Acessibilidade / Reportar erro

UMA PSICANÁLISE NEGRA: DESOBEDIÊNCIAS ONTOLÓGICAS E EPISTÊMICAS DE PSICÓLOGAS E PSICANALISTAS RACIALIZADAS

A BLACK PSYCHOANALYSIS: ONTOLOGICAL AND EPISTEMIC DISOBEDIENCES OF RACIALIZED PSYCHOLOGISTS AND PSYCHOANALYSTS

UN PSICOANÁLISIS NEGRO: DESOBEDIENCIAS ONTOLÓGICAS Y EPISTÉMICAS DE PSICÓLOGAS Y PSICOANALISTAS RACIALIZADAS

Resumo:

A partir de uma perspectiva decolonial, o objetivo da pesquisa foi compreender os lugares do negro na Psicanálise atualmente. Para isto, foram realizadas 13 entrevistas semiestruturadas com psicólogas e psicanalistas negras com prática clínica. A partir de análise categorial-temática, identificamos quatro categorias: escolha da Psicanálise, articulações entre Psicanálise e relações raciais, descobrindo-se negra e a cor da Psicanálise e das (não) psicanalistas. Diante do reconhecimento das limitações da Psicanálise, foi a experiência vivida do negro o motor de deslocamento ontológico que viabilizou desobediências epistêmicas configuradas na articulação da Psicanálise com teorias sociais. Este resultado evidencia o entrelaçamento da colonialidade do saber e do ser na matriz colonial do poder e enfatiza a desobediência ontológica como via fundamental para práticas psis antirracistas.

Palavras-chave:
Psicanálise; Colonialidade; Relações raciais; Desobediência; Formação

Resumen:

Desde una perspectiva decolonial, el objetivo de la investigación fue comprender los lugares de las personas negras en el Psicoanálisis hoy. Para ello, se realizaron 13 entrevistas semiestructuradas a psicólogas y psicoanalistas negras con práctica clínica. A partir de un análisis categorial-temático identificamos cuatro categorías: elección del Psicoanálisis, articulaciones entre Psicoanálisis y relaciones raciales, descubrirse negra y el color del Psicoanálisis y de las (no) psicoanalistas. Dado el reconocimiento de las limitaciones del Psicoanálisis, fue la experiencia vivida por las personas negras el motor del desplazamiento ontológico que permitió la desobediencia epistémica configurada en la articulación del Psicoanálisis con las teorías sociales. Este resultado resalta el entrelazamiento de la colonialidad del conocimiento y el estar en la matriz colonial de poder y enfatiza la desobediencia ontológica como un camino fundamental hacia las prácticas psi antirracistas.

Palabras clave:
Psicoanálisis; Colonialidad; Relaciones raciales; Desobediencia; Capacitación

Abstract:

From a decolonial perspective, the aim of the research was to understand the places of black people in Psychoanalysis today. For this, 13 semi-structured interviews were carried out with black psychologists and psychoanalysts with clinical practice. From a categorical-thematic analysis, we identified four categories: choosing Psychoanalysis, articulating Psychoanalysis and racial relations, discovering oneself as black and the color of Psychoanalysis and of (non) psychoanalysts. Given the recognition of Psychoanalysis’s constraints, it was the lived experience of black people that was the engine of ontological displacement that enabled epistemic disobedience configured in the articulation of Psychoanalysis with social theories. This result highlights the intertwining of the coloniality of knowledge and being in the colonial matrix of power, emphasizing ontological disobedience as a fundamental path to anti-racist psychological practices.

Keywords:
Psychoanalysis; Coloniality; Race relations; Disobedience; Training

Introdução

No início dos anos 80, quando a comissão editorial da revista Psicologia: Ciência e Profissão buscou profissionais negras e negros para “discutir a questão racial no contexto da vida profissional” (Colucci & Borges-Andrade, 1984, p. 10)Colucci, Vera Lúcia & Borges-Andrade, Jairo Eduardo (1984). Eu, mulher, psicóloga e negra. Psicologia: Ciência e Profissão, 4(2), 10-15. https://www.scielo.br/j/pcp/a/Zf4YfWqWwsvNms5LBgsFdSB/
https://www.scielo.br/j/pcp/a/Zf4YfWqWws...
, encontrou muitas dificuldades e pouquíssimas psicólogas. Apesar da Psicanálise ser um referencial bastante presente na formação de psicólogas brasileiras, os autores do texto afirmaram categoricamente: “no âmbito dos psicólogos psicanalistas não encontramos psicólogos negros”.

Levantamentos recentes indicam que a Psicologia continua a ser praticada majoritariamente por pessoas brancas - 63% (Sandall, Queiroga, & Gondim, 2022)Sandall, Hugo, Queiroga, Fabiana, & Gondim, Sonia M. Guedes (2022). Quem somos? Caracterizando o perfil das(os) psicólogas(os) no Brasil. In Antonio V. B. Bastos (Org.), Quem faz a Psicologia Brasileira? um olhar sobre o presente para construir o futuro, formação e inserção no mundo do trabalho, volume I, formação e inserção no mundo do trabalho (1ª ed.). CFP.. Sabemos que não podemos estender esse perfil para descrever psicanalistas do Brasil, mas consideramos que esse número dá indicativos interessantes. Frente a esses números, dado o papel da Psicanálise na psicologia brasileira (Dimenstein, 2000)Dimenstein, Magda (2000). A cultura profissional do psicólogo e o ideário individualista: implicações para a prática no campo da assistência pública à saúde. Estudos de Psicologia, 5(1), 95-121. https://www.scielo.br/j/epsic/a/FbK3GQ3CR4PDPKGNHZQ3bSk/?format=pdf⟨=pt
https://www.scielo.br/j/epsic/a/FbK3GQ3C...
, indagamos: qual o lugar do negro na Psicanálise?

Nossa opção por “negro” ao invés de “preto” foi inspirada na tradução brasileira adotada para a obra de Achille Mbembe (2018)Mbembe, Achille (2018). Crítica a razão negra. n-1 Edições.:

a palavra “negro” remete, em primeiro lugar, a uma fantasmagoria. O interesse de estudar esta fantasmagoria reside não apenas naquilo que ela nos diz a respeito daqueles que a produziram, mas também a respeito da problemática, na verdade já antiga, do estatuto das aparências e de sua interação com a realidade - a realidade das aparências e as aparências da realidade - a simbólica das cores. E o processo de transformação das pessoas de origem africana em “negros”, isto é, em corpos de extração e em sujeitos raciais, obedece em vários aspectos a uma tripla lógica de ossificação, envenenamento e calcificação. (p. 81)

A partir da definição mbembiana, mais especificamente, nos indagamos sobre o lugar do negro não só demograficamente, mas sobretudo ontológica e epistemologicamente. Nesse sentido, o objetivo deste estudo é investigar as relações de pessoas negras que se identificam como psicanalistas - ou como psicólogas de orientação psicanalítica - com a Psicanálise enquanto teoria, método e prática.

1.1 O lado mais escuro da Psicanálise brasileira

Com abordagem médico-higienista, a Psicanálise foi apropriada no Brasil no início do século XX por uma elite para realizar o projeto de construção de uma nação moderna, de um país civilizado (Torquato, 2014Torquato, Luciana Cavalcante (2014). A Psicanálise e a construção de uma nação moderna: a apropriação médico-higienista. Psicanálise & Barroco em Revista, 12(2), 13-40. http://seer.unirio.br/index.php/psicanalise-barroco/article/view/7368
http://seer.unirio.br/index.php/psicanal...
; Torquato & Rocha, 2016Torquato, Luciana Cavalcante & Rocha, Guilherme Massara (2016). A peste no Brasil: A introdução das ideias freudianas no Brasil a partir da medicina e do modernismo. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 19, 425-440. https://doi.org/10.1590/S1516-14982016003005
https://doi.org/10.1590/S1516-1498201600...
). Como projeto e promessa de modernização, essa introdução da Psicanálise no Brasil nos remete à modernidade como “uma narrativa complexa, cujo ponto de origem foi a Europa, uma narrativa que constrói a civilização ocidental ao celebrar as suas conquistas enquanto esconde, ao mesmo tempo, o seu lado mais escuro, a ‘colonialidade’” (Mignolo, 2017, p. 2)Mignolo, Walter (2017). Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 32(94), 1-18. https://doi.org/10.17666/329402/2017
https://doi.org/10.17666/329402/2017...
.

