Resumos
A partir da interrogação da intersecção entre psicanálise e adolescência, que aqui se sustenta fundamentalmente na clínica, esse texto lança o produto de uma pesquisa iniciada há pelo menos vinte anos, estabelecendo seus eixos fundamentais: a adolescência é uma escolha do sujeito que ele paga com o desligamento da autoridade dos pais, conforme a expressão freudiana de 1905, e que pressupõe a castração. Nessa medida, questiona-se a relação adolescência e psicose. O texto explora ainda os possíveis franqueamentos de um sujeito adolescente, tomando como exemplo a personagem de Melchior na peça de Frank Wedekind e a paciente George, de Charles Sarnoff.
Adolescência; Psicanálise; Psicanálise do adolescente
Partant de l'interrogation sur l'intersection entre psychanalyse et adolescence, soutenue fondamentalement en clinique, le texte présente le produit une recherche menée depuis au moins vingt ans, partant de ces axes fondamentaux : l'adolescence est un choix du sujet qu'il paie avec le détachement de l'autorité des parents, conformément à l'expression freudienne de 1905, et qui présuppose la castration. Dans ce sens, on s'interroge sur la relation adolescence et psychose. Le texte explore encore les voies possibles d'un changement chez l'adolescent, prenant comme exemple le personnage de Melchior dans la pièce de Frank Wedekind et la patiente George, de Charles Sarnoff.
Questioning the intersection between psychoanalisis and adolescence, and fundamentally sustained on the clinical work, this text presents the product of a research that has been carried out for at least 20 years, setting its fundamental axes: the adolescence is a choice of the subject which is paied with the desconnection from the parental authority, as Freud puts it in 1905, and supposes castration. In that way, the relationship between adolescence and psicosis is tackled. The text explores still the possible ways to allow the adolescent subject a change, taking as an example the caracter Melchior in Frank Wedekind's play and the pacient George, as described by the psychoanalyst Charles Sarnoff.
Adolescence; Psychoanalysis; Adolescent Psychoanalysis
O ADOLESCENTE E SEU PATHOS
Sonia Alberti1 1 Psicanalista. Professora Adjunta e Procientista do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro onde ainda exerce os cargos de: Coordenadora Geral do Programa de Pós-graduação em Psicanálise e, em conseqüência, do Mestrado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise; Preceptora do Curso de Residência em Psicologia Clínica e Institucional no Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente no Hospital Universitário Pedro Ernesto (NESA/HUPE/UERJ); Sub-chefe do Departamento de Psicologia Clínica.
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
A partir da interrogação da intersecção entre psicanálise e adolescência, que aqui se sustenta fundamentalmente na clínica, esse texto lança o produto de uma pesquisa iniciada há pelo menos vinte anos, estabelecendo seus eixos fundamentais: a adolescência é uma escolha do sujeito que ele paga com o desligamento da autoridade dos pais, conforme a expressão freudiana de 1905, e que pressupõe a castração. Nessa medida, questiona-se a relação adolescência e psicose. O texto explora ainda os possíveis franqueamentos de um sujeito adolescente, tomando como exemplo a personagem de Melchior na peça de Frank Wedekind e a paciente George, de Charles Sarnoff.
Descritores: Adolescência. Psicanálise. Psicanálise do adolescente.
Um caso
Nem para a psicanálise foi imprescindível tratar da adolescência para se constituir enquanto teoria ou técnica, nem para a adolescência foi imprescindível a abordagem da psicanálise, aliás, como já visto em outros momentos, Freud não se refere à adolescência senão em um ou dois momentos de toda sua vasta obra. Mas, tratando-se de um estudo psicanalítico, qualquer trabalho, qualquer pesquisa ganha consistência quando inserida no contexto clínico. A articulação entre psicanálise e adolescência, a ser sempre construída já que não é primária, no sentido freudiano do termo em que primário é fundante, enriquece então particularmente se a remetemos à clínica.
É por isso bastante significativa a contribuição que se pode descobrir nos textos publicados tanto pelo International Journal of Psycho-Analysis, quanto no Psychoanalytical Study of the Child ao longo dos muitos anos de suas publicações, e bastante importante a quantidade de casos clínicos de sujeitos adolescentes nessas revistas. Revisitá-los hoje, talvez nos abra novos caminhos para debates, além de, é claro, permitir repensar dados clínicos à luz das contribuições que nossa leitura e transferência com os textos de Jacques Lacan podem enriquecer.
Em 1972, o psicanalista nova-iorquino Sarnoff publica o caso de S. B. e que pudemos retomar em 1996 sob o título "George, a menina-moça que queria ter um pênis"2 2 Com efeito, a releitura desse caso se sustenta num trabalho realizado em 1996 com uma aluna então terminando sua Residência no NESA/HUPE/UERJ, publicado no livro Adolescência: O Despertar (Alberti & Rangel Rocha, 1996, pp. 123-134). (Albert & Rangel Rocha, 1996).
Apesar de S. B. ter sido trazida à análise com nove anos de idade, ou seja, numa idade que normalmente identificamos com a latência, sua análise durou seis anos, interrompendo-se somente quando tinha 14 anos de idade. Quais as queixas endereçadas ao analista pela mãe? uma baixa performance escolar, enormes "crises de temperamento" com agressão, medo intenso de que ladrões invadissem sua casa e a seqüestrassem ou roubassem, auto-imagem desorganizada, além de um quadro depressivo com desejo de estar morta e "desprezo por ser menina" - manifesto por uma declaração aberta de que queria ter um pênis. Chegava a chamar-se secretamente de George - o nome que sua mãe lhe daria, caso tivesse nascido menino.
