Resumos
Foram estudadas aglutininas antileptospíricas em 403 amostras de soro de búfalos, provenientes de sete Municípios do Vale do Ribeira, Estado de São Paulo, coletadas no período de janeiro de 1992 a junho de 1993. Utilizou-se o teste de soroaglutinação microscópica, considerando-se positivas as amostras cujo título fosse igual ou superior a 100. O maior título encontrado foi 1600 para o sorovar bratislava (1 amostra), seguido de 800 para wolffi (4 amostras). Do total, 152 (37,7%) das amostras foram positivas, sendo que, dentre os sorovares testados, a prevalência em ordem decrescente foi: wolffi (68, 44,8%), icterohaemorrhagiae (51, 33,6%), hardjo (51, 33,6%), castellonis (25, 16,5%), djasiman (12, 7,9%), grippotyphosa (10, 6,6%), pomona (8, 5,2%), bratislava (6, 4,0%), copenhageni (5, 3,3%) e tarassovi (4, 2,7%).
leptospira; soroaglutinação microscópica; búfalos
A total of 403 buffaloes serum samples from seven counties of Vale do Ribeira, São Paulo State, Brazil, obtained between January 1992 and June 1993, were studied to determine the prevalence of anti-leptospire agglutinins using the microscopic serum agglutination test. A titre of 100 and above was considered positive. The highest titre found was 1600 to the sorovar bratislava (one sample), followed by 800 to wolffi (4 samples). 152 (37.7%) samples from the total were positive to the serovars tested, and their prevalence, in decreasing order, was: wolffi (68, 44.8%), icterohaemorrhagiae (51, 33.6%), hardjo (51, 33.6%), castellonis (25, 16.5%), djasiman (12, 7.9%), grippotyphosa (10, 6.6%), pomona (8, 5.2%), bratislava (6, 4.0%), copenhageni (5, 3.3%) and tarassovi (4, 2.7%).
leptospira; microscopic serum agglutination; buffaloes
AGLUTININAS ANTILEPTOSPÍRICAS EM BÚFALOS DO VALE DO RIBEIRA, ESTADO DE SÃO PAULO
ANTI-LEPTOSPIRE AGGLUTININS IN BUFFALOES FROM VALE DO RIBEIRA, SÃO PAULO STATE, BRAZIL
Hélio Langoni1 1 Docente da Disciplina de Zoonoses, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), UNESP, Botucatu, 18600-000, SP. Autor para correspondência. E-mail: helio.langoni@mailcity.com. Claudia Del Fava2 1 Docente da Disciplina de Zoonoses, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), UNESP, Botucatu, 18600-000, SP. Autor para correspondência. E-mail: helio.langoni@mailcity.com. Kenio de Gouvêa Cabral3 1 Docente da Disciplina de Zoonoses, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), UNESP, Botucatu, 18600-000, SP. Autor para correspondência. E-mail: helio.langoni@mailcity.com. Aristeu Vieira da Silva3 1 Docente da Disciplina de Zoonoses, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), UNESP, Botucatu, 18600-000, SP. Autor para correspondência. E-mail: helio.langoni@mailcity.com. Sérgio Aguiar Pacheco Chagas4 1 Docente da Disciplina de Zoonoses, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), UNESP, Botucatu, 18600-000, SP. Autor para correspondência. E-mail: helio.langoni@mailcity.com.
RESUMO
Foram estudadas aglutininas antileptospíricas em 403 amostras de soro de búfalos, provenientes de sete Municípios do Vale do Ribeira, Estado de São Paulo, coletadas no período de janeiro de 1992 a junho de 1993. Utilizou-se o teste de soroaglutinação microscópica, considerando-se positivas as amostras cujo título fosse igual ou superior a 100. O maior título encontrado foi 1600 para o sorovar bratislava (1 amostra), seguido de 800 para wolffi (4 amostras). Do total, 152 (37,7%) das amostras foram positivas, sendo que, dentre os sorovares testados, a prevalência em ordem decrescente foi: wolffi (68, 44,8%), icterohaemorrhagiae (51, 33,6%), hardjo (51, 33,6%), castellonis (25, 16,5%), djasiman (12, 7,9%), grippotyphosa (10, 6,6%), pomona (8, 5,2%), bratislava (6, 4,0%), copenhageni (5, 3,3%) e tarassovi (4, 2,7%).