A colonialidade (Quijano, 1992)Quijano, Aníbal (1992). Colonialidad y modernidad/racionalidad. Perú indígena, 13(29), 11-20. https://www.lavaca.org/wp-content/uploads/2016/04/quijano.pdf
https://www.lavaca.org/wp-content/upload...
, parte invisível e constitutiva da modernidade, também pode ser compreendida como uma matriz colonial de poder ou, simplesmente, colonialidade do poder. Ela se estrutura nos entrelaçamentos de diferentes nós históricos-estruturais, sendo o nó histórico-estrutural racial a base na qual foram estabelecidas as diferenças coloniais e imperiais e outras hierarquias - sexuais, espirituais, estéticas, epistêmicas. É essa a “pauta oculta da modernidade” (Mignolo, 2017, p. 2)Mignolo, Walter (2017). Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 32(94), 1-18. https://doi.org/10.17666/329402/2017
https://doi.org/10.17666/329402/2017...
. Essas hierarquias justificaram, e ainda justificam, o controle da economia, da autoridade, da natureza, do gênero e da sexualidade, da subjetividade e do conhecimento (Mignolo, 2008)Mignolo, Walter (2008). Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Cadernos de Letras da UFF - Dossiê: Literatura, língua e identidade, 34, 287-324. http://professor.ufop.br/sites/default/files/tatiana/files/desobediencia_epistemica_mignolo.pdf
http://professor.ufop.br/sites/default/f...
.

A Psicanálise no Brasil foi apropriada com o caráter higienista da medicina: “um dos objetivos centrais da política higienista no Brasil passou pela preocupação do negro se tornar o fator primordial de degenerescência do povo brasileiro” (Torquato, 2015, p. 72)Torquato, Luciana Cavalcante (2015). História da Psicanálise no Brasil: Enlaces entre o discurso freudiano e o projeto nacional. Revista de Teoria da História-Journal of Theory of History, 14(2), 47-77. https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/39248/19855
https://revistas.ufg.br/teoria/article/v...
. Assim, a Psicanálise foi introduzida como um elixir civilizatório-educativo que elevaria o Brasil a nação moderna e possibilitaria o tratamento e, sobretudo, o controle daqueles que eram vistos como ameaça ao projeto nacional - os negros (Facchinetti & Venancio, 2006)Facchinetti, Cristiana & Venancio, Ana Teresa A. (2016). Entre a Psicanálise e a degenerescência: sexualidade e doença mental no início do século XX no Brasil. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 9, 151-161. https://doi.org/:10.1590/1415-47142006001012
https://doi.org/10.1590/1415-47142006001...
.

Como parte de um projeto de modernização que ignora a colonização da qual prescinde, a Psicanálise brasileira foi marcada pela lógica da colonialidade: as heranças culturais africanas e indígenas foram consideradas determinantes do “nosso atraso evolutivo político e social” (Torquato, 2014, p. 27)Torquato, Luciana Cavalcante (2014). A Psicanálise e a construção de uma nação moderna: a apropriação médico-higienista. Psicanálise & Barroco em Revista, 12(2), 13-40. http://seer.unirio.br/index.php/psicanalise-barroco/article/view/7368
http://seer.unirio.br/index.php/psicanal...
. Foi assim que, em seu mito originário (Diaz, 2012)Diaz, Fernando Sobhie (2012). Origens e marcas da institucionalização na Psicanálise do Rio de Janeiro. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 19(3), 1093-1097. https://doi.org/10.1590/S0104-59702012000300019
https://doi.org/10.1590/S0104-5970201200...
, demarcou o lugar do negro como o de ameaça social para o país - um lugar de diferença subontológica ou de diferença ontológica colonial (Maldonado-Torres, 2007)Maldonado-Torres, Nelson (2007). On the Coloniality of Being: Contributions to the Development of a Concept. Cultural studies, 21(2-3), 240-270. https://doi.org/10.1080/09502380601162548
https://doi.org/10.1080/0950238060116254...
.

1.2 Recordar, repetir e… (de)racializar

Com os crescentes movimentos voltados para o estudo da saúde mental da população negra, as relações raciais dentro da psicologia brasileira têm sido amplamente utilizadas como categoria de análise para compreender diferenças, discriminação e desigualdades principalmente no âmbito da Psicologia Social, com estudos focados nas operações do racismo (Martins, Santos, & Colosso, 2013)Martins, Edna, Santos, Alessandro Oliveira, & Colosso, Marina (2013). Relações étnico-raciais e psicologia: Publicações em periódicos da SciELO e Lilacs. Psicologia: Teoria e Prática, 15(3), 118-133. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872013000300009
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
. A tendência se repete nos estudos em Psicanálise sobre o tema (Almeida, 2021Almeida, Nathália de Sousa (2021). Racismo e Psicanálise: A voz da mulher negra na literatura [Dissertação de Mestrado em Psicologia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia].; Ambra, 2019Ambra, Pedro (2019). O lugar e a fala: A Psicanálise contra o racismo em Lélia Gonzalez. Sig-Revista de Psicanálise, 8, 85-101. http://sig.org.br/bkp/wp-content/uploads/2020/05/Edicao14-Completa.pdf
http://sig.org.br/bkp/wp-content/uploads...
; Birman, 2019Birman, Joel (2019). Desconstrução do racismo. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 22(1), 166-169. https://doi.org/10.1590/1415-4714.2018v22n1p166.10
https://doi.org/10.1590/1415-4714.2018v2...
; Fernandes, 2018Fernandes, Rafael Aiello (2018). Racismo e Psicanálise em Produções Acadêmicas [Tese de Doutorado em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas/SP. ; Guerra, 2020Guerra, Andréa Máris Campos (2020). O Papel da Psicanálise na Desconstrução do Racismo à Brasileira. Subjetividades, 20(nspe.2), 1-14. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp2.e9547
https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20i...
; Schechter & Bonfim, 2020Schechter, Rosa Coutinho & Bonfim, Flavia Gaze (2020). Psicanálise e racismo: entre os tempos de ver, compreender e concluir. Ayvu: Revista de Psicologia, 7, 1-29. https://periodicos.uff.br/ayvu/article/view/43469/27979
https://periodicos.uff.br/ayvu/article/v...
;).

Embora a denúncia do racismo seja fundamental, o foco no fenômeno a partir de uma perspectiva que ignora o duplo narcisismo que fecha “o negro em sua negrura” e o “branco em sua brancura” (Fanon, 1952/2008, p. 27) pode se alinhar a tradições da epistemologia euro-americana, em que a primazia do método (Maldonado-Torres, 2017)Maldonado-Torres, Nelson. (2017). Frantz Fanon and the decolonial turn in psychology: From modern/colonial methods to the decolonial attitude. South African Journal of Psychology, 47(4), 432-441. https://doi.org/10.1177/0081246317737918
https://doi.org/10.1177/0081246317737918...
articula um esquema étnico-racial hierárquico de sujeito-branco e objeto-negro (Silva, 2020)Silva, Nádia Maria Cardoso da (2020). Virginia Leone Bicudo e Guerreiros Ramos - para uma epistemologia decolonial da perspectiva negro-brasileira nas Américas. IdeAs. Idées d’Amériques, 16, 1-23. https://doi.org/10.4000/ideas.9758
https://doi.org/10.4000/ideas.9758...
ao desconsiderar a colonialidade inerente à modernidade.

