Resumo
Objetivo
Elaborar e validar um Subconjunto terminológico da Classificação Internacional para Prática de Enfermagem (CIPE®) para a pessoa alcoolista.
Métodos
Pesquisa descritiva realizada nas seguintes etapas: 1) Identificação dos sinais e sintomas do alcoolismo por meio de análise de prontuários de pessoas com síndrome de dependência alcoólica em seguimento ambulatorial e pela análise de documentos oficiais sobre o alcoolismo; 2) Mapeamento cruzado com os termos do eixo FOCO da CIPE® 2017; 3) Construção dos enunciados diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem e construção das definições operacionais; 4) Validação dos enunciados diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem e 5) Organização e estruturação do Subconjunto Terminológico CIPE® para pessoa alcoolista segundo o modelo teórico de Betty Neuman.
Resultados
Foram validados pelos enfermeiros especialistas 28 diagnósticos e resultados de enfermagem e 211 intervenções de enfermagem para o cuidado à pessoa alcoolista, os quais foram estruturados segundo o Modelo Teórico de Betty Neuman.
Conclusão
O subconjunto terminológico CIPE® elaborado poderá auxiliar no pensamento crítico e na tomada de decisão, propiciando um cuidado baseado em evidências e linguagem de enfermagem unificada.
Alcoolismo; Processo de enfermagem; Diagnóstico de enfermagem; Cuidados de enfermagem; Terminologia padronizada em enfermagem
Resumen
Objetivo
Elaborar y validar un subconjunto terminológico de la Clasificación Internacional de la Práctica de Enfermería (CIPE®) para la persona alcohólica.
Métodos
Investigación descriptiva realizada en las siguientes etapas: 1) Identificación de los signos y síntomas del alcoholismo mediante el análisis de historias clínicas de personas con síndrome de dependencia alcohólica bajo seguimiento ambulatorio y mediante el análisis de documentos oficiales sobre alcoholismo. 2) Mapeo cruzado con los términos del eje Foco de la CIPE® 2017. 3) Construcción de los enunciados diagnósticos, resultados e intervenciones de enfermería y construcción de las definiciones operativas. 4) Validación de los enunciados diagnósticos, resultados e intervenciones de enfermería. 5) Organización y estructuración del Subconjunto Terminológico CIPE® para la persona alcohólica según el modelo teórico de Betty Neuman.
Resultados
Los enfermeros especialistas validaron 28 diagnósticos y resultados de enfermería y 211 intervenciones de enfermería para el cuidado de la persona alcohólica, que fueron estructurados según el modelo teórico de Betty Neuman.
Conclusión
El subconjunto terminológico CIPE® elaborado podrá ayudar al pensamiento crítico y en la toma de decisiones, y así proporcionar un cuidado basado en evidencias y lenguaje de enfermería unificado.
Alcoolismo; Proceso de enfermería; Diagnóstico de enfermería; Cuidados de enfermeira; Terminología normalizada de enfermería
Abstract
Objective
To develop and validate a terminological subset of the International Classification for Nursing Practice (ICNP®) for alcoholics.
Methods
Descriptive study conducted in the following steps: 1) Identification of the signs and symptoms of alcoholism through analysis of medical records of people with alcohol dependence syndrome in outpatient follow-up and analysis of official documents on alcoholism; 2) Cross-mapping with terms of the Focus axis of the ICNP® 2017; 3) Construction of statements of nursing diagnoses, outcomes and interventions and operational definitions; 4) Validation of the statements of nursing diagnoses, outcomes and interventions; and 5) Organization and structuring of the ICNP® terminological subset for alcoholics according to Betty Neuman’s Theoretical Model.
Results
Twenty-eight nursing diagnoses and outcomes and 211 nursing interventions for the care of alcoholics were validated by specialist nurses and structured according to Betty Neuman’s Theoretical Model.
Conclusion
The developed ICNP® terminology subset can assist in critical thinking and decision making and provide evidence-based care and a unified nursing language.