É interessante notarmos a importância, nesse texto de Sarnoff (1972), da mãe de George (nome com o qual me refiro a esta pré-adolescente). Muito antes de questionar a direção do tratamento a partir dessa referência à mãe de George, com observações do tipo: "Lacan privilegiou a referência paterna à materna, recuperando com isso o verdadeiro estatuto do Édipo freudiano", pretendo utilizar o trabalho de Sarnoff na reflexão sobre a adolescência, a partir das referências de Freud com Lacan. Isso só é possível na medida em que atribuo, como leitora, uma particular sensibilidade clínica a Sarnoff que, apesar das dificuldades teóricas da psicanálise americana, deixa claro ter avançado bastante no trabalho com George - como veremos. Mas mais do que isso: meu intuito hoje é de verificar, com George, a entrada na adolescência, ou seja, a passagem da latência - ou pré-adolescência - à adolescência.
Da pré-adolescência à adolescência
A adolescência é uma escolha do sujeito. Ele pode escolher atravessá-la, mas pode também não escolhê-la. Única forma de concebermos o sujeito como responsável na contramão que a psicanálise impõe à ideologia psico-jurídica do século XIX, é a de lhe atribuirmos a responsabilidade pela escolha de seu pathos, a qual, por exemplo, Althusser tanto pleiteou. Na mais perfeita tradição freudiana, o sujeito faz essa escolha subjetiva sem se dar conta de suas conseqüências - escolhemos a doença, seja ela a neurose ou a psicose, sem contabilizarmos o preço que iremos pagar por essa escolha; aliás o sujeito se ilude, normalmente, de que não terá de pagar preço algum. Na realidade, a única forma de escolher sem ter que vir a pagar um preço depois, é a de pagá-lo de saída. A adolescência como escolha do sujeito implica pagar o preço do desligamento dos pais, assumir que o Outro é barrado, castrado.
Assim, não é possível pensar a adolescência sem referência à castração, porque o trabalho que a representa é o da tentativa de elaborá-la de alguma forma.
-
Temos, por exemplo, os ritos iniciáticos dos primitivos ao pearcing passando pelo grafite: inscrições culturais no corpo do sujeito e em seu mundo, que convertem a castração de maneira a procurar dar conta da angústia intrínseca a ela;
-
Temos o incremento das identificações ao outro, nos fenômenos que vão desde a moda, o maior ou menor cuidado com o corpo, até as disputas grupais: nos esportes, nos grupos minoritários, nos jogos, nas salas de chat da Internet; que permitem, às vezes mais, às vezes menos, velar a questão de que falta um significante no Outro;
-
Temos ainda a paixão e as diversas formas de amar a fim de colmatar a relação sexual impossível.
Se o neurótico teme realmente alguma coisa, explica Freud, essa "coisa" diz respeito à castração do Outro, ou seja, ele teme que a falha no Outro implique sua não sustentação enquanto sujeito. Objeto de estudo de vários de seus textos, a castração do Outro aparece sob a noção de "nostalgia do pai" no texto "Futuro de uma ilusão", em que Freud (1927/1972d) mostra como é importante para o sujeito acreditar que há algo que o sustente, importância que seria a razão de existir, por exemplo, da religião - a que atribui uma consistência ao pai.
Como digo em meu texto "A vacilação do parceiro na adolescência" (Alberti, 1999c), a castração do Outro implica que, no fundo, o único que no Outro pode sustentar a existência do sujeito é o simbólico, mas, como o simbólico não dá conta de tudo, como falta sempre um significante, falta algo que sustenta o sujeito. O sujeito só é sustentado pelo simbólico, de resto falta sustentação.
Quando falta essa sustentação simbólica, temos a psicose - voltaremos a isso.
Entendo a adolescência como trabalho de elaboração da falta no Outro. Dessa forma, não só não há adolescência caso essa falta esteja foracluída como também só há adolescência caso o sujeito possa, de alguma forma, enfrentar essa falta. Às vezes, não é preciso haver uma foraclusão da falta (da castração) para o sujeito se experimentar sem recurso diante do Outro. Em realidade, toda experiência traumática implica no encontro angustiante com a ausência da lei do desejo no Outro. Isso pode se apresentar para o sujeito tanto na vertente de uma figura do Outro que não dá trégua, quanto na ausência de alguém que possa encarná-lo para aquele sujeito particular.
No caso George, a meu ver, é justamente isso que se torna possível por causa da análise, de maneira que podemos retroativamente atribuir-lhe uma pré-adolescência. Oito meses antes do início de sua análise, sua agressividade se intensificara muito, assim como os momentos de angústia. George tinha sido submetida a uma cirurgia de hérnia. Fora prometido à criança que ela veria a mãe antes da operação, o que finalmente não ocorreu. Quando a mãe chegou ao hospital no horário combinado, a cirurgia já havia sido realizada de uma forma que foi vivida por George como extremamente traumática. Não podemos deixar de observar que George provavelmente aqui se deparava com uma versão do Outro sem limite - toda cirurgia é sempre vivida como castração - ao qual estava completamente assujeitada, sem nem mesmo o recurso para uma transferência apaziguadora - que muitas vezes pode ser dado através da presença dos pais no momento pré-cirúrgico, razão da importância da presença dos pais junto à criança e ao adolescente hospitalizado.
