APRESENTAÇÃO INTRODUCTION
É com muito prazer que anunciamos, a partir deste número 48(1), uma versão eletrônica da nossa revista, que fará parte da coleção SciELO Brasil (The Scientific Electronic Library Online). Num primeiro momento, estarão disponíveis, nesse portal, os textos completos deste e também dos volumes 47(1) e 47(2).
Este volume se constitui de dez artigos, todos preocupados com questões de ensino-aprendizagem, destacando ora o aluno, ora o professor em sua formação inicial ou continuada.
Ainda que de forma indireta, o primeiro artigo, de autoria de René Strehler (UnB), em torno do estudo dos fraseologismos portugueses, em que predominam substantivos que designam partes do corpo - principalmente nos fraseologismos dos tipos expressão e sintagma -, aborda a aprendizagem de línguas, materna ou estrangeira, pois, como conclui a autora, "não se aprende apenas uma língua, aprende-se igualmente um código cultural" e os fraseologismos apontam para aspectos culturais que incidem nas inovações lexicais.
O segundo artigo, de Maria Sílvia Cintra Martins (UFSCar), apoiado, principalmente, em pressupostos teóricos oriundos de Bakhtin, Vygotsky e Culioli, apresenta os resultados de um estudo sobre os gêneros, aprofundando-se na diferenciação entre gêneros primários e gêneros secundários, ainda pouco elucidada, segundo a autora. O artigo conclui que "as construções sintático-semânticas presentes em cada texto denunciam, continuamente, a presença de novos gêneros em construção". Assim, se é possível prever a passagem dos gêneros primários para os gêneros secundários, ela não se dá de forma simples na prática cotidiana dos gêneros do discurso: a presença de elementos dos gêneros primários podem-se fazer presentes nos secundários, de tal forma que "a própria determinação do gênero em uso pode tornar-se problemática.
Simone T. Hashiguti (UFU) trata do que ela denomina a patologização da educação, apresentando um interessante estudo sobre a interferência do discurso médico no discurso pedagógico. Com base na teoria materialista do discurso (Pêcheux, Foucault), a autora aponta para o uso frequente de termos como "diagnóstico", "fracos", "piores", "deficiência" etc., coloca o aluno na posição discursiva de paciente e o professor na posição de médico: de posse de um diagnóstico, o professor procurará "curar" o seu aluno fraco, que incorre, com frequência, em erros, por vezes, "crônicos". Conclui a autora que "falar de educação pelo discurso médico significa reafirmar o funcionamento disciplinar, a interconstitutividade hospital-escola e o funcionamento de exclusão".
O quarto artigo, de autoria de Rosane Rocha Pessoa (UFG), dá ênfase ao livro didático na formação de professores. Além de uma rápida resenha sobre o assunto, o texto traz a fala de alunos de inglês de diferentes períodos do curso de Letras, cujos resultados foram analisados e categorizados em argumentos positivos e negativos, experiências positivas e negativas com relação à utilização do livro didático em cursos de língua inglesa. Conclui que o olhar docente se assemelha ao olhar discente no que diz respeito ao posicionamento favorável com relação ao uso do livro didático: "o livro deve ser um guia e deve ser utilizado em níveis iniciantes". Entretanto, afirma que os dados apontam para o fato de que alunos e professores ainda estão muito presos à concepção técnica de ensino de línguas e, portanto, à manutenção da proletarização docente, para a qual o livro didático colabora. Entretanto, parece ser possível vislumbrar uma luz no final do túnel...
Doris de Almeida Soares (doutoranda na PUC-RJ) destaca a produção escrita, tratando dos textos argumentativos em língua portuguesa, a partir, principalmente, dos aportes teóricos da análise semiolinguística de Charaudeau. Depois de uma interessante discussão teórica, apresenta a análise de um texto escrito por um aluno de Letras em uma universidade federal no Rio de Janeiro, intitulado "Vestibular dos preconceitos", enfatizando principalmente a concessão. O trabalho com os textos argumentativos e a elucidação de importantes elementos que os constituem (como a concessão) se mostra de grande relevância para a melhoria do desempenho do aluno na sua produção escrita.
