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Ocorrência de Spalangia endius Walker, 1839 (Hymenoptera, Pteromalidae) em pupas de Musca domestica L. e Stomoxys calcitrans L. (Diptera, Muscidae) no sul do Rio Grande do Sul

Occurrence of Spalangia endius Walker, 1839 (Hymenoptera, Pteromalidae) in pupae of Musca domestica L. and Stomoxys calcitrans L. in southern Rio Grande do Sul, Brazil

Resumo

It was reported the occurrence of Spalangia endius Walker, 1839 (Hymenoptera, Pteromalidae) as a parasitoid of pupae of Musca domestica Linnaeus, 1758 (Diptera, Muscidae) and Stomoxys calcitrans Linnaeus, 1758 (Diptera, Muscidae) in the extreme Southern of Brazil. The collection of pupae was performed in January and February, 2008. The pupae of M. domestica and S. calcitrans were collected from bovine feces using the flotation method. The pupae were individualized in glass tubes and maintained in acclimatized chamber at 27±2ºC with relative air humidity > 70% until the emergence of the flies or the parasitoids. The referred occurrence consists in the first report to Rio Grande do Sul.

house fly; stable fly; natural enemy


mosca doméstica; mosca dos estábulos; inimigo natural

house fly; stable fly; natural enemy

COMUNICAÇÃO

Ocorrência de Spalangia endius Walker, 1839 (Hymenoptera, Pteromalidae) em pupas de Musca domestica L. e Stomoxys calcitrans L. (Diptera, Muscidae) no sul do Rio Grande do Sul

Occurrence of Spalangia endius Walker, 1839 (Hymenoptera, Pteromalidae) in pupae of Musca domestica L. and Stomoxys calcitrans L. in southern Rio Grande do Sul, Brazil

R.K. BrandãoI; M.C. CárcamoI,III; V.A. CostaII; P.B. RibeiroI

IDepartamento de Microbiologia e Parasitologia - IB-UFPel Caixa Postal 354 96010-900 - Pelotas, RS

IICentro Experimental Central do Instituto Biológico - IB-APTA - Campinas, SP

IIIBolsista da CAPES

Palavras-chave: mosca doméstica, mosca dos estábulos, inimigo natural

ABSTRACT

It was reported the occurrence of Spalangia endius Walker, 1839 (Hymenoptera, Pteromalidae) as a parasitoid of pupae of Musca domestica Linnaeus, 1758 (Diptera, Muscidae) and Stomoxys calcitrans Linnaeus, 1758 (Diptera, Muscidae) in the extreme Southern of Brazil. The collection of pupae was performed in January and February, 2008. The pupae of M. domestica and S. calcitrans were collected from bovine feces using the flotation method. The pupae were individualized in glass tubes and maintained in acclimatized chamber at 27±2ºC with relative air humidity > 70% until the emergence of the flies or the parasitoids. The referred occurrence consists in the first report to Rio Grande do Sul.

Keywords: house fly, stable fly, natural enemy

Altas densidades populacionais de Musca domestica Linnaeus, 1758 (Diptera, Muscidae) e Stomoxys calcitrans Linnaeus, 1758 (Diptera, Muscidae) em aviários e criações bovinas, associadas à extrema mobilidade desses insetos adultos, indicam a necessidade de um manejo adequado, devido à expansão da urbanização e às doenças promovidas por esses insetos (Kaufman et al., 2001).

O díptero, conhecido popularmente como mosca-dos-estábulos, S. calcitrans, inseto hematófago comumente encontrado em criações de animais, ataca bovinos, ovinos, caprinos e equinos, causando queda de 20 a 60% na produção leiteira. M. domestica é uma das espécies de mosca de maior interesse em saúde pública devido a seu caráter sinantrópico, à capacidade de desenvolvimento em vários substratos e ao alto poder reprodutivo (Mariconi et al., 1999). Essas duas espécies de moscas são veiculadoras de bactérias, vírus, protozoários e helmintos (Moraes et al., 2004). Ao transportarem patógenos através do aparelho bucal, fezes e pernas, contaminam alimentos, água e utensílios, causando males ao homem e aos animais.

