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Repertórios sobre lesbianidade na mídia televisiva: desestabilização de modelos hegemônicos

Repertoires on lesbianity in television media: destabilization of hegemonic models

Resumos

Este artigo objetiva apresentar uma análise discursiva da telenovela Senhora do Destino (Rede Globo, 2004-2005). A postura construcionista, aliada a uma leitura feminista, permitiu compreender a noção de lesbianidade como uma construção social na qual os discursos e a linguagem empregados variam segundo o contexto social e histórico específico. O foco de análise se deu a partir das práticas discursivas, entendidas como linguagem em ação, sempre múltiplas, situadas e dialógicas. Os resultados desta pesquisa apontam para um duplo efeito na introdução da temática lesbianidade na novela. Se, de um lado, o processo de assimilação da categoria lésbica provoca uma maior "familiarização" na sociedade, bem como a circulação de códigos/modelos propiciam a legitimação de relações afetivo-sexuais entre pessoas do mesmo sexo, de outro, o modo como ocorrem os processos de legitimação/aceitação não propicia uma desestabilização de normas sociais e de modelos hegemônicos.

Psicologia social; construção social; lesbianidade; telenovela; práticas discursivas


This article aims to present a discursive analysis of the soap opera Senhora do Destino (Rede Globlo, 2004-2005). The constructionist perspective together with a feminist reading allowed to understand the notion of lesbianity as a social construction in which the discourses and the language adopted vary according to the social and historical context. The analysis was centered on discursive practices, understood as language in action, always multiple, situated and dialogical versions of conversation. The results of this research suggest parallel effects of the introduction of the issue of lesbianity in the soap opera. On one hand, the process of assimilation of the lesbian category provokes a broader "familiarity" in society, as well as the presence of codes/models that allow the legitimacy of same sex relations. On the other hand, the legitimizing/acceptance processes occur in ways that do not provoke the destabilization of social norms and hegemonic models.

Social psychology; social constructionism; lesbianity; soap opera; discursive practices


Repertórios sobre lesbianidade na mídia televisiva: desestabilização de modelos hegemônicos?* * Financiamento CAPES

Repertoires on lesbianity in television media: destabilization of hegemonic models?

Lenise Santana BorgesI; Mary Jane Paris SpinkII

IPontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil

IIPontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil

RESUMO

Este artigo objetiva apresentar uma análise discursiva da telenovela Senhora do Destino (Rede Globo, 2004-2005). A postura construcionista, aliada a uma leitura feminista, permitiu compreender a noção de lesbianidade como uma construção social na qual os discursos e a linguagem empregados variam segundo o contexto social e histórico específico. O foco de análise se deu a partir das práticas discursivas, entendidas como linguagem em ação, sempre múltiplas, situadas e dialógicas. Os resultados desta pesquisa apontam para um duplo efeito na introdução da temática lesbianidade na novela. Se, de um lado, o processo de assimilação da categoria lésbica provoca uma maior "familiarização" na sociedade, bem como a circulação de códigos/modelos propiciam a legitimação de relações afetivo-sexuais entre pessoas do mesmo sexo, de outro, o modo como ocorrem os processos de legitimação/aceitação não propicia uma desestabilização de normas sociais e de modelos hegemônicos.

Palavras-chave: Psicologia social; construção social; lesbianidade; telenovela; práticas discursivas.

ABSTRACT

This article aims to present a discursive analysis of the soap opera Senhora do Destino (Rede Globlo, 2004-2005). The constructionist perspective together with a feminist reading allowed to understand the notion of lesbianity as a social construction in which the discourses and the language adopted vary according to the social and historical context. The analysis was centered on discursive practices, understood as language in action, always multiple, situated and dialogical versions of conversation. The results of this research suggest parallel effects of the introduction of the issue of lesbianity in the soap opera. On one hand, the process of assimilation of the lesbian category provokes a broader "familiarity" in society, as well as the presence of codes/models that allow the legitimacy of same sex relations. On the other hand, the legitimizing/acceptance processes occur in ways that do not provoke the destabilization of social norms and hegemonic models.

Keywords: Social psychology; social constructionism; lesbianity; soap opera; discursive practices.

