Resumos
Objetivos: analisar, em gestações de alto risco com diagnóstico de oligoidrâmnio, os resultados dos testes de avaliação da vitalidade fetal e os resultados perinatais. Métodos: foram selecionadas retrospectivamente 572 gestações de alto risco com diagnóstico de oligoidrâmnio, caracterizado por ILA inferior ou igual a 5,0 cm. Destas, 220 apresentavam diagnóstico de oligoidrâmnio grave (ILA <=3,0 cm). Os testes de avaliação da vitalidade fetal incluíram: cardiotocografia anteparto de repouso, perfil biofísico fetal (PBF) e dopplervelocimetria das artérias umbilical e cerebral média. Não foram incluídas as gestações múltiplas, com anomalias fetais e rotura prematura de membranas. Resultados: o grupo de gestantes com diagnóstico de oligoidrâmnio grave (ILA <=3 cm) apresentou cardiotocografia anteparto suspeita ou alterada em 23,2% dos casos, PBF alterado em 10,5%, dopplervelocimetria da artéria cerebral média com sinais de centralização (54,5%), recém-nascidos pequenos para a idade gestacional (32,7%) e líquido amniótico meconial (27,9%). Estes valores foram significativamente mais elevados do que os do grupo com ILA entre 3,1 e 5,0 cm. Este grupo apresentou cardiotocografia anteparto suspeita ou alterada em 14,9% dos casos, PBF alterado em 4,3%, dopplervelocimetria da artéria cerebral média com sinais de centralização em 33,9%, recém-nascidos pequenos para a idade gestacional em 21,0% e líquido amniótico meconial em 16,8% dos casos. Conclusões: a caracterização da gravidade do oligoidrâmnio permite discriminar, nas gestações de alto risco, os casos que se associam a pior resultado perinatal.
Líquido amniótico; Oligoidrâmnio; Complicações da gravidez; Resultados perinatais
Purpose: to evaluate, in the high-risk pregnancies with oligohydramnios, the assessment tools for fetal well-being and perinatal results. Methods: five hundred seventy-two high-risk pregnancies were retrospectively analyzed. All of them presented with oligohydramnios established by AFI <=5.0 cm. Severe oligohydramnios was detected in 220 cases (AFI<=3,0 cm). The fetal well-being tests included: antepartum cardiotocography, biophysical profile score (BPS) and dopplervelocimetry of umbilical and middle cerebral arteries. Multiple gestation, fetal anomalies and premature rupture of membrane cases were excluded. Results: severe oligohydramnios was significantlly associated with abnormal and suspected cardiotocography results (23.2%), abnormal biophysical profile score (10.5%), abnormal results of middle cerebral artery dopplervelocimetry (54.5%), small for gestational age infants (32.7%) and meconial amniotic fluid (27.9%) when compared to pregnancies with AFI between 3.1 and 5.0 cm. This group presented: abnormal or suspected cardiotocography results (13.9%), abnormal biophysical profile score (4.3%), abnormal results of middle cerebral artery dopplervelocimetry (33.9%), small for gestational age infants (21.0%) and meconial amniotic fluid (16.8%). Conclusion: the oligohydramnios severity in high-risk pregnancies allows to discriminate the cases that are related to adverse perinatal outcome.
Amniotic fluid; Oligohydramnios; High-risk pregnancies; Perinatal results
Trabalhos Originais
Análise dos Testes de Vitalidade Fetal e dos Resultados Perinatais em Gestações de Alto Risco com Oligoidrâmnio
Analysis of Fetal Well-being and Perinatal Outcome in the High-risk Pregnancies Complicated by Oligohydramnios
Roseli Mieko Yamamoto Nomura, Rossana Pulcineli Vieira Francisco, Seizo Miyadahira, Marcelo Zugaib
RESUMO
Objetivos: analisar, em gestações de alto risco com diagnóstico de oligoidrâmnio, os resultados dos testes de avaliação da vitalidade fetal e os resultados perinatais.
