Resumos
Desde os mais remotos tempos pesquisam-se incessantemente drogas que acelerem o processo cicatricial normal. No Hospital de Clínicas da UFPr preconiza-se a limpeza de feridas limpas com solução salina de NaCl a 0,9%. Alguns serviços têm utilizado empiricamente o Agarol® e o Trigliceril® na confecção do curativo após este procedimento. Este estudo objetivou avaliar experimentalmente a evolução de feridas cutâneas, em ratos, produzidas por incisão cirúrgica tratadas com solução de NaCl a 0,9%, Agarol® e Trigliceril® . Utilizou-se 24 ratos, divididos em três grupos: C, controle, submetido à troca diária de curativo após limpeza com solução de NaCl a 0,9%; grupo A com aplicação de Agarol® e grupo T com aplicação de Trigliceril®. Verificou-se que no terceiro e décimo quarto dias de pós-operatório o Agarol<FONT FACE="Symbol">â</FONT> e o Trigliceril<FONT FACE="Symbol">â</FONT> não influenciaram o processo cicatricial. No sétimo dia de pós-operatório verificou-se houve aumento da quantidade de tecido de granulação nos grupos tratados com Agarol<FONT FACE="Symbol">â</FONT> e diminuição da neovascularização no grupo Trigliceril<FONT FACE="Symbol">â</FONT> .
Agarol; Trigliceril; Ferida; Pele; Ratos
For centuries, mankind has been incessantly researching with drugs that could accelerate the normal wound healing process. In the Hospital de Clinicas da Universidade Federal do Paraná, it has been recommended that the cleansing of clean wounds with saline solution of 0.9% sodium chloride, followed by a cover of dry dressing. However, some services have empirically used Agarol and Trigliceril in the confection of dressings after cleansing. This study aimed to evaluate the evolution of cutaneous wounds treated with normal saline, Agarol and Trigliceril in rats. A group of twenty-four rats were submitted to three skin circular incisions of 1.2 cm in diameter on their backs which exposed the subcutaneous tissue. The wounds were cleaned daily with normal saline solution. This group was distributed at random within three groups: Group C, control, received a clean and dry dressing after cleansing; groups A and T received dressings with Agarol and Trigliceril respectively. The evaluation of the wounds was done on the 3rd, 7th and 14th postoperative days by histological and macroscopic studies. The results showed that on the 3rd and 14th days, no evident influence of the drugs on the healing wound was noticed. On 7th postoperative day, Agarol demonstrated to increase the amount of granulation tissue, while Trigliceril appears to decrease the neovasculature during the healing process.
Agarol; Trigliceril; Wound healing; Skin; Rats
EFEITOS DO AGAROLâ E DO TRIGLICERILâ SOBRE A CICATRIZAÇÃO DE PELE. ESTUDO EXPERIMENTAL EM RATOS.**** Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR
Celso Fernando Ribeiro Araújo1** Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR
Zacarias Alves de Souza Filho2** Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR
Fernando Hintz Greca3** Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR
Maria Helena C. P. M. Guerreiro4** Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR
Alessandra de Lima Leite5** Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR
Alexandre Elias Contin Mansur5** Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR
Deborah de Castro Kantor5** Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR
Aissar Eduardo Nassif 5** Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR Trabalho realizado no Instituto de Pesquisas em Cirurgia Égas Penteado Izique e disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR
ARAÚJO, C.F. R.; SOUZA Fo Z.A.; GRECA, F. H.; GUERREIRO, M. H. C. P. M.; LEITE, A. L., MANSUR, A. E. C.; KANTOR, D. C.; NASSIF, A .E. Efeitos do Agarol® e do Trigliceril® sobre a cicatrização de pele: estudo experimental em ratos. Acta Cir.Bras., 13(4):232-7, 1998.
