Open-access MÃES EM QUARENTENA: MATERNIDADE EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL DECORRENTE DA COVID-19 1

MADRES EN CUARENTENA: LA MATERNIDAD EN TIEMPOS DE AISLAMIENTO SOCIAL Y COVID-19

RESUMO

Este estudo teve por objetivo analisar o impacto do isolamento social decorrente da pandemia de Covid-19 sobre a vida familiar, com ênfase na vivência da maternidade e na relação com os filhos. Participaram 20 mães de camadas sociais médias, de 29 a 45 anos, que mantinham atividades laborais a distância e estavam em isolamento social. Foram realizadas entrevistas individuais em profundidade por meio digital. O material coletado foi transcrito e submetido à análise de conteúdo temática. Os resultados mostraram que as mudanças impostas pela pandemia impactaram diretamente a vida familiar, explicitando as desigualdades de gênero na organização da rotina, distribuição de tarefas domésticas e cuidados parentais. Observou-se uma relação ambivalente das mães com a maternidade e com seus imperativos sociais, que reverberam no vínculo que estabelecem com seus filhos. A análise revela que a sobrecarga emocional e física contribui para exacerbar sentimentos de culpa e solidão vivenciados na relação com a maternidade, além de evidenciar conflitos no desempenho dos papéis de mãe, esposa e profissional. As entrevistadas demonstraram exaustão com as demandas domésticas e de cuidados com os filhos, além de conflitos relacionados ao descompasso entre expectativas e padrões sociais que regulam o exercício da maternidade e suas experiências pessoais como mães. As conclusões sugerem a presença de uma crise identitária relacionada aos ideais sociais vinculados às vivências da maternidade, o que convida a pensar na urgência de se olhar para o sofrimento materno, buscando compreender as dimensões subjetivas das transformações que perpassam essa experiência na vigência do isolamento social.

Palavras-chave: Maternidade; Covid-19; psicanálise

RESUMEN

El objetivo de este estudio fue analizar los efectos del aislamiento social resultante de la pandemia de COVID-19 en la vida familiar, con énfasis en la experiencia de la maternidad y la relación con los niños. Participaron 20 madres de estratos sociales medios, de 29 a 45 años de edad, que mantenían actividades laborales a distancia y se encontraban en aislamiento social. Se realizaron entrevistas individuales exhaustivas por medios digitales. El material recopilado se transcribió y se sometió a un análisis de contenido temático. Los resultados mostraron que los cambios impuestos por la pandemia afectaban directamente a la vida familiar, lo que explicaba las desigualdades de género en la organización rutinaria, la distribución de las tareas domésticas y el cuidado de los niños. Se observó una relación ambivalente entre las madres y la maternidad y sus imperativos sociales, que reverberaban en el vínculo que establecen con sus hijos. El análisis revela que la sobrecarga emocional y física contribuye a exacerbar los sentimientos de culpa y soledad experimentados en la relación con la maternidad, además de mostrar conflictos en el desempeño de los papeles de madre, esposa y profesional. Las mujeres entrevistadas mostraron agotamiento con las demandas domésticas y el cuidado de sus hijos, además de conflictos relacionados con el desajuste entre las expectativas y las normas sociales que regulan el ejercicio de la maternidad y sus experiencias personales como madres. Las conclusiones sugieren la presencia de una crisis de identidad ligada a los ideales sociales vinculados a las experiencias de la maternidad, lo que invita a pensar en la urgencia de mirar el sufrimiento materno, tratando de comprender las dimensiones subjetivas de las transformaciones en tiempos de aislamiento social.

Palabras clave: Maternidad; Covid-19; psicoanálisis

ABSTRACT

This study aimed to analyze the impacts of the social isolation resulting from the COVID-19 pandemic on family life, with emphasis on the experience of motherhood and the relationship with children. Twenty mothers from the middle social strata, from 29 to 45 years old, who kept working activities at a distance and were in social isolation, participated. In-depth individual interviews were conducted by digital means. The collected material was transcribed and submitted to thematic content analysis. The results showed that the changes imposed by the pandemic directly impacted family life, highlighting gender inequalities in routine organization, distribution of household tasks and parental care. An ambivalent relationship was observed between mothers and maternity and their social imperatives, which reverberated in the bond they establish with their children. The analysis reveals that emotional and physical burden contributes to exacerbate feelings of guilt and loneliness experienced in the relationship with motherhood, in addition to showing conflicts in the performance of the roles of mother, wife and professional. The women interviewed showed exhaustion with domestic and child care demands, in addition to conflicts related to the mismatch between expectations and social standards that regulate the exercise of motherhood and their personal experiences as mothers. The conclusions suggest the presence of an identity crisis due to the social ideals linked to the experiences of motherhood, which invites us to think about the urgency of looking at maternal suffering, seeking to understand the subjective dimensions of the transformations that this experience goes through in the times of social isolation.

Keywords: Motherhood; Covid-19; psychoanalysis.

Introdução

O cenário no qual se delineou este estudo é marcado pela emergência sanitária global que afetou milhões de pessoas de todo o mundo: a pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), que expôs as famílias a uma experiência inédita de confinamento doméstico prolongado (Oliveira, Oliveira-Cardoso, Silva, & Santos, 2020a). Até 19 de julho de 2021 foram registradas no mundo 4.088.281 mortes e 189.921.964 casos confirmados de Covid-19; 3.430.051.539 doses de vacina foram administradas (World Health Organization [WHO], 2021). No Brasil, foram registrados, até essa data, 542.214 óbitos acumulados e 19.376.574 casos confirmados (Brasil, 2021). Esses números situam o país como um dos epicentros mundiais da pandemia. Cerca de 122,7 milhões de brasileiros receberam pelo menos uma dose de vacina; o número de indivíduos totalmente imunizados, chegou a 15,98% da população, que inclui aqueles que tomaram a segunda dose ou a vacina de dose única contra o novo coronavírus.

Permanecer em casa é uma das prescrições das autoridades sanitárias como parte das medidas de distanciamento social. O isolamento físico, aliado a outras estratégias não farmacológicas, como uso de máscara e higienização regular das mãos, tem sido considerado crucial na política de combate à disseminação da doença (Oliveira-Cardoso et al., 2020).

As medidas de restrição da circulação, adotadas para coibir a aglomeração de pessoas - reconhecida como uma das mais significativas vias de contágio - têm por outro lado impactos diretos no bem-estar da população, desorganizando os diversos setores da vida produtiva, como economia, trabalho, comércio, educação, lazer e entretenimento, impondo inúmeros desafios aos gestores e autoridades sanitárias (Oliveira et al., 2021; Santos, Oliveira, & Oliveira-Cardoso, 2020). Os efeitos deletérios se desdobram no plano individual - ansiedade, depressão, estresse, desesperança, solidão e desalento, para aqueles que vivem sós - e no plano familiar, tanto na conjugalidade quanto na parentalidade. Há impactos na organização das atividades domésticas e na economia familiar (Oliveira et al., 2021), e perdas e lutos passaram a fazer parte do cotidiano das famílias (Oliveira-Cardoso et al., 2020).

