Open-access SEMINOMA EM TESTÍCULO INTRA-ABDOMINAL DE ADULTO: RELATO DE CASO

INTRODUÇÃO

A criptorquidia é a malformação congênita mais comum do trato genitourinário4. O testículo intra-abdominal está sujeito a complicações como câncer, isquemia e infertilidade1. A transformação maligna mais comum do testículo criptorquídico é o seminoma2,3,5. Apresenta-se um caso de adulto portador de volumosa massa pélvica que correspondia a seminoma desenvolvido em testículo intra-abdominal.

RELATO DE CASO

MCS, homem, 32 anos, com história de aumento progressivo e indolor do volume abdominal há quatro semanas, sem outros queixas. Portador de várias malformações congênitas entre as quais: pectus escavatum, luxação congênita do quadril e pé torto congênito (operadas na infância). Ao exame físico apresentava ascite, derrame pleural bilateral e uma massa endurecida localizada em flanco e fossa ilíaca direita de aproximadamente 20 cm. Detectou-se ausência do testículo direito na bolsa testicular. Sem alterações nos exames laboratoriais. A tomografia computadorizada e ressonância magnética de abdome e pelve confirmaram volumosa ascite e massa pélvica heterogênea (Figura 1). O estudo citopatológico do líquido ascítico e do derrame pleural revelou ausência de células neoplásicas.

FIGURA 1
- Ressonância magnética de pelve com massa heterogênea bem vascularizada com áreas de degeneração/necrose (setas) e deslocamento superior de alças intestinais

Foi realizada laparotomia exploradora onde identificou-se uma grande tumoração sólida em fossa ilíaca direita parcialmente aderida ao canal inguinal direito, sendo ressecada com facilidade. A peça operatória mediu 25x19x12 cm e pesou 2.350 g (Figura 2). O exame histopatológico demonstrou seminoma de testículo criptorquídico com extensa área de necrose coagulativa e embolização neoplásica angiolinfática.

FIGURA 2
- Massa tumoral com superfície externa lisa, opaca, por vezes lobulada, acastanhada com áreas de hemorragia em A. Ao corte em B, tumoração esbranquiçada, firme e elástica, permeada por áreas de hemorragia e áreas amareladas e amolecidas.

O paciente recebeu alta no sexto dia de pós-operatório. O testículo esquerdo foi avaliado e não apresentou alterações. O estadiamento foi completado e uma vez considerado o paciente em estádio III (ascite), foi submetido a quatro ciclos de quimioterapia com bleomicina, cisplatina e etoposide, mantendo normalização dos marcadores e melhora da ascite. Ele encontra-se atualmente com oito anos de evolução, e nesse período manteve seguimento ambulatorial regular sem demonstrar doença mensurável aos exames de sangue e imagem.

DISCUSSÃO

A criptorquidia resulta de anormalidade na formação e na descida do testículo durante o período embrionário4. Ela está presente em 6% dos recém-nascidos a termo e em 0,8% dos lactentes até um ano de idade. Pode ser bilateral em até 10% dos casos e, em algumas vezes, está associada a outros defeitos de formação do trato genitourinário5.

A complicação mais temida do testículo criptorquídico é o câncer, variando entre 3,5-14,5% entre os pacientes com criptorquidia5. Os testículos são intra-abdominais em 10% dos casos e apresentam risco 200 vezes maior de transformação maligna3. A degeneração maligna tem como pico de incidência a terceira e quarta década de vida2,3. Geralmente são assintomáticos, sendo identificados de forma incidental através de exames de imagem. Quando sintomático, o diagnóstico é difícil e os sintomas podem mimetizar apendicite aguda, quadros urinários e efeitos de massa, por sintomas compressivos sobre o trato gastrointestinal e genitourinário3. Exames de imagem, US, TC e RNM, mostram massa pélvica ou retroperitoneal, bem delimitada, homogênea e sem evidências óbvias de necrose ou calcificação2,3,5. Esses achados têm como principais diagnósticos diferenciais a linfadenopatia e o sarcoma, que são situações mais comuns. O tipo histológico predominante é o seminoma puro (43%), seguido do carcinoma embrionário (28%), teratocarcinoma (27%) e coriocarcinoma (2%)3. O tratamento cirúrgico é mandatório, com ressecção da massa intra-abdominal e a quimioterapia pode ser alternativa, dependendo do estadiamento e tipo histológico da transformação maligna2.

Referências bibliográficas

  • 1 Küçük HF, Dalkiliç G, Kuroglu E, Altuntas M, Barisik NO, Gülmen M. Massive bleeding caused by rupture of intra-abdominal testicular seminoma: case report. J Trauma. 2002 May;52(5):1000-1.
  • 2 Lim YJ, Jeong MJ, Bae BN, Kim SH, Kim JY. Seminoma in undescended testis. Abdom Imaging. 2008 Mar-Apr;33(2):241-3.
  • 3 Miller FH, Whitney WS, Fitzgerald SW, Miller EI. Seminomas complicating undescended intraabdominal testes in patients with prior negative findings from surgical exploration. AJR Am J Roentgenol. 1999 Feb;172(2):425-8.
  • 4 Wood HM, Elder JS. Cryptorchidism and testicular cancer: separating fact from fiction. J Urol. 2009 Feb;181(2):452-61.
  • 5 Woodward PJ. Case 70: seminoma in an undescended testis. Radiology. 2004 May;231(2):388-92.
  • Fonte de financiamento: não há

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2015

Histórico

  • Recebido
    09 Dez 2014
  • Aceito
    28 Maio 2015
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