RESUMO: Desde os mais remotos tempos pesquisam-se incessantemente drogas que acelerem o processo cicatricial normal. No Hospital de Clínicas da UFPr preconiza-se a limpeza de feridas limpas com solução salina de NaCl a 0,9%. Alguns serviços têm utilizado empiricamente o Agarol® e o Trigliceril® na confecção do curativo após este procedimento. Este estudo objetivou avaliar experimentalmente a evolução de feridas cutâneas, em ratos, produzidas por incisão cirúrgica tratadas com solução de NaCl a 0,9%, Agarol® e Trigliceril® . Utilizou-se 24 ratos, divididos em três grupos: C, controle, submetido à troca diária de curativo após limpeza com solução de NaCl a 0,9%; grupo A com aplicação de Agarol® e grupo T com aplicação de Trigliceril®. Verificou-se que no terceiro e décimo quarto dias de pós-operatório o Agarol® e o Trigliceril® não influenciaram o processo cicatricial. No sétimo dia de pós-operatório verificou-se houve aumento da quantidade de tecido de granulação nos grupos tratados com Agarol® e diminuição da neovascularização no grupo Trigliceril® .
DESCRITORES: Agarol®. Trigliceril®. Ferida. Pele. Ratos.
INTRODUÇÃO:
A cicatrização é um processo orgânico de restauração da lesão induzida por agressão local.
Desde os mais remotos tempos pesquisam-se incessantemente drogas que acelerem o processo cicatricial normal. A princípio procura-se proteger a ferida de complicações físicas, químicas ou bacteriológicas que possam retardar e até impedir a cicatrização.
Normalmente a proteção das feridas que cicatrizarão por segunda intenção é feita pelo uso de curativos artificiais que, basicamente, consistem de gaze impregnada com substâncias emolientes ou anti-sépticas.
Os antibióticos tópicos são usados para limitar a proliferação de microorganismos, que podem retardar algumas etapas do processo de cicatrização. As soluções anti-sépticas são largamente empregadas em feridas não contaminadas com o intuito de prevenir infeção. Vários estudos têm sido realizados neste sentido procurando encontrar uma substância que reduza os efeitos da contaminação e favoreça o processo cicatricial5.
No Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, como na maioria dos Serviços de Cirurgia, preconiza-se a limpeza dessas feridas com solução salina isotônica de NaCl. Alguns serviços, entretanto, têm utilizado empiricamente o Agarolâ e o Triglicerilâ na confecção do curativo após este procedimento.
O Agarolâ consiste em uma solução composta por três substâncias: fenolftaleína, ágar-ágar e óleo mineral de cadeia leve. Ele é utilizado em nosso meio como laxante.
O Triglicerilâ é um módulo de triglicerídeos de cadeia média utilizado como substituto das gorduras, podendo ser administrado por via oral, sonda nasogástrica ou misturado a outros alimentos. Seus principais componentes são: os ácidos capróico (3%), caprílico (56%), cáprico (36%) e láurico (5%).
OBJETIVO:
Avaliar a evolução de feridas cutâneas produzidas em ratos por incisão cirúrgica, tratadas com Agarolâ e Triglicerilâ .
MÉTODO:
O estudo foi desenvolvido nos laboratórios da Disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental e Instituto de Pesquisa em Cirurgia Égas Penteado Izique do Departamento de Cirurgia e no Departamento de Biologia Celular da Universidade Federal do Paraná.
Seguiu-se as normas da Nomenclatura Anatômica Veterinária (1983) e os Princípios Éticos de Experimentação Animal do International Council for Laboratory Animal Science.
Foram utilizados 25 ratos machos ( Rattus norvegicus, Rodentia Mammalia ), da linhagem Wistar-TECPAR, com peso corporal entre 180 e 230 gramas, fornecidos pelo biotério do Instituto de Tecnologia do Paraná ( TECPAR-PR).
Os animais foram observados, durante dez dias, quanto as condições gerais de saúde, recebendo ração padrão para ratos e água ad libitum.
Divisão dos grupos:
Os animais foram aleatoriamente e probabilisticamente divididos em três grupos.
Grupo C (controle): 9 animais, os quais foram submetidos à troca diária de curativo seco e oclusivo após limpeza com solução de NaCl a 0,9%, por um período de 14 dias.
Grupo A (Agarolâ ): 9 animais, os quais foram submetidos à troca diária de curativo com aplicação de Agarolâ após a limpeza com solução salina isotônica de NaCl, por um período de 14 dias.
Grupo T (Triglicerilâ ): 9 animais, os quais foram submetidos à troca diária de curativo com aplicação de Triglicerilâ após a limpeza com solução salina isotônica de NaCl, por um período de 14 dias.
Anestesia:
Empregou-se anestesia inalatória com éter dietílico.
