RESUMO
Trata-se de uma revisão sistemática de artigos, com o objetivo de analisar os aspectos relacionados ao uso e abuso do crack. A análise foi realizada a partir de 126 artigos e seguiu os passos propostos por Minayo (2000): ordenação, classificação dos dados e análise final. Os resultados relacionam principalmente as consequências do uso para a saúde (42,8%). Além destas, foi possivel traçar o perfil do usuário (22,2%), Surgiram estudos sobre a abordagem psicológica e social (13,4%). As ligações da droga com sexo e prostituição (9,52%), crime e violência (3,17%) além das opções de tratamento utilizadas (8,73%). Esta revisão reuniu dados importantes sobre a droga Crack entre 2000- 2010.
PALAVRAS-CHAVE Cocaína Crack; Revisão; Transtornos relacionados ao uso de substâncias
ABSTRACT
This is a systematic review of articles with the aim of analyzing the aspects related to the use and abuse of crack. The analysis was performed from 126 articles and followed the steps proposed by Minayo (2000): sorting, sorting the data and final analysis. The results relate primarily to the consequences of using health (42.8%). Besides these, it was possible to trace the user’s profile (22.2%). Studies appeared on the psychological and social approach (13.4%). The drug leads to sex and prostitution (9.52%), crime and violence (3.17%) in addition to the treatment options used (8.73%). This review gathered important data on the drug Crack between 2000-2010.
KEYWORDS Crack cocaine; Review; Substance Related Disorders
Introdução
No Brasil, o crescimento do consumo e das consequências relacionadas ao uso de crack vem ganhando repercussão em meio à sociedade, principalmente nos veículos de comunicação, devido aos problemas que gera ao usuário e ao meio social em que este é inserido.
Conceitualmente, o crack é uma forma distinta de levar a molécula de cocaína ao cérebro. Os primeiros registros de seu uso no Brasil datam da década de 90. Quando a droga é fumada, as moléculas de cocaína atingem o cérebro quase imediatamente, produzindo um efeito explosivo, descrito pelas pessoas que usam como uma sensação de prazer intenso. A droga é, então, velozmente eliminada do organismo, produzindo uma súbita interrupção da sensação de bem-estar, seguida, imediatamente, por imenso desprazer e enorme vontade de reutilizar a droga. O crack é mais barato que a cocaína pura, facilitando a produção e o acesso a ela. (BRASIL, 2011).
Considerando esse aspecto, os efeitos biológicos do consumo são rápidos e arrasadores. Suas principais consequências físicas incluem doenças pulmonares e cardíacas, sintomas digestivos e alterações na produção e captação de neurotransmissores. Além disso, existem importantes consequências sociais, como as alterações no comportamento, dificuldade de relacionamentos, violência, abandono dos estudos ou emprego, o sexo sem proteção, entre outras.
Destacando o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil realizado nas 108 maiores cidades do país, 0,7% da população adulta relatam já ter feito uso de crack pelo menos uma vez na vida, o que significa um contingente de mais de 380 mil pessoas (BRASIL, 2011).
Por se tratar de uma droga barata, de fácil acesso e que pode provocar rapidamente dependência, os danos ao indivíduo e ao meio social são ainda mais arrasadores. Sendo assim, o abuso desta substância traz consigo gastos ao sistema público de saúde e ao de segurança pública, além de gerar insatisfação da sociedade diante do fenômeno.
Além da disseminação do crack, outras drogas derivadas da cocaína, com efeitos semelhantes, vêm atingindo cidades brasileiras, tornando fundamental buscarmos novos estudos enfocando esta questão. Um exemplo disso é a droga denominada “oxi”, uma forma abreviada de “oxidação”, feito de restos de pasta de cocaína, misturado com quantidades variáveis de gasolina ou querosene e cal virgem, que não necessita de um processo de fabricação complexo. Tornou-se popular por seu preço ser ainda menor que o do crack, sendo seu uso inicialmente restrito ao Estado do Acre no Brasil, mas no ano de 2011, em outras regiões e estados do país (BASTOS, 2011).
Diante deste contexto, o estudo foi norteado com o objetivo de identificar na literatura científica, quais os aspectos relacionados ao uso e abuso do crack por meio de uma revisão sistemática de literatura) no período compreendido entre 2000 a 2010 com ênfase nas relações feitas pelas pesquisas com a droga em questão.
