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Estudo correlacional entre o Teste de Pfister e o Desenho da Figura Humana

Correlational study between the Test of Pfister and the Human Figure Drawing

Resumos

Este estudo teve como objetivo buscar as correlações existentes entre os indicadores emocionais e cognitivos das Pirâmides Coloridas de Pfister e do Desenho da Figura Humana, tanto no sistema DFH-Koppitz como no DFH-Sisto. As técnicas das Pirâmides Coloridas de Pfister (TPC) e do Desenho da Figura Humana (DFH) são instrumentos projetivos que permitem que se conheçam aspectos da personalidade de quem os executa. De acordo com a literatura, os dois métodos medem o mesmo construto, justificando o objetivo do presente estudo. Neste estudo, foram considerados os protocolos do TPC e do DFH de 118 meninos e meninas com idade entre 6 e 12 anos, estudantes do pré à sexta série e nível socioeconômico variado. Os testes foram aplicados em uma única sessão individual, com tempo livre. Utilizou-se o SPSS para estabelecer a relação entre os dois instrumentos. As análises empregadas possibilitaram verificar algumas relações entre os indicadores emocionais e cognitivos dos dois testes.

Desenho da Figura Humana; Teste das Pirâmides Coloridas; Avaliação psicológica


The present study was aimed at seeking correlations between the emotional and cognitive indicators of the Colored Pyramids Test of Pfister (CPT) and the Human Figure Drawing (HFD) - both in the Koppitz's HFD and the Sisto's HFD systems. The techniques of Colored Pyramids Test (CPT) of Pfister and Human Figure Drawing (HFD) are projective instruments that permit to know aspects of the executor's personality. According to literature, the two methods measure the same constructo, justifying the objective of looking for correlations between them. The protocols of both CPT and HFD of 118 boys and girls aged between 6 and 12, students from elementary to sixth-grade classes and belonging to different social-economic levels, were considered at the present study. Tests were applied in a single individual session, with free time. The SPSS program was used in order to establish relation between both instruments. The analyses employed allowed to check some relations between emotional and cognitive indicators of both tests.

Human Figure Drawing; Colored Pyramids Test; Psychological evaluation


ARTIGOS

Estudo correlacional entre o Teste de Pfister e o Desenho da Figura Humana

Correlational study between the Test of Pfister and the Human Figure Drawing

Lucila Moraes Cardoso 1 1 Lucila Moraes Cardoso é psicóloga, mestre em Psicologia pela Universidade São Francisco. ; Cláudio Garcia Capitão 2 2 Cláudio Garcia Capitão é psicólogo, professor da Graduação e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.

Universidade São Francisco

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia Av. Alexandre Rodrigues Barbosa, 45 - Centro - 13251-90 - Itatiba-SP E-mail: cgcapitao@uol.com.br

RESUMO

Este estudo teve como objetivo buscar as correlações existentes entre os indicadores emocionais e cognitivos das Pirâmides Coloridas de Pfister e do Desenho da Figura Humana, tanto no sistema DFH-Koppitz como no DFH-Sisto. As técnicas das Pirâmides Coloridas de Pfister (TPC) e do Desenho da Figura Humana (DFH) são instrumentos projetivos que permitem que se conheçam aspectos da personalidade de quem os executa. De acordo com a literatura, os dois métodos medem o mesmo construto, justificando o objetivo do presente estudo. Neste estudo, foram considerados os protocolos do TPC e do DFH de 118 meninos e meninas com idade entre 6 e 12 anos, estudantes do pré à sexta série e nível socioeconômico variado. Os testes foram aplicados em uma única sessão individual, com tempo livre. Utilizou-se o SPSS para estabelecer a relação entre os dois instrumentos. As análises empregadas possibilitaram verificar algumas relações entre os indicadores emocionais e cognitivos dos dois testes.

Palavras-chave: Desenho da Figura Humana, Teste das Pirâmides Coloridas, Avaliação psicológica.