Considerando a complexidade do cenário apontado, surgem diversas preocupações relativas aos impactos da experiência de confinamento em quase todo o mundo, na economia das nações, nos ambientes de trabalho e nas relações familiares, com suas graves repercussões na saúde mental. Os efeitos devastadores, especialmente nas populações mais vulneráveis, suscitam reflexões relativas à saúde emocional das famílias, das crianças e dos pais. Nesse contexto de extrema vulnerabilidade, um elemento-chave na organização familiar tem despertado crescente interesse: a figura materna. Como as mães têm vivido a experiência do confinamento doméstico? Como percebem e como se sentem diante do isolamento físico e de outras medidas de distanciamento social que o cenário epidemiológico exige? Como vivenciam os limites e possibilidades do exercício da função materna nesse período?

Inúmeros questionamentos surgem quando se olha para a maternidade e a saúde mental das famílias. Por conseguinte, é imperioso compreender os significados de ser mãe em tempos de pandemia, propiciando um espaço de fala e escuta para que as mulheres possam narrar, de própria voz, os impactos dessa experiência em suas vidas e em suas famílias, especialmente no contexto sociopolítico atual de total descaso e desprezo pela vida.

A maternidade, tal como a conhecemos atualmente, como experiência associada à suposta ‘essência’ feminina, começou a se delinear historicamente por volta do século XVIII e meados do XIX, com a ascensão da burguesia, quando se enraizou socialmente como um valor pessoal e social, sustentando a crença de que o caminho de realização e satisfação da mulher estava fundamentalmente ligado à experiência de ter filhos. Badinter (1985, 2010) argumenta que esse processo de construção do amor materno como valor vinculado ao feminino se deu por uma tendência naturalista de vincular esse afeto ao corpo feminino e à sua propriedade fisiológica de abrigar a procriação e gestação, mas é preciso considerar também que se trata de uma forma de controle sobre o desejo e a sexualidade das mulheres e de manter o lugar social delegado a elas: o espaço familiar. A mulher é ‘coroada’ como a ‘rainha do lar’, ou seja, soberana de seu pequeno império doméstico.

O contexto sócio-histórico, onde ocorreu a sacralização da maternidade, elegeu um arranjo familiar específico, o modelo nuclear e conjugal, no qual a criança passou a ser uma figura prestigiada. Para assegurar sua sobrevivência em um cenário de alta mortalidade infantil, o amor materno passou a ser venerado e foram criadas teorias para validar um suposto ‘instinto materno’ (Oliveira & Marques, 2020). A vinculação atávica da mulher à maternidade era parte de um projeto de sociedade na qual lhe foi reservado o papel de mãe.

Para Badinter (2010), a construção dessa vinculação entre feminino e maternidade ainda reverbera nos olhares lançados às mulheres na contemporaneidade. Kehl (2008) aponta que, na cena contemporânea, mesmo os caminhos de transformação do papel social feminino - possibilidade de controle da fertilidade com o advento da pílula anticoncepcional, inserção maciça no mercado de trabalho, aumento da escolarização e conquista do direito ao divórcio - não deram conta de desconstruir a vinculação automática entre ser mulher e ser mãe. Mesmo com tantas conquistas importantes para diminuir as iniquidades de gênero, essa associação mantém-se incólume no imaginário coletivo sobre as mulheres. Para Badinter (2010), essa experiência é atravessada, ao longo dos tempos, por conflitos relacionados ao desejo da mulher, ao controle e às capturas que essa vinculação enraizada promove.

Segundo Visitin e Aiello-Vaisberg (2017), construiu-se uma idealização da maternidade, a partir da premissa de que as crianças, sob adequada proteção das mães, têm potencial para se desenvolverem plenamente. A mãe passou a ser percebida como a mais perfeita cuidadora, a quem a criança se apega de maneira ‘natural’. Donath (2017) pondera que essa idealização levou à produção de uma ‘cobrança’ social para que as mulheres atendam às demandas relativas ao ser mãe e se esforcem para corresponder a esse ideal com esmero, dando o máximo de si, inclusive sacrificando outras dimensões de seu viver.

Nos estudos do desenvolvimento humano, dos processos de subjetivação e nas discussões sobre o cuidado e saúde da família, o lugar destinado ao materno é central. Badinter (1985) afirma que, na família moderna, a entrega das chaves da casa à mulher burguesa concedeu a ela o poder de controle sobre o espaço doméstico, mas também a colocou como aquela que mantém as práticas e regras de conduta preconizadas por uma ordem médica que normatiza a vida familiar. Costa (2004) argumenta que a figura da mulher nesse contexto é a da mãe higiênica, gestora do lar e responsável pelo cuidado com a educação e manutenção da saúde da prole.

Teóricos do desenvolvimento se debruçaram sobre a questão do materno e passaram a se interessar pelo estudo da relação mãe-filho, ratificando a importância dos cuidados maternos no processo de constituição subjetiva do ser humano. Os especialistas chamaram a atenção para as vicissitudes do vínculo e sua relevância para a saúde física e mental, mas também reafirmaram o lugar central atribuído historicamente às mães, ao reforçarem a importância de assegurar que as mulheres possam exercer com ‘qualidade’ a maternagem.

É importante destacar que essas teorias colaboraram para a produção de parâmetros acerca da maternagem, mesmo quando resguardavam um olhar ampliado que incorporava as pluralidades dessa experiência. A circulação dessas ideias - sobre o que seria uma ‘boa mãe’, por exemplo - se articulava aos imperativos sociais que moldavam as experiências da maternidade, constituindo prescrições e manuais de ‘boas práticas’. Essas regulações podem ser tanto informais, transmitidas de uma geração para outra, como formalizadas por meio de práticas difundidas pelos manuais de puericultura ou orientações recomendadas por pediatras.

A partir dessas considerações, percebe-se que os saberes científicos compuseram um cenário de reafirmação do lugar do materno na sociedade, fixando parâmetros que normatizam e aprisionam o imaginário das mães no esforço incessante para atingir certos padrões ideais de qualidade, em busca do reconhecimento social. Para tanto, a mulher necessita preencher os requisitos do modelo da ‘boa mãe’. Assim, a experiência da maternidade, especialmente no mundo contemporâneo, exige negociação com outros desejos e metas de vida que permeiam a existência da mulher enquanto sujeito.

Santos, Miranda e Belo (2020) apontam a multiplicidade de histórias vividas pelas mulheres, articuladas ao contexto social, cultural, familiar, econômico e étnico ao qual pertencem, compondo um painel de experiências plurais em relação à maternagem. Por essa razão, é importante que as questões relativas aos processos de subjetivação femininos sejam consideradas nos estudos contemporâneos sobre as redescrições do materno.

Por conseguinte, é necessário ter clareza quanto à circunscrição do materno no seu contexto sócio-histórico. Afinal, de que ‘mãe’ se fala em cada momento histórico? Quando se considera o cenário da pandemia da Covid-19, torna-se importante destacar que são mulheres do início do século XXI, que constroem e, simultaneamente, são produto de um percurso histórico e social específico. Segundo os dados da Pesquisa Nacionalpor Amostra de Domicílios Contínua - PNAD (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2018), as mulheres representam 44% dos vínculos formais no mercado de trabalho e 40% do trabalho informal; chefiam 28,9 milhões das famílias brasileiras, das quais 11,6 milhões são monoparentais; agregam às suas funções profissionais o cuidado com a casa e os filhos; têm em média dois filhos e contam com escolas e creches como instituições de apoio ao cuidado com as crianças, e utilizam essas instituições para além do seus fins educacionais imediatos, uma vez que o suporte e acolhimento que recebem é visto como essencial para que possam exercer atividades profissionais fora do lar.