Apresentamos neste artigo os caminhos teóricos e metodológicos utilizados em uma pesquisa sobre os repertórios a propósito da lesbianidade na mídia televisiva. A escolha da mídia se explica por seu poder de dar visibilidade a fenômenos sociais. Um dos efeitos atribuídos a ela é a reconfiguração das dimensões do espaço público e privado, reduzindo barreiras espaciais e temporais, permitindo construir novas dinâmicas interacionais e configurações de sentidos (Medrado, 2000; Thompson, 2004). Um dos seus mais importantes produtos culturais, a telenovela, pode ser compreendida como um ato de fala, no qual enunciados, vozes, gêneros de discurso e repertórios se articulam para produzir diferentes sentidos sobre o mundo.

Um dos pressupostos desta pesquisa é de que as práticas discursivas que circulam na novela podem ser entendidas como sinalizadores dos discursos sobre lesbianidade que provêm de diferentes matrizes discursivas – da produção acadêmica, dos movimentos homossexual e lésbico, da mídia, do senso comum, entre outros. Nesse sentido, a telenovela é entendida como um gênero de discurso, uma forma particular de linguagem social que atua na veiculação de informações, valores éticos, sociais e entretenimento difundida, neste caso, através de um de seus veículos mais eficientes – a TV. Por meio de narrativas, a novela legitima noções e posições de pessoa, operando na polaridade normal – marginal.

Assistir televisão, especialmente a telenovela, é uma prática social bastante presente no cotidiano da população brasileira. As novelas produzidas no Brasil ocupam lugar privilegiado, e, sendo de fácil acesso, constituem importante fonte de informação e de entretenimento. As telenovelas participam da produção, manutenção e veiculação de determinados repertórios e, de forma recorrente, entram na pauta de discussão das conversas do cotidiano das pessoas, sobretudo quando se trata de assuntos polêmicos como aqueles referentes às relações de gênero e a sexualidade.

Este artigo analisa a circulação de repertórios sobre lesbianidade na mídia televisiva, explorando as diferentes formas de falar sobre o tema. A telenovela serve aos propósitos de uma análise discursiva psicossocial, que a concebe como uma prática social cuja construção envolve um gênero discursivo muito específico. O processo de produção de uma novela engloba diferentes componentes (autores, diretores, atores, empresa) e estratégias que participam ativamente na produção, circulação e seleção de repertórios, incluindo os/as receptores (leitores/as, telespectadores/as, críticos/as). Além disso, a interação com outras mídias (impressa, digital) realimenta a produção de sentidos sobre determinados temas (Medrado, 2000; Spink & Medrado, 2000).

Cabe aqui situar o enquadre que mescla "pressupostos epistemológicos construcionistas e teorias feministas sobre gênero"; ambos permitem perceber a cristalização de construções que situam a noção de lesbianidade como desvio. No construcionismo a ênfase recai sobre uma postura desreificante e histórica do conhecimento (Hacking, 2001; Ibañez, 1994). Uma das preocupações da postura construcionista remete-se à produção e aos efeitos do conhecimento científico na vida das pessoas, constatando diferentes pesos e formas de legitimidade na construção do conhecimento, dependendo do lugar e da posição daqueles que produzem definições e noções sobre o mundo. A postura construcionista é uma poderosa aliada para questionar definições concebidas como "naturais" àquilo que se convencionou chamar de homossexualidade/lesbianidade. Essa noção está intimamente comprometida com os saberes e vozes que contribuíram para essa elaboração. As reflexões construcionistas ajudam a perceber que as noções sobre os objetos não são naturais, e sim construídas. Mais do que um referencial teórico, o construcionismo social se constitui, nesta pesquisa, como um olhar crítico sobre a construção do conhecimento produzido sobre a lesbianidade.