ABSTRACT

The present study was aimed at seeking correlations between the emotional and cognitive indicators of the Colored Pyramids Test of Pfister (CPT) and the Human Figure Drawing (HFD) - both in the Koppitz's HFD and the Sisto's HFD systems. The techniques of Colored Pyramids Test (CPT) of Pfister and Human Figure Drawing (HFD) are projective instruments that permit to know aspects of the executor's personality. According to literature, the two methods measure the same constructo, justifying the objective of looking for correlations between them. The protocols of both CPT and HFD of 118 boys and girls aged between 6 and 12, students from elementary to sixth-grade classes and belonging to different social-economic levels, were considered at the present study. Tests were applied in a single individual session, with free time. The SPSS program was used in order to establish relation between both instruments. The analyses employed allowed to check some relations between emotional and cognitive indicators of both tests.

Keywords: Human Figure Drawing, Colored Pyramids Test, Psychological evaluation.

Introdução

Desde os primórdios das civilizações, o homem observa e avalia o mundo e suas situações. Muitas foram as explicações encontradas para os fenômenos da natureza e, com o passar dos anos, o homem se voltou para si e, a partir do século XIX, precisou de uma forma mais fidedigna de observação e avaliação (Anastasi, 1977).

O termo avaliação psicológica, surgido em 1948, foi definido como "o conjunto de processos que as pessoas usam para formar impressões e imagens, tomar decisões e verificar hipóteses sobre as características das outras pessoas no confronto delas com seu meio ambiente" (Pasquali, 1999, p. 13). O uso apropriado das técnicas de avaliação requer que os psicólogos se atenham às inúmeras atividades e processos psicológicos nelas envolvidos, para o que é necessário haver diversificação das técnicas (Pasquali, 2001).

A avaliação psicológica envolve medida, instrumento e processo de avaliação. A medida se refere ao fato de toda avaliação pressupor a idéia de mensuração, ou seja, é a relação entre o fenômeno e os pressupostos do uso da linguagem matemática; o instrumento pode ser entendido como qualquer forma de estender ação ao meio, maximizando a eficácia na obtenção de dados e seus resultados (os testes são instrumentos objetivos e padronizados); o processo de avaliação psicológica advém da curiosidade ou relevância de superar as necessidades humanas ou desafios de adaptação ao ambiente, preocupando-se com a redução dos danos à saúde (Alchieri, 2003). De outro modo, o objetivo da psicometria é avaliar os fenômenos psicológicos delimitados pelas condições teóricas, metodológicas e instrumentais de trabalho do psicólogo (Pasquali, 1999).

Na década de 1980, no Brasil, os testes passaram por períodos de descrédito, que podem ser atribuídos a diferentes situações, tais como construção excessiva de instrumentos de avaliação (Noronha,1995), falta de atualização dos profissionais (Hutz & Bandeira, 1993), comprometimento na qualificação dos psicólogos (Alchieri, 2003), entre outros. Na tentativa de minimizar essas problemáticas, o Conselho Federal de Psicologia editou a resolução CFP N.º 2/2003, na qual determina o conjunto de requisitos que os instrumentos devem possuir, de modo semelhante aos parâmetros internacionalmente definidos, para que possam ser reconhecidos pela comunidade científica e profissional. A aprovação dos instrumentos requer criteriosos estudos de padronização, normatização, fidedignidade e validade que satisfaçam os critérios de um protocolo estabelecido pelo CFP.

Ao falar de validação dos instrumentos, destaca-se que os testes projetivos requerem uma validação diferenciada dos testes de aptidão, na medida em que descrevem um indivíduo de acordo com um esquema dinâmico de variáveis de intercorrelação (Anzieu, 1978; Tavares, 2003). As técnicas projetivas não lidam com escores e sim com um conjunto de dados qualitativos, que podem ser comparados como um todo, ou pelas partes dos testes (Anderson, 1967). Desse modo, o controle do material proposto e as condições de aplicação são importantes por permitirem o tratamento quantitativo e qualitativo dos dados (Chabert, 2004).

As técnicas projetivas têm como objetivo conhecer elementos sobre a personalidade da pessoa e de seu funcionamento egóico (Anderson, 1967). Pressupõe-se que esse método permite que se conheçam peculiaridades do examinando, tanto nos aspectos estruturais quanto na dinâmica afetiva. Assim, tem-se a hipótese de que essas técnicas são capazes de expressar as modalidades de funcionamento psíquico próprias de cada sujeito nas suas especificidades e nas suas articulações singulares (Chabert, 2004).

