CRIAÇÃO / POESIA
Treze modos de olhar para um pássaro preto
Tradução de Davi Arrigucci Jr.
I
Entre vinte montanhas de neve,
O único movente
Era o olho do pássaro-preto.
II
Eu estava entre três idéias
Feito uma árvore
Em que há três pássaros-pretos.
III
O pássaro-preto revoava no vento de outono.
Era uma pequena parte da pantomina.
IV
Um homem e uma mulher
São um.
Um homem e uma mulher e um pássaro-preto
São um.
V
Não sei mesmo qual preferir:
A beleza das inflexões
Ou a das alusões,
O pássaro-preto assobiando
Ou só depois
VI
O gelo recobria a longa janela
De rudes cristais.
A sombra do pássaro-preto
Passava de lá para cá.
A sensação
Traçou na sombra
Uma causa indecifrável.
VII
Ó finos homens de Haddam,
Por que imaginais pássaros dourados?
Acaso não vedes o pássaro-preto
Rondando os pés
das mulheres tão perto?
VIII
Sei de nobres cadências
De ritmos lúcidos, inescapáveis;
Mas, sei também
Que o pássaro-preto
Está envolvido no que sei.
IX
Quando voou a se perder de vista,
O pássaro-preto marcou a margem
De um de muitos círculos.
X
À vista dos pássaros-pretos
Voando na luz verde,
Até as alcoviteiras da eufonia
Gritariam de espanto.
XI
Ele andava por Connecticut
Num carro de vidro.
Uma vez ficou varado de medo;
Foi que tomou
A sombra da carruagem
Por pássaros-pretos.
XII
O rio vai fluindo
O pássaro-preto deve ir voando.
XIII
Era noite a tarde toda.
Estava nevando
E ainda ia nevar.
O pássaro-preto sentou
No galho do cedro.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
09 Jun 2005 -
Data do Fascículo
Ago 1997