DOSSIÊ: COGNIÇÃO, AFETIVIDADE E EDUCAÇÃO
Apresentação
O dossiê Cognição, Afetividade e Educação proveio de uma notória demanda presente atualmente no âmbito educacional: pensar a educação além do sentido puramente cognitivo. Assim, a temática maior desta série de artigos versa sobre o papel da dimensão afetiva no desenvolvimento e na formação humanos, ou seja, na importância de se considerar o humano em seu caráter integral, superando as dicotomias presentes na contemporaneidade, principalmente no que se refere à dualidade razão-emoção. Assim, a tese principal que margeia a e dá unidade aos artigos é a ideia de que a afetividade tem papel fundamental na construção e exercício da vida humana, logo não podendo ser ignorada nas esferas educativas.
Dessa feita, os trabalhos aqui inseridos foram selecionados de forma a contemplar diversas facetas e perspectivas teóricas da temática proposta. Os autores convidados a participar foram escolhidos, em parte, devido à sua reconhecida competência no estudo do referido tema. Por outra parte, por representarem, estrategicamente, possibilidades de convergir, em um único volume, recentes reflexões teóricas e discussões empíricas oriundas de pontos de vista que podem contribuir efetivamente para o progresso na área.
Estudos sobre o autoconceito, a autoestima e as crenças de autoeficácia, bem como sobre as estratégias de aprendizagem entendidos enquanto recursos internos que potencializam as possibilidades de aprendizagem têm ganhado, nos últimos anos, reconhecida importância devido ao seu papel na autorregulação cognitiva e emocional dos indivíduos. Nessa direção, seguem os trabalhos de Izabel Hazin, Cristina Frade e Jorge Tarcísio da Rocha Falcão; e de Liliane Ferreira das Neves Inglez de Souza.
Subsídios da arte são resgatados em um ensaio visando à integração com a perspectiva interacionista de Vigotski no trabalho proposto por Maria Eunice de Oliveira e Tania Stoltz.
As contribuições de renomados teóricos como Henri Wallon e Urie Bronfenbrenner para as discussões acerca das relações entre cognição e afeto, e suas implicações para o desenvolvimento humano, serão sistematizadas nos artigos de Aurino Lima Ferreira e Nadja Acioly-Regnier e de Eva Diniz e Silvia Helena Koller, respectivamente.
O papel das interações interpessoais particularmente daquelas que se dão no âmbito familiar enquanto potencializadoras da regulação afetiva e cognitiva dos indivíduos na tenra idade será tema de discussão no artigo de Andrea Garvey e Micheline Silva.
O assunto será, ainda, discutido em uma perspectiva que busca combinar psicologia, filosofia, arte e educação no trabalho de René Simonato Sant'Ana, Helga Loos e Márcia Cristina Cebulski. Nesse caso, o que se coloca em questão são os paradigmas perscrutados ao longo da tradição do pensamento ocidental, pondo-se em reflexão os pressupostos assumidos pela contemporaneidade.
Assim, entendendo que a proposta aqui apresentada atinge os critérios para se contribuir para um profícuo diálogo científico, mais precisamente na área da educação, convidamos o leitor para a apreciação dos esforços dos autores aqui preocupados com a temática em questão: a afetividade como suporte humano, logo cognitivo e educacional. Pois, somente desse modo, com esforço, reflexão e interlocução, poderemos repensar os procedimentos que estão atualmente em voga e que, muitos concordam, parecem nos distanciar dos anseios presentes na real condição humana: rever constantemente, por meio da inteligência, as circunstâncias da vida. Afinal, como já bem o dizia Sófocles: "Ó deuses! Que maior prazer poderia haver no mundo do que este, proporcionar ao homem reformar seus costumes?".
Helga Loos e René Simonato Sant'Ana
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
18 Jun 2010 -
Data do Fascículo
2010