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SEXISMO E REPRESENTAÇÕES DO FEMININO NOS ROMANCES LITERÁRIOS: INFLUÊNCIAS NA IDEALIZAÇÃO DE RELACIONAMENTOS AMOROSOS

SEXISMO Y REPRESENTACIONES DE LO FEMENINO EN LAS NOVELAS LITERARIAS: INFLUENCIAS EN LA IDEALIZACIÓN DE LAS RELACIONES AMOROSAS

SEXISM AND REPRESENTATIONS OF THE FEMALE IN LITERARY NOVELS: INFLUENCES ON THE IDEALIZATION OF LOVE RELATIONSHIPS

Resumo:

Esta pesquisa pretendeu discutir representações do feminino e o sexismo em romances literários e sua relação com uma possível idealização de relacionamentos amorosos. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica discutindo sexismo, psicologia, feminismo e arte, e foram analisados um romance russo do século XIX, “Anna Kariênina” (Liev Tolstói, 1877/2017), e dois romances norte-americanos do século XXI: “Belo Desastre” (Jamie McGuire, 2011) e “É Assim que Acaba” (Colleen Hoover, 2016), a fim de comparar as representações do feminino. Concluiu-se que as características sexistas nos romances literários não necessariamente reforçam o sexismo na idealização de relacionamentos amorosos, porém há essa possibilidade quando a representação é romantizada pela obra. Ademais, destacaram-se vantagens na presença de criticidade no próprio romance, por possibilitar a conscientização acerca do assunto. Portanto, reafirma-se a importância de questionar os padrões de gênero, especialmente entre os meios midiáticos, haja vista os riscos em relações pautadas pelo sexismo.

Palavras-chave:
Sexismo; Literatura; Relacionamento amoroso; Subjetividade; Feminismo

Resumen:

Esta investigación tuvo como objetivo discutir las representaciones de lo femenino y el sexismo en las novelas literarias y su relación con una posible idealización de las relaciones románticas. Se realizó una investigación bibliográfica discutiendo sexismo, psicología, feminismo y arte, y se analizaron una novela rusa del siglo XIX, “Anna Kariênina” (Liev Tolstói, 1877/2017), y dos novelas estadounidenses del siglo XXI, “Maravilloso desastre” (Jamie McGuire, 2011) y “Romper el círculo” (Colleen Hoover, 2016), con el fin de comparar las representaciones del femenino. Se concluyó que las características sexistas en las novelas no necesariamente refuerzan el sexismo en la idealización de relaciones románticas, pero esta posibilidad existe cuando la representación es romantizada por la novela. Además, se destacaron ventajas de la presencia de criticidad en la propria novela, ya que permite sensibilizar sobre el tema. Por ello, se reafirma la importancia de cuestionar los estándares de género, especialmente entre los medios de comunicación, dados los riesgos de las relaciones guiadas por el sexismo.

Palabras clave:
Sexismo; Literatura; Relación amorosa; Subjetividad; Feminismo

Abstract:

This research aimed to discuss representations of the feminine and sexism in literary novels and their relationship with a possible idealization of romantic relationships. A bibliographical research was carried out to discuss sexism, psychology, feminism and art, and a 19th century Russian novel, “Anna Karenina” (Liev Tolstói, 1877/2017), and two 21st century North American novels, “Beautiful Disaster” (Jamie McGuire, 2011) and “It Ends With Us” (Colleen Hoover, 2016) were analyzed in order to compare female representations of the feminine. It was concluded that sexist characteristics in literary novels do not necessarily reinforce sexism in the idealization of romantic relationships, but this possibility exists when the representation is romanticized by the novel. Furthermore, advantages were highlighted in the presence of criticality in the novel itself, as it makes it possible to raise awareness about the subject. Therefore, the importance of questioning gender standards is reaffirmed, especially among the media, given the risks in relationships guided by sexism.

Keywords:
Sexism; Literature; Romantic relationship; Subjectivity; Feminism

1 Introdução

Estudar saúde mental é também estar atento às implicações das relações sociais na vida de cada sujeito. Para isso, é importante observar as expectativas atribuídas, ou seja, qual a idealização que se tem para tais relações e como esses relacionamentos se desenrolam. Idealizar, conforme a definição do dicionário de Ferreira (2001, p. 400)Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda (2001). Mini Aurélio: O minidicionário da língua portuguesa (5a ed.). Nova Fronteira. é “1. Tornar ideal;... 2. Fantasiar (1). 3. Projetar, planejar...”. Enquanto isso, “ideal” é “1. Que existe somente na idéia; imaginário. 2. Que reúne toda a perfeição concebível... 3. O que é objeto da nossa mais alta aspiração” (Ferreira, 2001, p. 400). Portanto, ter uma idealização é fantasiar, projetar ou planejar, algo que é da concepção de perfeito, ou ideal, do indivíduo.

As relações sociais são marcadas por idealizações de papéis sociais, e pesquisas notam que “os veículos de comunicação fixam estereótipos geradores de preconceitos e discriminação, produzindo e reproduzindo valores e hábitos consoantes a formações ideológicas sexistas” (Veloso, Vasconcelos, & Ferreira, 2017, p. 68)Veloso, Ana Maria Conceição, Vasconcelos, Fabíolo Mendonça, & Ferreira, Laís (2017). As duas faces do sexismo na mídia: como Marcela Temer e Dilma Rousseff (PT) são retratadas pela Veja e IstoÉ. Observatório, Palmas, 3(1), 58-83). http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447-4266.2017v3n1p58
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. Esse sexismo pode ser definido “como um conjunto de estereótipos sobre a avaliação cognitiva, afetiva e atitudinal acerca do papel apropriado na sociedade, dirigida aos indivíduos de acordo com o sexo.” (Formiga, Golveia, & Santos, 2002, p.105)Formiga, Nilton S., Golveia, Valdiney, & Santos, Maria Neusa (2002). Inventário de sexismo ambivalente: sua adaptação e relação com o gênero. Psicologia em Estudo, Maringá, 7(1), 103-111. https://doi.org/10.1590/S1413-73722002000100013
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Segundo Simone Beauvoir (1949/2019, p. 17)Beauvoir, Simone (1949/2019). O segundo sexo: fatos e mitos. Nova Fronteira., “os dois sexos nunca partilharam o mundo em igualdade de condições, e ainda hoje, embora sua condição esteja evoluindo, a mulher arca com um pesado handicap”. Com a palavra “handicap”, Beauvoir referia-se à sistemática desvantagem que as mulheres sofriam em relação aos homens devido às restrições culturais, sociais e econômicas impostas pelo sexismo.

