Resumos
Durante a extração do mesocarpo interno do pequi que corresponde à parte comestível e possui valor comercial, são descartados no ambiente o exocarpo e o mesocarpo externo. Objetivou-se neste trabalho investigar o uso do extrato aquoso e do pó moído dos resíduos de pequi no controle do nematóide das galhas (Meloidogyne javanica). Do exocarpo e do mesocarpo externo foram obtidos extrato aquoso e o pó moído. Cinco doses do extrato aquoso (0,0; 2,5; 5; 10 ou 20%) foram avaliadas quanto ao efeito na eclosão e mortalidade de juvenis de segundo estádio (J2) do nematóide das galhas in vitro. Os ensaios foram montados em delineamento inteiramente casualizado com 10 repetições por tratamento. O teste de eclosão foi feito em câmaras de eclosão às quais foram adicionados 800 ovos do nematoide e 10 mL das diferentes doses do extrato. Durante 14 dias contou-se o número de J2 eclodidos com auxílio do microscópio ótico. O ensaio de mortalidade de J2 do nematóide das galhas foi avaliado colocando-se 100 μL de cada dose do extrato em cada célula da placa Elisa e 20 μL contendo 20 J2. Após 24 h contou-se o número de nematoides vivos e mortos. O pó de pequi moído foi testado em tomateiro em casa de vegetação em quatro doses (0; 7,5; 15 ou 30 g/4 kg de solo) em delineamento em blocos ao acaso com 10 repetições por tratamento. O pó de pequi foi incorporado sete dias antes do plantio do tomateiro e a inoculação de ovos do nematoide foi feita após o plantio. Após 40 dias foram avaliados: o número de galhas, massas de ovos, ovos por raiz e J2/200 cm³ de solo e altura e peso de massa seca de parte aérea do tomateiro. O extrato aquoso reduziu significativamente a eclosão e aumentou a mortalidade de J2 do nematóide das galhas. O aumento das doses do pó reduziu o número de galhas, massas de ovos e ovos do nematóide das galhas por sistema radicular, bem como o peso da massa seca de parte aérea e da altura do tomateiro os quais são indicativos de fitotoxicidade.
Meloidogyne javanica; Caryocar brasiliense; composto orgânico
The exocarp and external mesocarp of pequi fruit are discarded during the extraction of internal mesocarp which is the commercial part used as food. The objective of this research was to study the use of aqueous extract and of pequi ground-powder to the control of root-knot nematode (Meloidogyne javanica). From ground pequi fruit exocarp and external mesocarp were obtained the aquaeous extract and powder. Five doses of aquaeous extract (0.0; 2.5; 5; 10 or 20%) were evaluated on root-knot nematode J2 (second stage juvenile) hatching and mortality. The assays were carried out in entirely randomized design with 10 replications. The hatching assay was set in Petri plates with 800 nematode eggs and 10 mL of different doses of extract. During 14 days we counted the number of hatched juveniles under optical microscope. The mortality assay of root-knot nematode was evaluated putting 100 µL of each dose of extract plus 20 µL of supension containing 20 J2 in each cell Elisa plate. After 24 h was counted the number of live and dead juveniles. The pequi powder was tested in tomato plants in greenhouse in four doses (0; 7.5; 15 or 30 g/4 kg of soil) in randomized blocks design with 10 replications per treatment. The pequi powder was incorporated to the soil seven days before transplanting and nematode eggs inoculation was carried out after transplanting. After 40 days we evaluated the number of galls, egg masses, eggs/root and J2 per 200 cm³ soil and the tomato shoot dry weight and height. The aquaeous extract reduced J2 hatching and increased J2 mortality. The increased application of powder doses reduced the number of galls, egg masses and eggs of root-knot nematodes per root system and the tomato shoot dry weight being a good indication of phytotoxicity.