Consideramos aqui, então, o racismo enquanto “mal-estar colonial” (Faustino, 2019)Faustino, Deivison Mendes (2019). El malestar colonial: racismo y sufrimiento psicológico en Brasil. Clínica & Cultura, 8(2), 82-94. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2317-25092019000200007&lng=pt&nrm=iso.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
. Racismo e racialização1 1 Faustino (2015) opta pelo conceito de racialização proposto nas obras de Valter Silvério: a ideia de “racialização” ou “formação de raça” se baseia no argumento de que a raça é uma construção social e categoria não universal ou essencial da biologia. Raças não existem fora da representação. Em vez disso, elas são formadas na e pela simbolização em um processo de luta pelo poder social e político. O conceito de racialização refere-se aos casos em que as relações sociais entre as pessoas foram estruturadas pela significação do caráter. (Silvério & Trinidad, 2012, p. 8) são “implícitos à situação colonial - são partes de um processo maior de dominação: a violenta e desigual expansão das relações capitalistas de produção para o mundo não-europeu” (Faustino, 2018, p. 152)Faustino, Deivison Mendes (2018). Frantz Fanon: Capitalismo, racismo e a sociogênese do colonialismo/Frantz Fanon. SER Social, 20(42), 148-163. https://periodicos.unb.br/index.php/SER_Social/article/view/14288
https://periodicos.unb.br/index.php/SER_...
. É ao reconhecer a estrutura de um mundo imperial/capitalista/colonial (Grosfoguel, 2012)Grosfoguel, Ramón (2012). El concepto de «racismo» en Michel Foucault y Frantz Fanon: ¿ teorizar desde la zona del ser o desde la zona del no-ser?. Tábula Rasa, 16, 79-102. http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=39624572006
http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=39...
que optamos pelo pensamento decolonial (Mignolo, 2017)Mignolo, Walter (2017). Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 32(94), 1-18. https://doi.org/10.17666/329402/2017
https://doi.org/10.17666/329402/2017...
como referencial teórico nesta pesquisa e optamos por explorar as relações entre saber e ser a partir de Nelson Maldonado-Torres (2007)Maldonado-Torres, Nelson (2007). On the Coloniality of Being: Contributions to the Development of a Concept. Cultural studies, 21(2-3), 240-270. https://doi.org/10.1080/09502380601162548
https://doi.org/10.1080/0950238060116254...
e Ramón Grosfoguel (2016)Grosfoguel, Ramón (2016). A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: Racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Sociedade e Estado, 31, 25-49. https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100003
https://doi.org/10.1590/S0102-6992201600...
, entendendo que a colonialidade do ser decorre do inverso do “penso, logo existo”, pois posiciona como inferiores os que supostamente não pensam e não desfrutam de uma existência inteira.

Assim, inspiradas pelo trabalho de Neusa Santos Souza (1983)Souza, Neusa Santos (1983). Tornar-se negro: ou as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Graal. em Tornar-se Negro, propomos pensar “tornar-se psicanalista negro” no país em que a Psicanálise tem, como um de seus mitos originários, seu uso como elixir civilizatório e higienista contra o negro. Como ser psicanalista e negro, negro e psicanalista, quando a Psicanálise brasileira, em suas origens institucionalizadas, é marcada pela colonialidade do saber e do ser, relegando o negro à “zona do não-ser” (Fanon, 1952/2008, p. 26)Fanon, Frantz (1952/2008). Pele negra, máscaras brancas. EDUFBA. ?

Além disso, não podemos ignorar o panorama geral da prática da Psicanálise em que o debate sobre a sua (não) regulamentação ainda nos confronta com impasses sobre a institucionalização da formação do analista (Souza, 2018)Souza, Joana (2018). Sobre a formação do psicanalista: entre o movimento psicanalítico e a institucionalização da Psicanálise. Psicanálise & Barroco em Revista, 12(2), 87-99. http://seer.unirio.br/psicanalise-barroco/article/view/7371
http://seer.unirio.br/psicanalise-barroc...
. Afinal, como é que se torna psicanalista? Para Sigmund Freud, as sociedades psicanalíticas seriam um locus privilegiado para essa formação que, em sua proposta, se estendia para além do conhecimento teórico. A formação analítica se daria pelo clássico tripé: estudo teórico, análise pessoal e supervisão das práticas (Freud, 1919/1976)Freud, Sigmund (1919/1976). Sobre o ensino da Psicanálise nas universidades (M. A. Rego, trad). Imago. .

Contudo, em estudo etnográfico sobre a formação de psicanalistas em escolas lacanianas argentinas e brasileiras, Maria Carolina Antonio (2015)Antonio, Maria Carolina Araújo (2015). A ética do desejo: Estudo etnográfico da formação de psicanalistas em escolas lacanianas de Psicanálise [Tese de Doutorado em Ciências Sociais, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos/SP]. enfatiza a hegemonia de uma estrutura hierárquica de produção e transmissão do saber apoiada no par mestre/analista-discípulo/analisante construída por figuras de autoridade tidas como depositárias do genuíno saber-fazer psicanalítico. A autora também ressalta as contradições no discurso sobre a seleção de membros: “ao mesmo tempo em que afirmam não haver padrões, afirmam critérios como idade, condição financeira, subjetividade, experiência analítica e comprometimento com a causa” (Antonio, 2015, p. 272)Antonio, Maria Carolina Araújo (2015). A ética do desejo: Estudo etnográfico da formação de psicanalistas em escolas lacanianas de Psicanálise [Tese de Doutorado em Ciências Sociais, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos/SP]..

Nesse contexto em que as proposições para a formação do analista evidenciam as interrelações entre saber e ser e onde o negro está na zona do não ser, entender a modernidade como modernidade/colonialidade nos permite explorar as inter-relações entre colonialidade do saber e do ser (Maldonado-Torres, 2007)Maldonado-Torres, Nelson (2007). On the Coloniality of Being: Contributions to the Development of a Concept. Cultural studies, 21(2-3), 240-270. https://doi.org/10.1080/09502380601162548
https://doi.org/10.1080/0950238060116254...
na experiências de psicanalistas e psicólogas de orientação psicanalítica.

2 Método

Esta pesquisa foi realizada por duas psicólogas negras, ambas com experiência clínica atuando em Brasília, uma doutora e uma mestra em Psicologia graduadas em universidade federal acessada por programas de ações afirmativas. Como estudo exploratório e qualitativo, a pesquisa se deu em uma perspectiva cultural, social, genderizada e racial das pesquisadoras. Uma contextualização que se faz necessária, considerando a reflexividade e representação como aspectos presentes em trabalhos qualitativos (Creswell & Poth, 2016)Creswell, John & Poth, Cheryl. (2016). Qualitative inquiry and research design: Choosing among five approaches. Sage., uma vez que o subtexto do texto escrito localiza pesquisadora e pesquisa em um contexto histórico, o que é importante para a compreensão do próprio trabalho e do seu lugar na produção de conhecimento científico.

2.1 Participantes

A pesquisa nasceu no contexto brasiliense e, portanto, a busca foi por participantes que atuassem em Brasília, se identificassem como negras e como psicanalistas e/ou psicólogas clínicas de orientação psicanalítica. Todas as 13 participantes se identificaram como negras - para manter o sigilo, nos referimos a elas com nomes de intelectuais de notável contribuição para os estudos raciais. Das 13, 10 eram mulheres e 3 homens negros, e todas se identificaram como cisgênero. A maioria se declarou heterossexual (n=7), o segundo maior grupo foi de bissexuais (n=4) e depois lésbicas (n=1) e pansexuais (n=1). Das 13 entrevistadas, 9 eram solteiras, 3 eram casadas e 1 separada; e apenas 3 tinham filhos. Quanto à religião, 3 declararam ser candomblecistas, 1 espírita e as demais se declararam sem religião (n=6) e ateias (n=3).