Palavras-chave: leptospira, soroaglutinação microscópica, búfalos.
SUMMARY
A total of 403 buffaloes serum samples from seven counties of Vale do Ribeira, São Paulo State, Brazil, obtained between January 1992 and June 1993, were studied to determine the prevalence of anti-leptospire agglutinins using the microscopic serum agglutination test. A titre of 100 and above was considered positive. The highest titre found was 1600 to the sorovar bratislava (one sample), followed by 800 to wolffi (4 samples). 152 (37.7%) samples from the total were positive to the serovars tested, and their prevalence, in decreasing order, was: wolffi (68, 44.8%), icterohaemorrhagiae (51, 33.6%), hardjo (51, 33.6%), castellonis (25, 16.5%), djasiman (12, 7.9%), grippotyphosa (10, 6.6%), pomona (8, 5.2%), bratislava (6, 4.0%), copenhageni (5, 3.3%) and tarassovi (4, 2.7%).
Key words: leptospira, microscopic serum agglutination, buffaloes.
INTRODUÇÃO
A leptospirose é uma zoonose cujos agentes etiológicos são a Leptospira interrogans, Leptospira borgpetersenii, Leptospira weilli, Leptospira noguchii, Leptospira santarosai, Leptospira kirchneri e Leptospira feini, onde, mediante afinidades antigênicas e análise de DNA, são distribuídos mais de 200 sorovares (Leptospira HOME PAGE, 1998). Esta doença é relatada nas várias espécies animais, sejam domésticas sejam silvestres, que servem como reservatórios do agente, onde animais doentes ou sadios podem eliminar as leptospiras pela urina. O homem, uma vez em contato direto ou indireto com estes animais, pode se infectar e adquirir a doença (BRASIL, 1995). A criação de búfalos no Brasil tem crescido consideravelmente, devendo-se ponderar a importância desta espécie na epidemiologia da leptospirose, inclusive como veiculadora desta doença para o homem.
Alguns sorovares apresentam maior afinidade por determinadas espécies, mas tanto os animais como o homem são susceptíveis a diferentes sorovares. Esta doença foi comprovada em búfalos, com o registro de casos de animais sintomáticos com icterícia, febre, abortos e com sorologia positiva (JOHN et al., 1980; UPADHYE et al., 1981; KHALACHEVA & SHERKOV, 1981; OBEROI & KWATRA, 1982; XU et al., 1983; UPADHYE et al., 1983).
No Brasil, o estudo da prevalência dos diferentes sorovares de Leptospira sp em búfalos tem sido realizado por diferentes pesquisadores. CALDAS et al. (1977), pesquisando aglutininas antileptospíricas de animais provenientes do Estado da Bahia, encontraram 82,9% de positividade dentre 68 amostras de soro de búfalos. No Estado de São Paulo, SANDOVAL et al. (1979) e GIORGI et al. (1981) encontraram 6,9% e 6,7% de positividade em 829 e 849 amostras de soro, respectivamente. YASUDA et al. (1982), estudando a soroprevalência, em quatro municípios, obtiveram 22,4% de prevalência em 214 amostras de soro, sendo os sorovares prevalentes o grippotyphosa (n=16), seguido do pomona (n=13), wolffi (n=9) e icterohaemorrhagiae (n=3), e GIRIO et al. (1984) apontaram 16% de prevalência de aglutininas antileptospíricas, em 330 amostras de soro provenientes também de 4 municípios, do Estado de São Paulo, sendo o sorovar wolffi prevalente com 30,77% dentre as amostras positivas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram examinadas 403 amostras de soro de búfalos, sendo 39 (9,7%) da raça Jafarabad, 24 (6,0%) Mediterrâneo, 250 (62,0%) Murah e 90 (22,3%) mestiços, provenientes de 15 propriedades, abrangendo sete municípios do Vale do Ribeira, Estado de São Paulo (Cananéia, Eldorado Paulista, Iguape, Jacupiranga, Pariquera-Açu, Registro, Sete Barras). O período de colheita das amostras estendeu- se de janeiro de 1992 a junho de 1993. Utilizouse o teste de soroaglutinação microscópica, onde foram consideradas amostras positivas aquelas com título igual ou maior a 100 (BRASIL, 1995), utilizando- se os seguintes antígenos de Leptospira spp.: bratislava, castellonis, djasiman, grippotyphosa, copenhageni, icterohaemorrhagiae, pomona, hardjo, wolffi e tarassovi.