Procedimento cirúrgico:
Os animais foram imobilizados em decúbito ventral e procedeu-se o arrancamento digital dos pêlos do dorso.
Realizou-se a demarcação com azul de metileno, na região dorsal, de três círculos de 1,2 cm de diâmetro com molde metálico e a 0,5 cm de distância um do outro. Incisou-se a pele e tela subcutânea respeitando as demarcações. Dessa maneira produziu-se três feridas que não foram suturadas. Após a operação os animais foram numerados e mantidos em gaiolas individuais.
Curativos:
A partir do primeiro dia pós-operatório foi realizada, diariamente, limpeza das feridas com solução salina isotônica de NaCl seguida, nos grupos A e T, de aplicação de uma camada de Agarolâ ou Triglicerilâ , suficiente para cobrir totalmente as feridas. Em todos os animais as feridas foram protegidas com curativo oclusivo.
Retirada das peças:
A retirada das peças foi realizada nos 3o, 7o e 14o dias de pós-operatório e a seguir sacrificados.
Após a anestesia, os animais foram imobilizados em decúbito ventral e, em condições assépticas, foram retiradas peças cirúrgicas contendo toda a ferida e margem de pele circunjacente.
Estudo histológico:
As amostras foram imersas em formalina e identificadas de acordo com o dia de sacrifício, grupo de estudo e número do animal e coradas com Hematoxilina-Eosina. Nos cortes histológicos avaliou-se:
1- Grau de epitelização: tabulado em cruzes + a ++++, sendo que + (sem epitelização) e ++++ (epitelização completa)
2- Intensidade da reação inflamatória: mínima, moderada e intensa
3- Tipo de reação inflamatória e célula predominante: aguda (neutrófilo), crônica (linfócito) e agudo-crônica (sem predomínio de neutrófilo ou de linfócito)
4- Presença de neovascularização e tecido de granulação: tabulado em cruzes 0 a ++++ de forma comparativa 0 (sem tecido de granulação ou neovascularização) à ++++ (nos cortes com maior quantidade de tecido de granulação ou neovascularização)
Avaliação macroscópica:
As feridas cirúrgicas foram observadas diariamente quanto ao grau de retração cicatricial e a presença de tecido de granulação.
Análise estatística:
Os resultados foram submetidos à análise estatísticas pelo teste exato de Fisher.
Estabeleceu-se p£ 0,05 ou 5,0% como nível de rejeição da hipótese de nulidade.
RESULTADOS:
Registrou-se a morte de dois animais, sendo um do grupo T no 8o dia P.O. e outro do grupo A, no 12o de P.O., por acidente anestésico.
Macroscopicamente observou-se que no 14o dia P.O. houve maior retração cicatricial no grupo tratado com Triglicerilâ do que nos demais grupos. No grupo tratado com Agarolâ , no 14o P.O., observou-se tecido de granulação mais evidente.
Terceiro dia de pós-operatório:
O estudo histológico mostrou que no 3o dia de pós-operatório não houve diferença entre os grupo submetidos à terapia com Agarolâ , Triglicerilâ e solução salina isotônica de NaCl de acordo com o protocolo de observação estabelecido. A análise estatística não demonstrou diferença significante entre os grupos nos parâmetros avaliados.
Sétimo dia de pós-operatório:
Quanto ao grau de epitelização, o grupo C e T apresentaram +/IV , enquanto no grupo A seis animais apresentaram +/IV e dois ++/IV. Esses dados foram submetidos a análise estatística não havendo diferença significante (p=0,2).
No grupo C, cinco animais tiveram reação inflamatória intensa e quatro, moderada. No grupo T, todos os animais tiveram reação inflamatória intensa. Já no grupo A, sete animais apresentaram reação inflamatória moderada e um, intensa. Comparados, os resultados dos grupos C e A não mostraram diferença significante (p=0,08). Entre os grupos T e C, a reação inflamatória foi intensa no grupo T e moderada no grupo C (p=0,05), como mostra o figura 1.1. Comparando os grupos A e T observou-se que a reação inflamatória é intensa no grupo T e moderada no grupo A (p= 0,0006), como mostra o figura 1.2.
p= 0,05
(p=0,0006)
Quanto ao tipo de reação inflamatória, no grupo C, todos os cortes histológicos apresentaram reação inflamatória do tipo agudo-crônica. No grupo A sete cortes apresentaram reação inflamatória do tipo agudo-crônica e um do tipo crônica. Já no grupo T, três tiveram reação inflamatória aguda e cinco agudo-crônica, como mostra o figura 1.3. Ao comparar-se os grupos entre si não houve diferença significante.
