RESUMO
As mudanças sociais pelas quais o Brasil passou nos últimos anos foram acompanhadas de mudanças na formação médica, que passa a ser, ela própria, objeto de pesquisa. De fato, as iniciativas de incentivo à formação de profissionais para atuação no ensino em saúde têm aumentado a produção científica na educação médica. Para compreender este campo de pesquisa, é importante conhecer o perfil de seus pesquisadores. No Brasil, um indicativo deste perfil poderia ser inferido com base nas características dos principais autores de artigos publicados no periódico especializado da área, a Revista Brasileira de Educação Médica (RBEM), na última década. Assim, para compreender a educação médica enquanto campo de pesquisa, realizamos um estudo bibliométrico para caracterizar o perfil dos principais autores da RBEM no período de 2006 a 2015. Foram identificados todos os autores de comunicações científicas publicadas na RBEM, incluindo para análise aqueles com pelo menos cinco publicações na revista no período. Suas informações profissionais foram extraídas de seus currículos publicados na Plataforma Lattes. Os dados foram analisados de forma descritiva. Foram identificados 2.191 autores, tendo-se analisado 39. Entre os autores analisados, 64,1% são médicos, e outros são psicólogos, pedagogos, enfermeiros e cientistas sociais. A maioria (71,8%) concluiu a graduação entre 1970 e 1989. Quase 90% dos autores têm doutorado, sendo que 46,2% concluíram o doutorado na década de 2000; 41% dos autores realizaram algum curso de especialização em ensino, principalmente nas décadas de 1990 e 2000; 76,9% dos autores estão no Sudeste, com 48,7% em São Paulo. O intervalo médio entre a publicação do primeiro artigo científico e o primeiro artigo em educação médica foi de mais de 22 anos entre os formados na década de 1970, enquanto para os formados na década de 1990 esse intervalo foi de 8,5 anos. Comparando os dados obtidos com referenciais bibliométricos e com uma perspectiva histórico-fatual da educação médica no Brasil, apontamos a consolidação da educação médica como campo de pesquisa, com a profissionalização específica crescente de seus investigadores.
PALAVRAS-CHAVE Bibliometria; Educação Médica; Indicadores de Produção Científica
ABSTRACT
The social changes that Brazil has faced in the last years were accompanied by changes in medical education in such a way that it became a research object. Actually the initiatives to improve the human sources to work in health sciences education have led to an increase in the scientific output in medical education. Knowing the researchers' profile is important to understand medical education as a scientific field. Among us, in Brazil, their profiles could be inferred through the analyses of the main authors of articles published in the Brazilian Journal of Medical Education (RBEM) in the last ten years, because it is the national leading specialized journal in medical education. Therefore, in order to understand this field of investigation we performed a bibliometric study to characterize the main authors' profile of the RBEM from 2006 to 2015. We added all authors of scientific communications published in the period and we analyzed those with at least five publications. Their professional information was extracted from the Lattes Platform. Data were assessed descriptively. We identified 2,191 different authors and included thirty nine. Among the included authors, 64.1% are physicians and the others are psychologists, pedagogues, nurses and sociologists. The majority of authors (71.8%) completed graduation between 1970 and 1989. Almost 90% have a PhD degree and 46.2% acquired it in the 2000s. Forty one percent of the authors accomplished some specialization training in the field of education, mainly between 1990 and 2000. The majority of the authors (76.9%) are in the Southeast region of Brazil, especially in the state of São Paulo (48.7%). The mean interval from the first scientific publication to the first scientific publication in medical education was 22 years among the authors graduated in the 1970s. On the other hand, this interval decreased to 8.5 years for those graduated in the 1990s. We compared our data to other bibliometric data and to a historical perspective of Brazilian medical education in such a way that we can conclude that there is a consolidation of medical education as a research field with increasing specific professionalization of the interested investigators.
KEYWORDS Bibliometrics; Education, Medical; Scientific Publication Indicators
INTRODUÇÃO
Nos últimos 30 anos, o Brasil vivenciou grandes transformações políticas, econômicas e sociais. Na educação, houve fran-ca expansão de oferta de vagas de graduação no ensino superior e mudanças do perfil das instituições de ensino (outrora de predomínio público, e hoje, particular)1,2. Na saúde, houve a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e melhoria nos indicadores de assistência à população3.