No total, foram 12 psicólogas e um psiquiatra que declararam usar a Psicanálise em seus trabalhos de escuta clínica - escuta essa informada como sua principal ocupação. Quatro se denominaram psicanalistas. Quanto à escolaridade, 12 tinham pós-graduação completa (n=7) ou em andamento (n=5). A média de tempo de trabalho em clínica foi de 6 anos e 8 meses - mínimo de 5 meses e máximo de 20 anos. Com relação ao vínculo de trabalho na prática clínica, todas se declararam autônomas. Dessas, 4 informaram também trabalhar na área de Psicologia/Psiquiatria no serviço público (n=2) ou na iniciativa privada em regime celetista (n=2).

2.2 Instrumento

Visando o objetivo da pesquisa, a investigação centrou-se na formação das participantes, a teoria que adotam e suas práticas clínicas. Um roteiro de entrevista foi elaborado para obter dados sobre o perfil sociodemográfico das participantes, formação, atuação, prática clínica, relações entre questões raciais e Psicanálise e aspectos pessoais da vivência racial. Foram explorados os seguintes aspectos dos eixos propostos: (a) em formação em Psicanálise, se essa incluía estudo, análise e supervisão; (b) em atuação em Psicanálise, as relações com os clientes e com outros profissionais; (c) em escolha pela Psicanálise, a teoria e o método; (d) em relações entre Psicanálise e questões raciais, aspectos teóricos e práticos; e (e) em vivência racial, o tornar-se negro.

2.3 Procedimentos

Inicialmente a pesquisa foi divulgada nas plataformas Medium, Instagram, Facebook e Twitter e um convite público foi feito em junho de 2021. As primeiras participantes se voluntariaram pelo Instagram (n=4). A partir disso, para ampliar a possibilidade de participantes, foi criada uma lista de nomes de profissionais negras/os a partir de indicações de outras psicólogas e psicanalistas em Brasília. A lista continha 23 nomes e, por impedimentos éticos, 4 profissionais foram excluídas do convite para participação, resultando em 19 potenciais participantes. As 19 profissionais foram convidadas e 9 aceitaram participar, totalizando 13 entrevistadas.

Depois de contato inicial por telefone, foram enviados por email o convite para entrevista e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, onde foram expostos o cuidado com o sigilo e demais questões éticas. Todas as participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando gravação e transcrição da entrevista. As entrevistas foram realizadas pela plataforma Google Meet e tiveram duração média de 1 hora e 35 minutos - dado o contexto pandêmico, ainda que à época as vacinações para profissionais de saúde estivessem avançadas, optamos por realizar toda a coleta de dados (entre junho e outubro de 2021) na modalidade on-line.

2.4 Análise

As entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas de acordo com os pressupostos da análise de conteúdo categorial-temática (Bardin, 1977)Bardin, Laurance (1977). Análise de conteúdo. Edições 70., que se volta para a análise de comunicações através de procedimentos sistemáticos com fins descritivos e compreendem as seguintes fases: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Na pré-análise, constituímos o corpus do estudo a partir das 13 entrevistas transcritas, realizamos leitura flutuante desse material e elaboramos os primeiros indicadores. Na exploração do material, estabelecemos unidades de registro e optamos pela análise qualitativa de conteúdo. O critério de categorização foi semântico, buscando semelhanças e analogias nos indicadores elaborados na primeira fase da análise. Emergiram quatro categorias e, no tratamento dos resultados, a partir da inferência e interpretação, os resultados foram sistematizados relacionando o corpus com o objetivo deste estudo.

3 Resultados

A análise das entrevistas resultou em quatro categorias: escolha da Psicanálise, articulações entre Psicanálise e questões raciais, descobrindo-se negra e a cor da Psicanálise e das (não) psicanalistas. As categorias serão descritas a seguir e serão introduzidas por falas das entrevistadas.

3.1 Escolha da Psicanálise

A grande coisa que a Psicanálise me oferece é a possibilidade de falar de não ditos, de falar das coisas que estão meio ditas ou não ditas ou mal ditas.” (Angela)

Tanto o aspecto teórico quanto o metodológico foram apontados como elementos que fizeram parte da escolha da Psicanálise pelas participantes. Das 13 participantes, 12 cursaram Psicologia na graduação e esse curso foi um fator importante na escolha pela Psicanálise. Algumas escolheram Psicologia para se aproximarem da Psicanálise pois já tinham tido contato com esta por meio da própria análise ou da leitura de textos psicanalíticos. Outras participantes souberam da Psicanálise depois de entrarem na graduação em Psicologia e, por meio de disciplinas específicas sobre a teoria psicanalítica ou professores que trabalhavam com Psicanálise, tiveram seu interesse despertado.

Uma vez que os primeiros contatos com a Psicanálise foram feitos, independente da via, a escolha por ela se estabeleceu devido aos conceitos teóricos e métodos psicanalíticos: o inconsciente, a ênfase na linguagem e a proposta de uma escuta diferenciada foram determinantes. A epistemologia e o método psicanalíticos seriam, segundo as entrevistadas, instrumentos para a prática, seja a discussão da realidade ou a clínica cotidiana com as pacientes. Com relação às suas referências em Psicanálise, 12 participantes indicaram a influência de psicanalistas clássicos como Freud, Lacan e Winnicott em suas elaborações e práticas. Além disso, a maioria declarou utilizar também dispositivos psicanalíticos como a escuta, a associação livre, a transferência e a interpretação.

De acordo com 8 das 13 participantes, a escolha pela Psicanálise, desde o início da vida acadêmica, apareceu evidenciada na realização de estágios em que havia aplicação prática da teoria, na busca por disciplinas ou grupos de pesquisa orientados pela Psicanálise na graduação e nos estudos autônomos. Ainda sobre a formação, apenas 2 pessoas relataram terem se associado a escolas ou sociedades psicanalíticas para a formação no clássico tripé teoria-análise pessoal-supervisão. Sete pessoas declararam estar em análise e uma em psicoterapia no momento da entrevista, e 3 estavam em supervisão. As participantes referiram-se à análise pessoal e/ou à supervisão, ainda que desvinculadas das sociedades e escolas, como experiências positivas em sua formação e atuação clínica.

A Psicanálise foi escolhida como referencial para a prática clínica como aposta e crença de que seu método permite atenção às sutilezas e de que seus pressupostos teóricos, fundados em um paradigma diferente, possibilitam a discussão sobre o que permeia o individual e o coletivo. Contudo, não só de aspectos epistemológicos e metodológicos se fizeram as escolhas: há um elemento afetivo que perpassa a escolha pela Psicanálise, e seu uso entre as participantes estava alinhado com suas histórias pessoais e profissionais.

3.2 Articulações entre Psicanálise e questões raciais

Tem porta que só se abre por dentro.” (Frantz)

Foi explícita a crença de que a Psicanálise é uma via diferenciada para o fazer clínico e que também pode contribuir para discutir a realidade vivida das pacientes, numerosamente negras, das entrevistadas. Existe entre as entrevistadas um entendimento de que a vida psíquica é animada pela confluência da subjetividade com a materialidade do mundo exterior. Textos de Freud como Mal-Estar na Civilização e Psicologia do Eu e das Massas são citados como referências tanto por quem se aproximou da Psicanálise com uma consciência racial estabelecida quanto por quem desenvolveu tal consciência depois de ter escolhido a Psicanálise.

Contudo, os relatos concernentes ao diálogo entre a Psicanálise e as questões raciais foram bastante diversos e inevitavelmente levaram a uma categoria no plural: articulações. Das 13 participantes, 3 não realizaram articulação entre Psicanálise e raça em suas reflexões e dedicaram-se exclusivamente ao estudo da teoria psicanalítica na sua vida profissional. Todas as outras indicaram costuras intencionais entre Psicanálise e outras disciplinas - Sociologia, Antropologia, História, Linguística, Direito - realizadas a partir da percepção de limitações da Psicanálise para lidar com a materialidade da racialização e do racismo. Tais costuras foram articuladas a partir e através da história pessoal e profissional: da experiência de ser negra e dos encontros com outros sujeitos também negros relacionados a seu campo de atuação - pacientes, colegas e autoras negras.