Os resultados foram analisados estatisticamente contrastando-se as prevalências obtidas para os diferentes sorovares, levando-se em consideração a idade dos animais, utilizando-se o teste do qui-quadrado, realizado no programa EPI-INFO.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram positivas 152 (37,7%) amostras (tabela 1) e, dentre os sorovares testados a prevalência com a porcentagem em ordem decrescente foi : wolffi (n=68, 44,8%), icterohaemorrhagiae (n=51, 33,6%), hardjo (n=51, 33,6%), castellonis (n=25, 16,5%), djasiman (n=12, 7,9%), grippotyphosa (n=10, 6,6%), pomona (n=8, 5,2%), bratislava (n=6, 4,0%), copenhageni (n=5, 3,3%) e tarassovi (n=4, 2,7%) (tabela 2). O maior título encontrado foi de 1600 para o sorovar bratislava (n=1), seguido de 800 para wolffi (n=4) e 400 para os sorovares gryppotyphosa (n=2), icterohaemorrhagiae (n=1), wolffi (n=4) e tarassovi (n=1). A distribuição dos resultados entre os diferentes intervalos de idades, pode ser verificada na tabela 3, não havendo, entretanto, diferença estatística significativa, com c2=3,71, p=0,7153.
A freqüência de amostras positivas nesta pesquisa (37,7%) difere dos resultados obtidos por CALDAS et al. (1977) que, examinando amostras provenientes do Estado da Bahia, obtiveram 82,9% de positividade, resultado superior ao do presente estudo. O mesmo ocorreu em relação aos resultados de SANDOVAL et al. (1979) e GIORGI et al. (1981), que encontraram prevalência de 6,9% e 6,7%, respectivamente, neste caso inferiores às obtidas com os animais do Vale do Ribeira. Por outro lado, YASUDA et al. (1982) e GIRIO et al. (1984) trabalhando ambos em quatro municípios de diferentes regiões no mesmo Estado, encontraram 22,4% e 16,0% de amostras positivas, respectivamente, diferindo também dos nossos resultados, sendo, entretanto, mais próximos que os obtidos pelos outros autores.
Quanto à prevalência dos sorovares examinados, YASUDA et al. (1982) lograram maior freqüência para o sorovar grippotyphosa, discordando com a encontrada neste estudo, que revelou maior prevalência para o sorovar wolffi, o que corrobora os resultados de GIRIO et al. (1984).
CONCLUSÕES
A importância da espécie bubalina na epidemiologia da leptospirose deve ser considerada, uma vez que estes animais podem atuar como reservatórios de leptospiras, eliminando-as no ambiente principalmente pela urina, servindo como fonte de infecção a outros animais criados nas mesmas propriedades, bem como para as pessoas que manejam estes animais. Conclui-se, também, pela importância dos inquéritos soroepidemiológicos regionais, levando- se em consideração a grande variação dos resultados encontrados na literatura cotejada.
2 Médico Veterinário, Instituto de Zootecnia de Nova Odessa.
3 Pós-graduando da Área de Vigilância Sanitária, FMVZ, UNESP,Botucatu.
4 Médico Veterinário autônomo.
Recebido para publicação em 29.12.97. Aprovado em 07.10.98
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
18 Dez 2006 -
Data do Fascículo
Jun 1999
Histórico
-
Aceito
07 Out 1998 -
Recebido
29 Dez 1997