Ali onde o gozo do Outro não tem limite para um sujeito, ou ele começa a penetrá-lo (foi o caso do Presidente Schreber, longamente analisado por Freud em 1911/1972c), ou o sujeito necessita criar artifícios que sustentem a função paterna para barrá-lo. Eis, a meu ver, a razão do "desejo de ter um pênis" observado por Sarnoff (1972) no caso. Para George, a falha da função paterna - comum a todos os neuróticos, a exemplo do pequeno Hans que a sustenta com sua fobia de cavalos (Freud, 1909/1972a) - é patente na própria queixa endereçada ao analista: enormes crises de temperamento com agressão: como o pequeno Hans já o mostrara, trata-se aqui de um apelo do sujeito por limites; medo de invasões, seqüestros e roubos: a versão neurótica das investidas do Outro schreberiano que, no caso da psicose, invade o próprio corpo do sujeito e, finalmente, o quadro depressivo, com o desejo de estar morta: se o Nome-do-Pai tem por função sustentar o sujeito enquanto desejante, ali onde ela falha o sujeito se acovarda, signo já identificado por Spinoza, no século XVIII, de uma covardia moral que impede o sujeito levar à risca seu próprio desejo.
George não é um sujeito que escolhe não fazer o trabalho exigido em direção à adolescência, ao contrário de tantos adolescentes que, diante das dificuldades acabam escolhendo a preguiça. George, em verdade, se põe a trabalho: primeiro sozinho, na tentativa de construir uma fobia; depois, com a sorte de encontrar um analista, que pode assisti-la por algum tempo.
Eis onde o adolescente pode ser assistido:
- seja na relação com os mestres,
- seja pelo psicanalista.
Falemos do psicanalista depois; no primeiro caso, o que vemos? Normalmente um sujeito que, deparando-se com a inconsistência do Outro, desespera-se e busca reafirmá-la a qualquer preço. Já tive a ocasião de exemplificá-lo na relação com os pais: o adolescente precisa dos pais. Para separar-se deles - e lembremos que Freud já dizia que este é o maior trabalho da adolescência - é fundamental que os pais não se separem do adolescente antes. Ou seja, que os pais não duvidem de sua função junto a seus filhos adolescentes pois, por mais que estes os contradigam, eles só estão se exercitando nesse novo lugar de filhos que poderão prescindir dos pais porque já os internalizaram. Se os pais crêem que o filho já não os ouve e por isso largam mão dele, se eles cessam de ainda tentar afirmar seu filho com o desejo que sempre os fez sustentá-lo, então o filho já não poderá exercitar-se aí e o primeiro movimento é o de buscar, a qualquer preço, a presença desses pais, normalmente num movimento que se convencionou identificar como o de "chamar a atenção".
O caso de Sérgio (17 anos), publicado em O Brilho da Infelicidade, é um claro exemplo disso, só que neste caso o pai não pode, justamente, ouvir (Alberti, 1998, pp. 125-133).
Psicose
Dentro da psicose, a posição mais radical que o sujeito pode assumir é, certamente, a que Eugen Bleuler batizou de esquizofrenia, em que, como disse Lacan, "o sujeito é sem o socorro de nenhum discurso estabelecido". Donde também falta a dimensão do apelo, tão comum nas multifacetárias "atuações" de nossos adolescentes.
O sujeito psicótico, que tem crises na idade em que normalmente os sujeitos são adolescentes, está tão submetido ao Outro que não têm a menor idéia de como poderá vir a se separar dele um dia. As tentativas são tão variadas... e jamais desembocam em qualquer pista para uma possível saída.
No livro Autismo e Esquizofrenia na Clínica da Esquize (Alberti, 1999a, p. 119)no texto "O surto esquizofrênicona adolescência" observo que normalmente são os próprios pais que já não suportam mais o estado em que seu filho se encontra e por isso procuram um analista. É mesmo surpreendente o quanto suportam até procurá-lo ou até se perguntarem se não há algo ali que transcende os conflitos familiares normais da adolescência.
Se o adolescente faz um trabalho frente à perda da autoridade dos pais, o sujeito psicótico não pode fazer esse trabalho por causa da foraclusão do significante do Nome-do-Pai que sustenta aquela autoridade. Enquanto o adolescente, ancorado no significante, elabora aos poucos a fragilidade dos revestimentos que atribuiu à autoridade durante toda sua infância, o psicótico não pode elaborá-la.
Na impossibilidade de lançar mão do Nome-do-Pai, nesse momento tão decisivo que é a adolescência, o sujeito procura reconstituir a consistência imaginária da autoridade dos pais, razão pela qual, na clínica da esquizofrenia na adolescência, observamos que o sujeito se submete com extrema facilidade à autoridade dos pais - ou de quem os substitui - quando já não sabe o que fazer. (Alberti, 1999a, p. 123)
É porque eles não têm essa referência, é porque, como dizemos numa linguagem lacaniana, o Nome-do-Pai está foracluído na psicose, que esses sujeitos estão sempre na dependência de outra referência, concreta, ficando impossibilitados de fazerem o trabalho da adolescência, que, novamente conforme Freud, é o desligamento da autoridade dos pais. Na ausência destes, quer seja por falta de investimento, quer seja por excesso de trabalho, ou mesmo por abandono (e há várias formas dele, como sabemos), o jovem psicótico poderá encontrar quem queira fazer de conta de substituí-los e que sempre terá suas intenções das quais sabemos também que elas dizem respeito aos interesses os mais diversos. Dentre eles, o muito atual lucro do tráfico - certamente não é o único.