Método
Esse estudo é uma revisão sistemática, que é uma síntese das informações disponíveis, sobre um problema especifico, de forma objetiva e reproduzível, por meio de método científico. Tem como princípio geral a exaustão na busca dos estudos analisados, a seleção justificada desses estudos com inclusão e exclusão explícitos, bem como a avaliação da qualidade metodológica (GALVÃO, 2004).
Para tal realizamos as buscas em 2011, nas bases de dados Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Scielo (Scientific Eletronic Library Online) e realizamos a análise dos dados no final de 2011 e início de 2012.
Procuramos encontrar as relações feitas pelos artigos em relação à droga, por meio de uma abordagem ampla e atual. Considerando o momento atual, onde a imprensa falada, escrita e televisionada reproduz diariamente informações sobre o crack, optamos por fazer essa revisão para discutir os estudos mais atuais e relevantes sobre o tema divulgando assim um conhecimento científico sobre essa droga, saindo do senso comum e mostrando como ela realmente se apresenta na literatura científica.
As buscas seguiram rigorosamente um protocolo previamente estabelecido pelos pesquisadores e atenderam critérios de seleção, sendo os de inclusão: estudos que abordaram a droga crack; publicados nas bases de dados entre o período de 2000 a 2010; publicados em língua inglesa, portuguesa ou espanhola; Os artigos excluídos foram os que abordaram outras drogas que não exclusivamente o crack; os que trataram apenas dos aspectos químicos e farmacológicos da substância; os oriundos de revisões de literatura; os publicados fora da época proposta.
Foram utilizados descritores selecionados nos tesauros das bases e estes termos foram colocados entre aspas com a finalidade de que o retorno dos registros fossem os que possuíam o termo exato, procurando refinar melhor o resultado da busca. As palavras/ descritores utilizados foram: “crack” and “crack cocaine”.
Organização e classificação do material
Realizamos uma classificação preliminar, por meio da leitura do título e resumo, resultando em uma primeira amostra, tendo como base o tema central encontrado nos artigos. Posteriormente, toi realizada uma leitura apurada sendo selecionados somente os artigos que atenderam os critérios de inclusão e exclusão. Depois de selecioná-los a análise foi feita segundo Minayo (2000).
No primeiro momento encontramos 766 artigos. Destes, foram excluídos 618 após leitura do título e resumo. Entre eles, 21 estavam em duplicidade nas bases de dados pesquisadas, 578 trataram de outra droga que não exclusivamente o crack; 35 destes não foram publicados dentro da data pré-estipulada para a revisão, mas mesmo assim apareceram nas buscas e 6 deles foram estudos de revisão de literatura. Dessa forma foram incluídos os que atenderam de forma integral aos critérios de inclusão, totalizando 126 artigos. (Conforme fluxograma 01 - Crack).
Descrição da análise
Uma vez organizados, os 126 artigos selecionados (tabela 2) foram submetidos à leitura exaustiva e posterior análise. Primeiramente, o material foi separado pelas bases consultadas e em seguida organizado por temas centrais mais frequentes nos textos.
A análise de cada artigo foi feita pelas pesquisadoras separadamente, com o objetivo de minimizar o viés da pesquisa. As divergências de opinião foram discutidas posteriormente até chegarmos a um consenso.
A análise dos artigos seguiu os passos operacionais propostos por Minayo (2000), adaptados a revisão sistemática do estudo que incluiu: ordenação, classificação dos dados e análise final. Na ordenação selecionamos os artigos incluídos construindo uma tabela para facilitar a leitura e classificação do material investigado (tabela 1 - classificação temática). A classificação dos artigos toi estabelecida pela identificação das informações relevantes e pertinentes aos critérios de inclusão a partir do conteúdo identificado, definindo categorias. A primeira parte da análise foi realizada a partir dessas categorias estabelecidas fazendo a relação entre elas discutindo-as a partir dos artigos.
A segunda parte da análise toi quantitativa, tendo em vista o número de artigos selecionados em cada base de dados, bem como a frequência em que as categorias apareceram em cada uma delas (tabela 2 - base/classificação temática).
Apresentação dos resultados
A grande maioria dos artigos foi publicada por pesquisadores de outros países e poucos deles brasileiros, evidenciando a carência de estudos sobre o tema no Brasil.
A tabela 1 mostra 6 (seis) temas centrais encontrados, a freqüência em que apareceram e a porcentagem de acordo com O total dos artigos. Dessa forma o tema 1 (um) mostra a interface do crack com crime e com a violência, o 2 (dois) as consequências biológicas e o comprometimento da saúde por meio do abuso do crack. O tema 3 (três) apresenta os principais aspectos sociais, psicológicos, ou culturais envolvidos, o 4 (quatro) as relações com sexo e com a prostituição e o 5 (cinco) traça o perfil do uso e do usuário. Por último o tema 6 (seis) tala das opções de tratamento que existem para esse tipo de problema. A seguir faremos uma descrição mais detalhada dos temas encontrados.