Métodos: foram selecionadas retrospectivamente 572 gestações de alto risco com diagnóstico de oligoidrâmnio, caracterizado por ILA inferior ou igual a 5,0 cm. Destas, 220 apresentavam diagnóstico de oligoidrâmnio grave (ILA £3,0 cm). Os testes de avaliação da vitalidade fetal incluíram: cardiotocografia anteparto de repouso, perfil biofísico fetal (PBF) e dopplervelocimetria das artérias umbilical e cerebral média. Não foram incluídas as gestações múltiplas, com anomalias fetais e rotura prematura de membranas.
Resultados: o grupo de gestantes com diagnóstico de oligoidrâmnio grave (ILA £3 cm) apresentou cardiotocografia anteparto suspeita ou alterada em 23,2% dos casos, PBF alterado em 10,5%, dopplervelocimetria da artéria cerebral média com sinais de centralização (54,5%), recém-nascidos pequenos para a idade gestacional (32,7%) e líquido amniótico meconial (27,9%). Estes valores foram significativamente mais elevados do que os do grupo com ILA entre 3,1 e 5,0 cm. Este grupo apresentou cardiotocografia anteparto suspeita ou alterada em 14,9% dos casos, PBF alterado em 4,3%, dopplervelocimetria da artéria cerebral média com sinais de centralização em 33,9%, recém-nascidos pequenos para a idade gestacional em 21,0% e líquido amniótico meconial em 16,8% dos casos.
Conclusões: a caracterização da gravidade do oligoidrâmnio permite discriminar, nas gestações de alto risco, os casos que se associam a pior resultado perinatal.
PALAVRAS-CHAVE: Líquido amniótico. Oligoidrâmnio. Complicações da gravidez. Resultados perinatais.
O oligoidrâmnio é conceituado como diminuição na quantidade de líquido amniótico (LA), e a sua incidência é estimada entre 0,5 a 5,5%da gestações1,2. Considera-se oligoâmnio situações em que o volume de LA é inferior a 300 ou 400 mL, embora existam dificuldades para a estimativa exata deste volume durante a gravidez1.
O oligoidrâmnio, quando relacionado à insuficiência placentária, apresenta como mecanismo fisiopatológico, a redução gradativa da produção de LA3, provocada pelos fenômenos adaptativos desencadeados pela hipoxemia fetal crônica. Subseqüente ao déficit nutritivo, o regime de hipoxemia provoca resposta circulatória fetal, com centralização da circulação. Desta forma, os mecanismos cardiocirculatórios regulam a redistribuição do débito cardíaco fetal com aumento do fluxo sangüíneo destinado aos órgãos nobres (cérebro e coração) em detrimento de outros órgãos como os rins e pulmões4. A diminuição gradativa do volume de LA torna o cordão umbilical suscetível a compressões5,6 e, em graus extremos de oligoidramnia, isto pode ser fator determinante do óbito fetal.
O aprimoramento da ultra-sonografia e seu uso rotineiro nas gestações de alto risco possibilitaram o desenvolvimento de várias técnicas para avaliação do volume de líquido amniótico. Destacam-se as semiquantitativas, tais como o índice de líquido amniótico (ILA)7 ou a medida do maior bolsão de LA8, que superaram sobremaneira as técnicas exclusivamente clínicas. A avaliação do volume de líquido amniótico pela técnica do ILA foi descrita inicialmente por Phelan et al.7, sendo denominada de técnica dos quatro quadrantes. Este método mostrou ser de fácil realização e padronização, com boa reprodutibilidade. O ILA de valor inferior ou igual a cinco centímetros caracteriza o diagnóstico de oligoidrâmnio; ao passo que valores inferiores a 3,0 cm caracterizam oligo-idrâmnio grave9.
Com base na importância do diagnóstico do oligoidrâmnio, particularmente nas gestações de alto risco, o acompanhamento evolutivo do volume de líquido amniótico é considerado um dos passos fundamentais para adequada propedêutica da vitalidade fetal.
