A avaliação de problemas de comportamento dentre pré-escolares foi, por muito tempo, considerada controversa em função do medo da patologização das dificuldades inerentes ao desenvolvimento. No entanto, a estratégia do “esperar para ver” não funcionou para a maior parte dos casos11. Briggs-Gowan MJ, Carter A, Bosson-Heenan J, Guyer AE, Horwitz SM. Are infant-toddler social-emotional and behavior problems transiente. J Am Acad child Adolesc Psychiatry. 2006;45:849-58. e, atualmente, diversos estudos evidenciam que os problemas que surgem na primeira infância podem permanecer ao longo da vida quando nenhuma medida é tomada.22. Basten M, Tiemeier H, Althoff R, Schoot RV, Jaddoe VW, Hofman A, et al. The stability of problem behavior across the preschool years: an empirical approach in the general population. J Abnorm Child Psychol. 2016;44:393-409.
O estudo de Santos e Celeri33. Santos RGH, Celeri EHRV. Rastreamento de problemas de saúde mental em crianças pré-escolares, no contexto da atenção básica à saúde. Rev Paul Pediatr. 2018;36:82-90. a respeito do rastreio de problemas de saúde mental em crianças pré-escolares, publicado no presente fascículo da Revista Paulista de Pediatria, foi elaborado com o objetivo de favorecer a avaliação precoce no contexto de atenção básica à saúde. As autoras reforçam a importância da adaptação cultural de instrumentos que já foram desenvolvidos em outros países para facilitar a identificação precoce dos problemas,44. Duarte CS, Bordin IA. Instrumentos de avaliação. Rev Bras Psiquiatr. 2000;22(Suppl 2):55-8. o que leva a um melhor prognóstico.
O Questionário de Capacidades e Dificuldades (SDQ),55. Goodman R. The Strengths and Difficulties Questionnaire: a research note. J Child Psychol Psychiatry. 1997;38:581-6. utilizado pelas autoras,33. Santos RGH, Celeri EHRV. Rastreamento de problemas de saúde mental em crianças pré-escolares, no contexto da atenção básica à saúde. Rev Paul Pediatr. 2018;36:82-90. é reconhecido internacionalmente como um instrumento rápido e eficaz para a triagem de dificuldades apresentadas por crianças com idades entre 2 e 4 anos. São avaliados sintomas emocionais, problemas de conduta, hiperatividade, problemas de relacionamento com pares e comportamento pró-social a partir de 25 itens respondidos em uma escala Likert. Os resultados encontrados por Santos e Celeri33. Santos RGH, Celeri EHRV. Rastreamento de problemas de saúde mental em crianças pré-escolares, no contexto da atenção básica à saúde. Rev Paul Pediatr. 2018;36:82-90. confirmaram que o SDQ permite a identificação dos casos que apresentam problemas dentro de uma faixa “normal”, “limítrofe” ou “anormal” no Brasil. Além disso, indicam que correlações significativas e positivas entre as escalas do SDQ e do Inventário de Comportamentos de Crianças de 1,5 a 5 anos (CBCL/1,5-5),66. Achenbach TM, Rescorla LA. Manual for the ASEBA School-Age Forms & Profiles. Burlington, VT: University of Vermont, Research Center for Children, Youth, & Families; 2000. outro instrumento internacionalmente reconhecido para avaliação de problemas de comportamento de crianças pequenas.
O SDQ pode ser útil para triar casos que necessitam de avaliação completa para verificar a presença de problemas de saúde mental e encaminhamento para intervenção. No entanto, nota-se que a adesão da equipe de atenção básica à saúde é uma questão a ser superada para que o uso desse tipo de instrumento seja efetivo no rastreio de problemas e, consequentemente, na promoção de saúde na população.
REFERÊNCIAS
-
1Briggs-Gowan MJ, Carter A, Bosson-Heenan J, Guyer AE, Horwitz SM. Are infant-toddler social-emotional and behavior problems transiente. J Am Acad child Adolesc Psychiatry. 2006;45:849-58.
-
2Basten M, Tiemeier H, Althoff R, Schoot RV, Jaddoe VW, Hofman A, et al. The stability of problem behavior across the preschool years: an empirical approach in the general population. J Abnorm Child Psychol. 2016;44:393-409.
-
3Santos RGH, Celeri EHRV. Rastreamento de problemas de saúde mental em crianças pré-escolares, no contexto da atenção básica à saúde. Rev Paul Pediatr. 2018;36:82-90.
-
4Duarte CS, Bordin IA. Instrumentos de avaliação. Rev Bras Psiquiatr. 2000;22(Suppl 2):55-8.
-
5Goodman R. The Strengths and Difficulties Questionnaire: a research note. J Child Psychol Psychiatry. 1997;38:581-6.
-
6Achenbach TM, Rescorla LA. Manual for the ASEBA School-Age Forms & Profiles. Burlington, VT: University of Vermont, Research Center for Children, Youth, & Families; 2000.
-
Financiamento: O estudo não recebeu financiamento.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Jan-Mar 2018
Histórico
-
Recebido
27 Set 2017