CORRESPONDÊNCIA
Paulo Ricardo Criado
Associado-efetivo da SBD. Professor do curso de pós-graduação em Ciências (Dermatologia) da Faculdade de Medicina da USP
Aos Editores dos Anais Brasileiros de Dermatologia (Brazilian Annals of Dermatology)
Recebi, com muita satisfação, a notícia de que o periódico oficial da Sociedade Brasileira de Dermatologia passará a ser editado em língua inglesa. Esta quase centenária publicação médica, inicialmente denominada "Annaes Brasileiros de Dermatologia e Syphilographia (1925)" tem atendido de forma profícua aos anseios da comunidade dermatológica ao longo de sua honrosa história, promovendo a reciclagem profissional e fomentando a cultura da redação médica entre nossos pares.
No entanto, os tempos mudaram! A ciência médica é global e o mundo escolheu a língua inglesa há mais de sessenta anos como o código de troca de informações, quando a escola francesa dermatológica foi perdendo sua hegemonia para as escolas americana e inglesa. Não é desconhecido que todos os periódicos indexados no Medline, com fator de impacto relevante na Dermatologia (ou seja, lidos e citados por seus pares), tenham na língua inglesa sua redação científica. Como exemplo, entre alguns dos periódicos editados por sociedades dermatológicas congêneres, porém cujo berço linguístico não é o inglês, temos a Dermatology (publicação franco-suíça), o Journal of Dermatology (Associação Japonesa de Dermatologia), JDDG (Journal der Deutschen Dermatologischen Gesellschaft da Sociedade Alemã de Dermatologia), Acta Dermato-Venerologica (Escandinávia), International Journal of Cosmetic Science (Sociedade Francesa de Dermatologia), entre outras.
Há cerca de 30 anos, em um levantamento sobre vários programas internacionais de informação em ciência e tecnologia, Garcia1 já se posicionou sobre a adoção da língua inglesa na informação científica. "Os países de língua inglesa têm levado uma nítida vantagem sobre os demais, observando-se em outros países a tendência a adotar essa língua para fins de informação científica e tecnológica, como é o caso do Japão."
Assim, como a segunda maior sociedade de Dermatologia do mundo, a SBD deve adequar-se à realidade da ciência médica atual, possibilitando a todos o acesso à informação produzida aqui e, mais ainda, demonstrando quem somos e como podemos contribuir para o conhecimento dermatológico!
A língua portuguesa é rica e extremamente grandiosa, porém, definitivamente, não vai permitir que, no futuro, sejamos reconhecidos como capazes de exercer um papel relevante para a ciência dermatológica na aldeia global do século XXI.