É uma tentativa de restabelecer algum investimento e alguma consistência que faz o sujeito psicótico atribuir ao outro uma proximidade. Esta, no máximo, se dará nos moldes narcísicos, e no melhor dos casos por se preservar então uma gestalt imaginária - com todos os riscos que a relação imaginária impõe e que vão desde a exacerbação narcísica, com todos os mecanismos de projeção, até a depressão. Há outros casos em que o investimento só tem uma finalidade: a de incrementar o gozo do corpo que, no entanto, estará sempre à mercê do gozo do Outro. Na experiência invasora do corpo, seja ela da ordem de uma hipocondria melancólica - do tipo descrito por Cotard - , seja ela da ordem do despedaçamento esquizofrênico, o corpo próprio deixa de ser próprio, ele é Outro. Na esquizofrenia "o Outro toma corpo", presentificando uma alteridade que goza na economia pulsional do sujeito, onde a pulsão, sem passar por outro objeto, retorna diretamente sobre esse corpo. Preso nessa economia, cuja experiência vai se tornando a cada dia mais invasora e mais terrível, resistir à premência por um ponto de basta é também cada vez mais insuportável. Eis onde assistimos às passagens ao ato na psicose.
Definitivamente não é o caso de George. Uma de suas primeiras declarações ao analista teria sido: "Eu quero ser um menino. O que eu faço para conseguir um pênis?". George começou sua busca por um. Tinha muita habilidade nos esportes, gostava de brincadeiras de menino e insistia em usar roupas também de menino, colocando um short por baixo sempre que vestia uma saia ou um vestido. Acreditava que os atributos masculinos a fariam sentir-se mais forte para suportar seus sentimentos, escreve Sarnoff (1972). Nas palavras de seu analista ainda: o pênis equivalia, portanto, a um símbolo de força, que Sarnoff identificou com a medalha que transformou o Leão covarde num bravo em O Mágico de Oz. Ele relata que houve sessões em que George prendia sobre as coxas uma boneca ou um revólver de brinquedo de tal forma que ficassem pendurados como um pênis.
Nos momentos de separação, ou quando "as regras maternas passavam por cima de seus desejos", as crises de temperamento e o desejo de ter um pênis se intensificavam e eram interpretados pelo analista como defesas contra os sentimentos de raiva, solidão e fraqueza. Sarnoff (1972) comenta finamente: S. B. achava que os atributos físicos do menino a ajudavam a controlar seus próprios sentimentos, daí o desejo dela de solucionar com eles, magicamente, os seus.
O pênis, em questão, certamente não é o órgão sexual masculino, mas a expressão da qual essa menina de nove anos pode lançar mão para, tal o pequeno Hans, tentar barrar a mãe na ausência de um pai que durante todo relato do caso só aparece para dizer que não se lembra de nada, que não tem testemunho a dar. Como já observara certa feita Serge Leclaire: aqui o órgão serve para ser colocado na boca do jacaré - que pode devorá-la - a fim de impedir com que esta se feche sobre ela. Medalha de mágico ou bastão, o pênis de S. B. é o falo que vem barrar a mãe e que se torna tão necessário a George que ela corre o risco de pagar bem caro por sua aquisição: sua permanência na latência, sua identificação com os meninos, a impossibilidade de escolher a adolescência, o que só poderia vir a fazer no caso de efetivamente suportar a falta.
Assistência
Propus, anteriormente, que o adolescente pode ser assistido tanto pelos mestres quanto pelo psicanalista. Diria mais, ambas essas propostas não me parecem excludentes, embora sejam, particularmente muito diferentes. É na leitura da obra de Freud que, mais uma vez, encontramos tanto a primeira quanto a segunda. O mestre e o adolescente são trabalhados por Freud na conferência em que comemora o Jubileu de seu colégio e em sua análise do texto de Wedekind (1974) "O despertar da primavera". O que distingue particularmente o mestre do psicanalista é a posição que cada um toma quando está frente a frente com o sujeito adolescente. Esta posição foi estudada por Jacques Lacan sobretudo a partir do Seminário 17 em que propõe os quatro discursos que fazem laço social dentre os quais figuram tanto o discurso do mestre quanto o do psicanalista. Mestre e psicanalista são os agentes de cada um desses dois discursos, ocupando o lugar de agente. Só que no caso do discurso do mestre o agente é o S1, enquanto que no discurso do psicanalista o agente é o objeto a. Eis toda diferença: quando o objeto a é agente, o outro é um sujeito e é como tal que o psicanalista se dirige ao adolescente para fazê-lo trabalhar a fim de produzir sua própria determinação - descobrir seu inconsciente, verificar o que o determina para o sofrimento do qual se queixa, a fim de se descobrir sujeito desejante. Quando o agente é o S1, conforme o modelo hegeliano, o outro é escravo e deve trabalhar em prol do mestre, para satisfazer desejos e demandas do mestre. O texto de Wedekind (1974), escrito no final do século XIX, já nos deu algumas oportunidades para verificá-lo.
Há duas leis possíveis de serem transmitidas pela escola: a lei veiculada pela função paterna enquanto barrando o desejo do Outro, ou seja, a lei que castra o Outro, e a lei da pura interdição que justamente não sustenta o sujeito enquanto desejante mas tiraniza-o exigindo que trabalhe deixando seu próprio desejo para um depois. Esta segunda forma da lei é expressa no texto de Wedekind (1974) na experiência da personagem Moritz:
Melchior: Eu só queria saber por que é que a gente veio parar neste mundo?