A formação médica, ao se inserir na interface entre educação e saúde, tem acompanhado essas mudanças. Na década de 1990, ampliaram-se as discussões sobre educação médica com os trabalhos da Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico (Cinaem). Nos anos 2000, as políticas governamentais de incentivo a mudanças curriculares colocaram na agenda a necessidade de formar médicos com orientação para o sistema de saúde4. Certamente, esses movimentos estimularam nas escolas médicas a necessidade de compreender os processos e avaliar os resultados das transformações curriculares. Foram, portanto, propícios ao desenvolvimento da pesquisa em educação médica. Hoje, a pesquisa em educação médica é um campo de investigação em crescimento no Brasil e que tenta trazer consigo novas ferramentas para qualificar seu objeto de estudo5.
Para melhor compreender esse campo de pesquisa, com avaliação das atividades de produção e comunicação científica, é necessária uma descrição bibliométrica na educação médica. É, então, útil uma avaliação objetiva, de abordagem quantitativa, da produção científica. Assim, partimos de uma primeira pergunta: quem pesquisa educação médica no Brasil hoje? Os métodos para responder a essa pergunta são, naturalmente, complexos. Considerando, porém, que a Revista Brasileira de Educação Médica (RBEM) é o principal periódico especializado da área no País, podem-se inferir respostas indiretas à pergunta analisando-se os principais autores da RBEM, assumindo-se que estes devem pertencer ao universo dos principais pesquisadores da educação médica do País.
Portanto, o objetivo deste estudo foi caracterizar o perfil dos principais autores da RBEM na última década com relação à formação profissional, procedência e tempo necessário para iniciar a publicação de estudos em educação médica. Os dados obtidos com essa caracterização de perfil de autores foram, então, discutidos de forma qualitativa e comparados com dados da literatura em bibliometria e formação em educação médica com o intuito de contextualizar a pesquisa em educação médica no Brasil.
MÉTODOS
Trata-se de estudo bibliométrico em que foram levantadas todas as publicações da RBEM desde a sua indexação na Scientific Electronic Library Online (SciELO) em 2006 — perfazendo, assim, um período de dez anos (2006 a 2015). Foram considerados editoriais, artigos originais de pesquisas científicas, relatos de experiência, ensaios e outros documentos que tivessem autoria. Assim, não foram selecionadas erratas. Em seguida, foram identificados todos os autores de cada uma das publicações. Os autores foram, então, classificados em ordem decrescente de acordo com o número de publicações no período. Para a inclusão dos autores a serem estudados, estabeleceu-se um corte de pelo menos cinco publicações no período (garantindo uma média de pelo menos uma publicação a cada dois anos). Diferenças nas grafias dos nomes e sobrenomes foram conferidas para contagem correta de artigos por autores.
Para análise dos dados profissionais dos autores, foram examinados seus currículos publicados na Plataforma Lattes, que os disponibiliza de forma aberta e irrestrita à consulta pública. Foram extraídos os dados de graduação, residência médica, cursos de aperfeiçoamento ou especialização em ensino na saúde, pós-graduação, anos de conclusão de cada etapa da formação, procedência, ano da primeira publicação de artigo científico em periódico e o ano da primeira publicação de artigo relacionado à educação em saúde. Calculou-se, então, a diferença do tempo entre a primeira publicação científica e a primeira publicação científica em educação médica. Os dados foram analisados de forma descritiva. As informações adquiridas foram, então, comparadas com outros indicadores bibliométricos e com um quadro histórico-fatual da educação médica no Brasil para contextualizar a situação atual da pesquisa em educação médica no País.
RESULTADOS
Foram identificados 2.191 autores e coautores nas publicações da RBEM no período de 2006 a 2015. Do total, 1.849 autores (84,4%) tinham apenas uma publicação. Trinta e nove autores (1,8%) tiveram a produtividade requerida para inclusão no estudo. O Gráfico 1 apresenta o número de autores de acordo com o número de publicações.