Quatro das outras 10 participantes reconheceram contribuições de suas atividades militantes, prática clínica e leituras sobre questões raciais para o posterior pensar e fazer Psicanálise, dando-se nesse contexto a articulação entre Psicanálise e raça. As 6 demais expressaram que foi uma insuficiência da Psicanálise para dar conta da racialização e de seus impactos que levou à busca de autoras e discussões sobre raça. Dentre estas, apesar da compreensão de que a Psicanálise possui recursos para falar da experiência negra, a maioria relatou que a percepção da insuficiência surgiu da prática clínica. Nesse sentido, as articulações entre Psicanálise e outras disciplinas para endereçar questões raciais não vieram de um lugar psicanalítico, e sim da experiência do ser racializado.

3.3 Descobrindo-se negra

Ser negro é ocupar fronteiras e também um não lugar.” (Grada)

As falas sobre ser negro foram tão diversas quanto as histórias pessoais de cada participante, porém pouco mais da metade delas explicitou a percepção de si como uma pessoa negra desde o início da vida, mesmo que não tivessem tido conversas sobre essa denominação, por exemplo, com familiares. A percepção sobre ser uma pessoa negra desenvolveu-se pela experiência de violências raciais vividas ou testemunhadas. Apenas uma pessoa declarou que na juventude negava ser negra e queria ser branca, porém passou a afirmar-se negra na vida adulta.

As maiores similaridades nos conteúdos apresentaram-se a respeito de dois aspectos distintos da vivência. Nove das treze participantes discorreram sobre como a entrada na graduação ou pós-graduação impactou o reconhecimento de si como pessoa negra. Estar em um ambiente universitário posicionou-as racialmente - ou requereu que elas se posicionassem racialmente - e foi o lugar onde experiências de serem reconhecidas como negras aconteceram de maneira proeminente. Além disso, os relatos indicaram que a universidade foi sentida como espaço que permitiu o encontro com semelhantes e onde a identidade e suas expressões foram mais livres.

Outra similaridade sobre a vivência negra, presente na fala de 8 participantes, foi o relato da procura por elas como psicólogas/psicanalistas, tanto por pacientes quanto por colegas, por serem pessoas negras. Segundo as entrevistadas, pacientes negras tendem a buscá-las movidas pela crença de que alguém fenotipicamente semelhante e/ou que estude questões raciais pode escutá-las melhor. Com relação a colegas, esses, brancos, tendem a procurá-las para que os ajudem a proceder clinicamente em casos envolvendo sujeitos racializados ou para indicá-las a pacientes negras que buscam profissionais negras.

3.4 A cor da Psicanálise e das (não) psicanalistas

A especialização em Psicanálise era um lugar de disputa e que exigia uma fala embranquecida.” (Sueli)

De maneira geral, o tripé formação-análise pessoal-supervisão foi reconhecido como central para tornar-se psicanalista, porém não foi percebido como central para o uso da Psicanálise como referencial teórico-metodológico nas práticas clínicas das entrevistadas. Assim, 9 delas se descreveram como psicólogas clínicas que utilizavam a Psicanálise no seu trabalho e não como psicanalistas. Tal autodenominação se deu por não se subscreverem ao tripé formação-análise-supervisão. Para 3 destas respondentes, o elemento faltante do tripé foi a formação teórica em uma associação psicanalítica, uma vez que estavam em análise e supervisão fora desses espaços.

Apenas 4 das 13 participantes se apresentaram como psicanalistas, das quais 2 fizeram articulações com questões raciais e nenhuma das 2 passou por formação institucional em Psicanálise. Assim, para essas 2 participantes, o tripé não foi central para se denominarem psicanalistas. Nota-se também que 8 entrevistadas, psicanalistas e não psicanalistas, relataram percepções de que a Psicanálise é branca e elitizada, um espaço de “discursos embranquecidos”. A desconsideração das relações étnico-raciais, ao mesmo tempo em que o branco é enfatizado enquanto categoria universal; caracterizaria o embranquecimento dos discursos nos meios psicanalíticos. Essa percepção de “embranquecimento” se originou no não endereçamento de questões de raça por uma maioria de colegas brancos que se denominam psicanalistas.

4 Discussão

Diferentemente dos achados da revista Psicologia: Ciência e Profissão nos anos 80 que resultaram no artigo “Eu, mulher, psicóloga e negra” (Colucci & Borges-Andrade, 1984)Colucci, Vera Lúcia & Borges-Andrade, Jairo Eduardo (1984). Eu, mulher, psicóloga e negra. Psicologia: Ciência e Profissão, 4(2), 10-15. https://www.scielo.br/j/pcp/a/Zf4YfWqWwsvNms5LBgsFdSB/
https://www.scielo.br/j/pcp/a/Zf4YfWqWws...
, “no âmbito dos psicólogos psicanalistas” (p. 10), encontramos 12 psicólogas/os negras/os. Foi a partir desse novo lugar do negro na Psicologia/Psicanálise, demograficamente falando, que nossos resultados permitiram explorar a construção de novos lugares, ontológicos e epistemológicos, do negro na Psicanálise: ao mesmo tempo, um lugar e um não lugar duplo, de negro e de psicanalista. Afinal, quem ou o que no Brasil determina quem é negro? E quem determina quem é psicanalista?

É ocupando esses dois não lugares que surge a possibilidade de transformação de pressupostos teóricos da Psicanálise - o saber - através da experiência vivida do negro - o ser. A construção de novos lugares epistemológicos identificada nas entrevistas foi realizada pelas psicólogas e psicanalistas a partir de articulações teóricas interdisciplinares e metodológicas entre psíquico e social para dar conta daquilo que escapa à Psicanálise enquanto teoria e prática no Brasil. Ao ressaltar qualidades epistemológicas e metodológicas da Psicanálise e a necessidade de articulações a partir das limitações percebidas, o movimento das entrevistadas assemelhou-se àquele de reconhecimento das “potencialidades e limites da Psicanálise [freudiana]” (Faustino, 2021)Faustino, Deivison Mendes (2021) Notas sobre a sociogenia, o racismo e o sofrimento psicossocial no pensamento de Frantz Fanon. Revista Eletrônica Interações Sociais, 4(2), 10-21. https://periodicos.furg.br/reis/article/view/12211
https://periodicos.furg.br/reis/article/...
frente às dimensões sociais relacionadas ao sofrimento psíquico presente na obra de Fanon (1952/2008)Fanon, Frantz (1952/2008). Pele negra, máscaras brancas. EDUFBA. .

As limitações teóricas da Psicanálise percebidas pelas participantes relacionaram-se à ausência ou poucas discussões sobre articulações entre psíquico e social nos meios psicanalíticos com que tiveram contato. Tais limitações também foram apontadas em estudos com profissionais de Psicologia que atuam com demandas emergentes do contexto social, geralmente no sistema público de saúde ou quando inseridos em organizações (Bastos, Gondim, & Borges-Andrade, 2010)Bastos, Antônio V. Bittencourt, Gondim, Sônia M. Guedes, & Borges-Andrade, Jairo Eduardo (2010). As mudanças no exercício profissional da psicologia no Brasil: o que se alterou nas duas últimas décadas e o que vislumbramos a partir de agora? In Antônio V. B. Bastos & Sônia M. Guedes Gondim (Orgs.), O trabalho do psicólogo no Brasil (pp. 419-495). Bookman.. No caso das participantes deste estudo, foi enfatizado que a construção de articulações entre Psicanálise e teorias sociais passa por uma dimensão ontológica - perceber-se negro - que implica um reposicionamento ético e político na relação clínica a partir dessa noção de si.