Alcoholism; Nursing process; Nursing diagnosis; Nursing care; Standardized nursing terminology
Introdução
O alcoolismo configura-se como um dos maiores problemas de saúde pública tanto no cenário internacional como no Brasil.(11. Valentim OM, Santos C, Ribeiro JL, Mota SL, Seabra PR. People with alcohol dependence syndrome: perception of the causes. Rol Enferm. 2018; 41 (11/12 Supl):181-8.) A Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou em 2018 o relatório sobre o consumo de álcool no mundo e também alguns avanços alcançados pelas políticas de Redução do Uso Abusivo do Álcool adotadas por diversos países.(22. World Health Association (WHO). Global status report on alcohol and health. 2018. Geneva: WHO; 2018.)
Baseado nisto, o Ministério da Saúde propõe, como estratégia principal, ações voltadas para redução de danos, considerando a singularidade do sujeito, visando diminuir as vulnerabilidades social, individual e comunitária.(33. Brasil. Ministério da Saúde. Guia estratégico para o cuidado de pessoas com necessidades relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas: guia AD. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2015.) Nesse contexto, os enfermeiros assumem um papel importante no cuidado e reabilitação desses indivíduos(44. Tavares ML, Reinaldo AM, Silveira BV. Dimensões teórico-práticas na formação do enfermeiro: crenças e atitudes relacionadas ao alcoolismo. SMAD Rev Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. 2017;13(3):148–55.) sendo necessário que estejam preparados para oferecer assistência qualificada.
Dessa forma, a fim de instrumentalizar a sua atuação, o enfermeiro dispõe do Processo de Enfermagem (PE), que é organizado em cinco etapas inter-relacionadas e interdependentes que organizam as suas ações de maneira sistematizada.(55. Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução nº 358, de 15 de outubro de 2009. Sistematização da Assistência de Enfermagem e a Implementação do Processo de Enfermagem. Brasília (DF): COFEN; 2009 [citado 2017 Nov 10]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html
http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-35...
) Para implementação do PE é necessário o uso de sistemas de classificação que representem uma linguagem unificada e que possam documentar a prática da assistência de enfermagem. Entre as taxonomias, a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®), aprovada pelo Conselho Internacional de Enfermeiros (CIE), é um marco unificador da linguagem, ao instrumentalizar a documentação da prática clínica do enfermeiro, possibilitando maior visibilidade às ações de enfermagem, além de fornecer dados de enfermagem para os sistemas de informação.(66. International Council of Nurses (ICN). Guidelines for ICNP® Catalogue International Council of Nurses – ICN. Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem – CIPE® versão 1.0. São Paulo (SP): Algol Editora; 2007. p. 17–8.)
Para tal, o CIE tem estimulado a construção de Subconjuntos Terminológicos ou Catálogos CIPE®, os quais são conjuntos de enunciados de diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem direcionados a determinada condição de saúde ou contexto de cuidados e fenômenos de enfermagem com objetivo de facilitar a utilização da classificação, apoiando o enfermeiro na sua tomada de decisão por meio de uma linguagem padronizada e que possa descrever a prática de enfermagem.(66. International Council of Nurses (ICN). Guidelines for ICNP® Catalogue International Council of Nurses – ICN. Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem – CIPE® versão 1.0. São Paulo (SP): Algol Editora; 2007. p. 17–8.,77. Carvalho CM, Cubas MR, Nóbrega MM. Método brasileiro para desenvolvimento de subconjuntos terminológicos da CIPE®: limites e potencialidades. Rev Bras Enferm. 2017;70(2):449–54.) Frente ao exposto, o objetivo deste estudo foi elaborar e validar um subconjunto terminológico CIPE® para pessoa alcoolista.
