Resumos
INTRODUÇÃO: A deiscência de anastomoses é uma das complicações que ocorre em pós-operatórios de cirurgias do aparelho digestivo, aumentando a morbi-mortalidade de pacientes. No cólon, particularmente, essa complicação tem maior gravidade pela presença de fezes dentro da cavidade peritoneal, o que pode levar a peritonites críticas. OBJETIVO: Avaliar a cicatrização de anastomoses colônicas em ratos na vigência de icterícia obstrutiva. MÉTODOS: Foram utilizados 23 ratos divididos em dois grupos. Grupo I (controle): n=10 e Grupo II (obstruído): n=13. No início do experimento foram realizadas ligadura e secção do colédoco. Após sete dias, realizados secção e rafia do cólon distal. No 14º dia de experimento avalia-se condição local da cavidade e resseca-se segmento da anastomose para estudo bioquímico. No grupo II ou Controle (n=10) apenas não se realiza a ligadura de colédoco obedecendo todas as outras condições do grupo I. RESULTADOS: Foi observado maior número de complicações no grupo Obstruído (4/13) do que no Grupo Controle (0/10), mas que foi sem significância estatística e também que a variância dos valores da dosagem de hidroxiprolina no grupo Obstruído foi maior que no grupo Controle mesmo apresentando média de valores semelhantes estatisticamente.
anastomose colônica; icterícia obstrutiva; cicatrização
The objective is evaluation of the effect of obstructive jaundice on healing of colonic anastomosis in rats. It was observed more complications such as anastomoses dehiscences and deaths (4/13) X (0/10) in the obstructed group. There was no statistical difference in the concentrations of hidroxyproline on groups.
Colonic anastomoses; healing; obstructive jaundice
Efeito da icterícia obstrutiva na cicatrização de anastomoses colônicas em ratos1
The effect of the obstructive jaundice on healing of colonic anastomoses in rats
Marcelo Almeida AzevedoI; Omar FéresII; José Joaquim Ribeiro da RochaII; Francisco AprilliII; Antonio Dorival CamposIII; Ricardo dos Santos GarciaIV
IAluno do sexto ano médico da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, FMRP-USP
IIDocente da Disciplina de Coloproctologia do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP
IIIDocente do Departamento de Medicina Social da FMRP-USP
IVPós-graduando do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP
Endereço para correspondência Endereço para correspondência Omar Feres Departamento de Cirurgia e Anatomia, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP, Campus Universitário 14048-990, Ribeirão Preto, SP E-mail:
RESUMO
INTRODUÇÃO: A deiscência de anastomoses é uma das complicações que ocorre em pós-operatórios de cirurgias do aparelho digestivo, aumentando a morbi-mortalidade de pacientes. No cólon, particularmente, essa complicação tem maior gravidade pela presença de fezes dentro da cavidade peritoneal, o que pode levar a peritonites críticas.
OBJETIVO: Avaliar a cicatrização de anastomoses colônicas em ratos na vigência de icterícia obstrutiva.
MÉTODOS: Foram utilizados 23 ratos divididos em dois grupos. Grupo I (controle): n=10 e Grupo II (obstruído): n=13. No início do experimento foram realizadas ligadura e secção do colédoco. Após sete dias, realizados secção e rafia do cólon distal. No 14º dia de experimento avalia-se condição local da cavidade e resseca-se segmento da anastomose para estudo bioquímico. No grupo II ou Controle (n=10) apenas não se realiza a ligadura de colédoco obedecendo todas as outras condições do grupo I.
RESULTADOS: Foi observado maior número de complicações no grupo Obstruído (4/13) do que no Grupo Controle (0/10), mas que foi sem significância estatística e também que a variância dos valores da dosagem de hidroxiprolina no grupo Obstruído foi maior que no grupo Controle mesmo apresentando média de valores semelhantes estatisticamente.
Descritores: anastomose colônica, icterícia obstrutiva, cicatrização. Disponível em URL: http://www.scielo.br/acb
ABSTRACT
The objective is evaluation of the effect of obstructive jaundice on healing of colonic anastomosis in rats. It was observed more complications such as anastomoses dehiscences and deaths (4/13) X (0/10) in the obstructed group. There was no statistical difference in the concentrations of hidroxyproline on groups.
Keywords: Colonic anastomoses, healing, obstructive jaundice.
INTRODUÇÃO
A deiscência de anastomoses colônicas é uma complicação importante em pós-operatórios de cirurgias do aparelho digestivo, aumentando a morbi-mortalidade de pacientes1.
No cólon, particularmente, esta complicação tem maior gravidade pela presença de fezes em cavidade peritoneal levando a peritonites críticas. Em condições ideais, uma anastomose deve ser bem vascularizada, realizada sem tensão e livre de contaminação bacteriana2,3.
Vários são estudos a respeito de condições que possam interferir na freqüência das deiscências de anastomoses colônicas, como fatores inerentes à técnica cirúrgica, condições locais, uso de agentes farmacológicos e condições gerais do paciente4,5.