Dos 39 autores, quanto à formação, 25 realizaram medicina humana (64,1%); nas demais profissões, foram identificados psicólogos, pedagogos, enfermeiros e cientistas sociais (dois autores de cada profissão) e dentista, nutricionista, fonoaudiólogo e educador físico (um autor de cada). Apenas um autor não explicitava em seu currículo sua formação profissional. Entre os médicos, sete (28%) fizeram residência médica em áreas clínicas, cinco em Pediatria (20%), quatro em Psiquiatria (16%), três em áreas cirúrgicas (12%), e dois em Ginecologia e Obstetrícia (8%). Os demais fizeram residência médica em outras áreas ou não declaravam esta formação em seu currículo.
A maioria dos autores (71,8%) concluiu a graduação entre 1970 e 1989. O Gráfico 2 apresenta o número de autores de acordo com a década de conclusão de graduação. Com relação à pós-graduação stricto sensu, a maioria dos autores concluiu o mestrado (76,9%) e doutorado (89,7%), sendo que o mestrado foi obtido principalmente entre os anos de 1990 a 1999, e o doutorado, entre 2000 e 2009. O Gráfico 2 apresenta os dados relativos ao período de formação profissional. Cursos de especialização em ensino em saúde foram declarados por 59% dos autores, sendo que iniciaram esses cursos principalmente nas décadas de 1990 a 1999 (8/23) e de 2000 a 2009 (10/23). Com relação à titulação máxima declarada, dois autores têm apenas a graduação, dois têm mestrado, 22 têm doutorado, e sete, livre-docência.
Distribuição do número de autores segundo o período de conclusão de suas etapas de formação profissional
A maioria dos autores está vinculada a instituições da Região Sudeste (76,9%) e Sul (15,4%) do País. Especificamente, 19 autores são de São Paulo, seis de Minas Gerais, cinco do Rio de Janeiro, três do Paraná, dois do Rio Grande do Sul e um do Distrito Federal, de Goiás e de Santa Catarina.
Com relação à década de publicação do primeiro artigo científico, há uma distribuição semelhante a uma curva normal, com o pico do número de autores (38,4%) publicando seu primeiro trabalho entre 1990 e 1999. Já com relação à primeira publicação científica em educação médica, a curva se desloca para a direita, com 59% dos autores publicando seu primeiro trabalho na área entre 2000 e 2009 (Gráfico 3).
Distribuição do número de autores segundo o período de publicação do primeiro artigo científico em geral e do primeiro artigo científico em educação médica
Finalmente, observando os registros na Plataforma Lattes, a diferença entre o ano da primeira publicação científica e o ano da primeira publicação científica em educação médica se mostrou decrescente quando os autores foram agrupados segundo seu ano de graduação. Assim, entre os formados antes da década de 1970, a média do intervalo entre a publicação do primeiro artigo científico e o primeiro artigo científico em educação médica foi de 22,3 anos. Entre os formados na década de 1970, a média do intervalo foi de 10,1 anos. Para os autores formados nas décadas de 1980 e 1990, a média foi de 8,5 anos. E entre os que se formaram depois dos anos 2000, a média desse intervalo foi de apenas 1,7 ano. O Gráfico 4 apresenta esses dados.
Intervalo de tempo médio (em anos) entre a primeira publicação científica e a primeira publicação em educação médica, por década de conclusão da graduação dos autores
DISCUSSÃO
Estudos bibliométricos são úteis para investigar e compreender a dinâmica da produção científica de determinado campo de pesquisa. Em última análise, os dados levantados por estes estudos podem direcionar o planejamento das próximas atividades de pesquisa do campo6. Considerando a educação médica como campo em crescimento, nosso levantamento fornece de forma pioneira alguns indicadores que subsidiarão outras abordagens e a compreensão de sua situação atual.
Encontramos que um grande número de autores (1.849) teve apenas uma única publicação no período. Esse dado está de acordo com um princípio clássico da bibliometria: segundo Lotka7, grande parte da produção científica de uma área é oriunda de uma pequena população de autores. A produção do grande número de “pequenos produtores” se iguala àprodução do pequeno número de “grandes produtores”7; assim, sugerimos que esta análise dos dados profissionais de top publishers (ou “grandes produtores”) da RBEM represente o universo de pesquisadores de educação médica no Brasil, ainda que importantes pesquisadores eventualmente não tenham sido incluídos caso a RBEM não esteja entre os seus periódicos escolhidos para comunicação científica. Nesse sentido, de certa forma, nosso valor de cut-off — mínimo de cinco publicações no período, totalizando 39 autores — está de acordo com a lei de produtividade quadrático-inversa de Lotka aperfeiçoada por Price8: em determinado campo de investigação, o número de grandes produtores corresponde à raiz quadrada do número total de autores8. Assim, temos que a raiz quadrada de 2.191 é de aproximadamente 46 — número próximo aos 39 que utilizamos.