Métodos
Trata-se de um estudo descritivo que seguiu as etapas propostas por Nóbrega et al.(77. Carvalho CM, Cubas MR, Nóbrega MM. Método brasileiro para desenvolvimento de subconjuntos terminológicos da CIPE®: limites e potencialidades. Rev Bras Enferm. 2017;70(2):449–54.) para elaboração de Subconjuntos terminológicos CIPE®. O estudo foi desenvolvido em cinco etapas: 1) Identificação dos sinais e sintomas do alcoolismo; 2) Mapeamento cruzado dos termos identificados com os termos do eixo FOCO da CIPE®2017; 3) Construção dos enunciados diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem (DE/RE/IE) e das definições operacionais; 4) Validação dos DE/RE/IE; 5) Organização e estruturação do Subconjunto.
A primeira etapa foi realizada por três pesquisadoras treinadas e consistiu em buscar sinais e sintomas do alcoolismo em prontuários de usuários em seguimento ambulatorial e também foram revisados documentos oficiais relacionados ao alcoolismo. Os termos identificados foram organizados em planilha do Microsoft Excel 2010® em ordem alfabética.
Na segunda etapa, os termos identificados foram processados por mapeamento cruzado, ou seja, analisados e comparados manualmente com os termos do eixo foco da CIPE®.
Na terceira etapa, foram construídos os enunciados de diagnósticos e os resultados de enfermagem, segundo a CIE e da norma ISO 18.104:2014(7).(88. International Organization for Standardization (ISO). Health informatics: Categorial structures for representation of nursing diagnoss and nursing actions in terminological systems: ISO 18.104:2014. Geneva: ISO; 2014.) Para cada diagnóstico e resultado de enfermagem, foi elaborada a definição operacional.
Na quarta etapa, realizou-se a validação de conteúdo dos diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem por enfermeiros peritos, os quais foram selecionados a partir dos seguintes critérios: enfermeiro; experiência clínica de, no mínimo, três anos nas áreas de saúde mental com foco em alcoolistas e titulação mínima de especialização em saúde mental.
Para o cálculo da amostra, considerou-se um nível de confiança de 80%, com erro amostral de 15%, obtendo-se 27 peritos.(99. Galindo-Neto NM, Lima MB, Barros LM, Santos SC, Caetano JÁ. Construção e validação de vídeo educativo para surdos acerca da ressuscitação cardiopulmonar. Rev Lat Am Enfermagem. 2019;27:e3130.) Foram enviados aos enfermeiros: carta-convite; Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e instrumentos no formato online pelo Google®. Na validação dos diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem, os enfermeiros peritos emitiram concordância assinalando com um “X” numa escala psicométrica do tipo “Likert” contendo: 1) Nada pertinente; 2) Pouco pertinente; 3) Muito pertinente e 4) Muitíssimo pertinente”. Após, os dados foram tabulados no programa Microsoft Excel® 2010. Para cada diagnóstico e resultado de enfermagem validado, foram construídas as intervenções de enfermagem que também passaram pelo mesmo processo de validação por enfermeiros peritos. Na análise dos dados, foi utilizado o método de Índice de Validade de Conteúdo (IVC) e considerando-se validados os diagnósticos, resultados e intervenções que obtiveram concordância de, no mínimo, IVC ≥ 0.80.
Na quinta etapa, referente à organização e à estruturação, os diagnósticos foram classificados segundo o Modelo teórico de Betty Neuman e categorizados segundo os agentes estressores em: intrapessoais; interpessoais e extrapessoais.(1010. Diniz JS, Batista KM, Luciano LS, Fioresi M, Amorim MH, Bringuente ME. Intervenção de enfermagem baseada na teoria de Neuman mediada por jogo educativo. Acta Paul Enferm. 2019;32(6):600–7.)
O estudo atendeu a Resolução nº 466/2012,(1111. Brasil. Conselho Nacional de Saúde (CNS). Resolução n° 466, de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e Normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF): CNS; 2012. [citado 2019 Jul 11].Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf
https://conselho.saude.gov.br/resolucoes...
)do Conselho Nacional de Saúde, a qual normatiza a pesquisa com seres humanos, sendo aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do HUCAM-UFES sob CAAE 91900218.7.0000.5071.