O enfoque de gênero permite pensar em como masculinidades e feminilidades se articulam no interior da trama e ainda como se constroem as relações afetivas no âmbito de uma matriz heterossexual que ordena as práticas afetivas sexuais para uma heterossexualidade compulsória. A noção de matriz heterossexual é desenvolvida por Gayle Rubin (1975), e por Adrienne Rich (1980) e Judith Butler (2003), em seus estudos sobre o sistema sexo-gênero. De acordo com Borges (2008, p. 72), podemos assim compreender o conceito:

A heterossexualidade compulsória é uma ordem instituída socialmente que demanda de todas as pessoas uma definição única e exclusiva na direção da sexualidade. Nela, não existe a possibilidade de se questionar que a orientação sexual [de uma mulher] dirigida a um homem seja inevitável, sendo a heterossexualidade a única forma aceitável de sexualidade. Ela é a regra, a norma, e a homossexualidade, sua antítese. Sendo assim, qualquer variação dessa norma sexual é vista como desvio, como problema, como sinal de imaturidade e de anormalidade. A heterossexualidade, por outro lado, é vista como natural, insuspeita, sinal de um comportamento adulto, maduro e normal.

Sendo assim, a leitura feminista trabalha no sentido de desconstruir o que parece ser uma evidência – a construção da noção de lesbianidade e sua assunção como problema social.

O foco principal de uma análise discursiva na Psicologia Social se dirige para a explicação dos processos pelos quais as pessoas descrevem, explicam ou apresentam o mundo em que vivem, inclusive elas mesmas. As práticas discursivas, de acordo com Spink e Medrado (2000), são "as maneiras a partir das quais as pessoas produzem sentidos e se posicionam em relações sociais cotidianas" (p. 45), e sua análise pode ser feita do ponto de vista da sua dinâmica (enunciados orientados por vozes), da sua forma (gêneros de discurso) e dos conteúdos (repertórios). Potter e Wetherell (1987) definem repertório como o conjunto de termos, descrições, lugares-comuns e figuras de linguagem que estão frequentemente agrupados em torno de metáforas e imagens, utilizando unidades de construção dos discursos e estilos gramaticais próprios. Ainda segundo os autores, esses dispositivos linguísticos são utilizados em distintas produções discursivas, por exemplo, nos discursos veiculados pela ciência e pela mídia, atuando como substrato para a argumentação.

Método

A opção por analisar Senhora do Destino (2004-2005) justifica-se por ter sido a primeira novela da televisão brasileira a apresentar um relacionamento entre mulheres de forma continuada – elas não desaparecem no meio da trama como em novelas anteriores – e explícita - a relação é nomeada e discutida ao longo da novela. As personagens se enamoram, vivem conflitos ante a possibilidade de se relacionar com uma pessoa do mesmo sexo e a capacidade de se aceitarem e serem aceitas, passam a coabitar, a viver em um modelo conjugal e, finalmente, decidem adotar uma criança. Nas novelas anteriores, a narrativa sobre a lesbianidade era interrompida por algum incidente – como em Vale Tudo (1988-1989) e Torre de Babel (1998-1999) – ou, se mantida, permanecia no nível da insinuação – como foi o caso em Mulheres Apaixonadas (2003).

A novela Senhora do Destino, de autoria de Agnaldo Silva, foi veiculada no horário nobre da Rede Globo entre Junho de 2004 e Março de 2005. A novela tinha como protagonista central Maria do Carmo (Suzana Vieira). Sua trama gira em torno dessa personagem que vive uma história da superação do abandono pelo marido, além do sequestro de sua filha na viagem do interior de Pernambuco para o Rio de Janeiro. O irmão de Maria do Carmo, Sebastião, é o elo que conecta os demais personagens. Sebastião tem uma filha, Eleonora (Mylla Crhistie), que fará par com Jenifer (Bárbara Borges), filha de Giovani (José Wilker). A novela foi uma recordista de audiência, e as personagens lésbicas causaram grande impacto, gerando inúmeras reportagens na mídia impressa.

As vidas de Eleonora (Leo) e Jenifer (Jen) só vão se cruzar a partir do capítulo 50, em decorrência dos elos familiares compartilhados: Leo é sobrinha de Maria do Carmo, filha de seu irmão Sebastião, e Jen é filha de Giovanni Improtta, apaixonado por Maria do Carmo, e irmã de João Manoel (Heitor Martinez), namorado de Regininha, irmã de Leo.

O envolvimento de Leo e Jen vai se estreitando em uma série de encontros, desde saídas para pizza e cinema até eventos familiares, marcados por despedidas com "selinhos". A princípio, a relação entre elas é vista como "uma amizade", mas não está isenta de comentários jocosos da "galera de rapazes" e da reação dos parentes frente à ameaça de uma possível relação não convencional. A crescente pressão leva Giovanni a conversar com Jen, na tentativa de esclarecer o que estava de fato acontecendo entre as duas, porque, para ele, os sentimentos de Eleonora não eram os mesmos de sua filha.

