Panorama Internacional
Clínica Médica
O ESTUDO MIRACL E O USO DE ESTATINAS NA FASE AGUDA DA DOENÇA ISQUÊMICA DO CORAÇÃO
O tratamento de pacientes com insuficiência coronariana aguda ganhou novo reforço. No Congresso da American Heart Association 2000 foram apresentados os resultados do estudo Miracl que testou a hipótese de que o tratamento com altas doses (80 mg por dia) de atorvastatina, imediatamente após o início dos sintomas, poderia reduzir a ocorrência de eventos cardiovasculares. O Miracl foi um estudo randomizado, duplo cego e controlado por placebo, que envolveu 3086 pacientes com angina instável ou infarto Não-Q.
O tratamento foi iniciado 24 a 96 horas após a hospitalização e mantido por 16 semanas quando foi realizada a análise dos eventos. Os desfechos primários conbinados eram morte, infarto não-fatal, parada cardíaca com ressuscitação ou piora da angina (com evidência objetiva de isquemia miocárdica) necessitando hospitalização. Os objetivos secundários eram os componentes isolados do objetivo primário, além de acidente vascular cerebral, revascularização do miocárdio, piora da insuficiência cardíaca e angina sem evidência objetiva de isquemia. O objetivo primário ocorreu em 228 pacientes (14,8%) do grupo que recebeu atorvastatina e em 269 (17,4%) dos que receberam placebo (risco relativo de 0,84, intervalo de confiança de 0,70 a 1,00, p = 0,048).
Dentro dos objetivos primários, a piora da angina foi aquele onde a atorvastatina exerceu maior impacto (p = 0,02) e o responsável pela significância estatística do objetivo primário combinado já que, isoladamente, a ocorrência de morte, infarto não-fatal e parada cardíaca foi semelhante nos dois grupos. Os autores observaram também menor incidência de acidentes vasculares cerebrais no grupo que recebeu atorvastatina (12 contra 24). No grupo que recebeu atorvastatina ocorreu uma acentuada redução dos níveis de LDL-colesterol, de um valor médio de 123 mg/dl para 72 mg/dl após o tratamento. Os autores concluíram que a atorvastatina diminui a ocorrência de eventos cardiovasculares quando utilizada de forma intensiva nas primeiras 16 semanas da insuficiência coronária aguda.
Comentário
Embora ainda em análise para publicação definitiva, os dados do Miracl sugerem que o uso das estatinas, já definido na fase crônica, pode ser estendido para a fase aguda da insuficiência coronária. Esta tese é perfeitamente plausível, uma vez que nesta situação estão intensificados todos os mecanismos onde estes medicamentos têm um efeito benéfico (instabilização da placa aterosclerótica, disfunção endotelial e agregação plaquetária). Resta responder se este benefício é extensivo aos pacientes com infarto do miocárdio com ondas Q, não incluídos no Miracl, e se estes resultados podem ser obtidos com outras estatinas.
Bruno Caramelli
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
24 Abr 2001 -
Data do Fascículo
Mar 2001