Resultados
Na primeira etapa, foram identificados 673 termos relacionados aos sinais e sintomas do alcoolismo. Após o processo de normalização, ou seja, correções gráficas - gênero, número, grau e uniformização com os termos da CIPE® 2017, restaram 493 termos. A planilha com os termos comuns foi agrupada, segundo as semelhanças das alterações clínicas detectadas no alcoolista e os conceitos explanados na literatura, resultando em 71 termos com suas frequências. Em seguida realizamos o mapeamento cruzado com os termos do eixo foco da CIPE® 2017, sendo eliminadas as repetições e sinônimos, restando 29 termos.
Os peritos da primeira e segunda etapas, eram mulheres (81,4% – 88,8%), residiam na região Sudeste (59,2% - 66,6%) e formaram em instituição pública (70,3% – 85,1%), predominando enfermeiros com doutorado (51,8% - 59,2%). Acerca do conhecimento das classificações de enfermagem durante a graduação, a NANDA-I foi a mais estudada (62,9% -74,0%) seguida pela CIPE® (14,8% - 7,4%).
Após o processo de validação de conteúdo, foram validados os enunciados de: 28 diagnósticos, 28 resultados e 211 intervenções de enfermagem. A organização dos enunciados no subconjunto terminológico CIPE® seguiu as recomendações do CIE para os subconjuntos terminológicos CIPE® e estão distribuídos de acordo com os agentes estressores da Teoria de Betty Neuman apresentados no quadro 1
Discussão
O Modelo Teórico adotado neste estudo considera a pessoa como um sistema aberto que está continuamente interagindo com forças internas e externas em constante mudança no ambiente, movendo-se, o tempo todo, para um estado dinâmico de equilíbrio, harmonia ou bem-estar, ou, ainda, em direção a uma doença em vários graus. Assim, a estabilidade do sistema se fundamenta nas reações do paciente ao estresse por meio da interação de cinco variáveis: fisiológicas, psicológicas, socioculturais, de desenvolvimento e espirituais.(1010. Diniz JS, Batista KM, Luciano LS, Fioresi M, Amorim MH, Bringuente ME. Intervenção de enfermagem baseada na teoria de Neuman mediada por jogo educativo. Acta Paul Enferm. 2019;32(6):600–7.) Os componentes do sistema de Neuman são os estressores e a reação a esses estressores. A teoria classifica os estressores em intrapessoais (são as forças que ocorrem dentro de cada indivíduo, como a raiva e os conflitos internos), interpessoais (são os que ocorrem entre indivíduos decorrentes do relacionamento entre pessoas) e os extrapessoais (aqueles que ocorrem fora do indivíduo, como o desemprego ou a incapacidade de executar tarefas).(1010. Diniz JS, Batista KM, Luciano LS, Fioresi M, Amorim MH, Bringuente ME. Intervenção de enfermagem baseada na teoria de Neuman mediada por jogo educativo. Acta Paul Enferm. 2019;32(6):600–7.) O subconjunto terminológico CIPE® para pessoa alcoolista contempla diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem validados e estruturados de acordo com agentes estressores do modelo teórico adotado.
É importante destacar que, a etapa de validação é a que apresenta maior fragilidade pois até o momento, não existe nenhuma proposta metodológica publicada pelo ICN para realização da validação, o que permite que aqueles que desejam realizar tal etapa se dediquem a formular propostas com base em processos oriundos de outras classificações do domínio da enfermagem.(77. Carvalho CM, Cubas MR, Nóbrega MM. Método brasileiro para desenvolvimento de subconjuntos terminológicos da CIPE®: limites e potencialidades. Rev Bras Enferm. 2017;70(2):449–54.)
No presente estudo, foram validados 28 dos 32 diagnósticos e resultados; bem como 211 das 219 intervenções propostas. Tal fato denota a importância da revisão de prontuários e da literatura sobre a temática realizada, a fim de construir um amplo panorama dos sinais e sintomas do alcoolismo.