TEMA 1: Ligação interface do crack com o crime e violência;
Os estudos relacionados ao crack apresentados nesse tema abordaram principalmente a venda de pertences dos familiares, assaltos, pequenos furtos, tráfico de drogas em geral e sequestros. A questão da violência aparece em grande parte dos artigos, e é tratada pelos usuários como um dos principais riscos do uso de crack. O usuário pode tornar-se agressivo devido aos efeitos psiquicos da droga e também pelo medo de ficar sem ela. Além disso, os traficantes e o crime organizado exercem controle sobre o usuário e as situações de violência aparecem. Os artigos evidenciam que a violência ocorre principalmente por meio de: agressões verbais, físicas, roubo e tráfico de drogas. Um grande número de usuários de crack já foi preso por infrações relacionadas com a droga (CARVALHO, 2009; BUNGAY, 2010). Dentre os artigos selecionados pela revisão, o tema 1 representou 3,17% dos estudos.
TEMA 2: Abordagem das consequências biológicas e comprometimento da saúde por meio do abuso do crack;
Este tema mostrou que a maior parte das publicações encontradas sobre o crack, tem relação com alterações nocivas na saúde dos usuários, ou seja, 42,8% dos estudos. Nestes artigos, as principais alterações incluem: HIV/AIDS e demais doenças sexualmente transmissíveis, as alterações pulmonares e de todo trato respiratório, as abdominais, as cardiovasculares, o aumento dos níveis séricos de alumínio no sangue, as alterações em nível de sistema nervoso central (SNC) e alterações cognitivas (MANÇANO, 2008; PECHANSKY, 2007; PECHANSKY, 2007; MADDOX, 2005). Estes mesmos estudos ressaltam a importância da prevenção do uso da droga antes que qualquer problema de saúde ocorra. Porém, apesar de grande parte dos usuários apresentarem complicações, poucos procuram por assistência médica (MANÇANO, 2008). Entre as principais causas de morte dos usuários de crack os homicídios e o HIV, sendo que menos de 10% deles morrem por overdose, conforme dados de um estudo de 2006 na cidade de São Paulo (RIBEIRO, 2006), além das demais complicações já citadas acima (MANÇANO, 2008; PECHANSKY, 2007; PECHANSKY, 2007; MADDOX, 2005).
TEMA 3: Repercussão do abuso na sociedade englobando aspectos sociais, psicológicos, ou culturais da droga;
Os autores nesse tema abordam questões de baixas taxas de escolaridade e de nível socioeconômico dos usuários (OLIVEIRA, 2008) bem como as questões psicológicas como as de ansiedade e depressão (ZULE, 2008). A degradação e exclusão social também são enfatizadas como consequência do abuso desta substância e as questões sociais são abordadas relacionadas à violência e ao desemprego, pois o crack compromete o desempenho profissional e as relações interpessoais.
Em relação aos aspectos familiares, parentes e amigos aparecem como principais influenciadores do primeiro consumo. Este estudo evidencia a tendência de uma ligação entre o abuso de crack por mulheres a problemas na dinâmica familiar e desta forma, compromete os relacionamentos, pois passam a maior parte do tempo consumindo a droga, longe das pessoas da família (BOYD, 2002). As questões sociais, psicológicas e culturais podem ser consideradas como fundamentais para prevenção do uso de drogas, mas elas também têm influencia direta no sucesso do tratamento. Esta forma de abordagem esteve presente em 13,4% dos artigos analisados.
TEMA 4: Relação com o sexo e prostituição:
Sexo e prostituição foram abordados em 9,52% das publicações selecionadas pela revisão. Os artigos relatam principalmente o sexo feminino, enfatizando a dependência provocada pelo crack, quando elas “vendem” o próprio corpo em troca de dinheiro ou da própria droga. Essa é uma forma vulnerável de adquirir o vírus HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis (PECHANSKY et al, 2007; RIBEIRO et al, 2006). É importante ressaltar que as pesquisas apontam que metade das mulheres usuárias referiu já ter se prostituído em troca de crack (OLIVEIRA e NAPPO, 2008). Além da prostituição comumente conhecida, existe também a compulsória, em que homens “emprestam” suas esposas a traficantes, ou a outros usuários, em troca de crack. Os estudos evidenciam que as trabalhadoras do sexo que utilizam crack apresentam baixa auto percepção de risco frente ao HIV, além de serem frequentes os relatos de violência sexual e também física contra elas. Sofrem problemas sociais e de saúde com frequência, principalmente relacionados ao HIV (MALTA et al, 2008).