Certas condições gerais podem prejudicar o processo de cicatrização, tais como hipotensão arterial, hipovolemia, isquemia intestinal, baixa tensão de oxigênio, neoplasia maligna avançada, desnutrição, desidratação, uremia e idade avançada do paciente6,7,8. Existem relatos de que a icterícia pode levar ao aumento das deiscências de parede abdominal, no entanto há poucos relatos quanto à influência da icterícia interferindo nas anastomoses colônicas9,10.
Em algumas situações, é necessário realização de cirurgias com anastomose colônica, em pacientes portadores de icterícia por diversas razões, tais como coledocolitíase, hepatopatia crônica e cirrose hepática. Essa é uma situação angustiante para o cirurgião, motivando-nos a realizar este trabalho para testar a influência da icterícia na cicatrização de anastomoses colônicas.
O objetivo deste estudo científico experimental é avaliar a cicatrização de anastomoses colônicas em ratos na vigência de icterícia obstrutiva (colestase).
MÉTODOS
Foram utilizados 23 ratos machos Wistar distribuídos em dois grupos: Grupo I (controle): 10 ratos e Grupo II (obstruído): 13 ratos.
No início do experimento (D0), foram realizados laparotomia mediana superior, ligadura com Prolene® 5-0 e secção posterior de colédoco, e rafia de parede abdominal com Mononylon® 4-011. No 7º dia de experimento (D7), foram realizados laparotomia mediana inferior, secção segmentar do cólon a 3 cm da reflexão peritonial, confecção de anastomose colônica término-terminal com sutura contínua com fio Prolene® 6-0 e rafia da parede abdominal. Nesse período foram colhidos de dois ml de sangue para dosagem de enzimas hepáticas (TGO, TGP, gamaGT, fosfatase alcalina e bilirrubinas) em ambos os grupos11. No 14º dia de experimento (D14) foi realizado sacrifício de todos os ratos (Grupos I e II), com avaliação macroscópica da anastomose colônica e da cavidade abdominal. Também foi colhido material da anastomose colônica para dosagem de hidroxiprolina. Com a mensuração desta estima-se o colágeno sintetizado pelo fibroblasto, servindo como um parâmetro bioquímico da avaliação cicatricial da anastomose colônica12.
RESULTADOS
Após análise dos resultados, observou-se que no início do experimento (D0) não houve diferença estatística entre os pesos dos Grupos I e II. No entanto, foi observada diferença estatística (p<0,05) quando analisados os valores dos pesos entre os dois grupos no 07º e 14º dias do experimento, quando utilizado teste não-paramétrico (Mann-Whitney) corrigido pelas variâncias (Figura 1).
Nos ratos do grupo II (obstruídos) confirmou-se, no D7, icterícia clinicamente (colúria) e bioquimicamente pelas enzimas ALT, AST, gama GT, fosfatase alcalina e bilirrubinas (p<0,001). No grupo Controle não foi evidenciado alterações significativas de enzimas hepáticas ou colúria.
No grupo Controle, não foram observadas complicações como deiscência de anastomose colônica ou óbitos. Entretanto, no grupo Obstruído foram observadas as seguintes complicações: três deiscências de anastomose colônica, que evoluíram com obstrução colônica, ascite e peritonite e um único óbito. Não foi evidenciada diferença estatística quando utilizado teste não-paramétrico para o número de complicações (p=0,10).
Foi colhido material da anastomose colônica no 14º dia de experimento para avaliação bioquímica pela dosagem de hidroxiprolina de 10 ratos do grupo Controle e 10 ratos do grupo Obstruído. Não foi possível colher material do rato que veio a óbito e de dois ratos evoluíram com deiscência de anastomose colônica. Os valores de hidroxiprolina não apresentaram diferença estatística entre os dois grupos (Figura 2).
DISCUSSÃO
Observou-se, neste estudo, que a icterícia leva a um maior número de complicações totais como: deiscências de anastomose colônica e óbito (4/13 x 0/10) sem valor estatisticamente significativo. Foi também observado que os valores da dosagem de hidroxiprolina no grupo obstruído foi muito menos uniforme, e quando correlacionado com os resultados de que apenas alguns ratos evoluem com mau prognóstico, sugerem que a cicatrização sem complicações provavelmente segue o mesmo processo de síntese de colágeno, que no grupo controle. Estatisticamente foi observada maior variância na dosagem de hidroxiprolina no grupo Obstruído que no Grupo Controle apesar de os valores entre os grupos terem uma mediana sem valor de significância estatística.
CONCLUSÃO
Observou-se que a icterícia é um fator de grande impacto na evolução da cicatrização de anastomose colônica em ratos, pela diferença no número de complicações entre o grupo Controle e Obstruído. Acreditamos que a avaliação histopatológica (última etapa deste projeto) possa acrescentar na elucidação das alterações dos fenômenos reparativos na cicatrização das anastomoses colônicas em ratos icterícia obstrutiva.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
22 Abr 2003 -
Data do Fascículo
2002