Meloidogyne javanica; Caryocar brasiliense; root-knot nematode; organic amendment
PESQUISA RESEARCH
Hudson B RibeiroI; Regina Cássia F RibeiroI; Adelica Aparecida XavierI; Vicente Paulo CamposII; Cláudia Regina Dias-ArieiraIII; Edson Hiydu MizobutsiI
IUNIMONTES-Depto. Ciências Agrárias, C. Postal 91, 39440-000 Janaúba-MG; hudson.brito@yahoo.com.br; regina.ribeiro@unimontes.br; adelica@unimontes.br IIUFLA-Depto. Fitopatologia, 37200-000 Lavras-MG; vpcampos@ufla.br
IIIUEM, Estrada da Paca s/n, 87507-190 São Cristovão-PR; cdiasarieira@brturbo.com.br
RESUMO
Durante a extração do mesocarpo interno do pequi que corresponde à parte comestível e possui valor comercial, são descartados no ambiente o exocarpo e o mesocarpo externo. Objetivou-se neste trabalho investigar o uso do extrato aquoso e do pó moído dos resíduos de pequi no controle do nematóide das galhas (Meloidogyne javanica). Do exocarpo e do mesocarpo externo foram obtidos extrato aquoso e o pó moído. Cinco doses do extrato aquoso (0,0; 2,5; 5; 10 ou 20%) foram avaliadas quanto ao efeito na eclosão e mortalidade de juvenis de segundo estádio (J2) do nematóide das galhas in vitro. Os ensaios foram montados em delineamento inteiramente casualizado com 10 repetições por tratamento. O teste de eclosão foi feito em câmaras de eclosão às quais foram adicionados 800 ovos do nematoide e 10 mL das diferentes doses do extrato. Durante 14 dias contou-se o número de J2 eclodidos com auxílio do microscópio ótico. O ensaio de mortalidade de J2 do nematóide das galhas foi avaliado colocando-se 100 μL de cada dose do extrato em cada célula da placa Elisa e 20 μL contendo 20 J2. Após 24 h contou-se o número de nematoides vivos e mortos. O pó de pequi moído foi testado em tomateiro em casa de vegetação em quatro doses (0; 7,5; 15 ou 30 g/4 kg de solo) em delineamento em blocos ao acaso com 10 repetições por tratamento. O pó de pequi foi incorporado sete dias antes do plantio do tomateiro e a inoculação de ovos do nematoide foi feita após o plantio. Após 40 dias foram avaliados: o número de galhas, massas de ovos, ovos por raiz e J2/200 cm3 de solo e altura e peso de massa seca de parte aérea do tomateiro. O extrato aquoso reduziu significativamente a eclosão e aumentou a mortalidade de J2 do nematóide das galhas. O aumento das doses do pó reduziu o número de galhas, massas de ovos e ovos do nematóide das galhas por sistema radicular, bem como o peso da massa seca de parte aérea e da altura do tomateiro os quais são indicativos de fitotoxicidade.
Palavras-chave:Meloidogyne javanica, Caryocar brasiliense, composto orgânico.
ABSTRACT
The exocarp and external mesocarp of pequi fruit are discarded during the extraction of internal mesocarp which is the commercial part used as food. The objective of this research was to study the use of aqueous extract and of pequi ground-powder to the control of root-knot nematode (Meloidogyne javanica). From ground pequi fruit exocarp and external mesocarp were obtained the aquaeous extract and powder. Five doses of aquaeous extract (0.0; 2.5; 5; 10 or 20%) were evaluated on root-knot nematode J2 (second stage juvenile) hatching and mortality. The assays were carried out in entirely randomized design with 10 replications. The hatching assay was set in Petri plates with 800 nematode eggs and 10 mL of different doses of extract. During 14 days we counted the number of hatched juveniles under optical microscope. The mortality assay of root-knot nematode was evaluated putting 100 µL of each dose of extract plus 20 µL of supension containing 20 J2 in each cell Elisa plate. After 24 h was counted the number of live and dead juveniles. The pequi powder was tested in tomato plants in greenhouse in four doses (0; 7.5; 15 or 30 g/4 kg of soil) in randomized blocks design with 10 replications per treatment. The pequi powder was incorporated to the soil seven days before transplanting and nematode eggs inoculation was carried out after transplanting. After 40 days we evaluated the number of galls, egg masses, eggs/root and J2 per 200 cm3 soil and the tomato shoot dry weight and height. The aquaeous extract reduced J2 hatching and increased J2 mortality. The increased application of powder doses reduced the number of galls, egg masses and eggs of root-knot nematodes per root system and the tomato shoot dry weight being a good indication of phytotoxicity.
Keywords:Meloidogyne javanica, Caryocar brasiliense, root-knot nematode, organic amendment.
