À beira do leito
Obstetrícia
QUAL A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE GLICÊMICO NO ACOMPANHAMENTO DE GESTANTES DIABÉTICAS?
O estudo da gravidez complicada pelo diabetes melito ganhou corpo após 1922, quando a insulina foi descoberta e passou a ser empregada. As taxas de mortalidade materna, antes próxima a 45%, foram reduzidas progressivamente atingindo, atualmente, índices inferiores a 5%. A mortalidade perinatal também foi reduzida significativamente nas últimas décadas graças ao desenvolvimento de novas técnicas de controle de vitalidade fetal e adoção do controle metabólico estrito.
A hiperglicemia materna e fetal parecem ser o gatilho das intercorrências desencadeadas pelo diabetes mal controlado.
No início da gestação, a hiperglicemia - pela sua capacidade teratogênica - associa-se ao aumento da incidência de malformações fetais.
Em épocas mais avançadas da gravidez, a hiperglicemia relaciona-se a uma cadeia de transformações fetais que culminam com elevação das taxas de morbiletalidade perinatal:
· Estímulo ao pâncreas fetal com superprodução de insulina fetal. O incremento de insulina fetal por um lado estimula o crescimento excessivo dos órgãos, levando à macrossomia fetal e acréscimo do número de cesárea, e por outro lado eleva a incidência de hipoglicemia neonatal.
· Aumento dos níveis de hemoglobina glicosilada no sangue fetal parece precipitar a hipoxia tecidual, já que sua afinidade à molécula de oxigênio é grande. A hipoxia pode, em última instância, desencadear o óbito fetal. Em condições menos dramáticas, relaciona-se ao acréscimo da produção de hemácias (policitemia) e conseqüente hemólise e hiperbilirrubinemia neonatal.
· Aumento da diurese fetal e conseqüente acúmulo de líquido amniótico, levando ao poliidrâmnio, relacionado ao aumento de partos prematuros e descolamento prematuro de placenta.
O controle metabólico estrito é indubitavelmente a solução para o ótimo resultado da gravidez em diabéticas.
O aprimoramento tecnológico da monitorização glicêmica materna e do bem-estar fetal, bem como o desenvolvimento de novas insulinas, possibilitam um melhor controle da gestante diabética. Após 80 anos, buscamos imitar o metabolismo natural e com ele os benefícios de uma gravidez sadia e livre de intercorrências.
CARLOS ALBERTO MAGANHA
Referências
1. Homko CJ, Reece EA. Ambulatory care of the pregnant patient with diabetes. In: HILL WC. Ambulatory obstetrics. Philadelphia: Lippincott Willians & Wilkins; 2002. p.136-55.
2. Coustan DR. ACOG Practice Bulletin N.30. Gestational diabetes. Obstet Gynecol 2001; 98:525-38.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
26 Ago 2002 -
Data do Fascículo
Mar 2002