Os críticos das técnicas projetivas argumentam que as interpretações são subjetivas e pouco objetivas e utilizam um vocabulário vago e falho, dificultando tanto a sua confirmação como refutação. Além disso, um dos problemas da literatura sobre as técnicas projetivas e da personalidade está no fato de se considerarem suposições teóricas como fatos estabelecidos. Para poder atribuir uma objetividade a essas técnicas é preciso projetos de pesquisa cuidadosamente planejados (Anderson, 1967).

Neste estudo serão utilizadas duas técnicas projetivas, o Desenho da Figura Humana (DFH) e a Técnica das Pirâmides Coloridas de Pfister (TPC). Ambos são métodos não-verbais, de rápida aplicação e sem característica escolar, minimizando o não-envolvimento com a tarefa e as limitações da impaciência e dificuldade de manutenção da atenção (Campos, 1973; Hammer, 1981; Villemor-Amaral, 2005).

Num breve histórico sobre o DFH, observa-se que entre 1900 e 1915 era considerado como técnica de medir a maturidade dedutiva ou intelectual da criança (Klepsch & Logie, 1984). Florence Goodnough organizou o teste do boneco, em 1925, o qual permite a avaliação do nível mental infantil. Para tal, estudou o desenho de milhares de crianças com idade entre 2 e 15 anos, partindo do pressuposto que o teste seria capaz de captar a evolução dos repertórios das crianças no decorrer de anos. A escala foi sendo aperfeiçoada e, após 5 revisões, obteve uma versão final com 51 itens.

Vários psicólogos clínicos e psiquiatras usaram o teste de Goodenough e verificaram que o desenho oferecia indicações seguras para diagnóstico e prognóstico de traços da personalidade (Campos, 1973). Machover (1949) atribuiu um caráter projetivo à técnica, por meio de observações clínicas sobre a representação gráfica de figuras humanas desenhadas por crianças e adultos com diversos problemas psicológicos.

O DFH é apresentado como um bom recurso para as pessoas expressarem aspectos de sua personalidade (Koppitz, 1976, p. 18). Os princípios de interpretação foram obtidos com o uso de várias fontes de evidência, como história clínica e informações acerca do examinando, pareceres psiquiátricos e psicológicos, associações livres, traduções de símbolos mediante análise funcional e comparação de um desenho com outro desenho numa série, ou de desenhos e dados obtidos por meio do uso de testes em concomitância com o estudo de traços característico dos desenhos (Hammer, 1981; Machover, 1967). Destaca-se que nenhum traço tem significado isoladamente e é preciso ver as impressões globais, intuitivas e predominantes de psicólogos experientes e fazer uso adequado das numerosas variáveis a serem analisadas (Van Kolck, 1968).

Koppitz (1976) elaborou um sistema de escore para estimativa de QI, partindo do pressuposto de que, conforme as pessoas ficam maduras, seus desenhos refletem mudanças no seu desenvolvimento. Quando o DFH é aplicado em crianças de mesma idade, possibilita verificar diferenças no detalhamento e elaboração do desenho. Quanto melhor a elaboração do desenho, melhor seria o desenvolvimento da criança. Dessa maneira, surge, pela primeira vez, um sistema qualitativo objetivo de avaliação do DFH para o diagnóstico de problemas de aprendizagem e distúrbios emocionais (Koppitz, 1976).

O sistema de avaliação do DFH de Koppitz (1976), que tratou o teste tanto como técnica projetiva quanto como teste de maturação mental, parte do pressuposto de que há um conjunto de sinais encontrados no desenho que se relacionam às atitudes e preocupações da criança. Esses sinais foram denominados indicadores emocionais. Os indicadores emocionais refletem as ansiedades, preocupações e atitudes da criança e não estão relacionados com a idade e maturação dela. Há outros indicadores que são pouco encontrados nos desenhos de crianças com menos idade e que se tornam relativamente comuns conforme a idade da criança aumenta; eles são conhecidos como itens evolutivos. Tem ainda o conjunto de itens esperados, nos quais se considera significativa sua ausência, pois a inexistência indicaria imaturidade excessiva, atraso ou regressão por causa de problemas emocionais.