A célula predominante da reação inflamatória em todos os cortes dos grupos foi neutrófilo.
Quanto à neovascularização os grupos C e A foram semelhantes (p=0,2) assim como os grupos A e T. Porém o grupo T teve uma menor neovascularização (cortes com + e ++) do que o grupo C (p=0,03)
Avaliando-se o tecido de granulação, o grupo A apresentou maior quantidade quando comparado ao grupo C (p=0,02). O grupo T teve menor quantidade quando comparado ao grupo C (p=0,05). Quando se compara o grupo A com o grupo T observa-se que todos os animais do grupo A tiveram +++ e ++++ de tecido de granulação em todos os cortes e no grupo T, todos tiveram + e ++ (p=0,00007).
Figura 1.4: Tecido de granulação.
Décimo quarto dia de pós-operatório:
Quanto à epitelização o grupo C teve apenas um animal com epitelização completa, enquanto no grupo A quatro animais apresentaram epitelização completa, sem diferença estatística significante (p=0,07). Comparando-se o grupo C com o grupo T os dois apresentaram resultados semelhantes, ou seja, a maioria não teve epitelização completa (p=0,7). O grupo A comparado ao T também não apresentou diferença estatística significante (p=0,1)
Quanto ao tipo de reação inflamatória, os grupo A, C e T foram semelhantes, tanto quando compara-se A com C (p=0,4), C com T (p=0,7) ou A com T (p=0,5), com predomínio da reação inflamatória do tipo agudo-crônica nos três grupos.
Quanto à intensidade da reação inflamatória todos os grupos apresentaram reação inflamatória mais do que mínima, sem diferença estatística entre os grupos.
Avaliando-se a neovascularização, observou-se na maioria dos cortes histológicos +++ e ++++ em todos os grupos, não havendo diferença estatística significante.
Quanto ao tecido de granulação, todos os grupos apresentaram até ++ na maioria dos cortes, não tendo diferença estatística significante.
DISCUSSÃO:
A cicatrização é um processo biológico dinâmico de reparação a injúrias causadas ao organismo e que compreende três fases: inflamatória, proliferativa e de maturação. Cada fase apresenta uma célula ou substância característica sem a qual o processo não evolui normalmente. Uma grande variedade de fatores pode influenciar em qualquer fase da cicatrização. Os principais fatores locais incluem sangramento, tensão de oxigênio, bactérias; entre os fatores extrínsecos que são conhecidos: técnica cirúrgica, anti-sépticos tópicos e curativos7.
Os hidrogéis promovem condições fisiológicas adequadas para a cicatrização.3 Não são permeáveis às bactérias, deixando entretanto passar substâncias como água, proteínas e metabólitos. Os hidrogéis não são tóxicos e não possuem propriedades irritantes, além de apresentarem propriedades mecânicas de retenção de água e difusão de proteínas. Tem sido indicado em feridas profundas e nas feridas contaminadas e com grande quantidade de exsudato.
O Agarolâ , considerado um hidrogel é usado como laxativo; é composto pela fenolftaleína, ágar-ágar e óleo mineral. No Serviço de Cirurgia Geral do Hospital de Clínicas do Paraná esse produto tem sido utilizado no tratamento de escaras de decúbito.
Na literatura encontram-se descritos os efeitos catárticos da fenolftaleína que consistem em reduzir a absorção líquida dos eletrólitos e de água, além de elevar a permeabilidade da mucosa intestinal. Este último efeito pode decorrer do aumento da permeabilidade das junções celulares e/ou lesão maculosa da superfície mucosa. Os catárticos de contato também liberam prostaglandinas e podem provocar um aumento na concentração de 3,5-monofosfato cíclico de adenosina (AMPcíclico) na mucosa, com o aumento da secreção de eletrólitos, contribuindo para o efeito catártico total4.