Em relação ao comportamento sexual dos usuários de crack, boa parte dos estudos mostra que pode ser considerado fator de risco para a contaminação pelo HIV (CARVALHO e SEIBEL, 2009; PECHANSKY et al, 2007; RIBEIRO et al, 2006; MALTA, et al, 2008). Os usuários têm acesso às informações sobre HIV/AIDS, porém, não as utilizam para modificar comportamentos de risco que os expõem à possibilidade de contaminação e disseminação do HIV (AZEVEDO et al, 2006). Desta maneira, na análise dos artigos, é possível sugerir que o uso de crack tem influência no comportamento sexual e está diretamente relacionada com o sexo sem proteção.
TEMA 5: Perfil do uso e do usuário do crack;
O perfil do uso e do usuário está descrito em 22,2% dos trabalhos encontrados. Uma das principais características encontradas nesses artigos são o uso de outras drogas antes do início do uso do crack ou o uso concomitante. Entre estas, estiveram presentes primeiramente as lícitas, como o cigarro, o álcool seguidas dos inalantes. Estas foram as drogas mais citadas como as primeiras a serem consumidas, evidenciada pela facilidade de acesso. Já em relação às ilícitas, a maconha foi a primeira droga a ser citada, seguida de diversas outras como: medicamentos psicotrópicos, cocaína aspirada ou endovenosa, chás alucinógenos, opiáceos, LSD-25 e ecstasy estas sem ordem específica de consumo e não utilizadas por todos os usuários (SANCHEZ et al, 2002).
Já em relação ao perfil do usuário mais encontrado nas pesquisas foram homens, jovens, com pouca escolaridade, desempregados ou sem vínculos empregatícios formais (SANCHEZ et al, 2002; OLIVEIRA e NAPPO, 2008).
Em relação ao uso, além do padrão de uso compulsivo, em que os indivíduos fazem uso diário e por múltiplas vezes, deixando de lado os compromissos e a vida social, existe também o uso controlado (OLIVEIRA e NAPPO, 2008). Esse se manifesta pelo uso não diário e comumente conciliado às atividades sociais pré-existentes como trabalho, escola, família, sem comprometê-las de maneira geral, porém a maior parte dos usuários faz uso compulsivo da droga. Outro dado relevante citado nos artigos é a facilidade de acesso à droga, permeado por estratégias de mercado que segundo os autores pode estar diretamente relacionada com o aumento do consumo (OLIVEIRA e NAPPO, 2008).
TEMA 6: Tratamento dos usuários de crack:
As propostas de tratamento encontradas nesse tema envolvem basicamente fármacos, psicoterapia e internação em instituições ou hospitais, estando presente essas modalidades terapêuticas em 8,73% dos artigos. Estudos mostram que a existência de uma assistência humanizada entre os usuários e os profissionais de saúde, bem como o apoio da família, o aproveitamento produtivo do tempo livre durante a internação são, de fato, úteis na recuperação da dependência química (MAGALHÃES et al, 2010). WECHSBERG, et al, 2007, ressaltou a importância dos fatores socioculturais associados a eficácia do tratamento, bem como a aceitação do tratamento, por parte da pessoa com a dependência química. Independente dessa aceitação, o mesmo autor refere que, o sucesso do tratamento depende principalmente da reinserção social. Todos os artigos ressaltam que mesmo após um tratamento as chances de recaída existem, sendo isso um tipo de abordagem que deve estar incluída durante o tratamento.
Classificação dos artigos por base de dados
Em relação à classificação dos artigos por bases de dados (tabela 02), ficou evidente que a maioria dos artigos selecionados foi da base de dados Medline, sendo eles quase 85% do total dos selecionados. Essa quantidade pode ser evidenciada por se tratar de uma base internacional com grande número de artigos indexados. Nesta base foram selecionados artigos de todas as áreas temáticas, sendo que os que trataram das consequências biológicas e para a saúde foram mais incidentes. Esta situação também ocorreu nas bases Lilacs e Scielo, evidenciando que o abuso do crack traz conseqüências graves à saúde dos usuários.