Embora a literatura relate a associação entre o diagnóstico de oligoidrâmnio e resultados perinatais adversos10-12, persistem controvérsias quanto aos valores do ILA que seriam capazes de discriminar gestações que necessitam de atuação mais agressiva e intervencionista, principalmente quando este diagnóstico ocorre longe do termo.
Esta situação, geradora de inconsistência nos diversos protocolos de conduta já estabelecidos, estimula a busca de subsídios que possam delinear, de forma clara, esta questão. Com este intuito, o presente estudo objetiva analisar comparativamente resultados perinatais e dos testes de avaliação da vitalidade fetal em dois grupos de gestantes de alto risco, estabelecidos de acordo com o diagnóstico de oligoidrâmnio grave e não grave.
Pacientes e Métodos
Foram analisados retrospectivamente 572 casos de gestações simples com diagnóstico de oligoidrâmnio, caracterizado por ILA de valor igual ou inferior a cinco centímetros. Não foram incluí-dos casos que apresentassem diagnóstico de gestações múltiplas, anomalias fetais e rotura prematura de membranas. Todas as pacientes foram avaliadas pelo Setor de Vitalidade Fetal e internadas na Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
A média da idade das grávidas foi de 27,5 anos, variando de 17 a 42 anos e com desvio-padrão de 6,7 anos. Duzentos e nove pacientes eram primigestas (36,5%) e o restante apresentava duas ou mais gestações anteriores. Cada paciente foi avaliada quanto ao bem estar fetal pela realização dos seguintes exames propedêuticos: cardiotocografia, perfil biofísico fetal (PBF) e dopplervelocimetria obstétrica.
A cardiotocografia (CTG) anteparto de repouso foi realizada por um período de, no mínimo, 15 minutos, com a paciente em posição de semi-Fowler. Foram utilizados aparelhos da marca Hewlett Packard, modelo HP 8041A e HP50A, com velocidade de registro gráfico de um centímetro por minuto. A análise do traçado baseou-se no índice cardiotocométrico de Zugaib e Behle6, sendo o feto classificado como ativo (normal), hipoativo (suspeito) ou inativo (alterado com desacelerações).
O PBF associou o estudo dos seguintes parâmetros biofísicos fetais: freqüência cardíaca fetal (FCF) analisada pela CTG, movimentos respiratórios, movimentos corpóreos, tônus e volume de líquido amniótico. Foi utilizado aparelho de ultra-sonografia da marca Toshiba SAL77B ou Diasonics spa 1000. De acordo com a rotina adotada neste serviço13, o PBF foi classificado conforme a sua pontuação final em: normal (8 ou 10), suspeito (6) ou alterado (4, 2 ou 0).
A avaliação do volume de líquido amniótico foi efetuada pela mensuração do ILA, de acordo com a metodologia proposta por Phelan et al.7. O oligoidrâmnio foi caracterizado quando constatado ILA de valor inferior ou igual a 5,0 cm, sendo este limite utilizado na caracterização do volume de LA anormal dentro do PBF. O ILA de valor inferior ou igual a três centímetros caracterizou o oligoidrâmnio grave.
A dopplervelocimetria foi realizada por via transabdominal, utilizando-se os seguintes equipamentos de ultra-sonografia: ATL Ultramark 9 com Doppler colorido e Diasonics SPA1000 com Doppler pulsátil. Os exames foram realizados com a paciente em posição semi-sentada. Os sonogramas dos vasos analisados foram obtidos com as imagens congeladas durante a inatividade fetal e em períodos de apnéia. Foram utilizados filtros de baixa freqüência (50 hertz) e analisados os sonogramas com ondas uniformes.
Para a obtenção do sonograma das artérias umbilicais, a insonação foi feita em alça livre de cordão. Quando evidenciadas velocidades diastólicas reduzidas, procurou-se analisar o cordão na porção próxima à inserção placentária. Foi calculada a relação sístole/diástole (A/B) e seus resultados foram classificados como alterados quando acima do percentil 95 da curva de normalidade adotada14.