Moritz: Para ir ao colégio. Eu preferia ser um burro de carga a ir ao colégio! Para que nós vamos ao colégio? Para fazer os exames! E para que os exames? Para sermos deixados cair.
Esta fala de Moritz nos aponta a relação possível entre o mestre e o aluno como sendo semelhante àquela da qual Schreber (Freud, 1911/1972c) fala em seu delírio quando diz que, não importa o que faça, Deus poderá deixá-lo cair a qualquer momento. Deus é para Schreber um Outro onipotente sem limites, uma autoridade absoluta, o Outro não barrado. Esse Outro sem limites é no caso de Moritz o professor que não se importa com qualquer apelo do sujeito-aluno, descaracterizando mesmo o aluno enquanto sujeito. É disso aliás que fala Freud (1910/1967) quando, durante a discussão na Sociedade Psicanalítica de Viena em 1910 sobre o suicídio, diz que os mestres deveriam ocupar-se mais em sustentar o aluno do lugar da função paterna. Não é deste lugar que agem os professores de Mortiz, ao contrário, eles o deixam cair, e ele suicida-se.
A fala do pai de Moritz, rejeitando o filho, na cerimônia de seu enterro, só vem confirmar essa hipótese. Ele diz (com voz embargada pelas lágrimas): "O menino não era meu! - O menino não era meu! Desde pequeno já não me agradou esse menino!" O pai de Moritz definitivamente não se insere na série dos mestres que poderiam ter ocupado para Moritz a função de sustentação que o pai assume no momento em que barra a mãe. O pai de Moritz jamais exerceu a lei que lhe abrisse o caminho para o desejo, e a única coisa que queria é que Moritz estudasse para conseguir fazer aquilo que ele não conseguira em sua vida.
Outra passagem da peça de Wedekind (1974) denuncia a maneira pela qual a lei da pura interdição massacra o rapaz que, já sem saber como escapar desse Outro avassalador, começa a se enganar a si mesmo:
Moritz: eles vão ter que reprovar sete. Na turma do ano que vem só cabem sessenta alunos... (...)
Moritz: Eu passei! Melchior, eu fui aprovado, eu passei! (... [Mortiz, na realidade, foi evidentemente o que não passou])
Lämmermeier: Você não deve ter lido direito! Tirando os outros, com você e Ernst a classe fica com 61 alunos e o número de vagas é sessenta!
Moritz: Por isso que eu demorei! Lá estava escrito que nós dois passaríamos com uma condição: no primeiro semestre eles vão escolher quem vai ficar. Ou ele ou eu. Coitadinho do Robel! Coitado! Agora eu juro: não tenho mais medo nenhum!
Lämmermeier: A vaga vai ficar com ele, aposto cinco marcos!
A concorrência por uma vaga numa classe superior dessubjetiva o aluno que, em dificuldades, entra em total angústia negando, por isso, a situação como um todo. É tal a angústia diante dessa dessubjetivação que, no caso de Moritz, o ego afirma-se num movimento megalomaníaco de onipotência narcísica frente à possibilidade da perda narcísica, justamente. O sujeito pode ou não montar tais defesas, caso seja escasso seu recurso à metáfora paterna o sujeito é aí capturado na irrealização, através da lei selvagem da concorrência que a escola da peça mimetiza do próprio mundo de mercado. No caso de Moritz, diante dessa perda - pois na realidade ele efetivamente não passou de ano - não resta outra alternativa senão o suicídio.
Diferente é a educação como um ato de amor. Também o verificamos no caso Moritz. A Sra. Gabor, mãe de Melchior, maior amigo de Moritz, sempre fora muito gentil com o amigo de seu filho. Quando Moritz já se vê deixado cair, ainda tem a idéia de pedir à Sra. Gabor uma ajuda financeira para fugir para os Estados Unidos. Mas a Sra. Gabor não poderá fazê-lo, identificada como é com todas as mães e crente como é na possibilidade de Moritz resolver as coisas com seus pais.
Sra. Gabor: ... Se eu procedesse assim estaria cometendo o maior erro que jamais se poderia imaginar, eu estaria lhe dando meios para você consumar um ato de irreflexão repleto de conseqüências. Seria injusto de sua parte, Moritz, se você visse em minha atitude qualquer sinal de desprezo, mas por favor, meu amigo, entenda, muito pelo contrário: minha atitude é um ato de amor ...
Sra. Gabor: Você escreveu que se sua fuga não fosse possível sua única alternativa seria o suicídio! Escrevendo isso, indiretamente, você está me ameaçando!
Com estas palavras, a Sra. Gabor mostra como se identifica subjetivamente com aquele a quem Moritz está dirigindo seu apelo, a ponto de falar de amor ali onde Moritz solicita um Outro que não se coloque narcisicamente mais uma vez no caminho de seu desejo próprio. O amor aqui, como tantas vezes, não é aquele que implica um dom, mas trata-se do amor narcísico da Sra. Gabor, que se outorga o direito de saber melhor sobre Moritz do que ele próprio. Uma senhora que inchou narcisicamente frente ao fato do jovem tê-la eleito como aquela a quem dirigir sua demanda de ver franqueada a via do desejo.