Ao notar que os diversos sistemas criados para correção do DFH foram sofrendo alterações e perderam as características iniciais propostas em 1925 por Goodenough, Sisto (2005) normatizou uma nova escala que valoriza os itens inicialmente propostos pelo autor. Para tal, Sisto (2005) contou com uma amostra de 2.995 crianças que fizeram os desenhos. Destes, foram eliminados 8,18% dos protocolos pela ausência de cabeça, perna ou braço. O estudo resultou numa escala de 30 itens, semelhantes ao original de Goodenough. A escala Sisto (2005) será usada na presente pesquisa por ser uma versão recente do DFH que considera uma amostra da população brasileira. Além disso, os estudos têm demonstrado bons resultados de evidências de validade da escala.

Marín Rueda (2005) realizou um estudo com o objetivo de analisar evidências de validade de construto e de critério entre as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (CPM) e o DFH-Sisto. Para tal participaram 279 crianças com idade entre 7 e 10 anos, de 1ª a 4ª série do ensino fundamental de uma escola do interior paulista, igualmente distribuídas em relação ao gênero. Utilizaram-se os dois testes mencionados, sendo a aplicação coletiva com máximo de 25 alunos por sala, sempre com dois examinadores que tinham conhecimento sobre a aplicação dos instrumentos. Para correção da MPCR pontuava-se 1 para acerto e 0 para erro e a pontuação total foi a soma de acertos. Já para o DFH atribuía-se 1 para presença do item e 0 para ausência do item. Esse estudo contribuiu para evidência de validade pela diferenciação cronológica, constatou que o DFH-Sisto mede parte do mesmo construto que o CPM e não serve como medida paralela deste. Além disso, o DFH-Sisto apresentou diferenciação por grupo contrastante e garantiu a avaliação tanto das inteligências inferiores como das elevadas.

Para realização do DFH, neste estudo, foi considerada a sugestão de Koppitz (1976), na qual o examinando recebe a seguinte orientação "desenhe uma pessoa inteira". Caso ele manifeste alguma insegurança diante da situação, recebe a seguinte instrução "não existe desenho feio ou bonito, certo ou errado, o desenho que eu quero é o desenho que você consegue realizar". Devem ser disponibilizadas mais folhas quando solicitadas e, após a realização do desenho, fazer um inquérito. Durante a execução do desenho, o examinador anota a ordem seguida pela criança para desenhar as diferentes partes do DFH.

Ademais, as perguntas do inquérito corresponderam ao questionário para ser usado com crianças sugerido por Campos (1973). Para codificação usaram-se as tabelas para correção e classificação dos manuais de avaliação do DFH Koppitz (1976), com padronização para Argentina, e a escala Sisto (2005).

Para correlacionar com DFH, utilizou-se a técnica projetiva das Pirâmides Coloridas de Pfister (TPC). Os indicadores do teste permitem que se conheçam aspectos da dinâmica afetiva e emocional, bem como das funções estruturais e cognitivas do examinando. Ou seja, o teste permite verificar se o examinando reage aos estímulos emocionais com menor ou maior controle das funções cognitivas (Villemor-Amaral, 2005). Além disso, os resultados dos instrumentos com o apoio de análises estatísticas possibilitam que se conheçam aspectos comuns a grupos de pessoas que possuam características similares (Guéguen, 1999; Levin, Farias & Fox, 2004).

O TPC compreende um jogo com três cartões em papel bege com um esquema de pirâmide desenhado em cada um deles (Villemor-Amaral, 2005). Além disso, há um conjunto de quadrículos coloridos de 10 cores diferentes, distribuídas em 24 tonalidades, e a folha de aplicação.

A técnica foi desenvolvida pelo suíço psicólogo, coreógrafo e arquiteto Max Pfister, em 1951. Entretanto, quando Pfister desenvolveu o TPC, pouco havia de científico no material, até que um grupo de Freiburg, chefiado pelos psicólogos Robert Heiss e Hildegard Hiltmann, propôs algumas alterações atribuindo o caráter científico que faltava à técnica (Villemor Amaral, 1966). Em 1966, o psicólogo Fernando Villemor Amaral publicou o primeiro estudo de adaptação e validação da técnica para uma amostra brasileira, no qual introduziu algumas modificações, entre elas ter ao menos seis esquemas de pirâmides disponíveis e cerca de 40 a 45 quadrículos de cada tonalidade, permitindo que o examinando interessado em manter um padrão de tonalidade na composição das pirâmides o pudesse fazer (Villemor Amaral, 1978).

