PANORAMA INTERNACIONAL
BIOÉTICA
Qual é o real desejo humano frente à possibilidade de reprodução?
Os avanços científicos e tecnológicos têm possibilitado a ampliação do conhecimento sobre o ambiente e o funcionamento do corpo humano, trazendo inúmeros benefícios à vida cotidiana do ser humano. Mas o quanto tem sido pensado sobre os efeitos do avanço científico para a humanidade no âmbito psicossocial?
A possibilidade de reproduzir é uma das definições de vida e condição da preservação das espécies. Talvez, por este motivo, tanto vem sendo investido na cura da infertilidade humana. São cada vez mais conhecidas as situações em que casais "biologicamente impossibilitados" de terem filhos recorrem às novas tecnologias na busca de tal realização de desejo, seja este ligado à vivência de uma gestação ou mesmo simplesmente à preservação das características genéticas familiares.
Atualmente, no âmbito tecnológico, surgiu uma alternativa que tem sido bastante questionada: o transplante de útero. De acordo com publicação no Independent, médicos do New York Downtown Hospita l defendem o transplante como uma possibilidade de ajuda a mulheres que pretendem realizar o desejo de ser mãe. Concretamente, já estão sendo feitos cadastros de mulheres que pretendem realizar o transplante ainda este ano e de outras que aceitaram ser doadoras de útero em caso de morte cerebral.
Comentário
O que vem sendo discutido, no âmbito bioético, perante tais situações? A quem pertence a vida, seja pensando na doadora, na receptora ou mesmo no feto e, portanto, qual a autonomia das mulheres que pretendem se submeter a tal procedimento? Os riscos dos procedimentos serão superados pelos benefícios das pessoas que poderão vir a ser "pais"? Quais os prejuízos e benefícios dos transplantes de útero frente a outras possibilidades equivalentes como a "barriga de aluguel"?
Será que não há uma questão maior dentro da perspectiva bioética? Será que o papel da ciência nestes casos é apenas responder às angústias humanas frente à impossibilidade de indivíduos terem um filho "naturalmente"? Por que apenas se questiona a condição emocional dos indivíduos perante a possibilidade de serem pais em casos de adoção, nos quais não há a intervenção da tecnologia? Por que a incapacidade biológica de gerar um filho reflete um questionamento da capacidade emocional da maternidade e da paternidade só nestes casos?
São muitas as questões, mas o que se pode perceber é que a humanidade tende compulsivamente a ampliar os seus limites biológicos, como na expectativa de vida e na possibilidade de fertilidade. Na fantasia induzida pela ciência de uma possível satisfação plena de vida, o ser humano consegue apenas deslocar as suas angústias.
Claudio Cohen
Gisele Joana Gobbetti
Referência
Connor S. Doctors screen women for first womb transplant (online). The Independent. Avaliable from: http://www.independent.co.uk. [cited 18 jan 2007].
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
18 Jan 2008 -
Data do Fascículo
Abr 2007