CORRESPONDÊNCIAS
Correção videolaparoscópica das hérnias inguinais
Em relação ao artigo "A videolaparoscopia na hérnia inguinal deve ser rotineira?", publicado na secção "À Beira do Leito" da Rev Assoc Med Bras 2005; 51(5):243, tecemos algumas considerações.
As vantagens da hernioplastia inguinal videolaparoscópica sobre a técnica convencional estão bem estabelecidas na literatura médica: menos dor pós-operatória, retorno mais célere às atividades habituais e maior satisfação do paciente.
Rutkow estima que, em 2003, nos EUA, de aproximadamente 800.000 reparos de hérnia, 14% foram feitos por videolaparoscopia, 37% por Lichtenstein, 34% plug repairs, 8% foram outros reparos com tela e somente 7% reparos sem uso de prótese1.
As explicações para o menor número de correções videolaparoscópicas (14%), conforme Arregui e Young, estão relacionadas com o menor reembolso pago aos procedimentos videolaparoscópicos nos EUA, 15,8% a menos na hérnia primária e 12,4% na recidivada em relação aos procedimentos abertos. Além disso, deve-se considerar a relativa facilidade do reparo aberto e não existência de um treinamento adequado durante as residências e fellowships em cirurgia nos reparos videolaparoscópicos2.
Atualmente, há uma tendência mundial de utilização rotineira de tela para correção de hérnias inguinais no adulto. Em metaanálise que avaliou 58 ensaios clínicos com 11.174 pacientes, (The EU Trialist Collaboration), o uso de tela demonstrou reduzir o risco de recorrência, redução no tempo de hospitalização, redução de dor pós-operatória na técnica aberta e recuperação mais rápida3.
Historicamente, todas as novas técnicas de correção de hérnia inguinal encontraram resistência, mesmo o reparo de Lichtenstein, que atualmente é o mais utilizado.
Segundo Richards, Quinn e Fitzgibbons, quatro avanços na metade final do século XX contribuíram significativamente para a diminuição da morbidade e diminuição da recorrência: uso de próteses, aceitação ampla do conceito de tension-free, possibilidade de uso do espaço pré-peritoneal na correção das hérnias e a terapêutica videolaparoscópica4.
As complicações em geral são as mesmas, tanto nos reparos abertos como nos videolaparoscópicos, embora o potencial para lesões mais graves seja maior na abordagem videolaparoscópica. Isto reflete a curva de aprendizagem e o pobre ensinamento da técnica2.
Vários autores indicam que a correção laparoscópica pode ser efetiva, segura e com grande sucesso, nas hérnias primárias, bilaterais e recidivadas, utilizando o método rotineiramente2,5,6. Nós utilizamos como rotina a técnica videolaparoscópica para correção das hérnias inguinais desde 1993, tendo já analisado 696 correções até julho de 20036.
O primeiro ensaio clínico randomizado comparando o reparo aberto ao videolaparoscópico mostrou: recuperação mais rápida, menor incidência de abscesso de ferida operatória, menor recorrência na videocirurgia. Todavia nas correções abertas não era utilizada prótese7.
Ensaio clínico randomizado, publicado em 2004, que gerou muita discussão sobre o assunto, evidenciou índices de recidiva similares na correção de hérnias recidivadas e resultados similares em correção de hérnias primárias, quando realizada a correção videolaparoscópica por cirurgiões com mais de 250 correções8.
Portanto, na literatura atual está bem estabelecido e existe respaldo que o método videolaparoscópico é mais uma técnica segura e efetiva para correção das hérnias inguinais, tanto recidivadas quanto primárias, podendo ser realizada rotineiramente por cirurgiões experientes com o método ou por novos cirurgiões com treinamento adequado, pois proporciona grandes benefícios ao paciente, reduz a dor pós-operatória, permanência hospitalar, promove a correção bilateral e agiliza o retorno ao trabalho.
Manoel Roberto Maciel Trindade
Eduardo Neubarth Trindade
Referências
1. Rutkow IM. Demographic and socioeconomic aspects of hernia repair in the United States in 2003. Surg Clin North Am 2003;83(5):1045-51.
2. Arregui ME, Young SB. Groin hernia repair by laparoscopic techniques: current status and controversies. World J Surg 2005;29(8):1052-7.
3. The EU Trialists Collaboration. Repair of groin hernia with synthetic mesh: meta-analysis of randomized controlled trials. Ann Surg 2002; 235(3):322-32.
4. Richards AT, Quinn TH, Fitzgibbons RJ Jr.. Abdominal wall hernias. In: Greenfield LJ, Mulholland MW, Oldham KT, Zelenock GB, Lillemoe KD, editors. Greenfield's surgery: scientific principles and practice. 3rd ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2001. p.1185-224.
5. Bittner R, Schmedt CG, Schwarz J, Kraft K, Leibl BJ. Laparoscopic transperitoneal procedure for routine repair of groin hernia. Br J Surg 2002; 89(8):1062-6.
6. Trindade MRM, Vaz M, Trindade EN, Moreira Jr, NL. Hernioplastia inguinal por técnica videolaparoscópica transabdominal pré-peritoneal- avaliação de 696 correçoes. Rev Col Bras Cir 2005;32 (suppl 1):56-56.
7. Liem MS, Van der Graaf Y, Van Steensel CJ, Boelhouwer RU, Clevers GJ, Meijer WS, et al. Comparison of conventional anterior surgery and laparoscopic surgery for inguinal-hernia repair. N Engl J Med 1997;336(22):1541-7.
8. Neumayer L, Giobbie-Hurder A, Jonasson O, Fitzgibbons R Jr, Dunlop D, Gibbs J, et al. Open mesh versus laparoscopic mesh repair of inguinal hernia. N Engl J Med 2004;350(18):1819-27.
9. Castro OAP, Vincenzi R, El Malat HL, Ilias EJ, Kassab P. A videolaparoscopia na hérnia inguinal deve ser rotineira?. Rev Assoc Med Bras 2005;51(5):243.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
01 Jun 2006 -
Data do Fascículo
Abr 2006