Em 1973, Villemor Amaral realizou novas pesquisas de normatização do instrumento. Nessa época, a técnica já era reconhecida e tinha ampla aceitação em clínicas, em seleção de pessoal e em outros campos da psicologia (Villemor-Amaral, Primi, Farah, Cardoso & Franco, 2003; Villemor-Amaral e cols., 2004). Observou-se, entretanto, uma queda na utilização da técnica após terem se esgotado os manuais da segunda publicação, realizada em 1978 por Villemor Amaral. Eram escassos os estudos utilizando a técnica de Pfister e raros os que se preocupavam com a validade diagnóstica do instrumento. Villemor-Amaral e outros (2003) publicaram um estudo que contribuiu para o valor normativo da técnica, no qual foi considerada a freqüência das cores de 109 participantes não-pacientes. Os valores obtidos apresentaram-se muito semelhantes aos observados na segunda publicação do manual, 25 anos antes. Na mesma pesquisa foram apresentadas tabelas com valores para uma amostra normativa referente à freqüência de síndromes cromáticas e ao aspecto formal que não haviam sido enfatizados em estudos anteriores.

Ginsberg, 1959, citado por Van Kolck (1972), correlacionou o TPC com outras provas de personalidade, entre elas o Rorschach, para verificar sua validade. Após fazer análises às cegas do Pfister e comparar os dados obtidos com os testes de Rorschach encontrou resultados animadores, embora não especifique quais.

A aplicação do teste consiste na execução de três pirâmides ao gosto do avaliando. É dada a seguinte instrução:

Aqui está o esquema de uma pirâmide, percebe? E aqui temos uma grande variedade de quadrículos de cores e tonalidades diversas (mostra). Cobrindo todos os quadrículos do esquema obtêm-se uma pirâmide colorida. Para fazer a sua pirâmide, pode escolher as cores que quiser, substituir ou trocar à vontade até que a pirâmide fique a seu gosto, isto é, fique bonita. Não tenha pressa, use o tempo que quiser. Tem alguma dúvida? Então pode começar.

Após a realização da primeira pirâmide é apresentado outro esquema de pirâmide, seguido da fala: "Agora este e depois mais um". Ao término da terceira pirâmide preenchida, é realizado um inquérito para verificar a preferência do examinando pelas pirâmides (Villemor-Amaral, 2005).

No presente estudo foram considerados o aspecto formal, a freqüência das cores e as síndromes cromáticas. As síndromes cromáticas são síndrome de normalidade (freqüência das cores azul, vermelho e verde), síndrome do estímulo (uso das cores vermelho, amarelo e laranja), síndrome fria (cores azul, verde e violeta), síndrome incolor (preto, branco e cinza) e síndrome de dinamismo (presença acentuada das cores verde, amarelo e marrom).

Não é demais relembrar que um indicador isolado não traz informação sobre o examinando. É preciso considerar o contexto de aplicação e o conjunto de indicadores para que se possa ter uma visão integrada dos aspectos mencionados. Além disso, quando se tem um objetivo de psicodiagnóstico e seleção, entre outros, é preciso que a técnica seja relacionada a outros métodos de avaliação (Grassano, 1996; Tavares, 2003; Villemor-Amaral, 2005).

Ambas, DFH e TPC, são técnicas não-verbais que possibilitam as manifestações simbólicas dos sentimentos de quem as executa, apresentando como a pessoa percebe a si mesma e às pessoas que a cercam. Acredita-se que o DFH e TPC viabilizam a avaliação de diversos indicadores cognitivos e emocionais, justificando a relevância de estudos dedicados ao aperfeiçoamento das qualidades psicométricas dos instrumentos (Campos, 1973; Hammer, 1981; Villemor-Amaral, 2005).

Objetivos

Este estudo tem o objetivo de buscar correlações entre os indicadores emocionais e cognitivos das Pirâmides Coloridas de Pfister e do Desenho da Figura Humana, tanto no sistema DFH-Koppitz como no DFH-Sisto.

Método

Neste estudo foram considerados os TPC e os DFH de 118 crianças, igualmente distribuídas em relação ao sexo, idade entre 6 e 12 anos e escolaridade entre pré e sexta série. O projeto foi submetido aos padrões éticos de pesquisas e, após aprovação, foi apresentado às instituições que atendessem a crianças nas referidas idades. As crianças foram pareadas quanto ao gênero, idade, escolaridade e nível socioeconômico da família.

