EDITORIAL
É com satisfação que apresentamos o primeiro número do volume 23, ano de 2011, da Revista Psicologia & Sociedade.
Parece-nos importante, nesse momento, ressaltar as dificuldades enfrentadas pelos periódicos científicos no Brasil decorrentes de uma política produtivista que tensiona o campo da produção acadêmica e pressiona os profissionais em meio a uma diversidade grande de tarefas. Nesse cenário, os altos custos de impressão e distribuição da versão em papel, aliados a orçamentos insuficientes, indicam uma urgência na busca por alternativas que, no nosso caso, apontam para a versão eletrônica como saída possível, extinguindo o formato impresso. Ressaltamos que essa possibilidade tem sido avaliada com cuidado e nos tranquiliza o fato de que a versão eletrônica garante o acesso ao texto na íntegra de forma gratuita, facilitando sobremaneira o alcance de um dos nossos objetivos que é o da socialização do conhecimento produzido. Também é importante esclarecer que essa mudança para o formato eletrônico não altera a avaliação da revista pelo Qualis/Capes.
A tarefa mesma de editoria não nos parece suficientemente valorizada em qualquer dos quesitos relativos à avaliação da produção acadêmica, dos pesquisadores individualmente e/ou das instituições às quais pertencem. Além disso, as horas de trabalho dispendidas também não são computadas de forma justa em nossos encargos rotineiros. A complexidade da editoria envolve entre outras questões a avaliação constante da linha editorial do periódico e seus objetivos, a revisão do corpo de pareceristas, a logística de composição dos números e volumes, a negociação com as agências de fomento e os indexadores o que certamente compoe uma política editorial muito mais do que um conjunto de meras tarefas burocráticas. A seriedade com a qual encaramos esse desafio cobra seu preço por meio de uma sobrecarga de trabalho nem sempre reconhecida e valorizada em nosso meio. Torna-se urgente, portanto, revermos as políticas de publicação científica no Brasil, incluindo a justa valorização da editoria.
Esse número que ora apresentamos é composto por 21 artigos e três resenhas. Os três primeiros artigos abordam temáticas contemporâneas como a problematização do conceito de natureza humana na busca por uma noção que possibilite operar com os de conceitos subjetivação e devir texto intitulado "Natureza desumana: desmesuras do mundo ao homem", de autoria Luis Artur Costa, Daniel Dutra e Tania Mara Galli Fonseca -, "os efeitos subjetivos relacionados à comunidade online do Orkut e às experiências sociais contemporâneas" em um cenário de novas tecnologias comunicacionais: "A dimensão pública da subjetividade em tempos de orkut", de Carla Neves e Francisco Teixeira Portugal -, e a construção do corpo na sociedade contemporânea por meio de uma recuperação histórica: "Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje", de Maria Raquel Barbosa, Paula Mena Matos e Maria Emília Costa.
Seguem-se cinco artigos que abordam problemáticas distintas que envolvem o mundo do trabalho. O primeiro, "O assédio moral no trabalho na visão de operadores do direito", de Bruna Moraes Battistelli, Mayte Raya Amazarray e Silvia Helena Koller, discute o assédio moral no trabalho e o papel da Psicologia e do Direito nesse cenário, a partir da escuta de operadores do Direito. O segundo, "Sentido do trabalho no discurso dos trabalhadores de uma ong em Belo Horizonte", de Eliete Augusta de Souza Viana e Marília Novais da Mata Machado, mostra que, para trabalhadores de uma ong específica, o sentido positivo do trabalho predomina associado a expectativas "de transformação pessoal e da comunidade". O terceiro, "Envolvimento de docentes-gestores com o trabalho no contexto universitário", de Lilia Aparecida Kanan e José Carlos Zanelli, apresenta resultados de pesquisa que investigou o envolvimento de professores-gestores com o trabalho, identificando suas satisfações e dificuldades no empreendimento de suas tarefas. O quarto artigo, "Exigências nos percursos profissionais de gerentes de bancos", de Thaís Augusta Cunha de Oliveira Máximo, Anísio José da Silva Araújo, Paulo César Zambroni-de-Souza e Maria de Fátima Pereira Alberto, aborda as trajetórias de gerentes de bancos públicos e privados evidenciando as pressões sofridas e a expectativa, não alcançada, de estabilidade na função, a despeito dos investimentos em capacitação. E o quinto, "Crítica às apropriações psicológicas do trabalho", de Pedro F. Bendassolli, analisa três formas diferentes pelas quais a Psicologia apropriou-se do trabalho, questionando o significado do trabalho atribuído por cada uma delas e seus efeitos no campo da psicologia nessa área.