A dinâmica das famílias contemporâneas é marcada por um cotidiano atribulado com o acúmulo de funções e responsabilidades inerentes à gestão da vida familiar (Gabardo-Martins, Ferreira, & Valentini, 2017). Independentemente da configuração específica do núcleo familiar, a figura materna comumente concentra maior número de atribuições de funções e se vê envolvida em inúmeras demandas, que agregam às funções de cuidado diário com os filhos e a casa o trabalho remunerado exercido fora do lar, restando pouco tempo para se dedicar ao autocuidado e interesses pessoais.

A dupla jornada de trabalho é uma realidade para a maioria das mulheres brasileiras, que precisam se desdobrar entre múltiplas tarefas (Birman, 2019). Com o tempo escasso para se dedicarem aos cuidados dos filhos e quase não podendo compartilhar essa responsabilidade com o/a parceiro/a, quando este/a compõe o arranjo familiar, as mães necessitam do amparo de instituições, como escolas e creches onde as crianças passam parte substancial do dia, e também recorrem, quando podem, a outros adultos como avós, tios e babás, que colaboram com a supervisão das crianças.

Na perspectiva da psicanálise vincular, um pacto é estabelecido entre as mulheres / mães e os grupos aos quais pertencem: família, trabalho e instituições de apoio aos cuidados e educação de seus filhos. Essa pactuação estabelece um contrato que rege as leis inconscientes de base dos grupos e vincula cada sujeito singular ao grupo ao qual pertence, com base nesse contrato.

Segundo Käes (2011), as alianças inconscientes são constituídas como fiadoras da vida psíquica, estruturando e organizando as relações intersubjetivas tecidas entre o sujeito e o grupo, no qual cada um tem seu lugar e função definidos. Ao se tornarem mães, as mulheres passam a ocupar o lugar afiançado pelos grupos familiares e sociais, os quais ainda não romperam com o ideário e o lugar subjetivante estabelecidos para o papel materno.

Deve-se acrescentar ainda o fato de que as instituições educacionais, assim como os familiares, constituem os apoios metapsíquicos (Käes, 2011), oferecendo às mães a sustentação de que necessitam para compartilharem o cuidado e a educação de seus filhos. Ao se instalar a situação de pandemia, com fechamento compulsório das escolas e a migração das aulas presenciais para o ensino remoto, tal sustentação desmoronou e as mães, repentinamente, viram-se solitárias e sobrecarregadas por tarefas cotidianas de cuidado dos filhos e do ambiente doméstico. O prolongamento por tempo indefinido do período pandêmico exacerbou sentimentos e a percepção de que não há espaço livre para investirem em si mesmas e em seu autocuidado, justamente quando isso é imprescindível, dado o momento de ameaça generalizada à continuidade da vida.

Considerando os impactos da Covid-19, o isolamento social pode acarretar níveis elevados de estresse e comprometer a saúde mental dos indivíduos, com a redução radical das interações sociais presenciais, menor acesso ao suporte da rede pessoal significativa e das instituições, bem como as relações tensionadas no contexto doméstico (Moraes, 2020). Para a mulher que lutou para conquistar seu lugar no mercado de trabalho, como forma de acesso a uma posição social desvinculada do papel tradicional - que a aprisionou aos afazeres domésticos subvalorizados -, a pandemia implicou sobrecarga de trabalho, a partir de atividades laborais que passaram a ser realizadas em home office (Braga, Oliveira, & Santos, 2020; Macêdo, 2020). O trabalho remoto foi agregado às múltiplas atividades que as mulheres já exerciam de cuidados de sua família, o que as deixou mais vulneráveis às situações de estresse decorrentes da privação do contato social e do acúmulo das atividades profissionais e sua sobreposição às tarefas ‘do lar’. Essa experiência se somou à sobrecarga emocional a qual as mulheres já vinham sendo submetidas em suas relações familiares, sem contar a exposição contínua à violência por parceiro íntimo (Bhona, Gebara, Noto, & Lourenço, 2020), que se agravou com o confinamento doméstico (Oliveira et al., 2020b).

A possibilidade de trabalhar remotamente, vista como um privilégio a que poucas trabalhadoras do mercado formal têm acesso pela estrutura ocupacional do país, para a mulher implica desdobrar-se em funções que se interpolam, gerando estresse e preocupações redobradas. Em decorrência desse cenário imprevisível e dos efeitos do isolamento social, para aquelas que podem efetivamente praticá-lo, é necessário que se considerem os efeitos psicológicos dessa experiência de privação de liberdade, visto que pode suscitar sofrimento psicológico, na medida em que a rotina alterada exige que se abra mão de atividades prazerosas e de livre escolha, condições para a manutenção da saúde mental e da satisfação com a vida (Silva, Santos, & Oliveira, 2020).

Diante do exposto, este estudo teve por objetivo analisar os impactos do isolamento social decorrente da pandemia de Covid-19 sobre a vida familiar, com ênfase na vivência da maternidade e das relações com os filhos, na perspectiva de mulheres trabalhadoras.

Método

Este é um estudo transversal, descritivo-exploratório, com abordagem qualitativa.

Participantes

Participaram do estudo 20 mulheres, mães de crianças, residentes no interior do estado de São Paulo, que exerciam atividade profissional remunerada e que, no período de abril a julho de 2020, estavam trabalhando em home office em observância às medidas de distanciamento social. Os critérios de inclusão no estudo foram: ser mãe de criança de zero a dez anos, residir em municípios de diferentes regiões do estado de São Paulo, estar sob regime de confinamento social em decorrência da pandemia de Covid-19, evitando sair de casa ou receber visitas, e manter atividade de teletrabalho.

Esses critérios foram estabelecidos, considerando a realidade brasileira e o fenômeno da ‘interiorização da pandemia’, que caracterizou a primeira onda da disseminação do SARS-CoV-2 no contexto brasileiro. A seleção de participantes se restringiu especificamente ao estado de São Paulo pelo fato de ser um dos primeiros e dos mais atingidos pela doença, pela sua alta densidade populacional, e porque foi um dos primeiros entes federativos que estabeleceu critérios bem definidos para controle da pandemia (o Plano São Paulo, que fornece uma classificação baseada em uma combinação de indicadores epidemiológicos e de capacidade hospitalar de cada região do estado).

Para atender ao escopo da pesquisa foi recrutado um estrato da população que teve condições objetivas de aderir às recomendações dos protocolos sanitários, como a campanha ‘Fique em Casa’, e que pode continuar exercendo suas atividades profissionais no âmbito doméstico. Enquadram-se nesse perfil mulheres que pertencem aos estratos sociais médios.

As mulheres entrevistadas tinham idade entre 29 e 45 anos, exerciam atividade profissional fora do lar e atuavam, no momento da entrevista, em home office, sendo que 13 participantes eram casadas e viviam com o companheiro, duas eram solteiras e viviam na casa dos pais e cinco eram divorciadas e responsáveis pelo cuidado das crianças em tempo integral. A média de renda familiar variou entre 3 e 25 mil reais. O número de filhos variou de um a três; a maioria estudava em escola privada (16) e todos estavam tendo aulas online no período de quarentena. Considerando o perfil delineado, pode-se afirmar que se tratam de mães trabalhadoras, ativas profissionalmente e pertencentes às camadas médias. As entrevistas foram realizadas no período de abril a julho de 2020, portanto, entre o segundo e o quarto mês da primeira onda da pandemia.