Mais uma vez o texto de Wedekind (1974) é esclarecedor das falácias que podem estar implicadas na relação do adolescente com o mestre: a crença no amor. No caso do analista, o mínimo que se poderia esperar aqui seria um "fale-me mais sobre isso", provocando o sujeito para a subjetivação de sua própria questão.
O Sr. Gabor, no entanto, é muito diferente de sua esposa: quando se trata de seu próprio filho, sua atitude é um exemplo do que foi cunhado por Lacan enquanto amor como dom:
Sr. Gabor (falando com a esposa após Melchior ter sido descoberto e, portanto, expulso da escola em razão de suas atitudes): Durante quatorze anos venho observando seus métodos modernos de educação sem dizer uma só palavra. Quatorze anos e eu nunca disse nada! (...) uma criança não é um brinquedo! A criança merece de nossa parte uma atenção mais sagrada! (...) Agora a única coisa que eu quero é remediar o mal que nós, eu e você fizemos ao nosso filho! (...) Se quisermos manter pelo menos uma réstia de esperança e se acima de tudo quisermos manter a consciência tranqüila como pais responsáveis por um filho acusado de criminoso, chegou nosso momento. É hora de tomarmos uma atitude. Precisamos ter seriedade, de uma vez por todas.
(...) Pelo menos uma vez na vida abra mão de alguma coisa quando se trata de seu filho.
Trata-se aqui do amor como dom (cf. Seminário 4 de Lacan, 1957/1994), como abrir mão de alguma coisa, diferentemente daquele amor narcísico identificado no discurso da Sra. Gabor quando se dirigia a Moritz, o pai de Melchior se implica e, para tal, sabe que terá que perder alguma coisa. Esse pai assume a função paterna de sustentar o seu filho barrando a mãe que, como ele mesmo o diz em outro momento do texto, espelha-se no rapaz. Esse pai, além disso, coloca-se como dividido, sofrendo pela própria posição a que se vê obrigado a tomar enquanto pai, e que não tomara antes como deveria, mostrando que ele também falhou, tanto ele quanto a esposa teriam feito mal ao filho. Há duas posições aqui em jogo: a lei do pai que "precisa ter seriedade, tomar uma atitude a fim de manter a consciência tranqüila" e o desejo da mãe que se identifica com Melchior, que o quer espelhado nela. É aliás a atitude do sr. Gabor que abre a possibilidade de Melchior encontrar o Homem Mascarado, personagem de Wedekind que Lacan pode identificar com um dos nomes do pai do qual Melchior irá poder se servir.
O que o Homem Mascarado diz para Melchior é que ele deixe de atribuir tanta significação aos fatos ocorridos e que, ao contrário, vá tomar uma sopa bem quente que isso já o fará se sentir melhor. A primeira função do Homem Mascarado é a de esvaziar de sentido as cenas dos últimos meses, que isso não o fará perder todas as referências posto que ele, Homem Mascarado, estaria lá, a seu lado, para acompanhá-lo. Ele aponta que a função paterna operou no caso de Melchior mas isso não o implica no lugar do pai, ele não é pai, ele é o resto de significante do pai que permite a Melchior uma referência simbólica que alude, no entanto, a um para além do pai. Quando o Homem Mascarado seduz Melchior a conhecer o mundo, tal Mefisto para Fausto, ele assume essa forma híbrida à qual Lacan faz referência ao mostrar a associação entre o Homem Mascarado e A Mulher como versão do pai que, no entanto, aposta no sujeito.
A fala terapêutica:
Homem Mascarado: ... Eu quero te abrir as portas para o mundo. Você quer? Você está assustado, completamente perdido, mas isso passa. Você está num estado lastimável. Com um jantar quente no estômago você vai rir disto.
É nesse ponto também que encontro o campo de intersecção entre o mestre e o psicanalista pois, tal como o Homem Mascarado, o analista tampouco é pai e se ele não se mantém ao lado do sujeito para sempre, ao contrário do Homem Mascarado, é só porque pode convocar o sujeito a elaborar sua travessia para além do pai, não sem dele se servir, deixando cair o analista, no movimento inverso daquele que identificamos do sujeito assujeitado ao discurso do mestre.
Mas nem sempre isso é franqueado ao analista: é possível que o sujeito não possa se servir do pai, como é o caso na psicose. Contexto no qual, entretanto, não é menos necessário distinguir o seu lugar do lugar do mestre no discurso do mestre.
O franqueamento de George
Pude observar que na adolescência trata-se de uma travessia das aparências3 3 Cf. Alberti, 1996 [1999], capítulo XII. , mas para que o sujeito possa fazer essa travessia é preciso, antes de mais nada, que se dê conta do que são as aparências. No caso George, é o que a análise lhe permite, franqueando-lhe, em conseqüência, a entrada na adolescência propriamente dita.