Entre os diagnósticos de enfermagem, especificamente considerando os estressores intrapessoais, o diagnóstico “Autocuidado Prejudicado” foi validado com unanimidade pelos especialistas (IVC = 100%) e se caracteriza pelas condições do indivíduo em cuidar daquilo que é preciso para se manter, assegurar a sobrevivência e lidar com necessidades básicas, individuais e essenciais, e as atividades da vida diária.(1111. Brasil. Conselho Nacional de Saúde (CNS). Resolução n° 466, de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e Normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF): CNS; 2012. [citado 2019 Jul 11].Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf
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12. Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE): versão 2017 [Organizadora: Telma Ribeiro Garcia]. Porto Alegre: Artmed; 2018.-1313. Silva NK, Carvalho CM, Magalhães JM, Carvalho JA Junior, Sousa BV, Moreira WC. Ações do enfermeiro na atenção básica para prevenção do suicídio. SMAD Rev Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. 2017;13(2):71–7.) No alcoolismo, percebe-se que as pessoas apresentam tendência para negligenciar seu autocuidado. Assim, para alcançar um resultado satisfatório, as intervenções de enfermagem deverão servir para encorajar o indivíduo a buscar estratégias de comportamento de busca de saúde. É importante considerar que a adoção de estratégias pelo profissional de enfermagem permitirá o equilíbrio do indivíduo considerando a sua singularidade ao controlar o agente estressor que foi identificado na primeira etapa do processo de enfermagem.
Outro diagnóstico de enfermagem que merece destaque é “Ideação Suicida” e “Tentativa de Suicídio”, validados com IVC de 0,88 e 0,96, respectivamente. É importante ressaltar que tentativas de suicídio devem ser consideradas como sinal de alerta para o profissional, devendo os serviços estarem estruturados e capazes de promover uma rede de apoio. Nesse contexto, se faz necessário que o enfermeiro esteja capacitado a identificar os sinais e sintomas do paciente, para promover um atendimento direcionado e com eficácia do tratamento. Estudo realizado com enfermeiros na atenção básica com objetivo de descrever as suas ações para prevenção do suicídio e discutir o processo de trabalho voltado para a prevenção revelou que as ações de prevenção necessitam ser inseridas no processo de trabalho de enfermeiros.(1313. Silva NK, Carvalho CM, Magalhães JM, Carvalho JA Junior, Sousa BV, Moreira WC. Ações do enfermeiro na atenção básica para prevenção do suicídio. SMAD Rev Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. 2017;13(2):71–7.) O consumo excessivo de álcool está entre os principais fatores de risco para o suicídio. Assim, as intervenções de enfermagem frente a essas situações de risco envolvem ações de construção de uma rede de apoio, juntamente com serviços especializados, familiares e cuidadores, devendo o plano de cuidados ser flexível e com monitorização continua.(1414. Reisdorfer N, Araujo GM, Hildebrandt LM, Gewehr TR, Nardino J, Leite ML. Suicídio na voz de profissionais de enfermagem e estratégias de intervenção diante do comportamento suicida. Rev Enferm da UFSM. 2015;5(2):295–304.)