Jen se surpreende com a fala do pai e comenta o ocorrido com o irmão, que confirma que elas estavam sendo chamadas de "sapatão". Ela se desespera e vai ao encontro de Leo no hospital onde esta trabalha como médica. Jen se desorienta ainda mais ao ouvir a declaração de amor de Leo, que quer viver uma relação com ela. Ante a revelação de Leo e do que pode significar a proximidade entre as duas, Jen foge. A tristeza se abate sobre as duas, que ficam sem se ver por vários capítulos. Os familiares não deixam de perceber a tristeza das duas, e a família de Jen tenta aproximá-la do deputado Thomas Jefferson (Mario Frias), amigo de Giovanni. Apesar das investidas do deputado e de suas tentativas de iniciar um relacionamento mais íntimo, Jen se recusa a uma maior aproximação. Eles até trocam alguns beijinhos, mas quando ele propõe que eles assumam a relação e menciona o nome de Leo, ela fica irritadíssima, vai para um bar e toma um "porre".

Durante um mês elas ficam sem se encontrar, apesar das tentativas empreendidas por Leo. Embora Jen esteja triste, se recusa a falar com Leo. A mãe de Leo, Janice, ao ver Jen na frente de sua casa resolve intervir e vai conversar com ela. Leo faz uma nova tentativa por telefone e chama Jen para uma conversa "olho no olho". Giovanni também chama a filha para uma conversa e sugere que Jen pare de fugir e encare a situação de frente, dizendo que está ao lado dela para o que der e vier. Jen finalmente vai ao encontro de Leo e as duas seguem para o apartamento de uma amiga de Leo. Jen diz que não entende o que está acontecendo e Leo tenta tranquilizá-la dizendo que as duas vão ter de descobrir juntas. A cena da manhã seguinte no apartamento mostra as duas despertando juntas.

A partir desse episódio, elas se dedicam a pensar como vão encarar as respectivas famílias, após decidirem permanecer juntas. Reações de estranhamento e questionamento acontecem em ambas as famílias. Na família de Jen, João Manoel é a personagem que fica mais incomodada com a situação e na de Leo, seu pai (Sebastião), ao saber de sua relação com Jen, a expulsa de casa. Porém, depois de conversar com Giovanni, Maria do Carmo e Janice, e de ver a filha trabalhando no hospital, Sebastião reavalia sua decisão e pede para que Leo continue morando com eles. Mesmo com o apoio do pai, Leo resolve que é melhor encontrar um lugar próprio para morar.

Leo comenta com Jen seu desejo de ter filhos. Na noite de Ano Novo, ela encontra um bebê abandonado na lixeira do hospital em que trabalha, reitera seu desejo a Jen, e elas decidem iniciar o processo de adoção da criança. Ambas as famílias apoiam a luta do "casal", embora o processo de adoção seja iniciado apenas no nome de Leo.

Os meses de fevereiro e março são de preparação do novo apartamento e da expectativa sobre a decisão do juiz sobre a adoção. Em apoio à relação de Leo e Jen, Giovanni cede um de seus imóveis a elas e indica seu advogado para cuidar do processo de adoção. O juiz finalmente concede a guarda da criança a Leo e o "casal" passa a criá-lo. A novela termina com vários casamentos, entre eles, a união civil das duas, por meio de registro em cartório, que é comunicada às famílias e também com as duas morando juntas no novo apartamento, acompanhadas do filho.

Procedimentos e Análise

O recorte apresentado neste artigo consistiu em cenas da novela Senhora do Destino (2004-2005). Para a obtenção das cenas da telenovela encaminhamos mensagem eletrônica e por carta à Globouniversidade. O processo de negociação para a permissão do uso das imagens neste estudo se estendeu de março a outubro de 2005, resultando na obtenção de uma fita de vídeo em formato VHS, contendo o primeiro e o último capítulo da novela; o boletim de programação com a sinopse da história; a descrição das personagens; a transcrição de entrevistas com o autor e o diretor; a relação do elenco de atores/atrizes e de toda a equipe técnica responsável pela execução do projeto, incluindo cenografia, figurino, efeitos especiais e produção de arte; e um resumo dos 220 capítulos da telenovela.