Ana Maria Veloso et al. (2017)Veloso, Ana Maria Conceição, Vasconcelos, Fabíolo Mendonça, & Ferreira, Laís (2017). As duas faces do sexismo na mídia: como Marcela Temer e Dilma Rousseff (PT) são retratadas pela Veja e IstoÉ. Observatório, Palmas, 3(1), 58-83). http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447-4266.2017v3n1p58
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apontam uma mudança promovida pelos movimentos feministas nas últimas décadas. Esses movimentos exigiam, como direito às mulheres, “mais espaço na sociedade, maior presença no mercado de trabalho e autonomia sobre suas vidas” (Veloso et al., 2017, p. 79)Veloso, Ana Maria Conceição, Vasconcelos, Fabíolo Mendonça, & Ferreira, Laís (2017). As duas faces do sexismo na mídia: como Marcela Temer e Dilma Rousseff (PT) são retratadas pela Veja e IstoÉ. Observatório, Palmas, 3(1), 58-83). http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447-4266.2017v3n1p58
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. Apesar disso, Veloso et al. (2017, p. 79)Veloso, Ana Maria Conceição, Vasconcelos, Fabíolo Mendonça, & Ferreira, Laís (2017). As duas faces do sexismo na mídia: como Marcela Temer e Dilma Rousseff (PT) são retratadas pela Veja e IstoÉ. Observatório, Palmas, 3(1), 58-83). http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447-4266.2017v3n1p58
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notam que ainda são muitas as formas de discriminação e violência sofridas pelas mulheres, “e as representações do feminino feitas a partir da mídia seguem essa tendência”. Nos romances literários, apesar da ficção, é possível identificar uma aproximação com a realidade nas representações de relacionamentos amorosos. Como afirmam Sonia Barroco e Tatiane Superti (2014, p. 23)Barroco, Sonia Mari Shima & Superti, Tatiane (2014). Vigotski e o estudo da psicologia da arte: contribuições para o desenvolvimento humano. Psicologia & Sociedade, 26(1), 22-31. https://doi.org/10.1590/S0102-71822014000100004
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a arte está intrinsecamente ligada à vida, às relações sociais de determinada época, de modo que se pode entender que o material para o conteúdo e estilo artísticos são apreendidos da realidade e trabalhados a partir dela. Mesmo assim, a obra de arte não se constitui em cópia fiel da realidade objetiva, mas em algo novo, fruto de ação criativa que se transforma em produto cultural.

Os relacionamentos amorosos são um exemplo de relação social que se destaca em muitas obras do gênero romance na literatura, e frequentemente essas relações apresentam contornos sexistas. Como exemplo de sexismo na literatura, notou-se na literatura do século XIX dicotomias como “a fragilidade feminina vs. a força masculina e a passividade feminina vs. a actividade masculina” (Poeschl, Silva, & Clémence, 2004, p. 42)Poeschl, Gabrielle, Silva, Aurora, & Clémence, Alain (2004). Representações da masculinidade e da feminilidade e retratos de homens e de mulheres na literatura portuguesa. Psicologia, Lisboa, 18(1), 31-46. https://doi.org/10.17575/rpsicol.v18i1.410
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, sendo essas mesmas dicotomias também apontadas pelos autores como presentes na realidade social.

A autora Ana Berges (2016, p. 263, tradução nossa)Berges, Ana Isabel Gorgas (2016). El amor romántico como bestseller: lectura en clave feminista de Crepúsculo y Cincuenta sombras. In M. Blanco & Rosa Manuel Segundo (Eds.), Investigación joven con perspectiva de género (pp. 245-265). Instituto de Estudios de Género. http://hdl.handle.net/10016/24050
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, analisando duas séries de romance, “Crepúsculo” (Stephenie Meyer) e “Cinquenta tons” (E. L. James), fala sobre o mito do amor romântico, afirmando que este “sustenta as desigualdades sociais ao recriar estereótipos de gênero e colocar as mulheres em situação de vulnerabilidade, em decorrência da ideologia binária, da complementaridade dos sexos e da heterossexualidade normativa”. Além disso, Altenburger, Carotta, Bonomi e Snyder (2016)Altenburger, Lauren E., Carotta, Christin L., Bonomi, Amy E. & Snyder, Anastasia (2017). Sexist Attitudes Among Emerging Adult Women Readers of Fifty Shades Fiction. Archives Of Sexual Behavior, 46(2), 455-464. https://doi.org/10.1007/s10508-016-0724-4
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, que também discorre sobre a série “Cinquenta Tons” (E. L. James), afirmam que, apesar de a mídia ter rotulado essas obras como fortalecedoras da sexualidade feminina, elas se alinham às ideologias tradicionais de gênero, e a mulher é retratada como sendo “mais fraca, menos assertiva, mais emocional e menos inteligente” (Altenburger et al., 2016, p. 123 tradução nossa)Altenburger, Lauren E., Carotta, Christin L., Bonomi, Amy E. & Snyder, Anastasia (2017). Sexist Attitudes Among Emerging Adult Women Readers of Fifty Shades Fiction. Archives Of Sexual Behavior, 46(2), 455-464. https://doi.org/10.1007/s10508-016-0724-4
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Kundan Iqbal (2014)Iqbal, Kundan (2014). The impact of romance novels on women’s sexual and reproductive health. Journal Of Family Planning And Reproductive Health Care, 40(4), 300-302. http://dx.doi.org/10.1136/jfprhc-2014-100995
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apresenta os impactos positivos e negativos da leitura de romances literários por mulheres em sua saúde sexual e reprodutiva, porém não delimita se os romances influenciam as atitudes e crenças das leitoras, ou se atraem leitoras com atitudes particulares em relação à sexualidade. Nota-se uma produção ainda incipiente sobre a temática do sexismo nos relacionamentos amorosos descritos nos romances literários.

Tendo em vista os prejuízos que o sexismo causa às mulheres, o objetivo geral desta pesquisa foi discutir as representações do feminino e o sexismo em romances literários e sua relação com uma possível idealização de relacionamentos amorosos. Propõe-se, ainda, que sejam realizadas novas pesquisas com entrevistas a leitores, ampliando a discussão.

2 Metodologia

O método utilizado foi qualitativo, realizando pesquisa bibliográfica com textos científicos e literários que abordavam pontos-chave da temática: sexismo, psicologia, feminismo e arte. Essa revisão de literatura teve como intuito realizar uma discussão acerca da temática, antes de entrar em uma análise discursiva e psicológica de personagens femininas de romances literários, observando a relação dessas personagens com o sexismo. Por esse motivo, discorreu-se sobre sexismo na literatura, e foram utilizadas também teorias feministas e psicológicas que fundamentam a discussão.

Foram selecionados artigos em língua portuguesa e, para ampliar a pesquisa, foram incluídos artigos em inglês e espanhol. As plataformas utilizadas foram Scielo, PubMed e Pepsic, por serem bases de dados gratuitas, e também foram consideradas indicações de leitura para enriquecer o conteúdo. Além disso, pelo menos 25% dos artigos pesquisados são dos últimos cinco anos, visando construir uma pesquisa atualizada, mas sem excluir totalmente dados e pesquisas relevantes e anteriores.