Os próximos cinco artigos dedicam-se a questões que afetam os universos da infância e da juventude no tempo presente. O primeiro deles, "Desvendando olhares: infância e Aids nos discursos da sociedade", de autoria de Lara Brum de Calais e Maria Ângela das Graças Santana de Jesus foca, a partir de uma perspectiva foucauldiana, os discursos que envolvem uma infância produzida sob os auspícios da epidemia da Aids. O segundo, intitulado "A produção de meninos de projeto e acontecimentos no percurso", de Gilead Marchezi Tavares, Fabiana Teixeira de Oliveira, Tatiane Bossatto, Flávia Borges de Deus, Denise Carla Goldner Coelho e Mônica Nogueira Santos Vilas-Boas, discute resultados de pesquisa que objetivou "conhecer modos de ser criança produzidos por concepções e práticas que permeiam um projeto social destinado a atender jovens em situação de risco", de sorte a identificar essa forma-limite que captura os processos de subjetivação. O terceiro, "Caracterização dos serviços que atendem adolescentes: interfaces entre saúde mental e drogadição", de Nichollas Martins Areco, Camila Alessandra Matias, Rosalina Carvalho da Silva e Cristiane Paulin Simon, analisa como cinco serviços de saúde mental e drogadição de um município do Estado de São Paulo compreendem a demanda dos adolescentes em situação de vulnerabilidade social, apontando dificuldades nesse cenário. O quarto, "Representações sociais da depressão no ensino médio - um estudo sobre duas capitais", de Natália Ferreira Damião, Maria da Penha de Lima Coutinho, Zulmira Carla Gonçalves Carolino e Karla Carolina Silveira Ribeiro, analisa mostra resultados de pesquisa que investigou, em duas capitais do Nordeste, as representações sociais da depressão entre adolescentes do ensino médio e os fatores psicossociais envolvidos. O quinto e último artigo dedicado às temáticas afeitas à infância e à judentude intula-se "Adolescentes autores de atos infracionais: psicologia moral e legislação" e é de autoria de Franciela Félix de Carvalho Monte, Leonardo Rodrigues Sampaio, Josemar Soares Rosa Filho e Laila Santana Barbosa. Os autores discutem, à luz da teoria piagetiana, os documentos que orientam os direitos fundamentais de crianças e adolescentes no Brasil.
Seis artigos fecham essa sequência expressiva abordando temáticas contemporâneas específicas. Dois deles abordam questões associadas à discriminação racial. "Atitude político-ideológica e inserção social: fatores psicossociais do preconceito racial", de Aline Vieira de Lima Nunes e Leoncio Camino, e, "Estereótipos e essencialização de brancos e negros: um estudo comparativo", de Marcos Emanoel Pereira, José Luis Álvaro, Andréia C. Oliveira e Gilcimar S. Dantas. Em seguida, Eduardo Henrique Passos e Tadeu Paula Souza discutem como a política de redução de danos mostra-se como uma alternativa possível em um cenário global de "guerra às drogas" no texto intitulado "Redução de danos e saúde pública: construções alternativas à política global de "guerra às drogas". O próximo texto, "Amor e ciúme na contemporaneidade: reflexões psicossociológicas", de autoria de Lauane Baroncelli, apresenta uma discussão sobre o ciúme na experiência amorosa contemporânea marcada por vetores como a transitoriedade.
Na sequência temos a contribuição de Alberta Contarello, Ilaria Marini, Alessio Nencini e Gaia Ricci no texto "Rappresentazioni sociali dell'invecchiamento tra psicologia sociale e letteratura" que analisa dois textos literários de forma a investigar as representações sociais do envelhecimento, aproximando literatura e psicologia social no texto. O último artigo, "Espaço e subjetividade: estudo com ribeirinhos" discute as transformações vividas por ribeirinhos em decorrência da implantação de usina hidrelétrica no Rio Paraná e é de autoria de Andréia Duarte Alves e José Sterza Justo.
Finalmente, três resenhas encerram o número aqui apresentado: Ivonete Steinbach Garcia e Suzana da Rosa Tolfo resenham o livro Assédio moral no trabalho, de Freitas, M. E., Heloani, R., & Barreto, M. (2008); Júlio César Castilho Razera resenha El desarrollo del educando como finalidad de la educación, de autoria de Kolberg, L. (1984), com a colaboração de Rochelle Mayer; Fernando Lacerda Júnior resenha Cultural psychology: A perspective on psychological functioning and social reform, de Ratner, C. (2006).
Desejamos a todas/os uma excelente leitura! Que nossa revista continue sendo uma referência em nossa área fornecendo ferramentas importantes para os nossos trabalhos, bem como propiciando novos e bons encontros.
Maria Juracy Toneli
Co-editora
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
02 Jun 2011 -
Data do Fascículo
Abr 2011