, cuja adoção pode ser recomendada.

Aproximadamente, metade dos alunos (25/53) apresentou sugestões ou comentários, todos no sentido posi tivo, tais como: extensão, a outras aulas, dessa metodologia baseada em solução de problemas e inclusão de maior número de casos para discussão.

Os instrutores, fundamentados nas manifestações e intervenções dos alunos, no decorrer da aula, notaram que a proporção dos que preenchiam corretamente o atestado aumentava com os exercícios, mas esse aspecto não foi quantificado.

Ressalte-se que a discussão ficou centrada no preenchimento da causa de morte, menor atenção sendo dada aos demais itens constantes da declaraçãode óbito. Uma das sugestões dos alunos foi a de que se desse maior ênfase ao preenchimento dos outros itens da declaração.

O aspecto emocional do médico, ao preencher uma declaração de óbito, foi abordado também, enfatizando-se a possível postura psicológica desfavorável, uma vez que o evento da morte, de uma forma ou de outra, expressaa limitação do seu poder profissional. Foi realçado que o preenchimento da declaração é uma prática que o médico não aprecia, mas esse documento deve ser preenchido adequadamente, de modo a evitar erros e impropriedades, que limitam sua utilidade em trabalhos de pesquisa médica e em saúde pública.

Não se pode afirmar que esse tipo de instrução, embora julgado instrutivo e agradável pelos alunos, produza impacto na qualidade do preenchimento da declaração, no futuro - sendo esse o ob jetivo final da aula -, pois os estudantes ainda estão na metade do curso médico. Talvez fosse conveniente repetir e avaliar o procedimento aqui descrito junto a médicos residentes, verificando os seus efeitos imediatos no próprio preenchimento das declarações de óbito.

Tabela
Avaliação da forma de apresentação e do conteúdo de uma sessão de ensino sobre o preenchimento de declaração de óbito, para alunos do quarto ano curso de medicina.

Referências Bibliográficas

  • 1
    SIRKEN, M. G.; ROSEMBERG, H. M.; CHEVARLEY, F. M.; CURTIN, L. R. The quality of cause of death statistics. Am J. Public Health, 77:137-39, 1987.
  • 2
    PEREIRA, M. G. & CASTRO, E. S. Avaliação do preenchimento de declaração de óbito. Rev. Saúde Pública, São Paulo, 15:14-9, 1981.
  • 3
    LAURENTI, E.; MELLO-JORGE, M. H. P. O atestado de óbito São Paulo, Centro Brasileiro de Classificação de Doenças. Universidade de São Paulo, 1983. 51p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 1993
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