Concomitantemente, foi feita uma pesquisa na Internet buscando cenas da novela por meio da qual encontramos o site de Lee Looper (http://leoandjen.com.br), onde estavam disponibilizadas 151 cenas sobre o casal lésbico e informações sobre a vida das atrizes Mylla Christie e Bárbara Borges, que representaram Eleonora e Jenifer, respectivamente (material disponível para download). Esse acervo possibilitou a reedição das cenas de Leo e Jen, resultando em um único filme. Essa reedição permitiu acompanhar o desenvolvimento da narrativa deste par romântico e, também, editar pequenos recortes da história. Foram produzidos 16 filmes curtos, contendo as narrativas de cada personagem sobre o tema da lesbianidade ou de falas que focalizassem a relação entre Leo e Jen.

A análise focalizou o uso de repertórios sobre lesbianidade, apoiada em estratégias metodológicas desenvolvidas por Spink e Menegon (2000) para a análise de práticas discursivas, amplamente utilizadas pelos participantes do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Práticas Discursivas e Produção de Sentidos, do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo NPDPS (por exemplo, Cocchiola, 2004; Medrado, 1997; Passarelli, 1998).

Spink e Menegon (2004) propõem que a análise das práticas discursivas inclua duas possibilidades de apreensão: a primeira refere-se à linguagem em uso e a segunda é mais voltada para os aspectos estruturais da linguagem. Esse tipo de análise requer um duplo movimento que englobe (1) os aspectos performáticos da linguagem – quando, em que condições, com que intenção, de que modo – e (2) as condições de produção – o contexto social e interacional (Bakhtin, 1994) e as construções históricas no sentido foucaultiano (Foucault, 2004).

Devido à presença simultânea de imagens, sons e texto, o material audiovisual requer análises de texto que ultrapassem somente uma análise textual. A interanimação entre os diferentes meios torna o discurso mais dinâmico, fluido e repleto de possibilidades de sentidos, dado que uma cena enunciativa contém distintas modalidades de evento. Outra particularidade da proposta deste estudo foi somar a essas estratégias metodológicas o enfoque de gênero na análise discursiva de um produto midiático.

A edição de cenas para cada personagem possibilitou a análise detalhada dos posicionamentos, da linguagem e da linha de argumento utilizado por cada personagem, articulados com outras informações disponíveis sobre elas, como classe, raça, orientação sexual, idade e grau de instrução. Como o foco da pesquisa era a relação entre Jen e Leo, a análise priorizou cenas entre as duas, delas com as demais personagens e das demais personagens referindo-se às duas.

A edição das cenas permitiu identificar as diversas nomeações utilizadas para se referir à lesbianidade. Assim, as designações identificadas ultrapassam um conjunto de palavras dicionarizadas e com significados estabelecidos e convencionados. Esses repertórios estão inseridos em um contexto específico, com características peculiares e que gera sentidos no cotidiano durante o processo de produção da mensagem e da recepção. Esses sentidos passam a funcionar como novos contextos nos quais outros sentidos podem ser produzidos.

Resultados

A partir da análise dos repertórios, a novela pode ser dividida em dois momentos. O primeiro engloba os capítulos 50 a 130, nos quais as personagens estão se conhecendo, e inclui o encontro sexual das duas personagens (Quadro 1). O segundo momento, capítulos 131 a 220, concerne às cenas em que elas passam a viver nos molde um "casal" (Quadro 2).



Até o capítulo 130, "amiga" é a palavra predominante nos repertórios que as personagens adotam para se nomearem, conforme os diálogos relacionados a seguir.

A aproximação inicial entre Eleonora e Jenifer – uma aliança para proteger a relação estabelecida entre o irmão de Jenifer (João Manoel) e a irmã de Eleonora (Regininha) da ira de Sebastião (pai de Eleonora e Regininha) – se desloca do seu motivo original – salvar os irmãos – e se volta para interesses mútuos – estudar juntas, se divertirem. Nesse momento, os encontros enfatizam o prazer da descoberta e do estar em companhia uma da outra, predominando a ideia de amizade, daí a palavra "amiga" estar associada à vinculação inicial entre elas.