Continuando a discussão da tabela 02, as publicações selecionadas na base Lilacs foram 7,1% do total. Nessa base, não foram encontrados artigos relacionados ao tema 01 (uso de crack com O crime e/ou violência). Já os demais temas se equivaleram entre si em relação à quantidade.
Na base Scielo, os artigos selecionados totalizaram 7,9% do total, indexados em periódicos brasileiros. Os que trataram sobre os aspectos sociais, psicológicos, ou culturais envolvidos ao uso de crack bem como os sobre tratamento da dependência química, provocada por esta droga, não apareceram na seleção. Isso ressalta a importância de novas pesquisas com destaque em todos esses enfoques no Brasil.
Discussão
Este estudo trouxe dados atuais e relevantes sobre o crack, revelando o tamanho dos prejuízos físicos, sociais e psíquicos que vêm associados com a dependência da droga. Nossos resultados apontaram para o abuso do crack como um problema complexo que requer tratamento amplo, com a necessidade de uma abordagem multiprofissional envolvendo vários setores da sociedade.
A opção metodológica de abordar somente o crack, visando excluir os artigos que tratassem de outra foi intencional considerando o momento atual, em que essa droga ganha um espaço de discussão nunca identificado, nas suas múltiplas interfaces.
Podemos afirmar que existe uma carência de estudos sobre a relação do crack com o crime e a violência bem como sobre tratamento da dependência química provocada por esta droga, que foram as áreas temáticas menos frequentes. Em contrapartida são ricas as publicações sobre as consequências biológicas e o comprometimento da saúde provocado por esta droga. É explícita a abordagem da droga relacionada aos efeitos nocivos à saúde e as relações feitas com o adoecimento dos indivíduos. Apareceu como principal doença associada o HIV/AIDS, ressaltando o efeito devastador que a droga traz como consequência ao organismo. Vale ressaltar que o abuso de drogas tem influência no comportamento sexual e está diretamente relacionada com o sexo sem proteção.
A abordagem psicológica e social dos sujeitos estudados nesses artigos mostrou a exclusão, o desemprego e problemas familiares como fatores que favorecem o uso. A categorias analisadas mostraram uma inter-relação entre si, podendo sugerir que o abuso de drogas, mais precisamente de crack é uma questão complexa, que envolve o meio biológico, social, e psicológico das pessoas com essa dificuldade o que impõem ao meio científico a necessidade de estudos mais apurados sobre essa droga.
Outro destaque deve-se a dificuldade na prevenção e controle do abuso, que pode estar relacionada. ao uso de múltiplas drogas, incluindo as lícitas associadas ao crack. Questões psicossociais como estresse, depressão, desemprego e desigualdade social, geraram um novo cenário, no qual a questão do abuso de drogas torna-se cada dia um problema mais complexo de ser encarado, principalmente sob a ótica da saúde.
É importante também salientar que são necessárias novas pesquisas sobre o crack no Brasil, com novos enfoques e principalmente relacionadas à prevenção, tema pouco discutido nas publicações encontradas.
Dessa forma, acreditamos que outros estudos possam fornecer subsídios para elaboração de novas e constantes políticas públicas de prevenção junto à população, bem como salientar que este problema deve ser enfrentado com o enfoque mais direcionado a saúde pública, desvinculando-o da segurança pública, que é extremamente Importante, por si só não atinge o problema na sua integralidade.
Considerações finais
Todos os temas enfocados nesse artigo, foram determinantes na construção dessa revisão para a partir daqui se criar um corpus de conhecimento sistematizado sobre a droga crack. Com isso reunimos simultaneamente, dados importantes dos últimos dez anos, época que coincide com o aumento do uso no Brasil. Nosso objetivo não foi o de esgotar todas as informações existentes mas sim de reunir aspectos determinantes sobre como estão sendo publicados artigos científicos desta droga.
A forma de abordagem utilizada foi apenas um recorte do que existe na literatura, portanto ressalta-se a importância da realização de novas pesquisas que enfoquem principalmente aspectos referentes a prevenção, tema que pouco aparece nessa revisão. O conhecimento gerado pode servir de suporte teórico, pois contribui para uma reflexão acerca dos temas mais frequentes encontrados. Fica evidente na nossa busca que a integralidade, a multiprofissionalização e a intersetorialidade entre os setores políticos e sociais, pode ampliar de forma significativa, a atenção dirigida a essas pessoas usuárias, que necessitam de uma gama de cuidados e atenção.
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Suporte financeiro: não houve
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
04 Ago 2023 -
Data do Fascículo
Dez 2013
Histórico
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Recebido
01 Abr 2013 -
Aceito
01 Maio 2013