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25º Congresso Quadrienal do Conselho Internacional de Enfermeiras: uma participação necessária

EDITORIAL

25º Congresso Quadrienal do Conselho Internacional de Enfermeiras: uma participação necessária

Joel Rolim Mancia

Editor-chefe da Revista Enfermagem em Foco. Doutor em Enfermagem. Diretor da Associação Brasileira de Enfermagem, Seção RS. Rio Grande do Sul, Brasil

I consider it a fundamental right for populations to have access to the conditions

and resources necessary for their health and well-being. As such, our ultimate

goal as nurses should be to maximize our contributions to achieve optimal health

for the greatest number of people (Discurso de posse de Judith Shamian no

Conselho Interacional de Enfermeiras; Melbourne, Austrália, em 22 de Maio de 2012).

O Conselho Internacional de Enfermeiras (CIE) é uma organização não governamental formada por mais de 130 países que reúne uma representação por país, reproduzindo o modelo da Organização das Nações Unidas, embora sem Conselho de Segurança. As deliberações são aprovadas pelo Conselho de Representantes Nacionais (CRNs), assembleia que acontece a cada dois anos, na qual existe a possibilidade de apenas um voto por país, podendo haver representantes sem direito a voto. A sede do CIE é em Genebra, Suíça. A organização completou 113 anos de existência e se considera a representante das mais de 13 milhões de enfermeiras no mundo. Para tanto, realiza o advocay das enfermeiras, em âmbito internacional.

Em 2013, o Congresso Quadrienal do CIE foi realizado em Melbourne, na Austrália, de 13 a 22 de maio. Contou com uma programação ampla, contemplando todos os programas que o CIE desenvolve, e com apresentações de grande parte dos países membros. Entre os temas, alguns assumem maior relevância e serão discutidos a seguir.

Equidade e Acesso em Cuidado de Saúde foi o tema oficial, em que a organização deteve um olhar mais escrutinador sobre a qualidade e os custos para melhorar a saúde das populações. Neste, as enfermeiras são vistas como as lideranças capazes de fazer a diferença, pois são elas que se dedicam a práticas inovadoras, com o objetivo de atendes as necessidades em saúde. No entanto, são submetidas a muitas pressões econômicas, as quais precisam estar preparadas. Assim, elas precisam de acesso a recursos, mecanismos de apoio e, principalmente, acesso à formação.1

Nos cenários de prática das enfermeiras foi debatido a questão da amplitude que adquiriram os espaços de atuação, surgindo, por exemplo, um número expressivo de pessoas não regulamentadas ou fora do trabalho registrado, executando tarefas antes restrita aos profissionais de enfermagem. A forma sugerida para superar esse desafio chama as enfermeiras para cada vez mais participarem dos Sistemas de Saúde e/ou dos governos.

O desafio da tuberculose, que apresenta crescentes índices de prevalência e mortalidade e, neste contexto, as enfermeiras são vistas como peças-chave, que jogam um papel crucial, como maior segmento da força de trabalho na saúde, elas são vistas como essenciais para modificar essa realidade, devido ao seu papel de linha de frente no atendimento ao paciente e os laços que formam com os pacientes e familiares, tanto para propor formas de abordagem dos pacientes e usuários de medicação e obtenção de diagnósticos, bem como atuar na educação em saúde para melhor a adesão dos mesmos aos tratamentos.

O envelhecimento das populações foi objeto de especial atenção do CIE este ano, haja vista o aumento deste segmento em todas as sociedades do mundo, gerando um aumento dos custos para atender as necessidades destes usuários pelos Sistemas de Saúde, entendido que no atual ritmo cada vez mais as pessoas velhas terão menos acesso aos cuidados em saúde, devido aos gastos. Ainda, nesta perspectiva, esse mesmo ambiente determinará uma crescente demanda por formação de mais e mais enfermeiras para dar conta deste tipo de cuidado. Ao que parece, esse tema ainda será muito discutido, pois não estão claros os caminhos a seguir, mas percebemos que há uma forte preocupação dos governos.

O HIV/aids continua desafiando todos os Sistemas de Saúde do mundo, por sua capacidade de estar presente em todas as sociedades, tendo enorme impacto nos orçamentos, devido aos custos crescentes. Nesta luta, as enfermeiras se destacam por sua atuação na rede de prevenção, nos cuidados e na educação.

A segurança do paciente teve destaque no que tange à preocupação dos profissionais da saúde com a vida dos pacientes. O tema abrange as mais diversas condições de insegurança e perigo para os usuários do Sistema de Saúde, podendo ser apenas a aplicação de um medicamento, por alguns minutos antes do horário prescrito, até a cirurgia de amputação do membro sadio ao invés do doente. Além disso, o aumento das infecções hospitalares tem produzido um aumento exponencial nos custos de saúde. Foi lembrado que a segurança do paciente é motivo de preocupação, tantos nos países ricos como naqueles em desenvolvimento, sendo notadamente maior nestes últimos, já que ocorrem mais efeitos adversos.

Por fim, o temário abordou a obesidade como problema de saúde pública. O painel se constituiu de apresentação de expert da Universidade da Austrália, que distinguiu as enfermeiras como fundamentais para combater a epidemia de obesidade.

Ainda, gostaria de comentar sobre a importância do evento do CIE, para as enfermeiras, no mundo. Para grande parte daquelas que são dos países em desenvolvimento, constitui-se no único momento de interlocução com uma audiência internacional e que podem dar voz para seus problemas, que podem ser ouvidas. Igualmente, fazer parte do CIE é estar inserido num contexto internacional em que as organizações buscam soluções coletivas, tanto para a melhoria dos cuidados em saúde quanto para a excelência da prática profissional da enfermagem.

De 2009 a 2013, o CIE elegeu a palavra "acesso" para desenvolver seu programa de gestão. Ao assumir o cargo, a atual presidente elegeu a palavra "impacto" para atuar nos próximos quatro anos.

Por fim, mostro alguns dados do evento, como o resultado da eleição para o quatriênio 2013-2017: a presidente eleita, com 61 dos 90 votos do CRN foi Judith Shamian, do Canadá. Foram apresentados 566 pôsteres e 506 na forma oral. O evento teve um total de 3990 inscritos, oriundos de 124 países, sendo 19 do Brasil, e 25% dos participantes eram australianos. Pode-se considerar expressiva a participação em geral, visto que foi um congresso realizado em um local muito distante e de vida extremamente cara.

Assim, participar deste evento é estar ligado a um contexto de internacionalização, em que a produção do conhecimento é valorizada e encarada como uma estratégia de aplicabilidade na prática.

  • 1. Hassmiller SB. An 'action-oriented blueprint' for the future of nursing. Am J Nurs. 2010 Dec; 110(12):7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 2013
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