Frente ao aprofundamento da relação entre Eleonora e Jenifer, comentários familiares e de pessoas próximas à família denotam julgamentos, avaliações e temores sobre os rumos que a relação possa tomar.

A relação das duas "amigas", cujos encontros são percebidos em termos de "gostar de ficar juntas", "de sair para conversar, se divertir", não parece mais suficiente aos olhos de João Marcelo, da galera e do pai de Jenifer, Giovani. As perguntas emergem de forma mais direta sobre o status da relação com o pressuposto da existência de um namorado.

Alertada pelas perguntas feitas por Giovani, Jenifer pergunta ao irmão, João Manoel, como ele percebe a relação dela com Leo. No diálogo transcrito abaixo aparece pela primeira vez a nomeação "sapatona" para o relacionamento das duas.

A partir do capítulo 114, quando Jenifer procura Eleonora para ter uma conversa "esclarecedora" sobre o relacionamento de ambas, os termos utilizados vão paulatinamente se deslocando de "amizade" para "paixão", até chegar na nomeação lésbica.

No capítulo 130, na cena em que estão juntas em um apartamento de uma amiga de Leo, a construção textual e imagética sugere a emergência da sexualidade. A cena das duas acordando seminuas na mesma cama é acompanhada de várias outras que mostram casais heterossexuais em poses de intimidade, sugerindo o intercurso sexual entre elas. Esse capítulo é determinante para a configuração da mudança dos rumos do relacionamento entre elas, um divisor de águas que demarca o deslocamento da amizade para a esfera amorosa/sexual.

No diálogo acima aparece um certo jogo de palavras de Eleonora, pois em um momento anterior ela assegura a Jenifer de que sabia o que estava ocorrendo – paixão, desejo de ficarem juntas. O recurso ao "nós" – "a gente vai descobrir juntas" – sugere a busca por cumplicidade, equiparando-se a Jenifer na dúvida.

A partir do cap. 130, em meados de dezembro, o termo amizade, para nomear a relação entre Eleonora e Jenifer, desaparece, e começam a circular outros, cujos sentidos estão mais ligados à sexualidade, e as outras personagens passam a vê-las como um "casal". A partir do capítulo 131, quando a relação das duas já está consolidada, prevalecem os temas do amor, da família, da maternidade e do casamento, deixando a caracterização da lesbianidade em plano secundário.

O diálogo entre Sebastião e Eleonora aponta para diferentes concepções de lesbianidade, bem como modelos explicativos e recomendações práticas. Se para Leo a lesbianidade é vista como uma opção legítima amorosa, que precisa ser vivida, para Sebastião é algo "anormal", que requer tratamento.

Os termos utilizados pelo personagem Sebastião – "desgosto", "doença", "imoral", "depravação", "safadeza", "desvio de conduta", "tara", "sapatona", "lésbica", "aberração", "vício" e "cafajeste" –, associados à manifestação de "nojo" – "preferiria que a filha morresse" –, são evocados a partir de uma matriz discursiva que coloca a lesbianidade da filha entre os discursos que a concebem desde doença até sem-vergonhice, prevalecendo uma interpretação patologizante. Esse não é um achado que surpreende, pois somos herdeiros de um discurso científico sexológico - erigido sob a égide da medicina psiquiátrica e influenciado pelas "teorias anatômicas". Nele, a noção de homossexualidade/lesbianidade adquire um status de desvio e disfunção. Na fronteira entre o normal e o patológico essas teorias criam a figura da "homossexual nata". Uma ideia bastante difundida pelos sexólogos do final do século XIX e início do século XX concebe a sexualidade como congênita, percebendo a lésbica como invertida, um membro do terceiro sexo, uma pessoa que nasceu com alma e mente masculina, mas estava aprisionada em um corpo feminino. A partir da criação da categoria lésbica, as práticas sexuais que fogem à reprodução são consideradas "doenças" (Borges, 2008). Mas, se por um lado, a novela incorpora repertórios decorrentes de um discurso patologizante, ela, como um produto cultural pródigo em integrar expectativas diversas, disponibiliza, faz circular também outros repertórios oriundos de outras matrizes discursivas, cuja tônica não é a patologização, mas sim uma noção naturalizada e idealizada da lesbianidade

Uma cena emblemática da aceitação e inclusão do relacionamento de Leo e Jenifer (capítulo 155) é o brinde proposto por Giovani a Flaviana, no intuito de celebrar o amor entre as duas. Devidamente inseridas no contexto dos rituais de celebração que a família realiza, o diálogo abaixo ilustra as formas pelas quais elas são reasseguradas do lugar que ocupam nos vínculos familiares.