Com relação à escolha dos romances para análise, Gabrielle Poeschl, Aurora Silva e Alain Clémence (2004)Poeschl, Gabrielle, Silva, Aurora, & Clémence, Alain (2004). Representações da masculinidade e da feminilidade e retratos de homens e de mulheres na literatura portuguesa. Psicologia, Lisboa, 18(1), 31-46. https://doi.org/10.17575/rpsicol.v18i1.410
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apontam que, apesar das importantes mudanças na situação social das mulheres nos últimos cem anos, não raro, produções culturais oferecem visão estruturada nas ideologias do século XIX, ainda que façam ajustes necessários para atualizar os retratos sociais. Os autores afirmam que “essas imagens podem continuar a insinuar-se nas representações que as pessoas veiculam da masculinidade e da feminilidade, indicando o que devem ser e o que devem fazer para serem verdadeiramente homem ou mulher” (Poeschl, Silva, & Clémence, 2004, p. 43)Poeschl, Gabrielle, Silva, Aurora, & Clémence, Alain (2004). Representações da masculinidade e da feminilidade e retratos de homens e de mulheres na literatura portuguesa. Psicologia, Lisboa, 18(1), 31-46. https://doi.org/10.17575/rpsicol.v18i1.410
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A partir dos apontamentos acima, a presente pesquisa buscou comparar diferenças entre espaço e tempo nas representações do feminino nos romances literários. Além disso, para ampliar a diversidade das comparações, levou-se em consideração a abordagem do autor sobre o tema. Foram escolhidos três romances, sendo um de período literário e espaço diferente dos outros dois, e as três histórias com diferentes desfechos.

A primeira obra selecionada foi “Anna Kariênina(Liev Tolstói, 1877/2017)Tolstói, Liev (1877/2017). Anna Kariênina. Companhia das letras., um romance russo do século XIX, inserido no período literário realista, o qual se propunha a ter um olhar crítico sobre a sociedade. As duas outras obras escolhidas são norte-americanas, contemporâneas do século XXI, já consideradas best sellers pelo The New York Times: “Belo Desastre(Jamie McGuire, 2011)Mcguire, Jamie (2011). Belo Desastre (11a ed.). Verus. e “É Assim Que Acaba(Colleen Hoover, 2016)Hoover, Colleen (2018). Isto Acaba Aqui. Galera.. Optou-se por analisar dois romances contemporâneos, ao invés de apenas um, para destacar as diferentes possibilidades de abordar representações do feminino na sociedade atual.

Assim, foi possível comparar representações do feminino de períodos, espaços e desfechos diferentes. Outrossim, esta análise problematizou as representações do feminino nesses romances, questionando se essas podem reforçar o sexismo na idealização de relacionamentos amorosos, mas também possibilitar repensar essas relações. Não foram coletadas percepções de leitores dessas obras, portanto, novas pesquisas podem ser realizadas adicionando esses dados.

3 Discussão

3.1 Cultura, subjetividade e sexismo

Ao abordar a arte, de acordo com Lev Vigotski (1960/1999)Vigotski, Lev Semionovitch (1960/1999). Psicologia da Arte. Martins Fontes., é inviável retroceder da obra ao psiquismo do autor para compreender exatamente seus pensamentos, assim como não é possível analisar as emoções do espectador apenas a partir da arte apreciada. Contudo, ele não ignora o psiquismo humano e sua relevância como mecanismo mediador para produção da arte, assim como a arte também é mediadora para construção da subjetividade.

Dito isso, Vigotski (1999)Vigotski, Lev Semionovitch (1960/1999). Psicologia da Arte. Martins Fontes. cita as manchas de tintas de Rorschach para destacar que cada pessoa é capaz de atribuir seu significado a uma obra de arte, ou seja, interpretamos e vivenciamos de maneiras diferente uma mesma obra, não podendo responsabilizá-la pelas ideias que dela surgem. Ele afirma que “a apreciação da arte estará sempre na dependência da interpretação psicológica que dela fizermos” (Vigotski, 1999, p. 303)Vigotski, Lev Semionovitch (1960/1999). Psicologia da Arte. Martins Fontes.. Por outro lado, a subjetividade de cada sujeito também é construída a partir de vivências sociais e pela cultura que o perpassa:

o discurso não é, pois, uma construção de um sujeito independente das relações sociais e do condicionamento inconsciente, mas, ao contrário, o fazer discursivo é uma práxis humana que só pode ser compreendida a partir do entendimento das contradições sociais que possibilitaram sua objetivação e de como cada indivíduo processa através do seu psiquismo essas determinações. (Magalhães & Mariani, 2010)Magalhães, Belmira & Mariani, Bethania (2010). Processos de subjetivação e identificação: ideologia e inconsciente. Linguagem em (Dis)curso, 10(2), 391-408. https://doi.org/10.1590/S1518-76322010000200008
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As produções artísticas seguem essa lógica, segundo Vigotski (1999, p. 308)Vigotski, Lev Semionovitch (1960/1999). Psicologia da Arte. Martins Fontes.: “A arte recolhe da vida o seu material”, embora produza “acima desse material algo que ainda não está nas propriedades desse material.” A exemplo disso, na apresentação da obra “Anna Kariênina”, Rubens Figueiredo (2017, p. 7)Figueiredo, Rubens (2017) Apresentação. In Anna Kariênina (L. Tolstói). Companhia das Letras. afirma que “Tolstói fez das pessoas à sua volta - familiares, amigos e conhecidos - os modelos para os personagens”, e também destaca que, na parte final do romance, Tolstói manifestou “sua aversão à violência em geral” (Figueiredo, 2017, p. 8)Figueiredo, Rubens (2017) Apresentação. In Anna Kariênina (L. Tolstói). Companhia das Letras.. Desse modo, é possível confirmar que uma obra é elaborada a partir da percepção do autor sobre a vida e transformada de forma criativa para produzir algo além da experiência vivida, independente de concordar ou não com as opiniões do autor.

Quanto à percepção do leitor, Mikhail Bakhtin (1997, p. 317)Bakhtin, Mikhail (1997). Estética da criação verbal. Martins Fontes. afirma que “nosso próprio pensamento - nos âmbitos da filosofia, das ciências, das artes - nasce e forma-se em interação e em luta com o pensamento alheio, o que não pode deixar de refletir nas formas de expressão verbal do nosso pensamento”. Isso ressalta que as ideias de cada sujeito também são construções sociais influenciadas pela cultura, e o que é expresso por cada um é resultado das interações e confrontos com os outros. Portanto, as ideias também são moldadas nas relações, seja pela concordância ou pela contradição, pois “A comunicação social torna-se o agente vivo do processo de construção e reconstrução de sentidos” (Stella & Brait, 2022, p. 66)Stella, Paulo Rogério & Brait, Beth (2022). Contexto como espaço de criação e cocriação: um olhar sobre obras de Bakhtin e o Círculo. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, 17(2), 58-88). https://doi.org/10.1590/2176-4573e54384
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, constituindo uma relação dialética com o meio.

