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Estudos Avançados na Universidade

ABORDAGEM

Estudos Avançados na Universidade

Jacques Marcovitch

Vive-se um momento marcado por crises e turbulências.

Na Universidade, a deterioração dos salários dos docentes e funcionários ameaça, mais uma vez, o futuro da pesquisa e do ensino superior. No Brasil, a inflação galopante, a ascensão da violência, o comércio de recém-nascidos, a fuga de talentos, a cleptocracia inabalável, a destruição da natureza, a obsoletização do parque produtivo resultam de uma difícil transição democrática sem estratégia de desenvolvimento sócio-econômico.

Na América Latina, a contração dos investimentos, a redução de renda per capita, o crescimento da economia marginal, a expansão do narcotráfico são alguns dos efeitos perversos da década perdida dos anos 80. No mundo, os novos epicentros geoeconômicos, o neoprotecionismo emergente, o fomento à inovação tecnológica e a proteção do conhecimento por parte dos países desenvolvidos acirram o desafio dos países intermediários de economia dualista, como é o caso do Brasil.

Este é um conjunto de problemas alarmante. Seu lado positivo é que todos estes problemas resultam da ação humana, dependendo do homem a busca de soluções. Nesta busca, a Universidade tem sua contribuição a oferecer.

Estudos avançados na Universidade impulsionam a pesquisa em três direções convergentes: em relação ao seu tempo, ao seu espaço e à multidisciplinaridade. Como nos demais institutos da Universidade, devem ser caracterizados pela competência e qualidade, com idealismo e com imaginação.

Avançar em relação ao seu tempo significa debruçar-se sobre o futuro. Dentro de 12 anos, seremos 6 bilhões de seres humanos, 800 milhões de latino-americanos, 200 milhões de brasileiros, 30 milhões de habitantes na Grande São Paulo e 3 milhões de universitários no Brasil.

Como a sociedade se prepara para este futuro no campo da educação, da saúde, do transporte, da energia e do bem-estar em geral? Por que a evidência das tendências demográficas convive com a ausência de estratégias conseqüentes? Sendo o futuro produto do presente, com relação a ele, cabe avançar.

Avançar em relação ao seu espaço significa abrir janelas, apreender as dinâmicas regional e internacional. O novo mundo tripolar transforma as relações bilaterais entre países. Os acordos de livre-comércio entre os EUA e o Canadá, o novo território dos doze países europeus, o pólo asiático de co-prosperidade, a perestroika soviética e a abertura chinesa exigem da América Latina, e do Brasil em especial, uma nova postura. Para isto é necessário compreender e analisar o Brasil, inserido no novo contexto mundial (ex.: o "Seminário 'Perestroika' e Brasil Anos 90"). Com relação à compreensão do novo contexto mundial e da reinserção do Brasil, cabe avançar.

Avançar em relação à multidisciplinaridade significa reunir talentos de origens diversas (administradores, engenheiros, filósofos, médicos, físicos, advogados, sociólogos, cientistas políticos, empresários etc.) para abordar temas estratégicos e complexos que afetam o presente e o futuro da sociedade. Exemplos evidentes são a questão da política científica e tecnológica ou do meio ambiente. A reunião de talentos de formações diversas é imprescindível para analisar e propor diretrizes.

Aliás, os principais problemas que hoje a sociedade enfrenta exigem uma nova abordagem (ex.: transição democrática, energia, integração latino-americana). Com relação à multidisciplinaridade, cabe avançar.

Para concluir, na Universidade, o passado deve ser protegido, o presente, apreendido e o futuro, preparado. Estudos avançados exigem projeção no tempo, amplitude no espaço, vanguarda na multidisciplinaridade, com qualidade científica. A Universidade, centro cultural de formação das gerações do futuro, deve ser um pulmão renovador e transformador da sociedade. Não há país soberano que possa prescindir de sua Universidade. Não há Universidade que possa se omitir desta reflexão.

Diante do quadro político da América Latina, a liberdade e a democracia devem ser preservadas. Neste sentido, é urgente a reconciliação entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade. Para proteger as democracias emergentes, intelectuais e políticos são necessários. Sua aliança é a única forma de responder aos seus adversários e, assim , proteger a liberdade.

Estudos avançados são trabalhos feitos em grupo — cooperação e solidariedade são necessárias. Quando cooperação e solidariedade são necessárias, a mensagem se torna mais importante que o mensageiro. E os mensageiros, neste caso, não são soldados, mas pesquisadores e professores. Suas armas não são espadas, mas palavras e idéias. Apesar das adversidades, o mensageiro leva sua mensagem.

Albert Einstein, ilustre integrante do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, uma vez disse que a um certo nível de abstração, a matemática e a poesia devem se encontrar. No espaço dos estudos avançados, cientistas e poetas têm presença indissociável.

Jacques marcovitch é professor-titular de Administração da FEA/USP e diretor do IEA.

A Universidade, centro cultural de formação das gerações do futuro, deve ser um pulmão renovador e transformador da sociedade. Não há país soberano que possa prescindir de sua Universidade. Não há Universidade que possa se omitir desta reflexão.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Mar 2006
  • Data do Fascículo
    Dez 1988
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