O óleo mineral se caracteriza por sua capacidade de promover absorção de grandes quantidades de água e é usado tanto como veículo para substâncias para serem aplicadas na pele como também são usados como laxativos4.
O ágar-ágar é um demulcente, ou seja, pertence a um grupo de compostos de alto peso molecular que formam soluções aquosas com capacidade para aliviar a irritação, especialmente de mucosas ou superfícies lesadas. Quando aplicados localmente em tecidos lesados, os demulcentes tendem a cobrir a superfície e, por meios mecânicos, proteger as células subjacentes contra estímulos resultantes do contato com o ar ou irritantes ambientais4.
O Triglicerilâ é normalmente utilizado como suporte nutricional, porém vem sendo empregado na confecção de curativos em pacientes portadores de escaras de decúbito.
Muitos animais podem ser utilizados como modelo para estudo da cicatrização, porém os mamíferos são os que mais se prestam a estes estudos por assemelharem-se ao homem na deposição de colágeno nas feridas. Os roedores, principalmente os ratos, são os mais usados por terem baixo custo, serem de fácil transporte e obtenção e ocuparem pouco espaço1.
As feridas lineares suturadas são as mais usadas em estudos de cicatrização em pele. Porém, as feridas abertas, que cicatrizam por segunda intenção promovem um tecido cicatricial que permite sua quantificação. Elas permitem o estudo do colágeno, glicosaminoglicanas, células inflamatórias, tecido de granulação, entre outros, envolvidos com o processo cicatricial. Além disso esses componentes podem ser avaliados quando se quer saber a influência de drogas de ação tópica. Este tipo de ferida permite ainda o estudo do grau de contração1.
SOUZA-FILHO, REPKA, APPEL, CANELLO E FONSECA6, em 1997, relataram que feridas infectadas com Staphylococcus aureus em cobaias e tratadas com Agarolâ cicatrizaram mais eficientemente do que as tratadas com solução salina isotônica (SSI). Neste trabalho os autores demonstram que, em cobaias, as feridas tratadas com Agarolâ tiveram formação de tecido de granulação mais rápido do que as tratadas com SSI e, ainda, a secreção purulenta e a hiperemia da ferida desapareceram mais rapidamente do que as tratadas com SSI. Os autores porém não descreveram a avaliação microscópica dessas feridas.
Em virtude do uso destas drogas em escaras de decúbito em pacientes de alguns serviços do Hospital de Clínicas da UFPR, porém sem uma comprovação histológica de sua real eficácia, resolveu-se promover este estudo com a finalidade de avaliar sua ação no processo cicatricial.
No terceiro dia de pós-operatório, o uso do Agarolâ e do Triglicerilâ não mostrou evidências de alterações histológicas no processo de cicatrização. Esses resultados demonstraram que essas drogas não interferem na fase inflamatória. No sétimo dia porém pôde-se observar que as feridas tratadas com Agarolâ tiveram uma reação inflamatória menor do que as tratadas com Triglicerilâ ; estas por sua vez se mostraram semelhantes ao grupo controle. Além disso, no sétimo dia a reação inflamatória do tipo aguda estava presente somente no grupo tratado com Triglicerilâ . O prolongamento da fase inflamatória da cicatrização influencia a fase de fibroplasia, ou seja, quanto mais prolongada a fase inflamatória, mais tarde começa a deposição dos fibroblastos na região. Por outro lado, após instalada, esta fase se continua, independente de fatores externos (principalmente drogas anti-inflamatórias)3. Com base nisso, pode-se afirmar que as feridas tratadas com Trigliceril tiveram seu processo cicatricial atrasado devido a um prolongamento da fase inflamatória; ao décimo quarto dia porém, todos os grupos apresentaram-se semelhantes.
Quando analisa-se o tecido de granulação no sétimo dia, pode-se observar que foi mais evidente no grupo tratado com Agarolâ comparado tanto com o grupo controle como com o grupo T. Ainda, o grupo controle comparado ao grupo T teve maior quantidade de tecido de granulação; ou seja, o Triglicerilâ pareceu condicionar a diminuição da quantidade de tecido de granulação, enquanto que o Agarolâ teve efeito contrário.
A neovascularização no grupo A em relação ao grupo C não apresentou diferença significante, o mesmo ocorreu entre os grupos A e T. Quando se compara entretanto, o grupo T com o grupo C, aquele apresentou menor neovascularização; isto leva a acreditar que o Triglicerilâ retardou o processo de neovascularização.