Conquanto seja esperado que muitos autores tenham uma única publicação na RBEM, deve-se questionar por que a aproximação com a pesquisa em educação médica é tão pontual entre tantos autores. Sendo o ensino médico uma atividade cotidiana de professores, é necessário que reflitam sobre sua prática e, se possível, pesquisem nela9. No âmbito das discussões sobre valorização da carreira docente no ensino, a produção de conhecimento sobre educação tem sido reconhecida como um passo importante para aumentar o valor do perfil educacional das profissões de saúde também nas universidades brasileiras10. Entre os estudantes, trata-se de uma oportunidade para o desenvolvimento de crítica científica em paralelo ao senso de responsabilidade para com a própria formação11. É a oportunidade para o despertar na ciência já como educador.
Com relação à formação profissional dos pesquisadores, o dado de que a maioria dos autores (64,1%) é composta por médicos é esperado. Por outro lado, a identificação de outros profissionais (da área da saúde ou não) produzindo em educação médica é digna de nota e pode sugerir avanços importantes para o campo. Primeiramente, o senso comum da importância da atuação multiprofissional na área da saúde em geral, com seus desdobramentos na formação médica em particular, está se traduzindo também na pesquisa. Ou seja, não apenas está em curso uma consolidação da inserção de outros profissionais da saúde na formação de médicos, como também ocorre um interesse desses profissionais em pesquisar sobre educação. Isto reflete o fato de as mudanças brasileiras para a formação médica estarem alinhadas com o que se preconiza internacionalmente em termos de aproximação com o mundo de trabalho e fortalecimento dos sistemas de saúde de forma interprofissional12,13. A aproximação entre outras profissões da área da saúde e a educação médica também se deve a iniciativas como o Fórum Nacional de Educação das Profissões na Área da Saúde (FNEPAS), cujas atividades incentivavam mudanças curriculares orientadas pelos princípios do SUS, com especial enfoque para a integralidade da assistência14. Mais recentemente, a abertura do Programa de desenvolvimento docente Faimer (The Foundation for Advancement of International Medical Education and Research) para outras profissões da saúde também arregimentou mais profissionais para este campo de pesquisa15.
Para Norman16, a pesquisa em educação médica amadureceu nos últimos 50 anos, e esse amadurecimento se deu sob a forma de três “gerações cronológicas”. A primeira era composta de médicos com diferentes experiências na prática clínica ou na pesquisa biomédica tradicional que migraram seu interesse para a educação médica e que, assim, tentavam reproduzir seus métodos de pesquisa tradicional na educação médica. A segunda geração era composta de profissionais de outras áreas, como Psicologia, Psicometria ou Sociologia, que migraram para a educação médica e que incorporaram ao campo métodos de pesquisa mais adequados à educação. É nesta geração que identificamos alguns dos pesquisadores incluídos em nossos resultados. Finalmente, a terceira geração é composta de profissionais já com formação especializada em educação médica, da qual trataremos mais adiante.
Com relação às áreas de residência médica dos autores incluídos, consideramos que não sejam suficientes para inferir informações úteis, dado que o universo está representado por apenas 25 autores. A maior participação de médicos de áreas clínicas e de Pediatria pode estar relacionada apenas àdistribuição de médicos no País17; por outro lado, não se pode ignorar a significativa produção científica de cirurgiões sobre ensino de habilidades e técnica cirúrgica publicada preferencialmente em periódicos de suas áreas. Outros estudos, com outras metodologias, são necessários para melhor compre-ender a relação entre especialidades médicas e interesse por educação em saúde.
Os dados sobre período de conclusão de graduação e pós-graduação devem ser entendidos como epifenômeno dos demais achados do presente estudo. É de esperar que os autores que se graduaram entre 1970 e 1989 estivessem no auge de sua carreira e produção científica entre 2006 e 2015 — período da análise em questão —, mesmo porque a maioria dos autores incluídos defendeu o doutorado entre 2000 e 2009.