O pequizeiro (Caryocar brasiliense), é cultivado em todo o cerrado brasileiro. Dentre os estados produtores, Minas Gerais se destaca como o principal produtor e consumidor de pequi (Ribeiro, 2000). Além do valor alimentício, esta planta tem sido utilizada para fins medicinais, produção de mel, em ornamentação, produção de óleo e tanino (Vieira & Martins, 2000; Marques et al., 2002). Durante o período da safra no Norte de Minas Gerais que vai de novembro a fevereiro, o pequizeiro é uma importante fonte de geração de renda para o agricultor local. Isto ocorre em função do envolvimento de toda família na catação dos frutos e na venda nas cidades circunvizinhas. No entanto, no processo de comercialização do fruto de pequi desprezam-se o exocarpo (casca) e a polpa externa (mesocarpo externo) que constituem 32,77% de resíduo (Perez, 2004).
Muitos resíduos agrícolas, a exemplo da manipueira e de mamona têm sido considerados agentes poluidores ou tóxicos às plantas (Zuchi et al, 2007; Santos, 2009). Entretanto, o emprego de tais resíduos em campo, em doses adequadas e após a compostagem, pode constituir-se em tática de controle de fitonematoides e melhoria da fertilidade do solo. Nesse sentido o uso de produtos de origem vegetal, incluindo tortas de resíduos vegetais, adubos verdes, estercos de animais e pó de materiais vegetais de diferentes espécies de plantas vem sendo estudado como medida alternativa no manejo de fitonematoides e no desenvolvimento de plantas por promoverem a adição de nutrientes e melhoria da estrutura do solo (Oyedumade & Olabiyi 2005; Pegoraro et al., 2005; Jesse et al., 2006; Olabiyi et al., 2007; Lopes et al., 2008; Ramos et al., 2009; Nazareno et al., 2010). Na decomposição desses produtos vegetais podem ser produzidos ácidos orgânicos, sulfeto de hidrogênio, fenóis, taninos e compostos nitrogenados, os quais são tóxicos aos nematoides das galhas (Mian & Rodriguez-Kabana, 1982).
A ocorrência de princípios ativos (Perez, 2004) nos resíduos de pequi que também ocorrem em outras plantas e são tóxicos a nematoides poderá viabilizar o uso desses resíduos no controle de espécies de Meloidogyne ssp., além de constituir-se numa atividade econômica, social e ecologicamente interessante, uma vez que possibilitará a geração de novos empregos e redução do lixo no meio ambiente.
Princípios ativos no controle de fitopatógenos e zoonoses têm sido investigados em diversos órgãos do pequizeiro. Extratos metanólicos e etanólicos de folhas, botões florais, frutos (mesocarpo externo, mesocarpo interno e amêndoa) têm efeito fungitóxico na germinação de esporos de Botrytis cinerea, Colletotrichum truncatum e Fusarium oxysporum (Marques et al., 2002). Extratos de folhas têm atividade moluscicida contra Biomphalaria glabrata, hospedeiro intermediário da esquistossomose (Bezerra et al., 2002). No entanto, ainda não se investigou a eficácia de resíduos do pequi no controle de fitonematoides.
Assim este trabalho teve por objetivo avaliar a eficiência do extrato de pequi na eclosão e mortalidade de juvenis do nematóide das galhas in vitro, bem como o efeito de diferentes doses do pó moído de resíduos de pequi no controle do nematóide das galhas em tomateiro (Lycopersicon esculentum) em casa de vegetação.