O apoio familiar é reforçado por Giovani, que cede um de seus imóveis para Leo e Jenifer morarem. O contexto produzido favorece outro projeto familiar introduzido na trama: a adoção do bebê, Renato.

Amor, casamento e família são termos que emergem sem tensões ou conflitos, como se as práticas que os constituíssem não fossem distintas para as pessoas em termos de classe social, gênero e, principalmente, neste caso, de orientação sexual. A linearidade do texto da novela antecipa o próximo tema para a dupla Leo e Jenifer, inserindo o coroamento dessa união com um filho.

Se Eleonora e Jenifer já cogitavam morar juntas, o projeto de adoção acelera o processo de coabitação, um dos requisitos para adotar uma criança.

Discussão

O objetivo desta pesquisa foi compreender as formas de se falar sobre a lesbianidade na telenovela Senhora do Destino (2004-2005) a partir da análise discursiva das cenas que versavam sobre a relação das personagens Jen e Leo. A escolha de Senhora do Destino se deveu ao fato de ter sido a primeira novela da televisão brasileira a apresentar como personagens centrais duas mulheres que se enamoram e decidem viver juntas. Por meio dos diálogos entre as personagens, as práticas discursivas funcionaram como vias de acesso para chegar aos discursos sobre lesbianidade, tendo por referência os repertórios e as estratégias discursivas que os sustentam. A visibilidade da lesbianidade na mídia, tomando como exemplo a novela Senhora do Destino, e as incursões da pesquisa permitiram apreender os termos utilizados nos dois momentos da novela e o contexto de uso. Duas perguntas nortearam a análise: (a) Quais repertórios sobre lesbianidade a novela está produzindo e divulgando? (b) Em que contextos de uso emergem, quem fala, como fala, etc.?

Os resultados desta pesquisa apontam para um duplo efeito da introdução da temática lesbianidade na novela. Por um lado, há um processo de assimilação do termo lésbica, provocando o efeito de maior "familiarização" do público com o assunto, bem como de circulação de códigos/modelos que propiciam a legitimação de relações entre pessoas do mesmo sexo. Por outro, a forma como ocorrem os processos de legitimação/aceitação não possibilita a desestabilização das normas e dos modelos sexuais hegemônicos. A retórica discursiva da novela é construída a partir da ideia de "casal", cuja referência se inscreve na Biologia (macho e fêmea), modelo naturalizado da expressão de sexualidade e que orienta a caracterização da relação entre Elenora e Jenifer em termos de polaridades de gênero. Eleonora é retratada como uma mulher decidida, que sabe o que quer e prefere enfrentar as situações sem subterfúgios, já Jenifer aparece como alguém que tem maior dificuldade de saber o que quer, apresenta dúvidas sobre si mesma e é retratada como a parte mais emocional e frágil da dupla.

Mais do que veicular informações, a mídia também produz saberes, formas específicas de comunicar o que é masculino e feminino. Segundo Foucault (2004, p. 55), discursos são práticas que sistematicamente "formam os objetos de que falam", e não se reduzem a um conjunto de signos que remetem a conteúdo ou representações. As maneiras como são valorados os gêneros implica manutenção ou subversão de comportamentos, sentimentos e interdições que ajudam a moldar a vida de homens e mulheres.

Assim, apesar do inegável avanço na discussão de temas pouco visibilizados na mídia, a inclusão do tema lesbianidade na novela, embora contemple a necessidade de explorar assuntos pouco abordados, é insuficiente para desconstruir/desestabilizar valores tradicionais.