Após três anos de análise, ou seja, quando tinha doze anos, ela começa a relacionar-se com pessoas de seu meio. O analista sugere que as fantasias de invasões, de ladrões, foram em parte transferidas para ele e agora ela lhe dirigia sua agressividade diretamente, enquanto em casa as coisas haviam serenado. Sarnoff (1972) observa: a projeção (referência teórica recorrente em suas interpretações) agora já não se dirige aos ladrões fantasiados, mas colore as fantasias do início da adolescência. Seus impulsos agressivos e sexuais fundiram-se em fantasias masoquistas nas quais era forçada a submeter-se ao ato sexual com semelhantes. Mas só admitia esses impulsos na consciência quando atribuídos aos parceiros em potencial, negando-os portanto como seus. S. B. começa a escrever poesias e faz uma transferência paralela com uma professora de ciências. Não sem razão: S. B. começava a lidar com questões femininas e já não podia contar muito com seu analista. Mas ele lhe fora de grande valia enquanto suportou a transferência paterna, franqueando-lhe o que Sarnoff teoriza como "formação de símbolo", interpretando suas angústias na vertente fóbica, na vertente do apelo à Lei paterna. Sarnoff o ilustra com um sonho. George lhe relatara:
Tinha um monstro na minha cidade. Eu não sabia o que era e por alguma razão ele parecia estar especialmente rondando nossa casa, e foi dito no rádio: quando o monstro chegar, feche todas as janelas e todas as cortinas porque se ele os vir através de qualquer janela, ele vai entrar, matá-los e carregá-los, e vocês não saberão para onde ele os estará levando. Obviamente todo mundo estava com medo na família, mas eu era a mais assustada por alguma razão. Como o monstro estava circundando a nossa casa, eu queria ir para um apartamento. Então mamãe, papai e eu fomos para outro lugar. Quando chegamos lá, papai disse que não gostou do lugar. Ele queria voltar para casa. Todos voltaram para a casa. Eu fiquei, e dormi sozinha. Na manhã seguinte eu voltei para casa, porque fiquei com saudades da família. Eu estava chegando em casa. Eu não tinha visto o monstro, um animal parecido com um dinossauro. Ele começou a subir a veneziana e a pilastra exatamente na direção do quarto de minha irmã. Eu estava dormindo lá com ela. Papai chamou o carro de polícia para o nosso quintal. Eles pegaram o monstro. Amarraram seus braços, pescoço e perna. Ele foi levado para um cientista... Era algum tipo de animal antigo, o tipo que deveria existir quando os dinossauros estavam vivendo aqui. Eles haviam colocado nele um cérebro, corpo e pele e o fizeram viver. Eles não sabiam que ele viveria. Eles não queriam isso. Ele saiu durante a noite. Eles disseram que isso nunca mais aconteceria. (Sarnoff, 1972)
Neste sonho, S. B. identifica o gozo do Outro no monstro e introduz, finalmente, o pai para que este, com o auxílio da polícia, circunscreva o gozo ao ambiente onde pode ser contido: o campo da ciência. Mas nesse sonho há também um desejo para além do desejo da eficácia paterna, que diz respeito a ela poder ficar sozinha, tentar enfrentar o monstro sozinha, poder sentir falta da família e poder voltar para o seio dela - não sem aí reexperimentar alguma angústia.
São vários os sonhos que se sucedem nesse momento da análise, em que aparecem figuras da Lei: o pai, a polícia e, finalmente, o doutor, que não deixa de implicar o analista na série.
S. B. então passa a escrever poemas e peças de teatro para a escola, nos quais projeta suas fantasias. A angústia cede lugar a estórias engraçadas e a um certo lirismo. Até finalmente produzir a estória de Rat Fink Freddy.
Rat Fink Freddy pertencia a um bando de ladrões. Num assalto, pegou uma mulher para que esta pudesse dizer-lhe onde estavam escondidas as jóias, enquanto tinha relações sexuais com ela. A mulher disse: "Você quer dinheiro, vou te mostrar tanto que você vai se afogar nele". No fim, os ladrões foram presos e tiveram que fazer muito exercício na prisão.
Estória que marca a emergência de uma posição feminina: o ladrão pede para ver as jóias escondidas e ela vai lhe mostrar dinheiro. Poderíamos supor que S. B. já sabe, aqui, não só como enganar o ladrão mas, sobretudo, que pode se furtar a ele fazendo de conta de lhe dar o que ele quer, prometendo outra coisa, fazendo até mesmo com que ele acredite poder tomar dela o que ele deseja, para, no fim, não só terminar na prisão, mas de maneira ridícula: cansando-se com exercícios.
Já não é preciso ser George. Se existe algo trágico na adolescência é o encontro com o real existente à referência fálica. Mas isso já não angustia S. B. Parece que a função paterna finalmente pôde operar permitindo-lhe fazer frente a esse real insuportável: em todas as desventuras ela pode agora apelar para a polícia. E até mesmo aí ela já pode encontrar alguma graça.
Num determinado momento da análise S. B. diz a seu analista: "É que agora eu não quero mais estar morta". No que se refere a seu lugar na partilha dos sexos, para quem dizia não saber se era menino ou menina, S. B. parece ter-se saído bem desse dilema pois, na peça de teatro que cria, o fato de ser objeto do desejo do outro - lugar tão dificilmente ocupado pelo sujeito histérico - não impede à mulher de enganá-lo por saber, em algum lugar, que ele jamais terá o que deseja.
Mas é claro que Sarnoff (1972) aí não pode mais acompanhar a nova adolescente, e acabou ele mesmo por se identificar com sua mãe o que, por conseqüência, provocou em S. B. a transferência paralela com a professora de ciências e as reiteradas tentativas de interromper a análise às quais, finalmente, Sarnoff cedeu.