Desse modo, entende-se que o sentimento é subjetivo, mas também social, embora não seja coletivo. Assim, apesar de a interpretação do espectador depender de sua visão pessoal prévia, essa visão pode ser alterada pelo contato com a obra. Segundo Barroco e Superti (2014)Barroco, Sonia Mari Shima & Superti, Tatiane (2014). Vigotski e o estudo da psicologia da arte: contribuições para o desenvolvimento humano. Psicologia & Sociedade, 26(1), 22-31. https://doi.org/10.1590/S0102-71822014000100004
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a obra de arte pode proporcionar nova organização psíquica ao indivíduo, permitindo a vivência indireta de emoções, sentimentos e relações sociais.

Outro ponto relevante a considerar é a forma como o tema da obra é posto. Segundo Vigotski (1999, p. 59)Vigotski, Lev Semionovitch (1960/1999). Psicologia da Arte. Martins Fontes., “a obra de arte perde o seu efeito estético caso se lhe destrua a forma”. Em complemento a isso, Paulo Stella e Beth Brait (2022, p. 63)Stella, Paulo Rogério & Brait, Beth (2022). Contexto como espaço de criação e cocriação: um olhar sobre obras de Bakhtin e o Círculo. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, 17(2), 58-88). https://doi.org/10.1590/2176-4573e54384
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afirmam que quando palavras, esculturas, desenhos e músicas são retirados de seu contexto, “perdem seu valor de signos ideológicos representantes de uma época, de um posicionamento histórico, e passam a valer apenas em sua estrutura formal, como materiais brutos sem valor ideológico”. Portanto, o contexto e a abordagem de um conteúdo influenciam a forma como o leitor percebe as informações.

Tendo entendido que “o homem só se torna homem ao apropriar-se do mundo, e a constituição da sua subjetividade caminha desse ir e vir do mundo interno para o mundo externo, numa relação dialética entre objetividade e subjetividade” (Aita & Facci, 2011, p. 35)Aita, Elis Bertozzi & Facci, Marilda G. Dias (2011). Subjetividade: uma análise pautada na Psicologia histórico-cultural. Psicologia em Revista, 17(1), 32-47. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682011000100005&lng=pt&tlng=pt
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, a idealização é construída socialmente, embora também tenha um aspecto pessoal. Para melhor compreensão, segundo Andréa Zanella (2004)Zanella, Andréa Vieira (2004). Atividade, significação e constituição do sujeito: considerações à luz da psicologia histórico-cultural. Psicologia em Estudo, 9(1), 127-135. https://doi.org/10.1590/S1413-73722004000100016
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, Vigotski define signos como instrumentos psicológicos moldados socialmente e utilizados para comunicação, enquanto o sentido atribuído a esses signos varia individualmente, influenciado por experiências pessoais. Assim, a idealização é subjetiva, mas também é moldada por interações sociais e experiências compartilhadas.

Com a distinção de gêneros, masculino e feminino, associada ao sexo biológico, cada criança que nasce já é inserida na cultura de sua sociedade como feminina ou masculina, e são apresentados a ela atributos, comportamentos e atitudes vinculados, pela sociedade, a cada gênero (Formiga et al., 2002)Formiga, Nilton S., Golveia, Valdiney, & Santos, Maria Neusa (2002). Inventário de sexismo ambivalente: sua adaptação e relação com o gênero. Psicologia em Estudo, Maringá, 7(1), 103-111. https://doi.org/10.1590/S1413-73722002000100013
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. Consequentemente, desde cedo, para além das características biológicas, a criança começa a desenvolver sua compreensão dos gêneros, influenciando suas avaliações, preferências e escolhas relacionadas ao papel sexual (Formiga et al., 2002)Formiga, Nilton S., Golveia, Valdiney, & Santos, Maria Neusa (2002). Inventário de sexismo ambivalente: sua adaptação e relação com o gênero. Psicologia em Estudo, Maringá, 7(1), 103-111. https://doi.org/10.1590/S1413-73722002000100013
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Mais uma vez, observa-se a interação entre objetividade e subjetividade, que leva, neste caso, à construção de uma idealização dos papéis de gênero masculino e feminino. Ou seja, é a partir da interação com a cultura, que reproduz e perpetua certas ideias e comportamentos, que se constrói uma idealização do que é esperado de homens e mulheres, dentro de uma perspectiva sexista.

Também, Beauvoir (1949/2019, p. 11)Beauvoir, Simone (1949/2019). O segundo sexo: fatos e mitos. Nova Fronteira. afirmou que “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher.” A problemática acerca disso existe porque “na medida em que homens e mulheres não estão proporcionalmente representados em papéis sociais específicos, acabam por adquirir diferentes competências e crenças que, por sua vez, afetam o seu comportamento social” (Nogueira, 2017)Nogueira, Conceição (2017). Interseccionalidade e psicologia feminista. Devires. [Ebook Kindle]. Como exemplo dessa construção sexista, Maria Osterne e Clara Silveira (2012, p. 103)Osterne, Maria do Socorro Ferreira & Silveira, Clara Maria Holanda (2012). Relações de gênero: uma construção cultural que persiste ao longo da história. O público e o privado, 10(19), 101-121. https://revistas.uece.br/index.php/opublicoeoprivado/article/view/2634#:~:text=Concluiu%2Dse%20que%20as%20rela%C3%A7%C3%B5es,patriarcal%20ainda%20predominante%20na%20sociedade
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afirmam que “A sociedade atribui às mulheres, desde crianças, comportamentos dóceis, delicados e passivos. Em contrapartida, os homens são educados para tomar iniciativa, extravasando sua agressividade no cotidiano”.

A perspectiva apresentada também é válida para abordar a idealização de relacionamentos amorosos. Contudo, primeiro é importante destacar que a definição dos papéis de gênero varia em diferentes contextos devido às mudanças culturais. Como os papéis de gênero são construídos socialmente, as noções de gênero também não são fixas. Conforme Nogueira (2017)Nogueira, Conceição (2017). Interseccionalidade e psicologia feminista. Devires. [Ebook Kindle], o gênero “não existe nas pessoas, mas sim nas relações sociais”.

Nos estudos do feminismo interseccional, a raça, a orientação sexual e a classe social são fatores relevantes a serem considerados nas pesquisas sobre gênero, pois influenciam a experiência de ser mulher. Ademais, segundo José Santana e Marcus Belmino (2017, p. 151)Santana, José Ricardo de Sousa & Marcus Cezar de Borba (2017). Identidades de gênero na perspectiva da teoria do self: uma leitura gestáltica acerca da sexualidade na contemporaneidade. Revista IGT na Rede, 14(27), 136-162. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-25262017000200002
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, “desde o final dos anos 1940 . . . muita coisa mudou e o fazer-se mulher transformou-se, pluralizou-se”. Portanto, a compreensão sobre o gênero precisa ser situada no contexto histórico e social.