Diante das limitações, a maioria das entrevistadas realizou um salto epistemológico que foi precedido de um salto ontológico: foi pela consciência da racialização, expressa nas falas sobre a experiência de ser negro, que as articulações entre Psicanálise e teorias sociais se deram. Ou seja, tais articulações se relacionaram aos processos subjetivos e sociais de “tornar-se negro”, de construir um “discurso do negro sobre o negro” (Souza, 1983)Souza, Neusa Santos (1983). Tornar-se negro: ou as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Graal..

Esse salto ontológico carrega duas dimensões de desobediência: uma ontológica e uma epistêmica. Ontológica à medida em que se recusa o lugar da neutralidade associado à prática da psicologia/Psicanálise e epistêmico porque daí se constrói um saber e um posicionamento ético-político fundamental para a prática clínica antirracista (Alves, Costa, & Castelar, 2020)Alves, Míriam Cristiane, Costa, Eliane Silvia, & Castelar, Marilda (2020). Psicologias Antirracistas: Desafios Epistemológicos, Metodológicos e Ético-Políticos. Psicologia: Ciência e Profissão, 40 (nspe), 1-5. https://doi.org/10.1590/1982-3703003052019
https://doi.org/10.1590/1982-37030030520...
. Nesse sentido, a desobediência ontológica opera uma virada decolonial do ser e, como nos recorda Mignolo,

a identidade na política [melhor do que política de identidade] é um movimento necessário de pensamento e ação no sentido de romper as grades da moderna teoria política [na Europa desde Maquiavel]. (2008, p. 287, grifo do autor)Mignolo, Walter (2008). Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Cadernos de Letras da UFF - Dossiê: Literatura, língua e identidade, 34, 287-324. http://professor.ufop.br/sites/default/files/tatiana/files/desobediencia_epistemica_mignolo.pdf
http://professor.ufop.br/sites/default/f...

Nesse sentido, os resultados ilustraram os persistentes entrelaçamentos entre a colonialidade do saber e a colonialidade do ser sustentados pelo nó histórico-estrutural racial (Maldonado-Torres, 2007Maldonado-Torres, Nelson (2007). On the Coloniality of Being: Contributions to the Development of a Concept. Cultural studies, 21(2-3), 240-270. https://doi.org/10.1080/09502380601162548
https://doi.org/10.1080/0950238060116254...
; Mignolo, 2017Mignolo, Walter (2017). Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 32(94), 1-18. https://doi.org/10.17666/329402/2017
https://doi.org/10.17666/329402/2017...
). Foi a negritude vivida como experiência ontológica (Renault, 2011)Renault, Matthieu (2011). Frantz Fanon: De l’anticolonialisme à la critique postcoloniale. Éditions Amsterdam. pelas participantes que possibilitou as mencionadas articulações teóricas e metodológicas, o que nos leva a recordar a proposição ontológica fanoniana:

Fanon argumenta que se “o nada” é a situação do colonizado, então qualquer projeto de libertação terá que se enraizar nele para se afastar dele: o que o negro tem que ser [para ser finalmente], é o seu não ser. . . Do nada ao ser: é a essa viagem que Fanon convida o colonizado. (Renault, 2011, p. 70)Renault, Matthieu (2011). Frantz Fanon: De l’anticolonialisme à la critique postcoloniale. Éditions Amsterdam.

Como característica das diversas articulações, ressalta-se a persistência implícita da concepção de sociogenia em Fanon como opção à ontogenia freudiana para o estabelecimento do sociodiagnóstico (Faustino, 2021)Faustino, Deivison Mendes (2021) Notas sobre a sociogenia, o racismo e o sofrimento psicossocial no pensamento de Frantz Fanon. Revista Eletrônica Interações Sociais, 4(2), 10-21. https://periodicos.furg.br/reis/article/view/12211
https://periodicos.furg.br/reis/article/...
. Tem-se o racismo como um determinante social do sofrimento psíquico (Faustino, 2019)Faustino, Deivison Mendes (2019). El malestar colonial: racismo y sufrimiento psicológico en Brasil. Clínica & Cultura, 8(2), 82-94. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2317-25092019000200007&lng=pt&nrm=iso.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
e as entrevistadas, como Fanon (1952/2008)Fanon, Frantz (1952/2008). Pele negra, máscaras brancas. EDUFBA. , partiram do pressuposto de que a questão racial não é apenas uma questão individual.

A percepção de embranquecimentos - tanto dos espaços quanto dos discursos universitários e psicanalíticos - descritos por nossas participantes evidenciam que os espaços universitários e psicanalíticos não estão insulados nem da matriz colonial do poder nem do nó histórico-estrutural racial em que se funda a colonialidade do poder. Diante desses cenários em que as diferenças são, ao mesmo tempo, negadas e hierarquizantes, foi o encontro com semelhantes, com aquelas que também estão na “zona do não ser”, que permitiu a criação de um modelo de identificação que não toma o branco como “única possibilidade de ‘tornar-se gente’” (Souza, 1983)Souza, Neusa Santos (1983). Tornar-se negro: ou as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Graal..

Na demografia atual dos espaços psicanalíticos, o par didata-candidato tem grandes chances de se configurar em mestre branco e discípulo negro, no qual se arrisca operar com base no discurso onde o branco “pensa, logo existe” e o negro cai no vazio ontológico. Nessa dinâmica traumática, “aos olhos do branco, o negro não tem resistência ontológica” (Fanon, 1952/2008, p. 104)Fanon, Frantz (1952/2008). Pele negra, máscaras brancas. EDUFBA. , enquanto que lidar com as contradições da razão negra requer “precisamente em evitar que o corpo caia na coisidade absoluta” (Mbembe, 2018, p. 251)Mbembe, Achille (2018). Crítica a razão negra. n-1 Edições..

Assim, podemos dizer que, seja porque tornar-se psicanalista passe pelo tripé análise pessoal-supervisão-estudos, seja porque vem de um processo de identificação que passará por um grupo majoritariamente branco e de forma não regulamentada, a (im)possibilidade - ou seria recusa, em alguns casos? - de se denominar psicanalista é atravessada pela experiência do não-ser (branco), especialmente quando consideramos a estrutura “hierárquica de produção e transmissão do saber” (Antonio, 2015)Antonio, Maria Carolina Araújo (2015). A ética do desejo: Estudo etnográfico da formação de psicanalistas em escolas lacanianas de Psicanálise [Tese de Doutorado em Ciências Sociais, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos/SP]. na qual a formação do analista está imbuída.

Embora não tenhamos explorado o acesso à universidade via sistema de cotas com todas as entrevistadas, a mudança demográfica na população universitária a partir de 2004 associada ao estabelecimento dos programas de ação afirmativas pode ter estabelecido condições propícias para a construção desse discurso do negro sobre o negro - se não diretamente pelo acesso via ação afirmativa, indiretamente pelo contato com a demografia universitária brasileira em transformação.

5 Considerações finais

Ao escutar psicólogas, psicólogos e psicanalistas em 2021, suas falas nos disseram da construção de novos lugares para os negros na Psicanálise. Essas construções particulares incluíram articulações da Psicanálise com teorias sociais a partir de uma dimensão epistemológica - reconhecimento das potencialidades e limitações da Psicanálise para compreender dimensões sociais do sofrimento psíquico - e outra ontológica - a experiência vivida do negro (Fanon, 1952/2008)Fanon, Frantz (1952/2008). Pele negra, máscaras brancas. EDUFBA. , do tornar-se negro (Souza, 1983)Souza, Neusa Santos (1983). Tornar-se negro: ou as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Graal.. Pode-se dizer que a percepção de limitações teóricas convocou a subjetividade da experiência vivida para movimentar o conhecimento na direção de outra lógica.

