EDITORIAL
A enfermagem e o sistema de saúde
Tereza Cristina Scatena Villa; Silvana Martins Mishima
Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
A discussão da temática da enfermagem e sua articulação com outras práticas de saúde implica na compreensão da constituição de um campo de conhecimento e de intervenção sobre a realidade, que não se dá de modo estático e único, ao contrário, apresenta historicidade.
Assim, a enfermagem inserida nas práticas sanitárias em curso numa sociedade, num dado momento, repousa numa concepção do que representa sobre o processo saúde-doença naquele período, do modo como toma as necessidades presentes na sociedade e da forma como se articula ao processo de produção de serviços de saúde para atender tais necessidades.
O conhecimento da enfermagem vem se conformando em busca de uma intervenção de forma integrada na defesa da vida, no processo sofrer/adoecer/prevenir/promover/a saúde individual e coletiva.
Esta concepção tem suscitado reflexões acerca dos caminhos que a enfermagem está percorrendo para instrumentalizar sua prática no sistema de saúde.
O desafio da enfermagem e de outras práticas de saúde na perspectiva de construção do sistema de saúde tem sido ocupar espaços, a fim de viabilizar os preceitos constitucionais:
- o conceito de saúde como direito universal derivado do exercício de uma cidadania plena;
- a criação de um Sistema Único de Saúde organizado segundo diretrizes de descentralização com comando único em cada esfera de governo, o atendimento integral e participação popular.
- a integração da saúde no espaço mais amplo da seguridade social.
Esse projeto a ser construído busca organizar o atendimento à saúde segundo critérios de universidade, a partir de uma racionalidade técnica e política, hierarquizando segundo a complexidade da atenção e regionalizado conforme a distribuição populacional e do quadro de morbi-mortalidade das comunidades. Nesse projeto é preciso repensar as formas de gerenciamento dos serviços de saúde e de enfermagem, tanto ao nível de rede básica como hospitalar, buscando uma articulação estreita entre: o atendimento prestado para as intercorrências clínicas e concomitantemente, desenvolver as ações de alcance coletivo, no controle de causas, de riscos e de danos; as unidades prestadoras de atendimento básico e os demais níveis hierárquicos.
Essa perspectiva do gerenciamento de enfermagem buscando integrar o atendimento individual curativo às ações de alcance coletivo necessita de novas tecnologias de trabalho, ou seja, incorporar e reestruturar outros conhecimentos que instrumentalizam a prática, tais como: a epidemologia, a geografia humana, antropologia, a sociologia, dentre outros.
O grande desafio para a enfermagem na construção do sistema de saúde é criar ferramentas de trabalho em direção a um modelo que valorize e defenda a vida, que busque desenvolver ações sobre os determinantes e condicionantes dos problemas de saúde ou sobre os efeitos da existência deles num território, que redefina a organização da atenção, as condutas terapêuticas e os sistemas de avaliação epidemiológica e sanitária, tendo como referência um novo paradigma assistencial, o da "promoção da saúde", com maior grau de autonomia para a categoria profissional.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
18 Maio 2006 -
Data do Fascículo
Dez 1996