Instrumento

Para subsidiar a entrevista em profundidade foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada, contendo: informações sociodemográficas com o propósito de caracterizar as participantes da pesquisa; uma questão norteadora (Conte-me sobre suas experiências em família com o isolamento social) e algumas questões de aprofundamento. Essas questões foram elaboradas para facilitar a exploração dos pontos de interesse, mas foram utilizadas de modo flexível para favorecer um diálogo fluido (Bleger, 1998). As questões formuladas buscaram aprofundar aspectos que emergiram nos relatos, explorando percepções, motivações, escolhas, possibilidades e eventuais facilidades e dificuldades encontradas pelas mães no exercício simultâneo de atividades e na conciliação de seus diversos papéis.

Procedimento

O contato com as entrevistadas se deu por meio de ‘bola de neve’, a partir de uma primeira indicação de terceiros. Em respeito às regras do distanciamento social, as entrevistas foram realizadas por chamada de vídeo ou áudio (a critério da entrevistada) por meio do aplicativo WhatsApp. A escolha pela realização remota das entrevistas se deu, portanto, em consonância com o período de isolamento social, optando-se por manter uma via segura de comunicação com as entrevistadas. Os encontros virtuais duraram 01h30min em média. As entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas na íntegra. É importante destacar que a gravação foi autorizada pelas participantes e os registros foram utilizados exclusivamente para atender aos objetivos do estudo, seguindo os preceitos éticos e resguardando a identidade das participantes e seu direito ao sigilo e confidencialidade.

Análise dos dados

As entrevistas transcritas na íntegra foram analisadas a partir da articulação com a produção científica sobre a temática da maternidade na contemporaneidade, para tecer reflexões sobre a experiência do isolamento social e seus potenciais impactos na vida familiar, na perspectiva de mães com filhos nas etapas iniciais de desenvolvimento.

O exame do corpus de pesquisa se baseou na proposta da análise de conteúdo da temática (Bardin, 2010). Depois de transcritas, as entrevistas foram lidas e relidas exaustivamente em busca de recorrências, símbolos e códigos. Após essa etapa exploratória, os dados foram organizados em unidades de significado, que deram origem às categorias de análise. A análise se deu por meio da articulação entre os dados obtidos e os estudos realizados sobre o tema da maternidade, na confluência de perspectivas psicológicas, sociológicas e antropológicas, tendo como eixo ordenador os estudos no campo da psicanálise das configurações vinculares (Käes, 2011).

Considerações éticas

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, protocolo CAEE, número 30248920.8.0000.5401. Foram seguidos todos os cuidados éticos necessários, garantindo-se o anonimato das entrevistadas, que preliminarmente receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) por e-mail e o devolveram assinado.

Resultados e discussão

Foram organizadas duas categorias de análise: a experiência da pandemia e a organização da vida familiar; Sobre ser mãe em tempos de pandemia.

A experiência da pandemia e a organização da vida familiar

‘As mães’ ao serem questionadas sobre como estavam vivenciando a pandemia e o isolamento social, levantaram questões interessantes sobre os impactos das restrições sobre sua subjetividade e na organização da vida familiar. Sentimentos difusos como apreensão, medo e insegurança, além de sintomas de ansiedade e tensão aumentada estiveram presentes nos relatos de todas as mães. Essas manifestações físicas e psíquicas foram associadas tanto à ameaça do contágio pelo novo coronavírus, quanto às perdas decorrentes dessa situação-limite e às incertezas em relação ao futuro. “Eu me sinto muito preocupada, em vários aspectos, com o vírus, com a família e com o fato de morarmos longe de nossos familiares” (Eliana); “Eu tenho muito medo de perder pessoas, já perdi tantas, tenho medo de deixar meus filhos também, me sinto cansada e desorganizada, está difícil organizar, as crianças não têm horário e sempre me vejo perdida nos afazeres domésticos” (Joana).

Os relatos maternos, que descreveram medo, insegurança, ansiedade e estresse como substrato comum da experiência de confinamento doméstico, coadunam com os estudos que tratam dos impactos e da necessidade de prover cuidados de saúde mental nesse contexto de vulnerabilidade (Silva et al., 2020). Também se destacam os impactos subjetivos das perdas na vida dos familiares, sejam elas materiais, relativas à renda, ao emprego, à moradia, ou aos imateriais, ligados ao adoecimento e/ou morte de entes queridos, que colocam as famílias diante de um luto que mal pode ser vivido, em meio a tantos outros reveses decorrentes do tempo anômalo instaurado pela pandemia (Oliveira-Cardoso et al., 2020). Além do luto não autorizado, as falas das entrevistadas apontam para a ideia de que a família é atravessada por mudanças que reativam emoções intensas que desestabilizam a homeostase familiar. Por outro lado, no discurso das mães também foi pregnante a ideia de que é necessário se manter firmes para pouparem ao máximo seus filhos de outros dissabores e traumatismos além dos que são inevitáveis. As mães se sentem no dever de ‘passar segurança’ para os pequenos em um momento de tamanha instabilidade. “Entendo que sou o pilar da família, principalmente na questão emocional, e que devo organizar toda a logística da casa, por isso me sinto muito cansada” (Laura).

Os relatos destacam o quanto as mães se sentem guardiãs e responsáveis pela preservação de uma imagem idealizada de felicidade familiar. É como se, no contexto conturbado da maior crise sanitária dos últimos 100 anos, elas se sentissem no dever de garantir a estabilidade da família e sustentar a coesão do grupo. Isso é consequência de seu esmero nos cuidados redobrados com a casa, alimentação, educação e saúde, o que muitas nomearam de ‘gestão do lar’. As entrevistadas se mostraram identificadas com o lugar de esteio emocional da família e se esforçavam para desempenhar o papel de protagonistas dos cuidados. Como cuidadoras responsáveis pelo bem-estar de todos os membros da família, elas entendem que de suas ações depende a harmonia do conjunto, mesmo em momentos de crise nos quais elas também se sentem afetadas por emoções paradoxais despertadas pelo cenário instável e imprevisível. Esses resultados são consistentes com a literatura (Braga et al., 2020).

Ocupar o lugar de sustentáculo da organização familiar aponta para a manutenção de uma aliança inconsciente baseada no contrato narcísico definido por Aulagnier (Käes, 2011), que designa como o grupo assegura o investimento no sujeito, mas de modo a perpetuar o narcisismo grupal. Essa operação vincula a criança ao grupo por meio do exercício do papel materno e paterno em sua dimensão de abertura à alteridade, assim como pela maneira como se estabelecem os laços fraternos. As falas tornam evidente o quão desgastante é o esforço de sustentar essa defesa ao longo do tempo (“[...] me sinto muito cansada”, desabafa Laura). Presas ao papel historicamente configurado de arrimo emocional da família, as mães evitam romper com esse script que lhes outorga um lugar hipertrofiado na economia libidinal familiar.