Assim, esta pesquisa indica que, perante os entrelaçamentos das colonialidades do saber e do ser (Mignolo, 2017)Mignolo, Walter (2017). Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 32(94), 1-18. https://doi.org/10.17666/329402/2017
https://doi.org/10.17666/329402/2017...
na matriz colonial de poder (Quijano, 1992)Quijano, Aníbal (1992). Colonialidad y modernidad/racionalidad. Perú indígena, 13(29), 11-20. https://www.lavaca.org/wp-content/uploads/2016/04/quijano.pdf
https://www.lavaca.org/wp-content/upload...
, a desobediência ontológica é fundamental para a desobediência epistêmica. Desobediências que já estão em curso, como nos mostram as participantes desta pesquisa. Devemos ainda nos recordar que a decolonialidade é algo em movimento há algum tempo e que liberar o ser e o saber da lógica colonial é urgente. Ainda que não finalizado, o próprio caminhar dentro deste objetivo revela uma prática diferenciada. Nesse sentido, este trabalho apresenta não só contribuições para os estudos decoloniais ao investigar empiricamente as relações entre colonialidade do saber e do ser, mas também contribuições para a formação e atuação de psicólogas e psicanalistas frente a demandas na intersecção do psíquico e do social ao descrever a construção de posturas ético-políticas por parte de nossas entrevistadas. Essas construções ético-políticas enfatizam que formação e atuação são estruturadas não só por aspectos epistemológicos, mas também ontológicos. Para repensar formação e atuação atentas às relações raciais, então, devemos ir além de uma reformulação curricular ou de um letramento racial massificado. É preciso que educadores e profissionais da Psicologia reflitam sobre sua posicionalidade e sobre a historicidade e estrutura nas quais suas posições - de raça, etnia, gênero, classe, geográficas - estão inseridas.

Embora nossas contribuições sejam amplas e inéditas, é preciso reconhecer as limitações de nosso estudo, sendo uma das principais a inclusão apenas de profissionais de Brasília e outra a não abordagem sistemática da participação das entrevistadas em programas de ação afirmativas para acesso à universidade. A expansão do estudo para o resto do Brasil e o estabelecimento de objetivos que contemplem a abordagem às relações raciais na prática clínica por profissionais negras e brancas podem trazer ricas contribuições para uma prática psi antirracista, sendo esta uma que reconheça o nó histórico-estrutural racial que articula as dimensões política, econômica, social e subjetiva.

Sendo assim, é necessário o reconhecimento da racialização e de que sujeitos racializados - os brancos e os negros - estão deslocados na pretendida história universal do conhecimento. Profissionais brancas e negras partem de lugares ontológicos diferentes. Não porque a ficção da raça seja real, mas porque essa ficção ou o mito negro (Souza, 1983)Souza, Neusa Santos (1983). Tornar-se negro: ou as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Graal. se insere na matriz de poder colonial e cria diferenças ontológicas e subontológicas (Maldonado-Torres, 2007)Maldonado-Torres, Nelson (2007). On the Coloniality of Being: Contributions to the Development of a Concept. Cultural studies, 21(2-3), 240-270. https://doi.org/10.1080/09502380601162548
https://doi.org/10.1080/0950238060116254...
. Porém, como apontam os nossos dados, o reconhecimento dos entrelaçamentos da colonialidade do saber e da colonialidade do ser e a compreensão da diferença ontológica podem dar início a um movimento epistemológico que (de)racializa a Psicanálise para psicanalisar a racialização.