O artigo seguinte, "A linguagem de sala de aula na formação do professor de língua estrangeira", de Fernanda L. Ortale (USP) e Magali S. Duran (Unesp-São José do Rio Preto), apresenta a análise de miniaulas ministradas por professores de língua estrangeira em formação, bem como seus resultados. Realiza "um inventário das falas típicas de sala de aula elaboradas a partir das dificuldades observadas no corpus de estudo". Aponta para a importância de propor, para os professores em formação, o exercício de miniaulas em que o léxico específico da prática profissional seria utilizado, tornando-os, assim, profissionalmente mais proficientes na língua estrangeira.
Bastante original é também o texto de Claudia Rosa Riolfi (USP) e Emary Andrade (USP) a respeito das funções do orientador na escrita do texto acadêmico (dissertação ou tese). Respaldado pela psicanálise de orientação lacaniana, o artigo parte da análise de rascunhos produzidos por duas informantes ao longo de 36 meses de trabalho, material esse que contém as correções do orientador. Depreendem-se, dessa análise, cinco funções exercidas pelo orientador no ensino do texto acadêmico, o que aponta para a complexidade do ato de escrever, exigindo de quem produz a necessidade ou a possibilidade de inúmeras releituras, revisões, reescritas e, do orientador, um acompanhamento que pode chegar a um trabalho de coautoria.
O texto de Ademilde Félix (Unicamp) discute o papel da interação no processo de ensino-aprendizagem de alunos surdos em uma escola denominada inclusiva. Mostra as estratégias usadas pelos alunos surdos entre si e com o professor, para compreenderem as tarefas e a explicação do professor. A falta de ambiente propício, de preparação do professor que desconhece a língua brasileira de sinais, se não impossibilita a comunicação, dificulta-a, apesar de, na escola locus da pesquisa, haver uma sala destinada a um trabalho com os surdos, além de uma pedagoga que sabe Libras, para que os alunos possam dirimir suas dúvidas. Na conclusão, o artigo sugere a necessidade de professores surdos e especialistas participarem no "desenvolvimento e no trabalho com um currículo adequado aos surdos", permitindo, assim, que eles tenham condições necessárias para a aprendizagem.
O nono artigo, de Elizabeth Maria da Silva (UFCG) e Denise Lino de Araújo (UFCG), traz à baila a redação no vestibular, mostrando o efeito retroativo da noção de gêneros textuais que fundamenta o exame. O objetivo do artigo é descrever e analisar a prova de redação no vestibular 2007 de Campina Grande (PB), observar se essa proposta teve efeito retroativo em candidatos que prestaram esse vestibular. A pesquisa, que segue a abordagem reflexiva, aponta para efeitos positivos no ensino médio, embora a prática dos professores ainda sejam influenciadas pelo modelo anterior. Propõe-se, então, um estudo sobre "a formação e prática escolar dos professores dos candidatos que participaram da sessão reflexiva" como forma de ampliar a análise efetuada.
Finalmente, Isabel Gretel M. E. Fernández (USP) e Paulo Augusto A. Seemann (mestrando da USP) apresentam um estudo sobre as mudanças linguísticas do espanhol escrito em falas informais por Internet. O artigo propõe que os chats, bem como as demais formas de comunicação por Internet, sejam vistos como gêneros textuais específicos, a serem estudados e ensinados em sala de aula, marcando as diferenças lexicais e ortográficas na comparação com os gêneros textuais da escrita convencional, inclusive nos cursos de língua estrangeira. É preciso considerar os contextos específicos e o pacto tácito entre os usuários que buscam uma adequação do registro de língua à situação de comunicação, o que acaba funcionando como uma forma de integração num grupo específico de internautas participantes de salas de chats.
Como é possível perceber, este número, embora não seja temático, apresenta uma forte preocupação com a formação de professores, subárea extremamente importante no âmbito da Linguística Aplicada e da Educação, com fortes incidências sobre o ensino-aprendizagem da escrita tanto em língua portuguesa quanto em língua estrangeira. A variedade de instituições e estados representados pelos autores, bem como de vertentes teóricas, continua a caracterizar o perfil do periódico e a explicar o grande afluxo de autores que submetem seus textos para publicação.
Matilde V. Scaramucci
Maria José R. F. Coracini
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
27 Jul 2009 -
Data do Fascículo
Jun 2009