No contexto da novela, os repertórios sobre lesbianidade passam da designação lésbica/homossexual, termos criados no final do século XIX, a outras nomeações mais estigmatizadas e menos politicamente engajadas – "sapatão", "aberração" –, mostrando a circulação de diferentes discursos, cujos sentidos competem entre si. As personagens se dividem entre os/as que utilizam jargões e opinam menos favoravelmente sobre a relação lésbica e aqueles/las que, apesar de não aceitarem a relação, apresentam uma opinião mais favorável.

A polarização entre repúdio e aceitação é um dos motores que os veículos de comunicação utilizam para manter o interesse da audiência. No entanto, essas posições variam durante a linha narrativa da novela, indicando que as opiniões podem mudar segundo os contextos, as interações e negociações ocorridas. Sebastião e Giovani, pais de Eleonora e Jenifer, a princípio manifestaram, de diferentes modos e intensidades, aceitar o relacionamento de ambas. Os diálogos se mostram persuasivos através da força legitimadora da ideia de amor, de casal, de família e de maternidade, culminado na mudança de atitude, primeiro de Giovani e depois de Sebastião. A argumentação que prevalece no texto é baseada na díade amor e família, e as personagens Giovani e Sebastião atuam como guardiões e disseminadores de normas sociais. Assim, a construção de perfis "bem comportados" e adequados, tendo como referência a norma heterossexual e a tônica do amor romântico, aliados ao poder de sedução do drama, constituiu aspecto fundamental para a permanência do assunto na novela. A mídia, especialmente a telenovela, tem uma forma particular de gerar e disseminar mensagens, atuando como espaço institucionalizado e com tendência normalizadora que constrói, reproduz e veicula repertórios sobre comportamento amoroso.

Uma das perguntas suscitada ao longo desta pesquisa é se, ao eleger algumas práticas para serem publicizadas, não silencia arranjos que extrapolam o casamento, o formato familiar, a monogamia, excluindo do campo de legitimação as relações fora do casamento, da monogamia, os solteiros/as, e aquelas que não estão regidas pelo casamento ou pela família.

Ao incluir o tema da lesbianidade, a novela expõe o que Butler (2003) denomina de "o dilema por reconhecimento público". Por um lado, viver sem as normas do reconhecimento público pode gerar sofrimento psíquico e limitações de toda ordem; por outro, se as normas de reconhecimento não forem desafiadas criticamente, a demanda por reconhecimento pode resultar em processos de hierarquia social, reiterando normas sociais.

Apesar de a mídia atuar como uma via para a reflexão, através de seus produtos culturais, a novela aqui analisada não consegue provocar interrogações sobre a lógica do que é concebido como legítimo ou não. Esta parece ser uma tarefa mais compatível com o lugar de pesquisador/a interessado/a – pensar política e criticamente as questões atuais.

É nesse enquadre que a postura construcionista, nas vozes de Ibáñez (1994), Hacking (2001), e Spink e Frezza (2000), possibilita pensar que a criação de categorias específicas, como homossexualidade/lesbianidade e os termos a elas associados (homossexual e lésbica), fazem parte de uma história recente. Permite, portanto, problematizar determinadas definições concebidas como "naturais", incitando a busca de compreensão dos contextos nos quais elas foram produzidas, assim como indagar sobre o impacto das categorias na vida das pessoas. Desestabilizar categorias implica questionar, de um lado, os limites das teorizações sobre a homossexualidade/lesbianidade, de outro, abrir caminhos para outras configurações de pensamento.

Nota

Recebido em: 03/02/2009

Revisão em: 18/09/2009

Aceite final em: 16/10/2009

Lenise Santana Borges é Doutora em Psicologia Social, Professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, fundadora do grupo Transas do Corpo. Endereço para correspondência: PUC de Goiás - Departamento de Psicologia. Av. Universitária 1.440, Setor Universitário. CEP: 74605-010. Goiânia/GO. Email: esinel@uol.com.br

Mary Jane Paris Spink é Professora titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Doutora em Psicologia Social pela London School of Economics and Political Science, Universidade de Londres. Endereço para correspondência: PUC de São Paulo - Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social. Rua Monte Alegre, 984, Perdizes. CEP: 05015-000. São Paulo, SP. Email: mjspink@pucsp.br

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    Financiamento CAPES
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Maio 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2009

    Histórico

    • Aceito
      16 Out 2009
    • Revisado
      18 Set 2009
    • Recebido
      03 Fev 2009
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