Para aplicação dos instrumentos houve a preocupação em realizá-la num ambiente agradável e estabelecer o rapport. Os testes foram aplicados em uma única sessão individual, com tempo livre. Primeiro foi aplicado o TPC e em seguida o DFH. A codificação das respostas foi feita às cegas e, por fim, as análises dos dados foram feitas no SPSS, versão 11,5.

Resultados e discussão

No histórico da avaliação psicológica nota-se uma preocupação com a fundamentação das técnicas e com a formação dos profissionais que as usam. A fundamentação teórica das técnicas projetivas é verificada mediante a compreensão dos construtos numa teoria psicodinâmica e também mediante rigorosos estudos de investigação da validade e fidedignidade dos instrumentos (Alchieri, 2003; Anastasi, 1977; Anderson, 1967; Anzieu, 1978; Chabert, 2004; Cloninger, 1999; Grassano, 1996; Hutz & Bandeira, 1993; Noronha, 1995; Pasquali, 1999, 2001; Tavares, 2003; Van Kolck, 1972; Villemor-Amaral, 2005; Villemor-Amaral e colaboradores, 2003; Weiner, 2000). O presente estudo buscou a correlação entre o TPC e o DFH.

A correlação se refere à relação, associação, que há entre medidas (Guéguen, 1999; Levin, Farias & Fox, 2004). Neste artigo, são medidas diferentes de um mesmo grupo de sujeitos que dispõem de duas distribuições de dados. A primeira distribuição é relativa à incidência da presença ou ausência dos indicadores do DFH e a segunda a freqüência dos indicadores do Pfister. Inicialmente utilizou-se o t de student considerando os indicadores emocionais do Pfister (freqüências do uso das cores e síndromes cromáticas) em relação aos indicadores emocionais do DFH-Koppitz (1976). Dos resultados obtidos, selecionaram-se os estatisticamente significativos que se correlacionaram com mais de um indicador para apresentar na Tabela 1.

Para avaliar os resultados da Tabela 1, pode-se consultar a coluna diferenças de média. Quando o número recebeu peso negativo, significa que aqueles sujeitos que tiveram a presença do indicador no DFH também tiveram a freqüência aumentada do indicador no Pfister. Do mesmo modo, aqueles que possuem número com peso positivo tiveram a presença do indicador no DFH relacionada com a freqüência reduzida do indicador no Pfister. Para que os dados ficassem mais claros, foi mantida a coluna "média", que facilita a visualização dessas diferenças. Em seguida, os resultados encontrados no DFH e no Pfister foram discutidos de acordo com o significado de cada indicador obtido no manual de Koppitz (1976), no caso do DFH, em relação ao teste de Pfister, de Villemor-Amaral (2005).

O sombreado do corpo, no DFH, relaciona-se significativamente às cores preto? e laranja aumentados no Pfister. O sombreado representaria angústias por algo real ou fantasiado, atrelada a uma ansiedade com o corpo. Ao laranja? atribui-se a significação de excitabilidade, desejo de domínio e onipotência, reduzindo o senso de autocrítica à arrogância, enquanto ao preto? indica-se a função repressora. Deste modo, as angústias reais ou imaginárias estariam associadas à repressão como defesa em relação aos estímulos (conteúdos latentes) na tentativa de manter o equilíbrio psicológico.

A presença ou ausência da assimetria diferenciou a média da cor branca? (t=2,168; p=0,033). A assimetria trata-se de manifestação neurótica, vinculada a sentimento de inadequação física e a confusão no que se refere à lateralidade. Os participantes que apresentaram esse indicador utilizaram menos a cor branca. A cor branca vincula-se ao sentimento de vazio interior, a fragilidade estrutural e estabilidade precária. Ademais, a síndrome fria ? (t=-2,088; p=0,039) também associou-se ao indicador assimetria. A síndrome fria é composta pelas cores azul, verde e violeta e indica sobrecarga de estimulação geradora de ansiedade, os quais podem provocar a ruptura do equilíbrio psicológico. Esses dados contribuem para que tais indicadores sejam interpretados como vinculados a quadros psicopatológicos ou de caráter neurótico.