De fato, quando questionadas sobre a organização da vida familiar e a divisão das atividades domésticas no cenário pandêmico, um dado que chamou a atenção nos relatos articula-se ao delicado período em que as entrevistas foram realizadas: as mães, sem nenhuma exceção, destacaram que se sentem cansadas, esgotadas e sobrecarregadas. Contudo, pôde-se perceber que aquelas que foram entrevistadas em abril de 2020, apesar de relatarem o impacto (‘choque’) que sofreram com a mudança repentina no cotidiano, apresentaram uma perspectiva mais otimista, diferentemente daquelas que foram abordadas em julho, que deram muito mais ênfase à questão da sobrecarga de atividades que resulta em exaustão e fadiga crônica; elas também referiram emoções mais intensas, confidenciaram que estavam ‘no limite’, ‘à flor da pele’, e que frequentemente buscavam meios de se tranquilizar para poderem dar continuidade à extenuante rotina doméstica. Bruna e Paula declararam ter recorrido à meditação e ioga para relaxar e ficar mais calmas. Eliana relatou ter aumentado a ingestão de açúcar, pois os alimentos altamente calóricos, como os doces, davam “[...] uma sensação de prazer no meio do caos”. Joana e Ana destacaram que faziam uso de ansiolíticos e relaxantes musculares como forma de amenizar a tensão crônica que sentiam. Esse dado sugere que as defesas utilizadas e os caminhos desenhados pelas mulheres na tentativa de restaurarem seu equilíbrio emocional variam desde atividades ligadas à busca de uma paz interior até a medicalização do sofrimento, explicitando questões fundamentais a serem debatidas acerca dos encargos da maternidade na sociedade contemporânea e de como a carga fica ainda mais exacerbada no contexto da pandemia.

Com o início do período de confinamento, a necessária reorganização das atividades se deu de maneira distinta para as mães: algumas ficaram sem apoio e totalmente absorvidas pelos cuidados com a casa e os filhos nesse período, enquanto outras contaram que os parceiros se aproximaram mais das atividades domésticas, e outras trouxeram ainda uma divisão de tarefas mais igualitária com os parceiros. Mesmo entre aquelas que apontaram participação ativa do companheiro nas atividades domésticas, esse compartilhar se limitava à distribuição de tarefas práticas, sendo que o planejamento, organização da rotina e atividades escolares das crianças ficaram exclusivamente sob responsabilidade das mulheres, acarretando-lhes aumento da sobrecarga (Braga et al., 2020; Oliveira et al., 2021).

Algumas mães, em seus relatos, se nomearam ‘gestoras do lar’, estabelecendo uma analogia com um cargo gerencial, na medida em que se entendem como responsáveis pela organização da vida familiar. Algumas utilizaram esse termo mostrando satisfação, ao passo que outras argumentaram que essa função as sobrecarregava ainda mais, pois além dessas demandas, precisavam dar conta de seu trabalho online, agora inteiramente executado em casa, além de terem que lidar com questões pessoais que as afligiam nos dias de confinamento. A fala de Bruna sintetiza vários aspectos presentes nos relatos maternos.

Me sinto confusa. Fico mais tranquila por poder estar em casa, mas, ao mesmo tempo, trabalho o dobro por me cobrar demais, e acabo dando menos atenção aos meus filhos, que apesar de me verem o dia todo, precisam de qualidade de atenção. Meu marido adaptou sua loja e está trabalhando normalmente, pois a atividade dele é considerada essencial. Eu, como sou advogada, consegui trabalhar em home office, as audiências e prazos seguem normalmente no mundo virtual. Vivo estressada, é um misto de sentimentos, tenho medo e sou agradecida pelos nossos privilégios, posso ficar com eles, mas ao mesmo tempo queria ir ao trabalho para descansar um pouco [risos]. É engraçado, né, mas descanso no meu trabalho, sinto uma culpa danada por isso, mas é a verdade. Meu marido cuida dos negócios, toda a gestão do lar é minha, me sinto esgotada, mas isso desde antes da pandemia. Só piorou (Bruna).

Além das persistentes desigualdades de gênero e da sobrecarga no ambiente doméstico, a divisão não igualitária de papéis e tarefas na gestão da vida doméstica coloca as mulheres face à necessidade de acumularem diversas funções e papéis, o que contribui para a sobrecarga, agravada pelo imperativo de conciliar a maternidade com a carreira profissional (Macêdo, 2020). O relato de Bruna desvela que, a despeito de todas as lutas emancipatórias travadas pelas mulheres no decorrer do século XX, o contrato narcísico permanece tal como fora estabelecido e revela o lugar do terceiro. Em outras palavras, a relação do casal e com a criança carrega o traço da desigualdade e das iniquidades de gênero. Os lugares estabelecidos e outorgados aos sujeitos para se inscreverem não lograram as transformações esperadas, que pudessem redimensionar o lugar tradicionalmente ocupado pela mulher e demais atores familiares no meio social onde estão inseridos.

Os relatos das mães entrevistadas apontam que as desigualdades de gênero, a cristalização da experiência materna como lugar de cuidado e de gestão do lar, bem como a sobrecarga imposta à mulher ao se ver compelida a empreender a eterna busca de conciliação de papéis são fenômenos anteriores à pandemia, porém, o isolamento social contribuiu para desnudar as iniquidades de gênero (Braga et al., 2020). Nesse contexto conturbado, manter-se funcional exige intensa dedicação e investimento de energia, resultando em desgaste pessoal. O ponto de inflexão trazido pelo momento pandêmico explicitou a cultura patriarcal de privilégios a serem revistos e debatidos, uma vez que sua manutenção em tempos de crise humanitária tem impactos diretos na saúde da mulher, acentuando o sofrimento decorrente do esgotamento e da solidão, tão presentes nos relatos da totalidade das participantes.

Sobre ser mãe em tempos de pandemia

Quando questionadas sobre o significado de ser mãe em tempos de pandemia e sobre como se sentiam nessa travessia, considerando o vínculo estabelecido com seus/suas filhos/as, todas reafirmaram o amor que sentem e como o isolamento pôde aproximá-los/as ainda mais. Mencionaram questões corriqueiras que aprenderam a valorizar e destacaram a conexão emocional que vinham estabelecendo com os/as filhos/as, porém todas, em algum momento da entrevista, também relataram sentir falta de um tempo de cuidado consigo próprias, ‘um tempo sozinhas’, seja para descansar, meditar, refletir ou até mesmo para ‘desabar’ quando se sentem exauridas e esgotadas, como apontou Virgínia, se referindo à possibilidade de chorar as dores provocadas pela pandemia.

Conciliar o prazer da maternidade com as demais possibilidades de obter gratificação com a vida exige romper, em certa medida, com os pactos discutidos anteriormente, lidando com a dolorosa culpa que vivenciam pelo simples fato de desejarem dispor de um tempo exclusivo para si mesmas, o que demonstra as dificuldades de celebrar outros acordos e se descolar do lugar consagrado ao materno pela cultura patriarcal entranhada na subjetividade dessas mulheres (Käes, 2011).

O anseio de terem um tempo reservado unicamente para si, para investirem em alguma atividade prazerosa de que gostam sem serem interrompidas, apareceu no relato de todas as participantes, que explicitaram a falta que sentiam de terem um espaço reservado e um tempo devotado apenas à satisfação de suas próprias necessidades. “Me incomoda a falta de tempo livre para eu ser eu e não só a mãe, ou a esposa, ou a profissional” (Lívia). Como nota Kaës (2011), a família, enquanto instituição, estrutura a identidade de cada membro, mas ao mesmo tempo impede que a singularidade de cada sujeito possa aparecer.