MATERIAL E MÉTODOS
Os ensaios foram realizados na Universidade Estadual de Montes Claros, campus Janaúba. Foram selecionados frutos de pequi para o consumo sem nenhuma injúria externa. Esses frutos foram lavados e cortados para a obtenção do epicarpo (casca) e mesocarpo externo (polpa), picados e levados à estufa a 65ºC por 72 horas. Em seguida, o material foi triturado em moinho elétrico Tecnal TE em peneira de 0,6 mm (30 mesh) e utilizado no ensaio em casa de vegetação. Para a obtenção do extrato, pesaram-se 200 g do material triturado e adicionaram-se 1 L de água destilada fria. A suspensão foi mantida em repouso por 48 horas em erlenmeyers envolvidos em papel alumínio à temperatura ambiente. Em seguida, a suspensão foi filtrada em papel Whatman nº 1. Foram realizadas diluições em água destilada a fim de se obter as doses de 2,5, 5, 10 ou 20%. A suspensão foi armazenada em geladeira por 3 dias até a realização dos testes in vitro. Para isto, ovos do nematóide das galhas, caracterizados por meio de corte perineal (Hartman & Sasser, 1985), foram obtidos a partir de galhas de raízes de tomateiros do grupo Santa Cruz cv. Kada, mantidos em casa de vegetação em solo previamente tratado com brometo de metila na proporção de 150 cm3/m3 de solo. Para a extração dos ovos, as raízes foram lavadas e picadas em pedaços de aproximadamente 1 cm e em seguida transferidas para o liquidificador com solução de hipoclorito de sódio 0,5%. Foram trituradas por 20 segundos na menor velocidade. A suspensão obtida foi vertida na peneira de 0,85 mm (20 mesh) sobre a de 0,25 mm (60 mesh) mm e de 0,025 mm (500 mesh). Os ovos retidos na peneira de 0,025 mm foram coletados em becker (Hussey & Barker, 1973 modificada por Boneti & Ferraz 1981) constituindo-se no inóculo para os testes in vitro e em casa de vegetação. Em seguida foram quantificados em câmaras de Peters e a suspensão calibrada para 800 ovos/mL para os experimentos in vitro e para 2000 ovos/mL para o experimento em casa de vegetação. Os juvenis de segundo estádio (J2) foram obtidos a partir de câmara de eclosão feita em funil de Baermann. Os J2 obtidos após 24 h foram descartados e coletados aqueles produzidos após 48 h. A suspensão de J2 foi calibrada em câmara de Peters para 1000 J2/mL.
Efeito do extrato aquoso da casca e polpa externa de pequi na eclosão e mortalidade de juvenis de segundo estádio de do nematóide das galhas in vitro - O teste de inibição de eclosão foi feito em câmaras de eclosão montadas em placas de Petri de nove centímetros de diâmetro. No fundo da placa colocou-se uma peneira e sobre ela três folhas de papel absorvente. Sobre o papel foi adicionado 1 mL de suspensão contendo 800 ovos do nematóide das galhas. A seguir adicionaram-se sob o conjunto, peneira+papel absorvente,10 mL do extrato de pequi diluído em água por placa. As placas foram levadas à incubadora à temperatura de 25ºC no escuro. Foram estudadas cinco doses do extrato (0,0; 2,5; 5; 10 ou 20%) em delineamento inteiramente casualizado, com 10 repetições/tratamento. Cada placa foi considerada uma repetição. O ensaio foi avaliado contando-se o número de J2 eclodidos a cada 48 h durante 14 dias com auxílio do microscópio. Para isto, todo o volume do extrato de pequi na placa era retirado juntamente com os J2 eclodidos e reposta à mesma quantidade do extrato de pequi.
O efeito na mortalidade dos J2 de M. javanica das doses do extrato foi avaliado colocando-se 100 μL de cada dose em cada célula da placa Elisa (capacidade de 300 μL/célula) e 20 μL da suspensão de J2 (concentração de 20 J2/20μL). Vinte e quatro horas após adicionou-se a cada célula da placa Elisa uma a duas gotas de NaOH 1N e imediatamente fez-se a contagem dos nematoides com o corpo reto e imóveis, caracterizados como mortos, e os nematoides apresentando o corpo retorcido como vivos (Chen & Dickson, 2000).
A porcentagem de eclosão dos J2 referente à contagem dos sete dias foi expressa pela área abaixo da curva de progresso de eclosão (AACPE), calculada pela equação de Shaner & Finney (1997). Os dados obtidos foram transformados em √(x + 0,5) para a realização da análise de variância e procedeu-se à análise de confiança entre as médias, associada ao teste T a 5% de probabilidade visto que não houve ajuste de modelos lineares. Para o teste de mortalidade, os dados foram convertidos em porcentagem, submetidos à análise de variância e ajustados ao modelo de regressão linear.
Avaliação do pó de casca e de polpa externa do pequi, em pó, no controle do nematóide das galhas em tomateiro - O pó obtido da casca e polpa externa do pequi foi colocado em quatro quilos de solo esterilizado em vasos e misturados (capacidade de 5 L). Sete dias após transplantou-se uma muda de tomateiro "Kada" grupo Santa Cruz com 20 dias de idade. Em seguida fez-se a inoculação com suspensão contendo 2.000 ovos do nematóide das galhas em três orifícios abertos ao redor da muda. As plantas foram diariamente irrigadas e receberam os tratos culturais recomendados para a cultura. Foram testadas cinco doses do pó obtido da casca e polpa externa de pequi: 0; 7,5; 15 e 30 g/por 4 kg de solo. O ensaio foi instalado em blocos ao acaso com 10 repetições. A parcela experimental foi constituída por um vaso contendo uma planta de tomate.