A avaliação dopplervelocimétrica da artéria cerebral média (ACM) foi realizada em corte transversal do polo cefálico fetal, na altura dos tálamos com o transdutor deslocado obliquamente, em direção à base do crânio, evitando-se a compressão excessiva do abdome materno. Neste ponto a ACM é facilmente identificada como um ramo maior do polígono de Willis. A centralização da circulação fetal foi caracterizada por índice de pulsatilidade com valor inferior ao quinto percentil para a idade gestacional15.
Foram analisados os seguintes resultados perinatais: tipo de parto, idade gestacional no nascimento, índices de Apgar de 1º e 5º minuto, pH da artéria umbilical no nascimento, peso do recém-nascido (RN), adequação do peso do RN à idade gestacional e internação em unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal. Os RN foram classificados como pequenos para a idade gestacional (PIG) quando o peso era inferior ao percentil 10 para a idade gestacional16.
A idade gestacional foi calculada a partir da data da última menstruação (DUM) quando esta foi compatível com exame ultra-sonográfico realizado até a 20ª semana. Quando a paciente não soube referir a DUM ou na discordância com o exame ultra-sonográfico, a datação da gestação baseou-se na primeira ultra-sonografia realizada.
Foram analisadas as freqüências dos resultados dos exames para a comparação entre os grupos de estudo. Para as variáveis qualitativas utilizou-se do teste de c2 com correção de Yates para continuidade e, quando pertinente, o teste exato de Fisher. Para as variáveis quantitativas, utilizou-se do teste t de Student. Adotou-se como nível de significância o valor 0,05 (a=5%). Com isso, níveis descritivos (p) inferiores a esse valor foram considerados significantes (p<0,05).
Resultados
Dos 572 casos de oligoidrâmnio, 38,5% (220 casos) apresentavam ILA de valor inferior ou igual a 3,0 cm caracterizando oligoidrâmnio grave, e 61,5% (352 casos) apresentavam ILA entre 3,1 e 5,0 cm. A proporção de primigestas foi de 34,5% no grupo com oligoidrâmnio grave e de 37,8% nos casos com ILA entre 3,1 e 5,0 cm. As pacientes com oligoidrâmnio grave apresentaram média de idade de 27,5 anos e desvio padrão de 6,8 anos, e as com ILA entre 3,1 e 5,0 cm apresentaram média de idade de 27,6 anos com desvio-padrão de 6,7 anos. Não foram observadas diferenças significativas entre as médias das idades maternas.
Na Tabela 1 podemos observar a distribuição dos resultados dos testes de avaliação da vitalidade fetal realizados no período anteparto, de acordo com a gravidade do oligoidrâmnio. Verificou-se associação significativa entre alterações na cardiotocografia no período anteparto e a ocorrência de oligo-idrâmnio grave (p<0,05). Realizando-se a partição do c2, constatou-se que a proporção de casos com CTG suspeita foi significativamente maior no grupo com oligoidrâmnio grave (p=0,0058). Entretanto, não foi observada diferença significativa quanto à proporção de casos com CTG alterada (p=0,4305). Houve associação significativa entre as alterações no resultado do PBF e a gravidade do oligoidrâmnio (p<0,05). A distribuição dos casos de acordo com o resultado do PBF também apresentou associação significativa (p<0,05) com o tipo de oligoidrâmnio. Realizando-se a partição do c2, observa-se proporção significativamente maior de exames normais no grupo com ILA entre 3,1 e 5,0 cm (p=0,0058), e também maior proporção de exames alterados no grupo com oligoidrâmnio grave (p=0,0038).
Os dados da dopplervelocimetria obstétrica, demonstrados na Tabela 1, revelam que não houve associação entre a gravidade do oligoidrâmnio e os resultados de acordo com a análise da relação A/B das artérias umbilicais. Entretanto, a distribuição dos resultados da dopplervelocimetria da ACM demonstra associação significativa (p=0,002) entre o oligoidrâmnio grave e a ocorrência de exames alterados caracterizando a centralização da circulação fetal.