Embora os padrões de gênero variem ao longo do tempo e em diferentes contextos, ainda desempenham um papel significativo nas experiências de vida da mulher. E entendendo que não existe uma só maneira de vivenciar relações de gênero, mas que o sexismo está presente nas relações, não se trata de combater todas as situações que se encaixam nos padrões sociais vigentes nos relacionamentos atuais. Em vez disso, é crucial compreender os sentidos e as repercussões de cada dinâmica de relacionamento em seus respectivos contextos e questionar quando há dominação e sofrimento.

Conforme apontado por Osterne e Silveira (2012, p. 105)Osterne, Maria do Socorro Ferreira & Silveira, Clara Maria Holanda (2012). Relações de gênero: uma construção cultural que persiste ao longo da história. O público e o privado, 10(19), 101-121. https://revistas.uece.br/index.php/opublicoeoprivado/article/view/2634#:~:text=Concluiu%2Dse%20que%20as%20rela%C3%A7%C3%B5es,patriarcal%20ainda%20predominante%20na%20sociedade
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, Foucault interpreta o poder como uma “prática social construída historicamente” e presente nas relações, sendo, portanto, algo que todas as partes exercem, mas não de maneira igualitária. Para Foucault, o poder emerge da existência de saberes desqualificados, considerados saberes inferiores, estabelecendo uma hierarquia e se manifestando como uma força “que reprime a natureza, os instintos, uma classe, indivíduos” (Foucault, 2016, p. 15)Foucault, Michel (1976/2016). Em defesa da sociedade. Martins Fontes.. Desse modo,

Percebemos que a subordinação feminina é uma questão de poder. Os homens se apropriam da maior parcela de poder que lhes cabe nas relações sociais e subjugam as mulheres. Muitas vezes, a dominação masculina se encontra mascarada sob a forma de sentimentos como o amor, o afeto e a ternura. (Osterne & Silveira, 2012, p. 106)Osterne, Maria do Socorro Ferreira & Silveira, Clara Maria Holanda (2012). Relações de gênero: uma construção cultural que persiste ao longo da história. O público e o privado, 10(19), 101-121. https://revistas.uece.br/index.php/opublicoeoprivado/article/view/2634#:~:text=Concluiu%2Dse%20que%20as%20rela%C3%A7%C3%B5es,patriarcal%20ainda%20predominante%20na%20sociedade
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Então, o sexismo destacado na presente pesquisa envolve construções de gênero caracterizadas por desigualdades de poder que oprimem as mulheres. E, embora os relacionamentos abusivos não sejam foco desta pesquisa, ao discutir sobre relações amorosas, é crucial observar que em sociedades marcadas por desigualdade de gênero, um ideal de amor que tolera e perdoa tudo, inclusive a violência, contribui para a continuidade de relações abusivas marcadas por dominação masculina (Silva, 2020)Silva, Lucyla K. Carvalho (2020). Personalidade e Fatores Psicossociais em Mulheres Vítimas de Relações Abusivas [ Dissertação de Mestrado, em Psicologia Clínica e Cultura, Universidade de Brasília, Brasília-DF].. Assim, compreende-se melhor o porquê de algumas mulheres entrarem em relacionamentos amorosos abusivos mais de uma vez em suas vidas, e “Por muito tempo se acreditou no mito de que as mulheres se recusavam a sair de ciclos de violência porque ‘gostavam’” (Silva, 2020, p. 13)Silva, Lucyla K. Carvalho (2020). Personalidade e Fatores Psicossociais em Mulheres Vítimas de Relações Abusivas [ Dissertação de Mestrado, em Psicologia Clínica e Cultura, Universidade de Brasília, Brasília-DF]..

Por isso, “é indispensável a compreensão de como as mulheres assimilam e organizam conceitos, teorias, valores, experiências que elas vivenciam em relação aos ideais de amor e ao conceito de feminino” (Silva, 2020, p. 14)Silva, Lucyla K. Carvalho (2020). Personalidade e Fatores Psicossociais em Mulheres Vítimas de Relações Abusivas [ Dissertação de Mestrado, em Psicologia Clínica e Cultura, Universidade de Brasília, Brasília-DF]., ou seja, mostra-se importante a idealização de relação amorosa que é construída.

3.2 Romances literários

Como mencionado anteriormente, a arte se desenvolve a partir das percepções do autor sobre a vida, mesmo que a obra não esteja alinhada com suas próprias opiniões. Considerando que o gênero é construído socialmente, as representações do feminino nos romances literários também variam com o contexto em que estão inseridas. Portanto, é importante destacar que as percepções de um homem podem ser significativamente diferentes das percepções de uma mulher, devido às diferentes experiências com relação ao sexismo. Essa diferença de perspectiva é uma variável que pode influenciar nas representações do feminino nos romances.

Com base no exposto, é viável adentrar na análise de romances literários, concentrando-se nas personagens femininas e em suas relações amorosas, a fim de explorar como essas representações são apresentadas nos romances selecionados. É relevante observar que “Na sociedade atual, com sanções legais contra juízos e condutas discriminatórias em relação ao gênero, o sexismo parece estar tomando novos contornos. . . surgem novas formas de expressar avaliações negativas em relação às mulheres” (Formiga et al., 2002, p. 105)Formiga, Nilton S., Golveia, Valdiney, & Santos, Maria Neusa (2002). Inventário de sexismo ambivalente: sua adaptação e relação com o gênero. Psicologia em Estudo, Maringá, 7(1), 103-111. https://doi.org/10.1590/S1413-73722002000100013
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.

Desse modo, o primeiro romance analisado foi escrito por um autor masculino, publicado em 1877 e pertence a um período literário que adota uma abordagem crítica da sociedade, o realismo. Em seguida, foram analisados outros dois romances, escritos por autoras contemporâneas.

3.2.1 Anna Kariênina

Na obra “Anna Kariênina”, ou Anna Karenina, de Liev Tolstói, publicada na íntegra pela primeira vez em 1877, na Rússia, Anna é retratada como uma mulher da alta sociedade, admirada por sua beleza, e é casada com Aleksei Aleksándrovitch Karenin, um rico e respeitado funcionário do governo. Insatisfeita em seu casamento, ela tem um caso com Vrónski, por quem se apaixona. Diante disso, seu marido opta por perdoá-la, evitando o divórcio para preservar sua reputação e impedir que Anna fique com seu amante.