Na categoria dos estressores interpessoais foram categorizados quatro diagnósticos e resultados de enfermagem que afetam o sistema. O diagnóstico e resultado de enfermagem “Dependência de Drogas (Tabagismo)” foi validado com Índice de Concordância de 0,92 e refere-se ao impulso que leva a pessoa a usar uma droga de forma contínua (sempre) ou periódica (frequentemente) para obter prazer, podendo também ser usada para o alivio de tensões, ansiedades, medos e sensações desagradáveis.(1515. Akbar M, Egli M, Cho YE, Song BJ, Noronha A. Medications for alcohol use disorders: an overview. Pharmacol Ther. 2018;185:64–85.) A literatura mostra uma relação entre o tabagismo e alcoolismo, em estudo realizado envolvendo estudantes de medicina das quatro escolas médicas da cidade de Fortaleza, Nordeste do Brasil, mostrou que, entre os estudantes que fumavam, a experimentação do álcool foi mais precoce.(1616. Gomes IP, Pereira RA, Santos BF, Pinheiro MA, Alencar CH, Cavalcanti LP. Fatores associados à manutenção do vício de fumar e do consumo de álcool entre acadêmicos de medicina em uma capital do nordeste do Brasil. Rev Bras Educ Med. 2019;43(1):55–64.) Destaca-se que, quando o alcoolismo e o tabagismo ocorrem juntos em um mesmo indivíduo, se torna ainda mais difícil o tratamento de ambos. Para tal, intervenções de enfermagem devem ter o propósito de auxiliar e apoiar o paciente a assumir responsabilidades pela sua melhora da qualidade de vida e, dessa forma, alcançar o equilíbrio do sistema. Logo, é importante que o enfermeiro expanda sua atuação para os membros da família, além de incentivar o paciente a participar de grupos de apoio, instituições culturais e recursos de lazer, de maneira a expandir as possibilidades de pertencimento saudável do paciente.(1717. Lopes LL, Silva MR, Santos AM, Oliveira JF. Ações da equipe multiprofissional do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas. Rev Bras Enferm. 2019;72(6):1624–31.)
Por fim, na categoria dos estressores extrapessoais, foram organizados dois diagnósticos e resultados de enfermagem a partir dos estressores que causam desequilíbrio do sistema do indivíduo. Nessa categoria, os agentes estressores são forças que ocorrem fora do sistema e que agem sobre o indivíduo,(1010. Diniz JS, Batista KM, Luciano LS, Fioresi M, Amorim MH, Bringuente ME. Intervenção de enfermagem baseada na teoria de Neuman mediada por jogo educativo. Acta Paul Enferm. 2019;32(6):600–7.) assim, as intervenções de enfermagem devem contribuir para a construção de uma rede social que priorize a promoção da saúde. O diagnóstico de enfermagem “Apoio Familiar Comprometido” foi construído a partir de importantes estressores que desestabilizam o sistema do indivíduo, como relação familiar, atrito familiar e conflitos. Destaca-se que o envolvimento da família na reabilitação do alcoolista é importante, pois torna-se possível enfrentar a problemática exposta propondo intervenções para a redução do abuso do álcool. Em estudo realizado sobre o impacto de uma intervenção educativa em atitudes e conhecimentos de enfermeiros frente ao uso de álcool e problemas associados mostrou que aqueles profissionais que receberam capacitação para atuar com dependentes químicos demonstram mais atitudes positivas ao usuário de álcool.(1212. Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE): versão 2017 [Organizadora: Telma Ribeiro Garcia]. Porto Alegre: Artmed; 2018.) Assim, a atitude do enfermeiro em relação ao paciente direcionará todo o curso do seu tratamento.(1313. Silva NK, Carvalho CM, Magalhães JM, Carvalho JA Junior, Sousa BV, Moreira WC. Ações do enfermeiro na atenção básica para prevenção do suicídio. SMAD Rev Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. 2017;13(2):71–7.)
Cumpre destacar que as ações de cuidado às pessoas que sofrem com o alcoolismo constituem um desafio aos profissionais de saúde,(1010. Diniz JS, Batista KM, Luciano LS, Fioresi M, Amorim MH, Bringuente ME. Intervenção de enfermagem baseada na teoria de Neuman mediada por jogo educativo. Acta Paul Enferm. 2019;32(6):600–7.) o que acaba exigindo do enfermeiro a adoção de novas abordagens a esses indivíduos, permitindo assim uma reflexão sobre as suas práticas clínicas.
Como limitação do estudo, pode-se considerar a dificuldade na composição dos números de enfermeiros com experiência em CIPE® e alcoolismo para a etapa de validação de conteúdo e a necessidade de submeter o subconjunto à validação clínica com pessoas acometidas pelo alcoolismo.