Eu estou quase em colapso. Queria, sabe, passar um dia sozinha, mas ao mesmo tempo queria estar rodeada de pessoas. Sinto saudade até da porta da escola, das conversas com as mães, de sair uma tarde e comer um doce sozinha. Parece que até o bolo - que eu como aqui em casa - tem eles juntos, e querendo um pedaço. Eu choro porque me sinto presa, absorvida por tudo isso (Bruna).

As falas de Lívia e Bruna repercutem o desejo - e ao mesmo tempo a impossibilidade - de reservarem um tempo somente para si e vincularam esse anseio à necessidade de ‘se despirem um pouco dessa roupa da maternidade’, podendo então voltar a ser mulheres, reconectando-se com seu corpo erógeno. Apesar de terem ocorrido mudanças substanciais nas relações de gênero, a vinculação do desejo feminino à maternidade ainda persiste e ainda se espera que a satisfação pessoal das mulheres esteja integralmente associada ao exercício da função materna (Nunes, 2011).

Emidio e Gigek (2019) apontam que, mesmo que nas últimas décadas, tenham ocorrido transformações nos papéis atribuídos ao gênero feminino, ainda há uma pressão para que as mulheres sejam mães, tanto é que aquelas que optam por outras trajetórias são vistas com estranhamento e até estigmatizadas. Ainda se espera que as mulheres possam traçar percursos individuais que sejam polivalentes e desdobráveis, mas também que continuem acalentando o desejo de ser mães, mesmo que o trabalho, os estudos e a vida social sejam cada vez mais legitimados como fontes potenciais de realização, desenvolvimento e autonomia pessoal. Nesse sentido, as falas das mães refletem, de certo modo, o cenário de contradições onde a identidade feminina foi historicamente construída, a partir da vinculação automática que se estabeleceu entre ser mulher e ser mãe. Essa equação simplista e essencialista captura o desejo feminino e coloca uma marca de estranheza naqueles itinerários desenvolvimentais de mulheres que não incluem o desejo de ser mãe.

É prazeroso e angustiante. Prazeroso participar do dia deles, poder ficar mais tempo juntos, vê-los crescer e amadurecer [...] Com relação ao bebê, me sinto muito realizada de não precisar levá-lo ao berçário, poder ensiná-lo a engatinhar, a se comunicar e iniciar as primeiras refeições. Sinto não poder ter feito o mesmo pela irmã mais velha. A angústia surge nos momentos em que eu percebo não poder dar a atenção devida, nem ter tanto tempo disponível diante de tantas tarefas. Me sinto culpada em relação à filha mais velha, já que a demanda do bebê é muito maior e exige muito mais disponibilidade. A maternidade sempre foi uma experiência incrível e recompensadora. Me sinto muito feliz de poder estar com os meus filhos de forma integral. Ao mesmo tempo me sinto cansada e tomada pela maternidade, como se as minhas outras ‘faces’, como mulher, profissional... tivessem desaparecido, o que me causa muito angústia, já que não me sinto plenamente feliz e completa somente na posição de mãe. [...] Talvez o que mais me incomode seja estar na posição de mãe em tempo integral (Paula).

O relato de Paula agrega pontos importantes para o debate sobre a experiência da maternidade e que são retomados por Parker (1997), quando trata do lugar materno como a origem de um vínculo que inicia a criança na sua experiência originária de ser no mundo. Paula revela o prazer que sente em não precisar mais levar o filho para a creche todas as manhãs, e poder se dedicar intensamente aos cuidados dele. A participante também declara seu pesar por não poder ter feito o mesmo pela filha, por conta do fim da licença-maternidade. Em seu discurso, ela vincula a experiência de acompanhar o desenvolvimento dos filhos ao prazer da maternidade, salientando o quanto se sente gratificada por vê-los crescer e se desenvolver bem. Porém, ao refletir sobre o papel materno, também atenta para as demandas do seu trabalho e da satisfação que encontra no exercício laboral. Isso a leva a entrar em conflito com as questões de gratificação pessoal, referindo seu incômodo de viver o papel de mãe em tempo integral, condição que foi acentuada e levada ao paroxismo pelo isolamento doméstico.

Ao olhar para a função materna em tempos de pandemia, é necessário considerar que se trata de uma experiência multifacetada e permeada por desafios, mas também é preciso admitir que a ambivalência que cerca a maternagem, sob quaisquer circunstâncias, também possibilita os afastamentos necessários no curso do desenvolvimento das crianças (Parker, 1997). Isso porque, quando a mãe encontra satisfação em outros objetos que não o bebê, pode promover remanejamentos em seu investimento libidinal, apresentando à criança um mundo confiável e seguro que ela deve explorar e com o qual ela também pode se relacionar.

Nesse sentido, embora os valores vinculados ao amor materno criem uma conexão com o que se erige como modelo de uma mãe ideal, no qual o ‘amor materno’ seria um elemento pacífico, naturalizado e inquestionável, Badinter (2010) argumenta que o vínculo amoroso construído socialmente é subjetivado como uma experiência sofisticada do ponto de vista emocional, na qual sentimentos ambivalentes confluem na direção de um mesmo objeto. As mães acabam capturadas por um discurso unívoco de amor, que lhes imputa culpa e outros sentimentos disfóricos que as sobrecarregam emocionalmente, reforçando a noção de que devem perseguir um ideal de eu-materno que, a bem da verdade, é inalcançável. É o consagrado modelo da mãe disponível em tempo integral, encarnação do mais puro amor e benevolência, mulher divinizada e disposta a renunciar a si mesma para se dedicar exclusivamente ao cuidado do filho (Emidio, 2011).

Badinter (2010) e Donath (2017) consideram que os conflitos inerentes à experiência da maternagem são inevitáveis, porém podem ser entendidos como uma forma de as mulheres poderem revisitar seus papéis tradicionais e se abrirem à possibilidade de criar novos sentidos a partir das mudanças que impactam a sociedade e a vida familiar. Ao cotejar as falas de algumas entrevistadas, é possível identificar uma reflexão sobre a ambivalência, o questionamento sobre os múltiplos lugares sociais para os quais elas são convocadas e a necessidade de ocupar o lugar do ideal materno que herdaram da geração anterior, buscando ser reconhecidas como mães devotadas. Todavia, os relatos também são atravessados por angústia, culpa e autoexigências excessivas, que resultam da impossibilidade de conquista do ideal de perfeição narcísica. Tais achados sugerem a necessidade de que a escuta qualificada desse discurso possa reverberar em novos significados emocionais que promovam transformações, mesmo que modestas e graduais.

Outro aspecto que chamou a atenção nos relatos maternos se refere à vinculação com os filhos e a vida agitada que levavam. As mães descreveram ter uma rotina de compromissos a cumprir, levando uma vida em ritmo acelerado que as impossibilitaria de usufruir de momentos prazerosos do convívio familiar. Assim, o isolamento físico imposto pela pandemia adquiriu um significado inusitado, como um momento de ‘parada obrigatória’ para meditarem sobre a passagem do tempo, a marcha acelerada dos acontecimentos e o sentido de suas vidas até aquele ponto de sua existência. Um sentido que muitas vezes se esgarça entre tantas atribulações cotidianas, exigindo um novo olhar, situado desde outro ponto de vista, para suas famílias. As mães contaram que a desaceleração da vida oportunizou que se aproximassem de pequenos gestos do dia a dia, que até então passavam despercebidos, como valorizar os sentimentos dos filhos, ‘trabalhar menos’ e ‘levar uma vida mais simples’.