Posteriormente, Anna decide unir-se a Vrónski, o que resulta em seu ostracismo na sociedade. Ela é excluída pelas mulheres e vista como inferior devido a suas ações. Enquanto isso, o irmão de Anna, Stiepan Arcáditch, também trai sua esposa. Embora este tenha um amigo que não concorda com essa atitude, ele escolhe não se distanciar de Arcáditch e nem o criticar pela traição.

Além dos julgamentos morais sobre o certo e o errado, nota-se disparidade no tratamento social dado a Anna e a Arcáditch. Embora o irmão de Anna negligencie sua esposa e filhos, seu principal incômodo reside em ser descoberto em suas ações, ao passo que Anna se castiga por abandonar seu filho, Serioja, e pelas outras decisões que tomou.

Durante a narrativa, Anna expressa: “eu amo duas criaturas, por igual, me parece, Serioja e Aleksei, mas a ambos mais do que a mim mesma” (Tolstói, 1877/2017, p. 642)Tolstói, Liev (1877/2017). Anna Kariênina. Companhia das letras.. Anna evidencia o quanto vivia devota ao amor romântico e à criação dos filhos, mas também sob os próprios julgamentos, resultando em uma desvalorização pessoal marcada pela culpa. Desse modo, Anna tem um final infeliz. Culpando-se pelas suas escolhas, sofrendo com a perda do filho e temendo perder o atual enamorado, ela se vê sem o desejo de continuar a viver.

3.2.2 Belo Desastre

No romance “Belo Desastre”, de Jamie McGuire, publicado em 2011, a trama gira em torno de Abby Abernathy e Travis Maddox, jovens que se conhecem na faculdade. No início da obra, Travis consegue conquistar todas as garotas pelas quais se sente atraído, exceto Abby. As mulheres que se interessam por ele são, frequentemente, descritas de forma pejorativa, inclusive pela própria protagonista. Há uma tendência de culpabilização e inferiorização de quem deseja se envolver com Travis, enquanto conquistar o interesse dele é retratado como um prêmio.

Abby se torna interessante para Travis por ser difícil de conquistar, e isso o leva a tratá-la de forma diferente das outras mulheres. Além disso, são apresentadas diversas cenas de assédio de Travis em relação a Abby, as quais são minimizadas pela própria protagonista, que focaliza sua atenção no corpo de Travis. Embora, ao longo da história, ele apareça com diversas mulheres que acabou de conhecer, sempre que Abby se aproxima de outro homem, Travis questiona o quanto ela o conhece e suas intenções, além de realizar ameaças de agressão ao rapaz.

A violência parece ser bastante naturalizada entre os homens nessa obra. Travis cresceu com um pai alcoólatra e quatro irmãos mais velhos e violentos. Em alguns momentos, ele usa sua força física para impor sua vontade sobre Abby. Além disso, as amizades de Abby, a família de Travis e ele próprio estão constantemente enfatizando a necessidade de ela perdoá-lo por seus erros, argumentando que faria mal a ele ficar sem ela, ou que é necessário ter paciência e tolerância para estar com ele.

Quando Travis percebe que magoou Abby ou cometeu erros enquanto estava alcoolizado, tenta compensar suas ações. Isso leva seus comportamentos problemáticos a serem ignorados ou minimizados, criando uma romantização do amor que ele supostamente sente pela protagonista e destacando seu lado galanteador e romântico. Abby é retratada como uma salvadora, uma mulher capaz de transformar o homem. No desfecho da obra, os dois ficam juntos e se casam de maneira apressada, também em uma tentativa dela de salvá-lo de uma situação perigosa na qual ele se envolveu.

3.2.3 É assim que acaba

Este romance foi originalmente publicado em 2016 e é narrado por uma jovem chamada Lily Bloom. A história começa após o velório do pai de Lily, durante o qual ela reflete sobre a raiva que tinha do pai por ele ter praticado violência doméstica com sua mãe, o que também prejudicou a relação de pai e filha.

Logo após o velório, Lily conhece Ryle, um neurocirurgião focado em sua carreira e decidido a não se casar ou ter filhos, enquanto Lily expressa a expectativa de encontrar um homem perfeito e sempre se decepciona nesse aspecto. Mesmo assim, Ryle insistia em buscar encontros casuais com Lily, alegando não conseguir tirá-la da mente. Durante a narrativa, Lily, sem ceder às tentativas de Ryle, provocou uma situação para despertar ciúmes, e Ryle reagiu forçando um beijo com ela. Eventualmente, os dois decidiram se envolver e casaram-se em menos de um ano.

Contudo, ainda antes de se casarem, Ryle começou a manifestar comportamentos agressivos quando estava sob efeito de álcool, sempre jurando que isso não se repetiria. Contudo, as agressões se repetiam, algumas vezes motivadas por ciúmes. Ao longo da história, a protagonista percebeu-se justificando as ações do marido, tentando diferenciá-lo de seu pai, e ponderou sobre a possibilidade de estar repetindo o padrão de comportamento da mãe.

Após o terceiro episódio de violência, Lily fugiu de Ryle e foi para o hospital, onde descobriu estar grávida. Durante a gravidez, ela e Ryle não se relacionaram e, após o parto, ela optou pelo divórcio, para não repetir o relacionamento que sua mãe teve e não prejudicar a relação de pai e filha que estava iniciando.

3.3 Comparação e análise das histórias

É importante avaliar que “Anna Kariênina” é um romance do período literário realista e, portanto, mesmo tendo sido escrito por um homem, expôs uma realidade sexista, porém não romantizada. A representação do feminino criada sobre a protagonista expõe o sofrimento das mulheres em uma sociedade marcada pelo sexismo, com um trágico desfecho. Quanto aos relacionamentos retratados, a relação de Anna e Vrónski também é imperfeita, o que Tolstói cria é uma narrativa em que os personagens são excessivamente humanos. Assim, “o tema do amor romântico é, se não abolido, tratado de forma secundária, despido de idealismo, subordinado a instintos, a fraquezas, a injustiças sociais e a carências rasas ou pelo menos não poéticas” (Figueiredo, 2017, p. 9)Figueiredo, Rubens (2017) Apresentação. In Anna Kariênina (L. Tolstói). Companhia das Letras..

Enquanto isso, em “Belo Desastre”, ambientado no século XXI, há uma forte romantização do casal principal e do sexismo. A relação entre Abby e Travis é retratada como abusiva desde o início, antes mesmo de estabelecerem vínculo amoroso, sendo marcada por violência, afinal:

Para algumas mulheres, não são raras as interpretações da violência conjugal como um signo - não da ausência - mas da presença do amor, seja em ato - nas manifestações de ciúmes, por exemplo - seja em expectativa - na promessa do amor futuro, o qual sucederá a explosão da violência. (Martins, Saraiva, & Santiago, 2022, p. 214)Martins, Ana Carolina B. Leão, Saraiva, Anne B. Nogueira, & Santiago, Vanessa Cunha (2022). O sujeito das relações abusivas e suas sujeições. In Leônia C. Teixeira, Leonardo Danziato, Danielle Maia Cruz, Jerzui Mender Tomaz, & Jean-Luc Gaspard (Orgs.), Violência de gênero: aportes conceituais e estratégicos de enfrentamento(pp. 209-221). CRV.

