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EDITORIAL

Este número da Revista Estudos Feministas marca o início de uma nova Coordenação Editorial. Como tem acontecido ultimamente, esta será uma coordenação colegiada, agora com três editoras de áreas diferentes, a antropologia, a literatura e a história. A Revista continua também com uma grande equipe que se divide entre as editorias de artigos, dossiês, entrevistas, seção debates e resenhas. Antes de mais nada, queremos prestar nossa homenagem e expressar nossos agradecimentos às coordenadoras editoriais que conduziram a REF no seu período anterior, Joana Maria Pedro e Susana Bornéo Funck. Além de levarem adiante o projeto da Revista, que a partir de 2005 passou a ser editada em três números por ano, elas fizeram um grande esforço no sentido de, por um lado, obter financiamento para a Revista e, por outro, manter o reconhecimento sobre o trabalho empreendido, que se materializa na avaliação da CAPES e na indexação da REF em vários índices, inclusive o Scielo. Devemos acrescentar que esse trabalho de reconhecimento foi iniciado já em outras coordenações editoriais, e contou com o apoio de toda a equipe editorial executiva e com o insubstituível suporte do Conselho Editorial e do Conselho Consultivo, aos quais somos também muito gratas.

Nesta nova gestão da REF, nosso trabalho está voltado para manter o patamar de excelência que foi conseguido até agora, melhorando ainda no que for possível nossa avaliação, e principalmente continuando a trazer para a Revista os temas e as discussões do campo dos estudos feministas, de gênero e de sexualidades, para que permaneça como um dos fóruns privilegiados de debate dos temas que não só passam pela academia, mas também pelos movimentos sociais e pela sociedade civil em geral.

Neste início de 2006, é importante destacarmos o grande sucesso do Programa Mulher e Ciência, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. O programa envolveu um pacote de três ações, para as quais a Revista Estudos Feministas foi chamada a discutir e empenhou seu total apoio: o 1º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero, que premiou redações de estudantes do ensino médio e monografias de graduandos e pós-graduandos; o Edital de Pesquisa sobre Relações de Gênero, Mulheres e Feminismos, em parceria com o CNPq, que selecionou projetos de pesquisa sobre a temática para obterem financiamento; e o Encontro Nacional de Núcleos e Grupos de Pesquisa sobre Relações de Gênero, Mulheres e Feminismos Pensando Gênero e Ciências, que ocorreu em Brasília, nos dias 29, 30 e 31 de março de 2006, e que reuniu núcleos e grupos de pesquisa de todas as regiões do país para refletir sobre as questões que envolvem gênero e ciência, bem como sobre as políticas públicas e ações necessárias à promoção da igualdade no domínio da academia e da ciência. Essa iniciativa marca um importante passo no sentido do reconhecimento do campo dos estudos de gênero e feminismo em nível nacional, para o qual a REF vem trabalhando desde sua criação ao lado de outras revistas, núcleos de pesquisa e organizações feministas.

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O presente número, organizado por Laura Moutinho, Simone Monteiro, Sérgio Carrara, Osmundo Pinho traz como discussão central a relação entre gênero, raça e sexualidade. Ele surgiu da proposição feita à Revista para a publicação de um dossiê sobre esse tema. Contudo, os artigos eram tantos e tão abrangentes em seu debate das interfaces dessas três temáticas cruciais para a compreensão da sociedade brasileira e latino-americana que o dossiê acabou se transformando em um número temático. Todos os artigos publicados neste número da Revista compõem um conjunto e se originaram do Seminário Internacional Raça, Sexualidade e Saúde: Perspectivas Regionais, ocorrido no Rio de Janeiro em novembro de 2004, promovido pelo Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM), filiado ao Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pelo Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ e pelo Centro de Estudos Afro-Brasileiros (UCAM). Não se trata, porém, de uma publicação simples dos textos apresentados no Seminário, como se faria em anais. Cada texto selecionado pelos organizadores passou pelo crivo de dois pareceristas da área, recebendo assim sugestões e críticas e incorporando uma discussão mais ampla ainda do que aquela que ocorreu no evento.