Conclusão
O objetivo deste estudo foi alcançado a partir da elaboração e validação do subconjunto terminológico da CIPE® para pessoa alcoolista. Os diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem poderão ser uma referência de fácil acesso para os enfermeiros, na elaboração do plano de cuidado individualizado a pessoa alcoolista. Cumpre destacar que o subconjunto não substitui o raciocínio clínico do enfermeiro, mas é um facilitador para uma prática baseada em evidências.
Referências
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1Valentim OM, Santos C, Ribeiro JL, Mota SL, Seabra PR. People with alcohol dependence syndrome: perception of the causes. Rol Enferm. 2018; 41 (11/12 Supl):181-8.
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2World Health Association (WHO). Global status report on alcohol and health. 2018. Geneva: WHO; 2018.
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3Brasil. Ministério da Saúde. Guia estratégico para o cuidado de pessoas com necessidades relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas: guia AD. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2015.
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4Tavares ML, Reinaldo AM, Silveira BV. Dimensões teórico-práticas na formação do enfermeiro: crenças e atitudes relacionadas ao alcoolismo. SMAD Rev Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. 2017;13(3):148–55.
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5Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução nº 358, de 15 de outubro de 2009. Sistematização da Assistência de Enfermagem e a Implementação do Processo de Enfermagem. Brasília (DF): COFEN; 2009 [citado 2017 Nov 10]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html
» http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html -
6International Council of Nurses (ICN). Guidelines for ICNP® Catalogue International Council of Nurses – ICN. Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem – CIPE® versão 1.0. São Paulo (SP): Algol Editora; 2007. p. 17–8.
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7Carvalho CM, Cubas MR, Nóbrega MM. Método brasileiro para desenvolvimento de subconjuntos terminológicos da CIPE®: limites e potencialidades. Rev Bras Enferm. 2017;70(2):449–54.
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8International Organization for Standardization (ISO). Health informatics: Categorial structures for representation of nursing diagnoss and nursing actions in terminological systems: ISO 18.104:2014. Geneva: ISO; 2014.
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9Galindo-Neto NM, Lima MB, Barros LM, Santos SC, Caetano JÁ. Construção e validação de vídeo educativo para surdos acerca da ressuscitação cardiopulmonar. Rev Lat Am Enfermagem. 2019;27:e3130.
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10Diniz JS, Batista KM, Luciano LS, Fioresi M, Amorim MH, Bringuente ME. Intervenção de enfermagem baseada na teoria de Neuman mediada por jogo educativo. Acta Paul Enferm. 2019;32(6):600–7.
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11Brasil. Conselho Nacional de Saúde (CNS). Resolução n° 466, de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e Normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF): CNS; 2012. [citado 2019 Jul 11].Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf
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12Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE): versão 2017 [Organizadora: Telma Ribeiro Garcia]. Porto Alegre: Artmed; 2018.
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13Silva NK, Carvalho CM, Magalhães JM, Carvalho JA Junior, Sousa BV, Moreira WC. Ações do enfermeiro na atenção básica para prevenção do suicídio. SMAD Rev Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. 2017;13(2):71–7.
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14Reisdorfer N, Araujo GM, Hildebrandt LM, Gewehr TR, Nardino J, Leite ML. Suicídio na voz de profissionais de enfermagem e estratégias de intervenção diante do comportamento suicida. Rev Enferm da UFSM. 2015;5(2):295–304.
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15Akbar M, Egli M, Cho YE, Song BJ, Noronha A. Medications for alcohol use disorders: an overview. Pharmacol Ther. 2018;185:64–85.
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16Gomes IP, Pereira RA, Santos BF, Pinheiro MA, Alencar CH, Cavalcanti LP. Fatores associados à manutenção do vício de fumar e do consumo de álcool entre acadêmicos de medicina em uma capital do nordeste do Brasil. Rev Bras Educ Med. 2019;43(1):55–64.
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17Lopes LL, Silva MR, Santos AM, Oliveira JF. Ações da equipe multiprofissional do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas. Rev Bras Enferm. 2019;72(6):1624–31.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
26 Nov 2021 -
Data do Fascículo
2021
Histórico
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Recebido
17 Jan 2020 -
Aceito
2 Dez 2020