Belo Desastre” também aborda a rivalidade feminina e, assim como em “Anna Kariênina”, as representações do feminino são marcadas pelo sexismo que oprime a mulher, revelando diferenças no julgamento das atitudes entre homens e mulheres. Segundo bell hooks (1981/2021, p. 59)hooks, bell (1981/2021). E eu não sou uma mulher? Rosa dos Tempos., “Na educação fundamentalista cristã, a mulher era representada como uma sedutora má. . . homens foram meramente vítimas de seu poder devasso”. Posteriormente, houve uma mudança na imagem da mulher branca como pecadora e sexual para senhora virtuosa, resultando em exploração sexual de mulheres negras escravizadas. Assim, as mulheres brancas passaram a reprimir seus impulsos sexuais naturais e, frequentemente, rotulavam mulheres negras como sedutoras quando sofriam assédio sexual de homens brancos (hooks, 2021)hooks, bell (1981/2021). E eu não sou uma mulher? Rosa dos Tempos..

Também, Valeska Zanello (2018, p. 84)Zanello, Valeska (2018). Saúde mental, gênero e dispositivos: Cultura e processos de subjetivação. Appris. aborda a “prateleira do amor”, mencionando que as mulheres são “elevadas a um falso estado de adoração”, em que precisam sentir-se escolhidas e diferentes das demais. Isso ocorre porque, segundo a autora, “O amor romântico seria um amor corrompido pelas relações de poder, pois estimula e pressupõe uma dependência psicológica das mulheres” (Zanello, 2018, p. 84)Zanello, Valeska (2018). Saúde mental, gênero e dispositivos: Cultura e processos de subjetivação. Appris..

Zanello (2018)Zanello, Valeska (2018). Saúde mental, gênero e dispositivos: Cultura e processos de subjetivação. Appris. argumenta que as mulheres estão enganadas se acreditam em uma posição privilegiada na “prateleira”, pois também são colocadas nessa posição sob julgamento dos homens, sendo avaliadas por eles e podendo sair dessa posição. Um exemplo disso é o que Veloso et al. (2017)Veloso, Ana Maria Conceição, Vasconcelos, Fabíolo Mendonça, & Ferreira, Laís (2017). As duas faces do sexismo na mídia: como Marcela Temer e Dilma Rousseff (PT) são retratadas pela Veja e IstoÉ. Observatório, Palmas, 3(1), 58-83). http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447-4266.2017v3n1p58
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apontam em relação à ex-presidente Dilma Rousseff e à esposa do ex-presidente Michel Temer, Marcela Temer: em matérias publicadas sobre essas duas mulheres, foi possível observar traços de sexismo e misoginia, pois, embora as duas sejam diferentes, o tratamento dado reproduz estereótipos direcionados às mulheres, como a “bela, recatada e do lar” e a “explosiva, mal-educada e fora de si” (Veloso et al., 2017). Assim, é evidente que os romances analisados refletem, nas representações do feminino, um sexismo também encontrado na vida real.

Segundo Osterne e Silveira (2012, p. 110)Osterne, Maria do Socorro Ferreira & Silveira, Clara Maria Holanda (2012). Relações de gênero: uma construção cultural que persiste ao longo da história. O público e o privado, 10(19), 101-121. https://revistas.uece.br/index.php/opublicoeoprivado/article/view/2634#:~:text=Concluiu%2Dse%20que%20as%20rela%C3%A7%C3%B5es,patriarcal%20ainda%20predominante%20na%20sociedade
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, “Bourdieu acredita que o poder simbólico é uma forma de poder invisível. . . É um poder que se exerce não por coação física, mas sim através dos esquemas de percepção e pensamento que se instalam no subconsciente dos indivíduos”. Assim, retornando aos romances, algumas atitudes de Aleksandróvitch e Travis podem ser exemplos de sexismo benevolente. Essa forma de sexismo “romantiza uma versão paternalista das relações íntimas entre homens e mulheres, incluindo a ideia de que os homens se realizam ao valorizar e proteger as mulheres” (Hammond & Overall, 2017, p. 120, tradução nossa)Hammond, Matthew D. & Overall, Nickola C. (2017). Dynamics Within Intimate Relationships and the Causes, Consequences, and Functions of Sexist Attitudes. Association for Psychological Science, 26(2), 120-125. https://doi.org/10.1177/0963721416686213
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. No entanto, essa atitude esconde uma forma de controle imposta por eles. No caso do personagem Ryle, apesar de sua violência ser mais evidente, sua promessa de amor também revela uma necessidade de controle, evidenciada pelo ciúme pela expectativa de ter Lily sempre disponível desde antes do relacionamento formal.

Uma problemática existente nesse terceiro romance é a ausência de uma crítica interna sobre a importunação e os assédios cometidos por Ryle. O término do relacionamento foi justificado apenas pela violência física. No entanto, a autora procurou abordar as dificuldades que as mulheres enfrentam ao tentar encerrar relacionamentos abusivos, refletidas no sentimento ambíguo da protagonista. Como destacado por Osterne e Silveira (2012, p. 106)Osterne, Maria do Socorro Ferreira & Silveira, Clara Maria Holanda (2012). Relações de gênero: uma construção cultural que persiste ao longo da história. O público e o privado, 10(19), 101-121. https://revistas.uece.br/index.php/opublicoeoprivado/article/view/2634#:~:text=Concluiu%2Dse%20que%20as%20rela%C3%A7%C3%B5es,patriarcal%20ainda%20predominante%20na%20sociedade
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, é crucial lembrar que “A pequena parcela de poder que cabe ao sexo feminino, dentro de uma relação de subordinação, permite que as mulheres questionem a supremacia masculina e encontrem meios diferenciados de resistência”.

Entre as personagens, é importante destacar a diferença marcada também pelo tempo e pelo espaço. Embora tenha sido observada a persistência do sexismo nas três histórias, adaptando a cada contexto, as abordagens para lidar com esse sexismo também mudaram com o tempo. O desfecho da história de Lily é mais promissor do que o de Anna, por exemplo. Mesmo que ambas demonstrem uma postura ativa na busca do que acreditam ser melhor para si, Anna vive em uma sociedade que penaliza muito mais suas escolhas, e mostra sofrer com a pressão desses julgamentos. Além disso, naquela época, as mulheres estavam muito mais limitadas ao papel de esposas e mães, enquanto Lily tem outras aspirações, revelando uma menor dependência emocional do relacionamento amoroso.