Apesar do grande número de inimigos naturais de moscas, os programas de controle biológico têm dado ênfase ao uso de parasitoides (Mariconi et al., 1999). Os parasitoides são agentes responsáveis pela redução da população de moscas que proliferam em esterco, cadáveres e carcaças de animais. Os himenópteros parasitoides desempenham importante papel na regulação das populações de pragas, pois sempre matam seus hospedeiros. São espécies denso-dependentes das populações de seus hospedeiros, o que os torna importantes na manutenção do balanço ecológico e diversidade de outros organismos.

O microimenóptero Spalangia endius Walker, 1839 (Hymenoptera, Pteromalidae) desenvolve-se como endoparasitoide solitário de pupas de dípteros das famílias Anthomyiidae, Calliphoridae, Muscidae, Sarcophagidae e Tephritidae. Berti Filho et al. (1996), ao revisarem a bibliografia sobre artropodofauna benéfica associada ao esterco de galinhas poedeiras, no Brasil, registraram S. endius como parasitoide de pupas de M. domestica, Muscina stabulans (Fallén, 1817) (Diptera, Muscidae), S. calcitrans e Chrysomya putoria (Wiedemann, 1818) (Diptera, Calliphoridae). Mencionaram, ainda, que S. endius está entre os agentes com maior capacidade para controle biológico de M. domestica, com a possibilidade de melhores resultados em programas integrados.

No Brasil, essa espécie já foi descrita parasitando pupas de dípteros em Goiás (Marchiori et al., 2005), Minas Gerais (Marchiori e Silva, 2003), Mato Grosso do Sul (Uchôa-Fernandes et al., 2003) e São Paulo (Costa et al., 2004). Este estudo teve como objetivo relatar a ocorrência de S. endius parasitando pupas de M. domestica e S. calcitrans no sul do Rio Grande do Sul.

As pupas de M. domestica e de S. calcitrans foram coletadas em fezes de bovinos de leite pelo método da flotação, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2008, na Fazenda da Palma/UFPel (31º52'00'' S e 52º21'24'' O), município de Capão do Leão, RS. Após a coleta, as pupas foram individualizadas em tubos de ensaio e mantidas em câmara climatizada a 27±2ºC, com umidade relativa > 70% até a emergência das moscas ou dos parasitoides.

A identificação de S. endius foi realizada no Instituto Biológico, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (IB-APTA), usando-se a chave proposta por Boucek (1963). O material coletado e identificado foi depositado na Coleção Entomológica do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da Universidade Federal de Pelotas.

Foram coletadas 158 pupas de S. calcitrans e 145 pupas de M. domestica, das quais emergiram 12 e nove parasitóides, com 7,6% e 6,2% de parasitismo, respectivamente. Costa et al. (2004) coletaram pupas de M. domestica e S. calcitrans em esterco de galinhas poedeiras e encontraram 0,4% de parasitismo de S. endius em pupas de M. domestica e 5,6% em pupas de S. calcitrans, totalizando sete e 105 pupas parasitadas, respectivamente.

A ocorrência de S. endius parasitando pupas de M. domestica e de S. calcitrans constitui o primeiro registro de parasitismo dessa espécie para o Rio Grande do Sul e abre a possibilidade de mais uma alternativa para controle biológico de moscas sinantrópicas, em agroecossistemas, viabilizando programas de manejo integrado.

Recebido em 23 de outubro de 2010

Aceito em 25 de fevereiro de 2011

E-mail: rosikb@ibest.com.br

* Autor para correspondência

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Abr 2011
  • Data do Fascículo
    Fev 2011

Histórico

  • Recebido
    23 Out 2010
  • Aceito
    25 Fev 2011
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