Quase 60% dos autores declaram em sua formação profissional na Plataforma Lattes a realização de algum curso de especialização na área de educação em saúde. O período de realização desses cursos começa de forma mais consistente na década de 1990 e se torna muito frequente a partir dos anos 2000. Encontramos que a pós-graduação stricto sensu de muitos autores foi realizada, inclusive, com tema afim à educação médica. Identificamos nestes autores, portanto, a terceira geração de Norman citada anteriormente: indivíduos com formação específica em educação médica e cuja principal área de atuação é a própria educação médica. Grande parte do crescimento desse campo de pesquisa no Brasil se deve, provavelmente, à consolidação de iniciativas de formação específica em educação médica, impulsionadas por programas de pós-graduação em ensino na saúde18,19.
A localização dos pesquisadores, com maior concentração nas regiões Sudeste e Sul do País, segue a lógica da produção científica nacional20 e da produção em educação médica, como identificamos anteriormente5. O dado é esperado, mas deve suscitar a reflexão sobre como aumentar a participação das demais regiões do País, especialmente porque o aumento do número de escolas médicas também tem sido estimulado nas regiões Norte e Nordeste. Evidentemente, essa discussão é subordinada a uma questão maior de desenvolvimento social e econômico do País.
Por fim, consideramos muito interessante a observação da redução do intervalo de tempo entre a primeira publicação científica e a primeira publicação científica em educação médica. Entre os autores graduados antes da década de 1970, esse intervalo foi de mais de 20 anos, passando para cerca de oito a dez anos para os graduados entre 1970 e 2000, e caindo para menos de dois anos entre os graduados após o ano de 2000. Neste último grupo, aliás, observou-se com frequência que a primeira publicação científica já foi em educação médica. Esses dados sugerem, novamente, que ocorreram também no Brasil as ondas de migração das três gerações de pesquisadores em educação médica. Mais que isso, sugerem a consolidação da educação médica como campo de pesquisa e um campo que recruta profissionais cada vez mais cedo em sua formação. Abrem-se, portanto, perspectivas para um bom futuro da pesquisa em educação médica e da educação das demais áreas da saúde em geral. Em última análise, espera-se que os potenciais avanços de pesquisa em educação se transformem em melhores práticas de educação e melhor formação de profissionais que prestem uma assistência de qualidade à população.
Com relação às limitações do estudo, evidentemente não é possível caracterizar todo um campo de pesquisa descrevendo apenas os principais autores de uma única revista, mesmo porque a amostra de autores foi pequena, considerando-se toda a população. Apesar de a Plataforma Lattes fornecer grande riqueza de dados21, as informações aqui analisadas descrevem pouco da produção científica dos autores na própria educação médica. Além disso, não consideramos indicadores de produtividade dos autores, como seus índices h e o fator de impacto dos periódicos onde publicam outros trabalhos afins à educação médica. Também não é possível, de forma objetiva, caracterizar as ondas de migração das gerações de pesquisadores cobrindo apenas dez anos de publicações. Finalmente, para melhor caracterização do campo de pesquisa da educação médica, é imprescindível responder à pergunta: “quem explica a educação médica no Brasil?” — o que, com nossos dados, por ora, não é possível realizar.
Outrossim, ainda que alguns de nossos resultados fossem esperados, nosso estudo demonstra de maneira pioneira al-guns dados outrora intuitivos e fornece subsídios para o aprofundamento da compreensão da educação médica enquanto campo de pesquisa. Como perspectiva de próximas investigações, será crucial responder à questão acima apresentada: “quem explica a educação médica no Brasil?”. Trata-se de compreender os “colégios invisíveis” da educação médica, ou seja, compreender a rede de pensadores que tem influenciado a maneira como entendemos e pesquisamos a educação médica no Brasil.
AGRADECIMENTO
Agradecemos ao professor Sérgio Rego (ENSP/Fiocruz) pelas sugestões para a realização deste trabalho e dos próximos que devem se seguir a este como linha de investigação.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Jul-Sep 2017
Histórico
-
Recebido
04 Mar 2017 -
Aceito
05 Abr 2017