À beira do leito
Pediatria
QUAIS OS PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS A SEREM ADOTADOS NO TRATAMENTO DA BRONCOPNEUMONIA COM DERRAME PLEURAL NA CRIANÇA?
Após a confirmação do diagnóstico de broncopneumonia com formação de derrame pleural, a primeira dúvida refere-se à necessidade de punção pleural para diagnóstico do tipo de derrame. Este procedimento deve ser indicado apenas nos casos de derrames de médias ou grandes proporções, quando há comprometimento da função respiratória ou do estado geral da criança. A segunda dúvida refere-se à indicação de drenagem da cavidade pleural. O aspecto turvo do líquido colhido, diagnosticado com a simples inspecção, sinaliza tratar-se de derrame purulento e, portanto, indicativo de drenagem pleural.
A outra indicação corresponde aos grandes derrames serosos, em que há comprometimento da função respiratória por mecanismo restritivo. Após a colocação do dreno, a ocorrência de imagem radiológica sugestiva de derrame encistado residual ou de espessamento pleural não é raro e, em conjunto com a febre persistente, não deve ser interpretado como falha da drenagem inicial. O derrame incistado residual geralmente não revela a presença de bactérias, tanto no exame bacterioscópico direto ou na cultura e, como conseqüência, não deve ser o fator causal da persistência da febre. Da mesma forma, o acúmulo de fibrina na serosa pleural, causando imagem radiológica de espessamento nas pleuras e visceral, não provoca febre.
A experiência prática e centenas de publicações científicas, desde o início do século passado, demonstram que derrame encistado e espessamento pleural sofrem regressão espontânea após dois ou três meses, sem qualquer tipo de intervenção operatória. Justifica-se apenas a manutenção de antibioticoterapia enquanto houver a persistência da febre, que certamente decorre da evolução do processo inflamatório e/ou infecciosso do parênquima pulmonar. A decorticação pulmonar através de toracotomia ou vídeo-cirurgia, operação freqüentemente indicada para adultos, realizada com o objetivo de remover o acúmulo de fibrina e/ou fibrose que se acumula em torno do pulmão, não tem qualquer indicação na criança pelo simples e elementar motivo de que o processo sofre cura espontânea sem nenhum tipo de seqüela tardia, anatômica ou funcional. Finalmente, pelo mesmo motivo, não se deve indicar o uso de injeção intrapleural de estreptoquinase, com o objetivo de facilitar a lise da fibrina, recurso também citado na literatura médica dos últimos anos.
Uenis Tannuri
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
24 Abr 2001 -
Data do Fascículo
Mar 2001