Quarenta dias após o transplantio das mudas avaliou-se a altura e a massa seca da parte aérea das plantas. Para isso, as partes aéreas foram cortadas ao nível do solo e secas em estufa a 65ºC por 72 horas.
Em seguida, as raízes das plantas foram coletadas, lavadas e submetidas à coloração com floxina B (Taylor & Sasser, 1978). Avaliaram-se, então, o número de massas de ovos expostas e galhas por sistema radicular. A seguir, as raízes foram cortadas em pedaços de 5 mm e trituradas para obtenção dos ovos (Hussey & Barker, 1973 modificada por Boneti & Ferraz, 1981). Além disso, avaliou-se o número de juvenis de segundo estádio (J2)/200 cm3 de solo ao final do experimento, de acordo com a técnica de Jenkins (1964). Os resultados do número de massas de ovos foram submetidos à análise de variância e procedeu-se à análise de confiança entre as médias, associada ao teste T a 5% de probabilidade visto que não houve ajuste de modelos lineares de regressão. Para as demais variáveis ajustou-se o modelo linear de regressão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pela análise da AACPE, todas as doses do extrato da casca e do mesocarpo externo do fruto de pequi pré-estabelecidas neste estudo reduziram a eclosão de juvenis de J2 do nematóide das galhas, quando comparadas com o controle, apenas água. Porém as doses de 10 e 20% reduziram a eclosão em 87,71 e 99,9%, respectivamente, comparadas com o controle (água) e foram mais eficazes que as demais (Figura 1A). A mortalidade de J2 do nematóide das galhas aumentou linearmente com as doses do extrato aquoso de pequi utilizadas neste estudo, chegando-se a 100% de mortalidade na dose de 20% do extrato (Figura 1B).
A casca do fruto de pequi contém esteróides, triterpenos, heterosídeos antraquinônicos, heterosídeos flavônicos, heterosídeos saponínicos, aminogrupos, taninos condensados e hidrolisáveis e açúcares (Perez, 2004). Vários desses compostos apresentam ação nematicida (Chitwood, 2002) e estão envolvidos na defesa de plantas a fitopatógenos. Alguns trabalhos in vitro demonstram que taninos condensados reduzem a eclosão e o desenvolvimento de nematoides parasitas de ruminantes (Icbal et al., 2007) e de fitonematoides, como por exemplo, M. javanica (Maistrello et al., 2010). Entre os efeitos dos taninos em microrganismos, Scalbert (1991) relaciona a capacidade deste fitoquímico de reagir com membranas modificando a sua integridade e inibindo a fosforilação oxidativa. Extratos de folhas de erva-de-santa luzia (Euphobia hirta), quebra-pedra (Phyllanthus amarus), sene (Cassia obtusifolia), malva-baixa (Sida acuta) e capim-andropogon (Andropogon gayanus) causaram 100% de mortalidade de J2 de M. incognita e também têm em suas composições taninos, saponinas, flavonóides, alcalóides e esteróides (Olabiyi et al., 2008). Folhas de cravo-de-defunto africano (Tagetes erecta), raízes de mentrasto-do-grande (Hyptis suaveolens) e alfavacão (Ocimum gratissimum) possuem saponinas e flavonóides nos extratos de raízes que reduzem a população de M. incognita em tomateiro (Olabiyi, 2004). Além disso, tem se constatado que extratos de outras plantas têm demonstrado efeito tóxico a fitonematoides (Costa et al., 2003; Salgado & Campos, 2003; Adegbite & Adesiyan, 2005).
O número de galhas e o número de ovos diminuíram linearmente com o aumento da concentração do pó da casca e mesocarpo externo do pequi (Figura 2A e 2C). Na reprodução de M. javanica as duas maiores doses, 15 e 30 g por vaso, reduziram o número de massas de ovos por raiz em 47,8 e 95,8% em relação à testemunha, respectivamente. (Figura 2B). Não houve efeito das doses sobre o número de J2 de M. javanica (p<0,05) (dados não apresentados).
