CLÍNICA MÉDICA
Qual o valor do BNP na prática clínica em pacientes com insuficiência cardíaca?
Fábio Fernandes; Charles Mady
O BNP (Brain natriuretic peptide) é um neurohormônio secretado pelos ventrículos em resposta à expansão de volume e sobrecarga de pressão. Seus níveis estão correlacionados com medidas hemodinâmicas, tais como: pressão átrio direito, pressão capilar pulmonar e a pressão diastólica final do ventrículo esquerdo.
Os níveis normais de BNP variam de 0 a 70 pg/ml. Interpretações do resultado devem incluir considerações sobre idade e sexo, sendo os maiores valores no sexo feminino e quanto maior a idade. Os valores também estão elevados nos pacientes com insuficiência renal.
As medidas dos níveis de BNP têm um elevado valor preditivo negativo (98%), sugerindo que pacientes com níveis de BNP normais, muito provavelmente, não apresentem disfunção ventricular. Portanto, o BNP tem sido considerado um marcador bioquímico atrativo e interessante para a triagem diagnóstica, avaliação do tratamento e prognóstico de pacientes com insuficiência cardíaca congestiva.
Os níveis de BNP permitem objetivar parâmetros clínicos, como a classificação funcional da NYHA. Pacientes em classe funcional I apresentam média de (152 ± 16 pg/ml), os de classe II ( 332 ± 25pg/ml), os de classe III (590 ± 31 pg/ml) e os de classe IV (960 ± 34 pg/ml).
Estudos dos níveis de BNP, em conjunto com outras informações clínicas, têm auxiliado no diagnóstico diferencial de pacientes com dispnéia de origem cardíaca daqueles de origem pulmonar. Morrison e colaboradores observaram níveis estatisticamente significantes (758,5±798 pg/ml) nos pacientes com dispnéia secundária à insuficiência cardíaca quando comparados àqueles de origem pulmonar (61±10 pg/ml).
Em pacientes com função sistólica normal, a elevação dos níveis (286 ± 31 pg/ml) pode também reforçar o diagnóstico de disfunção diastólica em conjunto com as alterações ecocardiográficas. Pacientes com função sistólica e diastólicas normais apresentaram valores de BNP em média de 33 ± 3 pg/ml.
Pacientes submetidos a transplante cardíaco apresentam níveis elevados a despeito da normalização das pressões de enchimento e ativação do sistema renina-angiotensina e simpático. Estes níveis (> 400 pg/ml) se correlacionam com o grau de rejeição e com os achados histológicos à biópsia endomiocárdica.
A estreita correlação do grau de ativação do BNP e a condição clínica cardíaca permite sua utilização na otimização do tratamento medicamentoso da insuficiência cardíaca. Estudos clínicos demonstram que esta abordagem é superior a terapêutica clínica empírica convencional.
Outra vantagem da utilização deste marcador está na avaliação da morbidade da insuficiência cardíaca: os pacientes que evoluíram satisfatoriamente após compensação clínica tiveram níveis menores (500 pg/ml) na alta hospitalar. Por outro lado, aqueles que apresentavam níveis superiores a 1000 pg/ml eram mais propensos a uma maior mortalidade ou chance de readmissão hospitalar num período de 30 dias.
Outro marcador que tem mostrado resultados semelhantes ao BNP é a dosagem do fragmento terminal do pró-BNP (NT-proBNP).
Acreditamos que estes marcadores bioquímicos serão utilizados de rotina na prática cardiológica. Este deve ser mais um método complementar, cuja função não é de substituir decisões clínicas, porém auxiliar o diagnóstico, terapêutica e estratificação prognóstica.
Referências
1. Maisel A.B- type natriuretic peptide levels: a potencial novel " white count" for congestive heart failure. Card Fail 2001; 7(2):183-93.
2. Latini R, Masson S, Angelis N, Anand I. Role of Brain natriuretic peptide in the diagnosis and management of heart failure: current concepts. J Card Fail 2002:8(5):288-99
3. Lemos JA, McGuire DK. B-type natriuretic peptide in cardiovascular disease. Lancet 2003; 361:1-7.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
22 Jul 2003 -
Data do Fascículo
Jun 2003