A pandemia me trouxe uma coisa, sabe? Comecei a pensar que estávamos todos numa velocidade tremenda de atividades rotineiras e, de repente, tudo parou. Sinto que não podemos planejar viver do jeito que a gente acha, pensa ou deseja. Isso é ruim, mas ao mesmo tempo é bom. Desacelerar foi muito legal para eu poder dar uma acalmada, estar mais próxima dos meus filhos, não ter festa todo final de semana, podermos fazer algo juntos [...]. Aqui em casa sou só eu e eles. Eu e o pai deles somos separados, então eles ficaram comigo, organizamos as tarefas assim: eu faço tudo, fico cansada, estressada, grito, mas está tudo certo, já mudou tanto para eles que não quero gerar mais conflitos (Ana).

Sabe, eu queria falar mais uma coisa. Eu penso que essa pandemia é um chamamento, algo que me chama, me fez olhar algumas coisas na vida. Eu trabalho muito, tenho uma vida confortável, viajamos nas férias, mas o dia a dia é praticamente trabalho, meus filhos ficam na escola nove horas por dia, de lá saímos para atividades extracurriculares, eu corro mandando eles trocarem de roupa para chegarmos em casa para eles dormirem no horário e seguirem a rotina. Eu quase não os vejo, não sei direito o que eles sentem, nas férias aproveitamos, mas não quero ser mãe nas férias e meu marido também não quer. Estamos repensando a vida, então chamo a pandemia de chamamento, no sentido de se vincular, de se olhar e ver o que é prioridade, sabe? Estamos revendo, afinal, apesar de toda a tristeza da pandemia, das mortes, do medo, das demandas do home office, estamos felizes juntos e eles também, talvez possamos trabalhar menos, ter uma vida mais simples, são reflexões que ficam (Patrícia).

As falas de Ana e Patrícia iluminam uma questão que permeia o relato das entrevistadas sobre o anseio de tirar proveito da adversidade para operar transformações no viver. Segundo Birman (2019), vivemos em um contexto onde a aceleração da vida e do tempo, junto às transformações da sociedade, produziram um esvaziamento das experiências de sentir e das narrativas dessas experiências, o que alimenta a sensação de futilidade. No processo de constituição subjetiva, o sujeito contemporâneo se liga a uma condição de existência marcada pelo imperativo do narcisismo e pelos ideais de consumo.

A pandemia impôs uma ruptura radical das cadeias de produção da vida e da subjetividade, mas também propiciou uma oportunidade de ressignificar os hábitos automatizados e revigorar os vínculos que conectam os seres humanos uns aos outros. Ao equacionar a ameaça do vírus com um ‘chamamento’ à vida, que lhe permitiu (re)conhecer e se (re)aproximar dos filhos de um modo inteiramente novo, Patrícia descobriu que há distintas maneiras de vivenciar o vínculo materno. Essa participante apresenta uma questão relevante a ser considerada quando se ponderam os impactos do distanciamento social na vida e na saúde das pessoas para subsidiar o planejamento de estratégias de saúde mental. Os resultados obtidos também encorajam a reflexão sobre a possibilidade de que a maternidade, em tempos de pandemia, também possa ser vivida como um espaço de construção de novos significados para o ser mãe no mundo contemporâneo.

Considerações finais

A situação da pandemia desvelou um cenário materno marcado por conflito identitário, anterior à situação de catástrofe sanitária, permeado por ambivalência e culpa. Tais sentimentos dolorosos emergiram nos relatos das mães sob regime de isolamento social. As narrativas revelaram que, a despeito da subjetivação das mulheres do século XXI ter ocorrido a partir do eco das rupturas provocadas pelas revoluções e movimentos emancipatórios do século anterior, o lugar social outorgado ao gênero feminino permanece revestido de um pacto com o mundo social tradicional, que perpetua a sacralização de uma mãe plenamente identificada e gratificada com o exercício do papel materno e doméstico.

As análises revelaram que as mães necessitam encontrar um espaço para viverem tais transformações de maneira mais integrada, articulando os lugares de profissional e cuidadora familiar, de modo a incorporarem tais dimensões ao papel materno. Quando elas se dão conta de que o exercício desse papel não preenche totalmente seus anseios de vida, experimentam angústia decorrente do sentimento de culpa, uma vez que a valorização de uma imagem de mãe-mulher permanece fortemente enraizada no imaginário social. Esse imperativo superegoico mantém as mulheres aprisionadas ao lugar afiançado pela sociedade patriarcal, restando pouco espaço para os remanejamentos subjetivos que resultariam em um novo protagonismo feminino, no qual o materno possa ser realocado no trânsito com o profissional e outras facetas do feminino.

Conforme apontamos inicialmente, o lugar sacralizado e exclusivamente feminino atribuído à maternidade contribui para a manutenção da mulher em posição de subalternidade, resultando que as demais faces do feminino, tais como a formação intelectual e o exercício profissional, a vida sexual e social, passem a orbitar secundariamente em torno da maternidade, a fim de atender o tal imperativo social. Isso ganha relevância no cenário atual de recrudescimento do discurso naturalista, utilizado como estratégia para deter os avanços do processo de emancipação feminina, para subjugar as mulheres para que elas abdiquem de suas conquistas históricas e se mantenham primordialmente aprisionadas no lugar materno onde foram alocadas pelo patriarcado.

Os lugares ocupados pelos indivíduos são designados e afiançados no grupo, de maneira que mulheres e homens acedem a seus lugares nas instituições, segundo o pacto estabelecido para a definição e manutenção do vínculo. O avanço do protagonismo feminino significa uma alteração contratual que engloba os demais atores envolvidos e que podem eventualmente estar alinhados com o patriarcado e o sistema regulatório que adjudica papéis e estabelece a parte ocupada por cada um nessa cadeia. A intervenção psicológica deve apoiar as mulheres que desejam repensar seu espaço e a culpa que advém do desejo de romper com tal contrato (o tradicional lugar materno), possibilitando uma movimentação identitária que pode resultar em remanejamentos, com efeito sistêmico, nos papéis de gênero reorganizados no espaço familiar.