Na análise dos resultados perinatais, observou-se que, em relação à idade gestacional e ao peso no nascimento, não foram constatadas diferenças significativas nas médias, de acordo com a gravidade do oligoidrâmnio (Tabela 2). Verificou-se que a proporção de casos com líquido amniótico meconial foi significativamente maior (p<0,05) no grupo com oligoidrâmnio grave. Nos casos em que foi possível avaliar o pH no nascimento, não foram caracterizadas diferenças significativas quanto à gravidade do oligoidrâmnio.
A Figura 1 mostra os resultados neonatais nos casos de oligoidrâmnio, e observa-se que a proporção de recém-nascidos PIG foi significativamente maior (p<0,05) nos casos com oligoidrâmnio grave (32,7%) quando comparado aos casos com ILA entre 3,1 e 5,0 cm (21,0 %). Os demais resultados neonatais não apresentaram diferenças significativas de acordo com a gravidade do oligoidrâmnio.
Discussão
A avaliação do volume de LA é de fundamental importância nas gestações de alto risco, uma vez que a sua diminuição progressiva permite identificar os fetos que apresentam maior risco para o sofrimento fetal1,5,8,10,12. Em trabalho realizado nesta Instituição2 no qual se analisou 524 gestações de alto risco, observou-se que o sofrimento fetal intraparto ou anteparto esteve presente em 26% dos casos com oligoidrâmnio (ILA inferior ou igual a 5,0 cm). Outros estudos também relatam a associação entre o oligoidrâmnio e resultados perinatais adversos, principalmente o sofrimento fetal e a ocorrência de desacelerações da freqüência cardíaca fetal2,17-19.
Apesar de os dados da literatura concordarem que o oligoidrâmnio, caracterizado pelo ILA inferior ou igual a cinco, identifique fetos de risco para resultados perinatais adversos, alguns autores questionam esta associação, principalmente em gestações de termo sem complicações. Magann et al.20 não constatam esta associação e, em gestações de alto risco, questionam se a definição adotada para oligoidrâmnio é realmente adequada. Glantz e D'Amico21 não observaram associação entre oligoidrâmnio e a presença de desacelerações variáveis em casos com a cardiotocografia reativa. Deve-se ressaltar que, no estudo de Magann et al.20, a amnioinfusão foi um dos procedimentos adotados para casos de sofrimento fetal, visando corrigir o volume de líquido amniótico para reduzir a ocorrência de fenômenos compressivos do funículo. Esta conduta pode contribuir para a não constatação de significativa associação entre resultados adversos e o oligoidrâmnio.
Apesar de alguns autores criticarem a conduta resolutiva adotada para casos de oligoidrâmnio, o fato de não serem observados resultados negativos pode indicar que a resolução da gestação seja a medida mais adequada por não produzir repercussões ao produto conceptual. Para que esta questão seja definitivamente esclarecida, são necessários estudos randomizados, comparando-se diferentes protocolos clínicos para os casos com diagnóstico de oligoidrâmnio.
O presente estudo teve como meta aprofundar os conhecimentos acerca dessa intercorrência obstétrica, separando os casos em dois grupos segundo o valor do ILA. O limite arbitrário adotado de 3,0 cm constitui um valor que, na prática, tem se mostrado útil na condução desses casos, notadamente quando outras evidências indicam vantagens em se postergar a interrupção da gravidez. Alguns autores preconizam a associação de outros exames para se evidenciar grupos de maior gravidade. Carroll e Bruner22 relatam que valores elevados na relação A/B da dopplervelocimetria da artéria umbilical identificam os casos de maior risco para resultados perinatais adversos. Scott et al.23, referem que a dopplervelocimetria da artéria cerebral média pode contribuir na verificação dos fetos de risco para resultados adversos. Miyadahira et al.24 observaram que a análise conjunta da cardiotocografia e da dopplervelocimetria da artéria cerebral média em casos de oligoidrâmnio auxilia na detecção dos casos de maior gravidade, e conseqüentemente com pior resultado perinatal.