Segundo Garlana Sousa (2022)Sousa, Garlana Lemos (2022). O sexismo nos relacionamentos íntimos: O que dizem as mulheres? [Dissertação de Mestrado em Psicologia, Universidade de Fortaleza, Fortaleza/CE]., promover entre as mulheres o conhecimento e a reflexão sobre comportamentos e atitudes sexistas nas relações íntimas pode proporcionar uma visão crítica do cenário sexista em que estão inseridas. Ademais, Sousa (2022)Sousa, Garlana Lemos (2022). O sexismo nos relacionamentos íntimos: O que dizem as mulheres? [Dissertação de Mestrado em Psicologia, Universidade de Fortaleza, Fortaleza/CE]., ao entrevistar mulheres sobre esse tema, observou que, embora elas relatem situações sexistas e demonstrem insatisfação, não estabelecem conexão entre o que vivenciam em seus relacionamentos e o sexismo, justificando os comportamentos masculinos como normais.

Como mencionado anteriormente, a apreciação da arte depende da interpretação do espectador, e as emoções dele não podem ser totalmente compreendidas apenas pela análise de uma obra (Vigotski, 1999)Vigotski, Lev Semionovitch (1960/1999). Psicologia da Arte. Martins Fontes.. É assim que se compreende a importância da subjetividade do leitor para o entendimento e as emoções que resultarão da leitura de uma obra.

Quando se trata de um romance marcado por características sexistas, é crucial que os leitores saibam identificar esse sexismo e questioná-lo. Caso contrário, “a naturalização da dominação masculina, a partir dos esquemas de percepção, dos símbolos, da cultura e da oposição binária entre o masculino e o feminino, dificulta o questionamento das desigualdades entre os sexos” (Osterne & Silveira, 2012, p. 110)Osterne, Maria do Socorro Ferreira & Silveira, Clara Maria Holanda (2012). Relações de gênero: uma construção cultural que persiste ao longo da história. O público e o privado, 10(19), 101-121. https://revistas.uece.br/index.php/opublicoeoprivado/article/view/2634#:~:text=Concluiu%2Dse%20que%20as%20rela%C3%A7%C3%B5es,patriarcal%20ainda%20predominante%20na%20sociedade
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. Além disso, a internalização desse sexismo “pode impedir que as mulheres tomem consciência da sua condição de submissão e enfrentem-na” (Osterne & Silveira, 2012, p. 110)Osterne, Maria do Socorro Ferreira & Silveira, Clara Maria Holanda (2012). Relações de gênero: uma construção cultural que persiste ao longo da história. O público e o privado, 10(19), 101-121. https://revistas.uece.br/index.php/opublicoeoprivado/article/view/2634#:~:text=Concluiu%2Dse%20que%20as%20rela%C3%A7%C3%B5es,patriarcal%20ainda%20predominante%20na%20sociedade
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Ainda segundo Osterne e Silveira (2012, p. 113)Osterne, Maria do Socorro Ferreira & Silveira, Clara Maria Holanda (2012). Relações de gênero: uma construção cultural que persiste ao longo da história. O público e o privado, 10(19), 101-121. https://revistas.uece.br/index.php/opublicoeoprivado/article/view/2634#:~:text=Concluiu%2Dse%20que%20as%20rela%C3%A7%C3%B5es,patriarcal%20ainda%20predominante%20na%20sociedade
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, “Os três principais agentes de perpetuação da oposição binária entre o masculino e o feminino seriam a família, os sistemas educacionais e a mídia”. Como a literatura é uma forma de mídia, ela é apontada como um dos agentes potenciais para reforçar o sexismo ou contribuir para desmistificar as idealizações que promovem a dominação masculina sobre as mulheres. “Se a condição feminina, dentro da ordem patriarcal de gênero, foi construída socialmente, pode-se modificá-la, também, socialmente” (Osterne & Silveira, 2012, p. 114)Osterne, Maria do Socorro Ferreira & Silveira, Clara Maria Holanda (2012). Relações de gênero: uma construção cultural que persiste ao longo da história. O público e o privado, 10(19), 101-121. https://revistas.uece.br/index.php/opublicoeoprivado/article/view/2634#:~:text=Concluiu%2Dse%20que%20as%20rela%C3%A7%C3%B5es,patriarcal%20ainda%20predominante%20na%20sociedade
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4 Considerações finais

A partir da análise realizada, é possível concluir que não há garantia de que um romance com características sexistas irá sempre reforçar uma idealização sexista de relacionamentos amorosos. No entanto, compreendendo que a relação entre a cultura e a subjetividade de um indivíduo é de natureza recíproca, e não unilateral, há a possibilidade desse reforço ocorrer quando o sexismo é romantizado na leitura e não é devidamente criticado.

Por outro lado, foi possível despender algumas vantagens acerca de romances literários que oferecem novas perspectivas sobre relacionamentos ao criticar o sexismo representado. Considerando que as relações sociais são construídas por intermédio da cultura, a conscientização sobre o que constitui relações abusivas, problematizando disparidades de poder entre os gêneros, assume um papel crucial na construção de um ideal saudável de relacionamento.

Com relação às obras literárias abordadas nesta pesquisa: “Anna Kariênina”, de Liev Tolstói, foi publicada originalmente em um revista russa, entre 1875 e 1877, e a edição utilizada para esta pesquisa foi publicada em 2017 pela editora Companhia das Letras; “Belo Desastre”, de Jamie McGuire, foi publicada em 2011 nos EUA, e a edição utilizada foi da Verus Editora, publicada em 2014; “É assim que acaba”, de Colleen Hoover, foi publicada em 2016 nos EUA, e a edição utilizada foi da editora Galera, em 2018. Embora apresentem diferenças sociais, espaciais e temporais, são também similares, pois muitos papéis sociais de gênero se repetem, embora adaptados para cada contexto específico. As obras selecionadas permitiram uma comparação que expõe diferentes abordagens das representações do feminino e do sexismo presentes na leitura, podendo ser um romance realista que não romantiza a relação e a narrativa; romantizar o enredo; ou ainda incluir críticas às problemáticas em sua construção.

A presente pesquisa proporcionou uma discussão teórica sobre as possíveis influências do sexismo e das representações do feminino nos romances literários na idealização de relacionamentos amorosos. No entanto, foi baseada apenas em uma revisão teórica, sem considerar a percepção dos leitores desses romances.

Desse modo, pesquisas futuras podem conduzir entrevistas com leitores de romances, comparando a percepção que estes têm da leitura realizada e suas idealizações de relacionamentos amorosos. Também é possível realizar grupos focais para promover discussões sobre essa temática, permitindo que os participantes se beneficiem ao tomar consciência dos riscos de prejuízos causados pelas idealizações sexistas nas relações amorosas.

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  • Financiamento

    Não houve financiamento
  • Consentimento de uso de imagem

    Não se aplica
  • Aprovação, ética e consentimento

    Não se aplica

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    25 Ago 2023
  • Revisado
    29 Mar 2024
  • Aceito
    15 Abr 2024
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