Referências

  • Badinter, E. (1985). Um amor conquistado: o mito do amor materno (W. Dutra, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira.
  • Badinter, E. (2010). O conflito: a mulher e a mãe (V. L. dos Reis, trad.). Rio Janeiro, RJ: Record.
  • Bardin, L. (2010). Análise de conteúdo (L. A. Reto & A. Pinheiro, trads.). Lisboa, PT: Ed. 70.
  • Bhona, F. M. C., Gebara, C. F. P., Noto, A. R., & Lourenço, L. M. (2020). Intimate partner violence: Controlling behavior and triggers of aggression.Paidéia(Ribeirão Preto ), 30, e3032. doi: 10.1590/1982-4327e3032
    » https://doi.org/10.1590/1982-4327e3032
  • Birman, J. (2019). Genealogias do narcisismo São Paulo, SP: Instituto Langage.
  • Bleger, J. (1998).Temas de psicologia: entrevistas e grupos (R. M. M. Morais, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes.
  • Braga, I. F., Oliveira, W. A., & Santos, M. A. (2020). “História do presente” de mulheres durante a pandemia da Covid-19: feminização do cuidado e vulnerabilidade. Revista Feminismos, 8(3), 190-198. Recuperado de: https://periodicos.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/42459/23919
    » https://periodicos.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/42459/23919
  • Brasil. Ministério da Saúde. (2021). DATASUS Painel Coronavírus Brasil Recuperado de: https://covid.saude.gov.br/
    » https://covid.saude.gov.br/
  • Costa, J. F. (2004). Ordem médica e norma familiar Rio de Janeiro, RJ: Graal. Original publicado em 1979.
  • Donath, O. (2017). Mães arrependidas: uma outra visão da maternidade(M. Vargas, trad.). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira.
  • Emidio, T. S. (2011). Diálogos entre feminilidade e maternidade: um estudo sob o olhar da mitologia e da psicanálise São Paulo, SP: EDUNESP.
  • Emidio, T. S., & Gigek, T. (2019). “Elas não querem ser mães”: algumas reflexões sobre a escolha pela não maternidade na atualidade.Trivium: Estudos Interdisciplinares,11(2), 186-197. http://dx.doi.org/10.18379/2176-4891.2019v2p.186
    » https://doi.org/10.18379/2176-4891.2019v2p.186
  • Gabardo-Martins, L. M. D., Ferreira, M. C., & Valentini, F. (2017). Recursos da família e florescimento no trabalho: o papel das avaliações autorreferentes. Paidéia(Ribeirão Preto ), 27(68), 331-338. http://dx.doi.org/10.1590/1982-43272768201711
    » https://doi.org/10.1590/1982-43272768201711
  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE]. (2018). Mulheres no mercado de trabalho: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua [PNAD]. Rio de Janeiro, RJ: IBGE.
  • Kaës, R. (2011). Um singular plural: a psicanálise à prova do grupo (L. Rouanet, trad.). São Paulo, SP: Loyola.
  • Kehl, M. R. (2008). Deslocamentos do feminino: a mulher freudiana na passagem para a modernidade Rio de Janeiro, RJ: Imago. Original publicado em 1998.
  • Macêdo, S. (2020). Ser mulher trabalhadora e mãe no contexto da pandemia COVID-19: tecendo sentidos. Revista do NUFEN, 12(2), 187-204. http://dx.doi.org/10.26823/RevistadoNUFEN.vol12.nº02rex.33
    » https://doi.org/10.26823/RevistadoNUFEN.vol12.nº02rex.33
  • Moraes, R. F. (2020). Prevenindo conflitos sociais violentos em tempos de pandemia: garantia da renda, manutenção da saúde mental e comunicação efetiva(Nota técnica nº 27). Brasília, DF: IPEA. Recuperado de: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/9836
    » http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/9836
  • Nunes, S. A. (2011). Afinal, o que querem as mulheres? Maternidade e mal-estar.Psicologia Clínica,23(2), 101-115. https://doi.org/10.1590/S0103-56652011000200007
    » https://doi.org/10.1590/S0103-56652011000200007
  • Oliveira, M. A. C., & Marques, S. S. (2020). Contribuições para uma reconstrução crítica da gramática moderna da maternidade. Revista Estudos Feministas, 28(1), e68037. http://dx.doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n168037
    » https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n168037
  • Oliveira, W., Magrin, J., Andrade, A., Micheli, D., Carlos, D., Fernandez, J., ... & Santos, M. (2020b). Violência por parceiro íntimo em tempos da COVID-19: scoping review Psicologia, Saúde & Doenças, 21(3), 606-623. http://dx.doi.org/10.15309/20psd210306
    » https://doi.org/10.15309/20psd210306
  • Oliveira, W . A., Andrade, A . L. M., Souza, V. L. T., DeMicheli, D., Fonseca, L. M. M., Andrade, L. S., ... & Santos, M . A. (2021). COVID-19 pandemic implications for education and reflections for school psychology. Psicologia: Teoria e Prática, 23(1), 1-26. http://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/ePTPC1913926
    » https://doi.org/10.5935/1980-6906/ePTPC1913926
  • Oliveira, W . A., Oliveira-Cardoso, E. A., Silva, J. L., & Santos, M . A. (2020a). Impactos psicológicos e ocupacionais das sucessivas ondas recentes de pandemias em profissionais da saúde: revisão integrativa e lições aprendidas. Estudos de Psicologia (Campinas ), 37, e200066. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0275202037e200066
    » https://doi.org/10.1590/1982-0275202037e200066
  • Oliveira-Cardoso, E. A ., Silva, B. C. A., Santos, J. H., Lotério, L. S., Accoroni, A. G., & Santos, M . A. (2020). The effect of suppressing funeral rituals during the COVID-19 pandemic on bereaved families. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 28, e3361. http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.4519.3361
    » https://doi.org/10.1590/1518-8345.4519.3361
  • Parker, R. (1997).A mãe dividida: a experiência da ambivalência na maternidade(A. X. Lima & D. X. Lima, trads.). Rio de Janeiro, RJ: Rosa dos Tempos.
  • Santos, M . A., Oliveira, W . A., & Oliveira-Cardoso, É. A. (2020). Inconfidências de abril: impacto do isolamento social na comunidade trans em tempos de pandemia de COVID-19.Psicologia & Sociedade,32, e020018. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2020v32240339
    » https://doi.org/10.1590/1807-0310/2020v32240339
  • Santos, M . R. G., Miranda, J. J., & Belo, F. R. R. (2020). Idealizações e prescrições psicanalíticas acerca da maternidade em Chodorow: um debate atual.Psicologia: Ciência e Profissão,40, e189015. http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703003189015
    » https://doi.org/10.1590/1982-3703003189015
  • Silva, H. G. N., Santos, L. E. S., & Oliveira, A. K. S. (2020). Efeitos da pandemia do novo coronavírus na saúde mental de indivíduos e coletividades.Journal of Nursing and Health, 10(n. esp.), e20104007. Recuperado de: ttps://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/06/1097482/4-efeitos-da-pandemia-do-novo-coronavirus-na-saude-mental-de-i_fNxf8zd.pdf
    » ttps://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/06/1097482/4-efeitos-da-pandemia-do-novo-coronavirus-na-saude-mental-de-i_fNxf8zd.pdf
  • Visintin, C. D. N., & Aiello-Vaisbgerg, T. M. J. (2017). Maternidade e sofrimento social em mommy blogs brasileiros.Psicologia: Teoria e Prática,19(2), 98-107. http://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v19n2p98-107
    » https://doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v19n2p98-107
  • World Health Organization [WHO] (2021). WHO coronavirus (COVID-19) dashboard: overview Recuperado de: https://covid19.who.int/
    » https://covid19.who.int/

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    13 Set 2020
  • Aceito
    13 Ago 2021
location_on
Universidade Estadual de Maringá Avenida Colombo, 5790, CEP: 87020-900, Maringá, PR - Brasil., Tel.: 55 (44) 3011-4502; 55 (44) 3224-9202 - Maringá - PR - Brazil
E-mail: revpsi@uem.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Acessibilidade / Reportar erro