A redução do número de galhas, massas de ovos e ovos pode ser explicada provavelmente devido à liberação dos compostos químicos pelo pó de pequi ao serem incorporados ao solo. Tais compostos podem ter diminuído a eclosão de J2 do nematóide das galhas no solo como constatado, no teste de eclosão in vitro realizado neste estudo, ou o ácido tanínico por ser um composto atrativo a J2 de M. arenaria e incognita, pode ter desorientado os J2 do nematóide das galhas dificultando a localização das raízes. Desta forma, provavelmente houve redução ou atraso na penetração de J2 com conseqüente redução do número de galhas e massas de ovos (Hewlett et al., 1999). Maistrello et al. (2010) também verificaram a redução da eclosão do nematóide das galhas in vitro e redução do número de ovos de J2 em tomateiros utilizando taninos de castanheira e atribuíram tal resultado ao efeito nematostático e de desorientação do movimento dos nematoides.
A altura e massa seca da parte aérea de tomateiros inoculados com nematóide das galhas diminuíram com o aumento da concentração do pó da casca e mesocarpo de pequi, pré-estabelecida neste estudo (Figura 3A e 3B ). A redução no peso da matéria seca e da altura foi diretamente proporcional às doses do pó e chegou a 55% e da altura em 52% com a dose 30% em relação à testemunha. Fica assim caracterizada a fitotoxicidade pela aplicação das doses testadas.
Compostos aromáticos como taninos encontrados na casca do fruto de pequi, a exemplo dos taninos, reduzem a absorção de vários nutrientes como nitrogênio e fósforo e promovem a interação com enzimas e substâncias promotoras de crescimento, aumentam a absorção de ferro e de outros micronutrientes, e alteram as relações hídricas entre planta e solo (Moreira & Siqueira, 2002). Indiretamente estes compostos podem influenciar alterações nas características nutricionais da planta no solo e na atividade dos microrganismos no solo (Rice 1984; Rizvi et al. 1992 citados por Borella et al., 2009). Mian & Rodriguez-Kábana (1982) verificaram que o ácido tanínico reduziu a população de M. arenaria, porém causou severa fitotoxicidade. No presente trabalho o plantio foi efetuado sete dias após a incorporação do pó ao solo. De acordo com Hossain et al. (1992), a eficiência em controlar nematóides-das-galhas com tortas aumenta e o risco de fitotoxidez reduz com o aumento do intervalo de tempo entre a aplicação da torta e o plantio. Jain & Bhatti (1988) verificaram que o crescimento de tomateiros e o controle de nematoides foi maior quando as folhas de nim (Azadirachta indica) foram incorporadas ao solo seis semanas antes do plantio. A presença destes compostos fenólicos ocorre naturalmente no solo, sendo liberados pelas raízes. Porém a fitotoxicidade destas substâncias é reduzida pela atividade microbiana (Moreira & Siqueira, 2002). Assim é possível que os efeitos de fitotoxicidade da casca e mesocarpo de pequi observados nas diferentes doses em relação à testemunha no presente trabalho provavelmente ocorreram devido à ausência de microbiota natural, eliminada pela fumigação do solo. Bhattacharya & Goswami (1987) verificaram que a torta de Nim foi mais efetiva no controle de nematoides em solo não esterilizado do que em solo esterilizado, possivelmente devido à degradação mais rápida dos tecidos vegetais e liberação de compostos nematotóxicos pela microbiota.
Sugere-se, portanto, que o intervalo entre a aplicação do pó da casca e do mesocarpo do pequi e o plantio da cultura seja superior a sete dias e que novas pesquisas são necessárias para definir esse período anterior ao estabelecimento da cultura evitando, assim, riscos de fitotoxicidade. Conclui-se que o extrato e o pó obtidos da casca e mesocarpo de pequi têm efeito nematicida ao nematóide das galhas, porém causam fitotoxicidade quando misturado ao solo e seguido do plantio até sete dias da sua aplicação ao solo.
AGRADECIMENTOS
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pela concessão da bolsa de Incentivo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Tecnológico.
Recebido para publicação em 2 de maio de 2011
Aceito em 20 de junho de 2012
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Resíduos de frutos de pequi no controle do nematóide das galhas em tomateiro
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
04 Out 2012 -
Data do Fascículo
Set 2012
Histórico
-
Recebido
02 Maio 2011 -
Aceito
20 Jun 2012