Haveria ainda um longo caminho a ser feito por S. B., mas, sem dúvida, poderia fazê-lo pois sua análise a reconciliara com o pai. O humor com que pode agora escrever suas peças implica um supereu bastante simpático e benevolente, que não submete o eu a nenhuma dominação, ao contrário, permite-lhe escapar dela (Freud, 1927/1972b). Assim, só podemos observar que a análise de S. B., por lhe permitir barrar o gozo do Outro - superegóico, a mãe -, franqueou-lhe o acesso à liberdade, tão cara, tão desejada e tão difícil ao sujeito adolescente. Barrar o gozo do Outro, o horror do poder incorporado pela mãe, lhe dá acesso à outra versão do supereu, herdeiro do complexo de Édipo, que dita a via do desejo. O palco de suas peças permite a S. B. familiarizar-se com o faz de conta, com o fato de que a verdade jamais se diz toda e com o fato de que ser mulher não está longe da arte. Quem sabe o destino de S. B.?
Alberti, S. (2002). The Adolescent and it's Pathos. Psicologia USP, 13 (2), 183-202.
Abstract: Questioning the intersection between psychoanalisis and adolescence, and fundamentally sustained on the clinical work, this text presents the product of a research that has been carried out for at least 20 years, setting its fundamental axes: the adolescence is a choice of the subject which is paied with the desconnection from the parental authority, as Freud puts it in 1905, and supposes castration. In that way, the relationship between adolescence and psicosis is tackled. The text explores still the possible ways to allow the adolescent subject a change, taking as an example the caracter Melchior in Frank Wedekind's play and the pacient George, as described by the psychoanalyst Charles Sarnoff.
Index terms: Adolescence. Psychoanalysis. Adolescent Psychoanalysis.
Alberti, S. (2002). L'adolescent et Son Pathos. Psicologia USP, 13 (2), 183-202.
Résumé : Partant de l'interrogation sur l'intersection entre psychanalyse et adolescence, soutenue fondamentalement en clinique, le texte présente le produit une recherche menée depuis au moins vingt ans, partant de ces axes fondamentaux : l'adolescence est un choix du sujet qu'il paie avec le détachement de l'autorité des parents, conformément à l'expression freudienne de 1905, et qui présuppose la castration. Dans ce sens, on s'interroge sur la relation adolescence et psychose. Le texte explore encore les voies possibles d'un changement chez l'adolescent, prenant comme exemple le personnage de Melchior dans la pièce de Frank Wedekind et la patiente George, de Charles Sarnoff.
Recebido em 07.08.2001
Aceito em 10.07.2002
- Alberti, S. (1998). Adolescência e droga: Um caso. In O brilho da (in)felicidade. Rio de Janeiro: Contra Capa.
- Alberti, S. (Org.). (1999a). Autismo e esquizofrenia na clínica da esquize Rio de Janeiro: Marca d'Água.
- Alberti, S. (1999b). Esse sujeito adolescente (2a ed.). Rio de Janeiro: Marca d'Água.
- Alberti, S. (1999c). Vacillation du sujet dans l'adolescence. Trefle - Bulletin de l'Association Freud avec Lacan, (2), 63-79.
- Alberti, S., & Pollo, V. (Orgs.). (1996). Referências em Freud e Lacan sobre o tema: Psicanálise e educação. In Atas da I Jornada do Núcleo de Pesquisa em Psicanálise com Crianças Rio de Janeiro: Escola Brasileira de Psicanálise.
- Alberti, S., & Rangel Rocha, A. P. (1996). George, a menina-moça que queria ter um pênis: Releitura de um caso clínico. In V. Pollo & H. C. Ribeiro (Orgs.), Adolescência: O despertar (pp. 123-134). Rio de Janeiro: Contra Capa.
- Carneiro Ribeiro, M. A. (2001). Da infância à adolescência: Uma passagem. Revista Marraio, (1), 7-9.
- Freud, S. (1967). Suicide in childhood. In Minutes of the Vienna Psychoanalitical Society (Vol. 2). New York: International University Press. (Originalmente publicado em 1910)
- Freud, S. (1972a). Analyse der phobie eines fünfjährigen knaben. In Studienausgabe (Vol. 8). Frankfurt: S. Fischer. (Originalmente publicado em 1909)
- Freud, S. (1972b). Der Humor. In Studienausgabe (Vol. 4). Frankfurt: S. Fischer. (Originalmente publicado em 1927)
- Freud, S. (1972c). Psychoanalytische bemerkungen über einen autobiographisch beschriebenen Fall von Paranoia. In Studienausgabe (Vol. 7). Frankfurt: S. Fischer. (Originalmente publicado em 1911)
- Freud, S. (1972d). Die Zukunft einer Illusion. In Studienausgabe (Vol. 9). Frankfurt: S. Fischer. (Originalmente publicado em 1927)
- Freud, S. (1972e). Zur Psychologie des Gymnasiasten. In Studienausgabe (Vol. 4). Frankfurt: S. Fischer. (Originalmente publicado em 1914)
- Lacan, J. (1994). Le Séminaire. Livre 4: La relation d'objet Paris: Seuil. (Originalmente publicado em 1957)
- Lacan, J. (2001). Préface à L'éveil du printemps In Autres écrits (pp. 561-562). Paris: Seuil. (Originalmente publicado em 1974)
- Sarnoff, C. A. (1972). The vicissitudes of projection during an analysis encompassing late latency to early adolescence. International Journal of Psycho-Analysis, (53), 515-522.
- Wedekind, F. (1974). L'éveil du printemps Paris: Gallimard.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
22 Jan 2003 -
Data do Fascículo
2002
Histórico
-
Aceito
10 Jul 2002 -
Recebido
07 Ago 2001