No décimo quarto dia não foi verificada interferência destas drogas no processo de cicatrização.
CONCLUSÕES:
Com base nos resultados julga-se poder concluir que em feridas cutâneas não suturadas produzidas no rato:
O Agarolâ favorece a maior quantidade de tecido de granulação, no sétimo dia de pós-operatório,
O Triglicerilâ condiciona a redução da neovascularização e o aumento da reação inflamatória no sétimo dia de pós-operatório,
No terceiro e décimo quarto dia de pós-operatório o Agarolâ e o Triglicerilâ não influenciam o processo cicatricial.
ARAÚJO, C.F. R.; SOUZA Fo, Z.A.; GRECA, F. H.; GUERREIRO, M. H. C. P. M.; LEITE, A. L., MANSUR, A. E. C.; KANTOR, D. C.; NASSIF, A. E. Effects of Agarol® and Trigliceril® on cutaneous wound healing: experimental study in rats. Acta Cir.Bras., 13(4):232-7, 1998.
SUMMARY: For centuries, mankind has been incessantly researching with drugs that could accelerate the normal wound healing process. In the Hospital de Clinicas da Universidade Federal do Paraná, it has been recommended that the cleansing of clean wounds with saline solution of 0.9% sodium chloride, followed by a cover of dry dressing. However, some services have empirically used Agarol and Trigliceril in the confection of dressings after cleansing. This study aimed to evaluate the evolution of cutaneous wounds treated with normal saline, Agarol and Trigliceril in rats. A group of twenty-four rats were submitted to three skin circular incisions of 1.2 cm in diameter on their backs which exposed the subcutaneous tissue. The wounds were cleaned daily with normal saline solution. This group was distributed at random within three groups: Group C, control, received a clean and dry dressing after cleansing; groups A and T received dressings with Agarol and Trigliceril respectively. The evaluation of the wounds was done on the 3rd, 7th and 14th postoperative days by histological and macroscopic studies. The results showed that on the 3rd and 14th days, no evident influence of the drugs on the healing wound was noticed. On 7th postoperative day, Agarol demonstrated to increase the amount of granulation tissue, while Trigliceril appears to decrease the neovasculature during the healing process.
SUBJECT HEADINGS: Agarol. Trigliceril. Wound healing. Skin. Rats.
Endereço para correspondência:
Rua Padre Agostinho, 1923 19.andar
80710-000 - CURITIBA-PR
Tel.: (041)362-2028, Ramal 146
Data do recebimento:15.06.98
Data da revisão: 14.07.98
Data da aprovação: 20.08.98
1- Prof. Adjunto da Disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR.
2- Prof. Titular de Clínica Cirúrgica, Chefe do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital de Clínicas. Prof. Livre Docente de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR.
3- Prof. Adjunto e Coordenador da Disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental da UFPR.
4- Prof. Adjunto do Departamento de Biologia Celular da UFPR.
5- Acadêmicos de Medicina da UFPR.
- 1- COHEN, K.; MAST, B. A. Models of wound healing. J. Trauma, 30, (12): 149- 55, 1990.
- 2- HUNT, T. K. - Basic principles of wound healing. J. Trauma, 30(12): 122-8, 1990.
- 3- KICKHÖFEN, B.; WOKALEK, H.; SCHEEL, D.; RUH, H. - Chemical and physical proprieties of a hydrogel wound dressing. Biomaterials, 7(1): 67- 62, 1986.
- 4- RANG, H. P.; DALE, M. M. - Farmacologia. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 596p., 1993.
- 5- RYAN, T. J. - Wound healing in the developing world. Dermatol. Clin., 11(4): 791-800, 1993.
- 6- SOUZA-FILHO, Z. A.; REPKA, J. C.; APPEL, L et al. - Estudo comparativo do ágar com a soluçăo salina isotônica no tratamento de feridas infectadas, em cobaias. Acta. Cir. Bras., 12 (3): 169-73, 1997.
- 7- WALDORF, H; FEWKES, J. - Wound healing. Adv. Dermatol., 10: 77-96, 1995.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
14 Jan 1999 -
Data do Fascículo
Out 1998