O diagnóstico de oligoidrâmnio, quando fruto da adaptação cardiocirculatória fetal a um estresse provocado pela hipoxemia crônica, pode ou não estar acompanhado de alterações agudas da vitalidade fetal. Os fenômenos adaptativos fetais, ao proporcionarem condições que favoreçam a oxigenação fetal, oferecem melhores condições para que o recém-nascido não apresente alterações importantes dos índices de Apgar ou dos valores do pH no nascimento.
A ocorrência mais freqüente de líquido amniótico meconial no grupo grave é evento esperado nesta perspectiva, pois a eliminação de mecônio está relacionada à compressão do cordão umbilical, cuja vulnerabilidade é, evidentemente, mais acentuada na oligoidramnia grave. Da mesma forma, a maior incidência de recém-nascidos PIG apresenta-se em consonância com a maior gravidade do oligoidrâmnio, embora não se constate diferenças entre os grupos quanto à idade gestacional no nascimento e o peso dos recém-nascidos.
Os resultados da presente pesquisa permitem afirmar que a divisão das gestações com oligoidrâmnio em dois grupos, de acordo com a gravidade da redução do volume de líquido amniótico, associa-se a alterações nos exames antenatais da vitalidade fetal, e com a desnutrição fetal (recém-nascidos PIG). Todavia, excetuando-se a presença de líquido amniótico meconial, os resultados neonatais não diferem em função da gravidade do oligoidrâmnio. Infere-se, portanto, a adequada condução dos casos em questão, já que o aspecto mais importante nos cuidados às gestações de alto risco com oligoidrâmnio vincula-se aos resultados finais.
Em conclusão, as observações deste estudo constatam que, a caracterização da gravidade do oligoidrâmnio permite discriminar, nas gestações de alto-risco, os casos que se associam a pior resultado perinatal. A adoção de conduta conservadora em casos de oligoidramnia que necessitem de postergação para a resolução da gestação, só encontra algum respaldo nos casos em que o oligoidrâmnio não é caracterizado como grave, sendo imprescindível a realização dos demais exames de avaliação da vitalidade fetal.
ABSTRACT
Purpose: to evaluate, in the high-risk pregnancies with oligohydramnios, the assessment tools for fetal well-being and perinatal results.
Methods: five hundred seventy-two high-risk pregnancies were retrospectively analyzed. All of them presented with oligohydramnios established by AFI £5.0 cm. Severe oligohydramnios was detected in 220 cases (AFI£3,0 cm). The fetal well-being tests included: antepartum cardiotocography, biophysical profile score (BPS) and dopplervelocimetry of umbilical and middle cerebral arteries. Multiple gestation, fetal anomalies and premature rupture of membrane cases were excluded.
Results: severe oligohydramnios was significantlly associated with abnormal and suspected cardiotocography results (23.2%), abnormal biophysical profile score (10.5%), abnormal results of middle cerebral artery dopplervelocimetry (54.5%), small for gestational age infants (32.7%) and meconial amniotic fluid (27.9%) when compared to pregnancies with AFI between 3.1 and 5.0 cm. This group presented: abnormal or suspected cardiotocography results (13.9%), abnormal biophysical profile score (4.3%), abnormal results of middle cerebral artery dopplervelocimetry (33.9%), small for gestational age infants (21.0%) and meconial amniotic fluid (16.8%).
Conclusion: the oligohydramnios severity in high-risk pregnancies allows to discriminate the cases that are related to adverse perinatal outcome.
KEY WORDS: Amniotic fluid. Oligohydramnios. High-risk pregnancies. Perinatal results.
Recebido em: 21/6/2002
Aceito com modificações em: 2/8/2002
Setor de Vitalidade Fetal - Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Correspondência:
Roseli Mieko Yamamoto Nomura
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
23 Set 2002 -
Data do Fascículo
Jul 2002
Histórico
-
Aceito
02 Ago 2002 -
Recebido
21 Jun 2002