Na apresentação escrita pelos organizadores e nos artigos, as interfaces entre raça, sexualidade e saúde desenham-se de maneira muito mais definida a partir dos dados trazidos pelos autores, baseados em estatísticas, entrevistas, trabalhos de campo, observações ou mesmo nas discussões levantadas sobre esses dados e sobre a produção cultural e a história. Os textos tratam da questão de maneira comparativa e diversificada, apresentando dados sobre Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades brasileiras, bem como sobre outras grandes cidades de outros países latino-americanos como a Colômbia e a Argentina e ainda de Moçambique, na África. Entre o Brasil das grandes cidades, Bogotá, Buenos Aires, Cali e Maputo, traça-se um mapa em que os preconceitos de raça, sexualidade e gênero ganham territorialidade e tempo, e em que as políticas públicas, as ONGs, os funcionários e educadores desenham caminhos, enquanto mulheres e homens de várias cores, idades, opções sexuais, profissões e classes sociais procuram mover-se, e sobreviver.

Publicamos também um texto, escrito por Ana Rita Fonteles Duarte, in memoriam de Betty Friedan, essa feminista norte-americana que marcou profundamente o movimento através de sua obra A mística feminina, lançada em 1963, e que chamava a atenção para o "mal sem nome" que atingia as donas de casa, sufocadas naquele ambiente de consumo, filhos e trabalho doméstico. Betty Friedan faleceu em 4 de fevereiro de 2006, no dia em que completou 85 anos. A autora conta também a polêmica visita de Betty Friedan ao Brasil, em 1971, e as repercussões de sua entrevista ao semanário O Pasquim.

Na seção Ponto de Vista, a entrevista, realizada por Maria José Rosado-Nunes, é com a teóloga feminista Yvone Gebara. A trajetória dessa religiosa católica, autora de livros feministas, é questionada e problematizada na entrevista, cuja questão central é como ela resolve a aparente contradição existente entre ser católica e ser feminista, o que, como se vê, nada tem de tranqüilo ou pacífico. A entrevista explora ainda as diferenças e convergências entre a teologia feminista brasileira e as de outras nacionalidades, os lugares ocupados pelas mulheres na igreja e na sociedade, e as relações entre igreja e movimentos sociais, especialmente os feministas.

As resenhas deste número tratam de livros recentemente lançados no mercado editorial e procuram apresentar uma leitura crítica e contextualizada dessas obras. No campo da literatura, aparecem três resenhas, abordando representações de gênero e raça em obras literárias recentes. Outras três resenhas tematizam livros sobre a história do amor, a medicina "para senhoras", sexualidade e teorias queer.

A capa merece uma menção especial. Ela se originou de um cartaz que divulgava o espetáculo Identidades, promovido pela ONG Música e Cidadania. Essa ONG, que realiza um trabalho de inclusão com crianças da favela Chico Mendes, de Florianópolis, e que começa a atuar também em Porto Alegre, cedeu-nos com alegria a foto que retrata a mãe de um aluno estendendo os panos que servem para o cenário de seu espetáculo. É também com alegria que usamos essa foto na capa.

Finalmente, gostaríamos de agradecer às pessoas e instituições que tornam possível a publicação deste primeiro número da REF de 2006. Aos organizadores do número temático, cujos nomes foram mencionados acima, agradecemos especialmente o atendimento a nossas contínuas solicitações. Aos muitos pareceristas envolvidos na seleção e aprovação dos textos, nossa imensa gratidão e admiração. Às editoras de resenhas, entrevistas, dossiê, debates, seção temática, artigos, e à coordenação editorial que nos precedeu, e que muito trabalhou na concretização deste número, a garantia de nosso afeto incondicional. À nossa equipe técnica assistente editorial, assistente de divulgação, revisor, responsáveis pela editoração e pela capa , a certeza de que sem elas (e ele) não seria possível esta publicação. Ao CNPq, à Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, ao CLAM e ao PROSUL/CNPq, agradecemos o apoio financeiro para este número.

Cristina Scheibe Wolff

Simone Pereira Schmidt

Sônia Weidner Maluf

Coordenação Editorial

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Ago 2006
  • Data do Fascículo
    Abr 2006
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