Referências

  • Almeida, Nathália de Sousa (2021). Racismo e Psicanálise: A voz da mulher negra na literatura [Dissertação de Mestrado em Psicologia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia].
  • Alves, Míriam Cristiane, Costa, Eliane Silvia, & Castelar, Marilda (2020). Psicologias Antirracistas: Desafios Epistemológicos, Metodológicos e Ético-Políticos. Psicologia: Ciência e Profissão, 40 (nspe), 1-5. https://doi.org/10.1590/1982-3703003052019
    » https://doi.org/10.1590/1982-3703003052019
  • Ambra, Pedro (2019). O lugar e a fala: A Psicanálise contra o racismo em Lélia Gonzalez. Sig-Revista de Psicanálise, 8, 85-101. http://sig.org.br/bkp/wp-content/uploads/2020/05/Edicao14-Completa.pdf
    » http://sig.org.br/bkp/wp-content/uploads/2020/05/Edicao14-Completa.pdf
  • Antonio, Maria Carolina Araújo (2015). A ética do desejo: Estudo etnográfico da formação de psicanalistas em escolas lacanianas de Psicanálise [Tese de Doutorado em Ciências Sociais, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos/SP].
  • Bardin, Laurance (1977). Análise de conteúdo Edições 70.
  • Bastos, Antônio V. Bittencourt, Gondim, Sônia M. Guedes, & Borges-Andrade, Jairo Eduardo (2010). As mudanças no exercício profissional da psicologia no Brasil: o que se alterou nas duas últimas décadas e o que vislumbramos a partir de agora? In Antônio V. B. Bastos & Sônia M. Guedes Gondim (Orgs.), O trabalho do psicólogo no Brasil (pp. 419-495). Bookman.
  • Birman, Joel (2019). Desconstrução do racismo. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 22(1), 166-169. https://doi.org/10.1590/1415-4714.2018v22n1p166.10
    » https://doi.org/10.1590/1415-4714.2018v22n1p166.10
  • Colucci, Vera Lúcia & Borges-Andrade, Jairo Eduardo (1984). Eu, mulher, psicóloga e negra. Psicologia: Ciência e Profissão, 4(2), 10-15. https://www.scielo.br/j/pcp/a/Zf4YfWqWwsvNms5LBgsFdSB/
    » https://www.scielo.br/j/pcp/a/Zf4YfWqWwsvNms5LBgsFdSB/
  • Creswell, John & Poth, Cheryl. (2016). Qualitative inquiry and research design: Choosing among five approaches Sage.
  • Diaz, Fernando Sobhie (2012). Origens e marcas da institucionalização na Psicanálise do Rio de Janeiro. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 19(3), 1093-1097. https://doi.org/10.1590/S0104-59702012000300019
    » https://doi.org/10.1590/S0104-59702012000300019
  • Dimenstein, Magda (2000). A cultura profissional do psicólogo e o ideário individualista: implicações para a prática no campo da assistência pública à saúde. Estudos de Psicologia, 5(1), 95-121. https://www.scielo.br/j/epsic/a/FbK3GQ3CR4PDPKGNHZQ3bSk/?format=pdf⟨=pt
    » https://www.scielo.br/j/epsic/a/FbK3GQ3CR4PDPKGNHZQ3bSk/?format=pdf⟨=pt
  • Facchinetti, Cristiana & Venancio, Ana Teresa A. (2016). Entre a Psicanálise e a degenerescência: sexualidade e doença mental no início do século XX no Brasil. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 9, 151-161. https://doi.org/:10.1590/1415-47142006001012
    » https://doi.org/10.1590/1415-47142006001012
  • Fanon, Frantz (1952/2008). Pele negra, máscaras brancas EDUFBA.
  • Faustino, Deivison Mendes (2015). “Por que Fanon? Por que agora?”: Frantz Fanon e os fanonismos no Brasil [Tese de Doutorado em Sociologia, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos/SP].
  • Faustino, Deivison Mendes (2018). Frantz Fanon: Capitalismo, racismo e a sociogênese do colonialismo/Frantz Fanon. SER Social, 20(42), 148-163. https://periodicos.unb.br/index.php/SER_Social/article/view/14288
    » https://periodicos.unb.br/index.php/SER_Social/article/view/14288
  • Faustino, Deivison Mendes (2019). El malestar colonial: racismo y sufrimiento psicológico en Brasil. Clínica & Cultura, 8(2), 82-94. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2317-25092019000200007&lng=pt&nrm=iso
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2317-25092019000200007&lng=pt&nrm=iso
  • Faustino, Deivison Mendes (2021) Notas sobre a sociogenia, o racismo e o sofrimento psicossocial no pensamento de Frantz Fanon. Revista Eletrônica Interações Sociais, 4(2), 10-21. https://periodicos.furg.br/reis/article/view/12211
    » https://periodicos.furg.br/reis/article/view/12211
  • Fernandes, Rafael Aiello (2018). Racismo e Psicanálise em Produções Acadêmicas [Tese de Doutorado em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas/SP.
  • Freud, Sigmund (1919/1976). Sobre o ensino da Psicanálise nas universidades (M. A. Rego, trad). Imago.
  • Grosfoguel, Ramón (2012). El concepto de «racismo» en Michel Foucault y Frantz Fanon: ¿ teorizar desde la zona del ser o desde la zona del no-ser?. Tábula Rasa, 16, 79-102. http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=39624572006
    » http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=39624572006
  • Grosfoguel, Ramón (2016). A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: Racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Sociedade e Estado, 31, 25-49. https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100003
    » https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100003
  • Guerra, Andréa Máris Campos (2020). O Papel da Psicanálise na Desconstrução do Racismo à Brasileira. Subjetividades, 20(nspe.2), 1-14. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp2.e9547
    » https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp2.e9547
  • Maldonado-Torres, Nelson (2007). On the Coloniality of Being: Contributions to the Development of a Concept. Cultural studies, 21(2-3), 240-270. https://doi.org/10.1080/09502380601162548
    » https://doi.org/10.1080/09502380601162548
  • Maldonado-Torres, Nelson. (2017). Frantz Fanon and the decolonial turn in psychology: From modern/colonial methods to the decolonial attitude. South African Journal of Psychology, 47(4), 432-441. https://doi.org/10.1177/0081246317737918
    » https://doi.org/10.1177/0081246317737918
  • Martins, Edna, Santos, Alessandro Oliveira, & Colosso, Marina (2013). Relações étnico-raciais e psicologia: Publicações em periódicos da SciELO e Lilacs. Psicologia: Teoria e Prática, 15(3), 118-133. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872013000300009
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872013000300009
  • Mbembe, Achille (2018). Crítica a razão negra n-1 Edições.
  • Mignolo, Walter (2008). Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Cadernos de Letras da UFF - Dossiê: Literatura, língua e identidade, 34, 287-324. http://professor.ufop.br/sites/default/files/tatiana/files/desobediencia_epistemica_mignolo.pdf
    » http://professor.ufop.br/sites/default/files/tatiana/files/desobediencia_epistemica_mignolo.pdf
  • Mignolo, Walter (2017). Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 32(94), 1-18. https://doi.org/10.17666/329402/2017
    » https://doi.org/10.17666/329402/2017
  • Renault, Matthieu (2011). Frantz Fanon: De l’anticolonialisme à la critique postcoloniale Éditions Amsterdam.
  • Sandall, Hugo, Queiroga, Fabiana, & Gondim, Sonia M. Guedes (2022). Quem somos? Caracterizando o perfil das(os) psicólogas(os) no Brasil. In Antonio V. B. Bastos (Org.), Quem faz a Psicologia Brasileira? um olhar sobre o presente para construir o futuro, formação e inserção no mundo do trabalho, volume I, formação e inserção no mundo do trabalho (1ª ed.). CFP.
  • Schechter, Rosa Coutinho & Bonfim, Flavia Gaze (2020). Psicanálise e racismo: entre os tempos de ver, compreender e concluir. Ayvu: Revista de Psicologia, 7, 1-29. https://periodicos.uff.br/ayvu/article/view/43469/27979
    » https://periodicos.uff.br/ayvu/article/view/43469/27979
  • Silva, Nádia Maria Cardoso da (2020). Virginia Leone Bicudo e Guerreiros Ramos - para uma epistemologia decolonial da perspectiva negro-brasileira nas Américas. IdeAs. Idées d’Amériques, 16, 1-23. https://doi.org/10.4000/ideas.9758
    » https://doi.org/10.4000/ideas.9758
  • Silvério, Valter Roberto & Trinidad, Cristina Teodoro (2012). Há algo novo a se dizer sobre as relações raciais no Brasil contemporâneo? Educação & Sociedade, 33, 891-914. https://www.scielo.br/j/es/a/MgJXTqXCNdynSGQZzWtS8mM/?format=pdf⟨=pt
    » https://www.scielo.br/j/es/a/MgJXTqXCNdynSGQZzWtS8mM/?format=pdf⟨=pt
  • Souza, Joana (2018). Sobre a formação do psicanalista: entre o movimento psicanalítico e a institucionalização da Psicanálise. Psicanálise & Barroco em Revista, 12(2), 87-99. http://seer.unirio.br/psicanalise-barroco/article/view/7371
    » http://seer.unirio.br/psicanalise-barroco/article/view/7371
  • Souza, Neusa Santos (1983). Tornar-se negro: ou as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Graal.
  • Torquato, Luciana Cavalcante (2014). A Psicanálise e a construção de uma nação moderna: a apropriação médico-higienista. Psicanálise & Barroco em Revista, 12(2), 13-40. http://seer.unirio.br/index.php/psicanalise-barroco/article/view/7368
    » http://seer.unirio.br/index.php/psicanalise-barroco/article/view/7368
  • Torquato, Luciana Cavalcante (2015). História da Psicanálise no Brasil: Enlaces entre o discurso freudiano e o projeto nacional. Revista de Teoria da História-Journal of Theory of History, 14(2), 47-77. https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/39248/19855
    » https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/39248/19855
  • Torquato, Luciana Cavalcante & Rocha, Guilherme Massara (2016). A peste no Brasil: A introdução das ideias freudianas no Brasil a partir da medicina e do modernismo. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 19, 425-440. https://doi.org/10.1590/S1516-14982016003005
    » https://doi.org/10.1590/S1516-14982016003005
  • Quijano, Aníbal (1992). Colonialidad y modernidad/racionalidad. Perú indígena, 13(29), 11-20. https://www.lavaca.org/wp-content/uploads/2016/04/quijano.pdf
    » https://www.lavaca.org/wp-content/uploads/2016/04/quijano.pdf

Notas

  • 1
    Faustino (2015)Faustino, Deivison Mendes (2015). “Por que Fanon? Por que agora?”: Frantz Fanon e os fanonismos no Brasil [Tese de Doutorado em Sociologia, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos/SP]. opta pelo conceito de racialização proposto nas obras de Valter Silvério:

    a ideia de “racialização” ou “formação de raça” se baseia no argumento de que a raça é uma construção social e categoria não universal ou essencial da biologia. Raças não existem fora da representação. Em vez disso, elas são formadas na e pela simbolização em um processo de luta pelo poder social e político. O conceito de racialização refere-se aos casos em que as relações sociais entre as pessoas foram estruturadas pela significação do caráter. (Silvério & Trinidad, 2012, p. 8)Silvério, Valter Roberto & Trinidad, Cristina Teodoro (2012). Há algo novo a se dizer sobre as relações raciais no Brasil contemporâneo? Educação & Sociedade, 33, 891-914. https://www.scielo.br/j/es/a/MgJXTqXCNdynSGQZzWtS8mM/?format=pdf⟨=pt
    https://www.scielo.br/j/es/a/MgJXTqXCNdy...

  • Financiamento

    Não houve financiamento
  • Consentimento de uso de imagem

    Não se aplica
  • Aprovação, ética e consentimento

    Não se aplica

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    07 Jul 2023
  • Revisado
    29 Dez 2023
  • Aceito
    15 Mar 2024
Associação Brasileira de Psicologia Social Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), Av. da Arquitetura S/N - 7º Andar - Cidade Universitária, Recife - PE - CEP: 50740-550 - Belo Horizonte - MG - Brazil
E-mail: revistapsisoc@gmail.com