A cabeça pequena está associada ao sentimento intenso de inadequação social e teve relação, no Pfister, com a síndrome de dinamismo aumentada (composta pelas cores verde, amarelo e marrom elevadas), graças à freqüência das cores verde? e amarelo?. Já foi mencionado que a cor verde se vincula à esfera do contato e dos relacionamentos afetivos; quando aumentada denota uma sobrecarga de estimulação. O amarelo aumentado está ligado ao exagero das manifestações afetivas mais estilizadas e menos espontâneas, assim como imaturidade, estrutura pouco sólida, baixa tolerância à frustração, instabilidade, egocentrismo e irritabilidade. A sensação de sobrecarga associada ao exagero de atuações estereotipadas pode levar ao sentimento de inadequação social e à necessidade de fazer mais coisas do que se sente capaz.

O desenho dos olhos cruzados implica hostilidade, ira e rebeldia. As crianças que o realizaram, apresentaram no Pfister a freqüência acentuada da síndrome incolor aumentada (composta pelas cores preto, cinza e branco). A síndrome incolor aumentada indica a fuga de situações afetivas ou de estímulos com a tentativa de manter o equilíbrio, mesmo que este seja bastante frágil. Quando associada ao aumento do preto, como é o caso, indica uma função repressora.

Os braços compridos, no DFH, são vinculados à agressividade tanto auto como alodirigida. Este indicador teve relação com a síndrome incolor?, em virtude da cor preta?. A combinação desses indicadores sugere associação entre a agressividade expressa e a falta de inibição dos impulsos agressivos.

Além desses indicadores emocionais, há os indicadores do DFH que foram significativos em relação a apenas um indicador do Pfister. Esses são apresentados a seguir.

O desenho da figura pequena, no DFH, associou-se à cor verde? (t=2,364; p=0,020). Esse indicador do DFH relaciona-se à sentimentos de insegurança, retraimento e inadequação, em alguns casos, também, à depressão, e esteve presente com o rebaixamento da cor verde, o que denota uma dificuldade de adaptação ao ambiente, podendo levar a um enrijecimento afetivo e atitudes estereotipadas. Deste modo ambos os indicadores, figura pequena e rebaixamento verde, estão associados a um sentimento de inadequação e insegurança.

A figura grande, por sua vez, relaciona-se à imaturidade, expansividade e falta de controle. A presença desse indicador está associada à cor cinza? (t=-3,755; p=0,000), que indica timidez e cautela no que toca às trocas emocionais, isto é, indicaria um retraimento defensivo e uma tendência oposicionista.

As crianças que apresentaram transparência também tiveram a média da cor laranja? em relação às demais (t= -2,164; p= 0,033). A transparência significa certa imaturidade, impulsividade e uma conduta mais atuadora, indicando ansiedade e preocupação com alguma parte do corpo. O aumento do laranja, conforme já mencionado, corresponde ao desejo de domínio e onipotência. A presença desses indicadores converge para um determinado estado psíquico de domínio e onipotência.

A diferenciação também se deu pela presença do indicador mãos cortadas, no DFH, que se associou com a síndrome normal rebaixada (combinação das cores azul, vermelho e verde aumentadas) no Pfister (t=2,468; p=0,015). As mãos cortadas denotam pessoas com sentimento de inadequação ou de culpa, incapazes de atuar, melhor dizendo, de expressar seus sentimentos. A síndrome normal reflete um esforço para aparentar uma normalidade; quando rebaixada indica falta de preocupação com os padrões considerados normais. Possivelmente é a presença desses sentimentos que levam os indivíduos a colocarem menos esforços para aparentar normalidade.

O indicador três figuras espontaneamente desenhadas condensa a perseveração e, quando se trata de desenhos diferentes, indica o sentimento de falta de identidade. Esse indicador esteve associado à cor preta? (t=-2,174; p=0,033). O uso da cor preta estaria associado à defesa contra estímulos e ao medo de impulsos que poderiam provocar a perda de equilíbrio. A presença desses indicadores no DFH e no Pfister está relacionada à falta de identidade e à perseveração

Nuvens implica intensa ansiedade e agressividade dirigida a si mesmo; este indicador é encontrado em pessoas que parecem sentir-se ameaçadas pelo mundo. As crianças que desenharam nuvem tiveram a freqüência de uso da cor preta? (t=-2,073; p=0,041), isto é, possuem medo de desencadear impulsos que poderiam levar a uma desestruturação interna.

A omissão dos indicadores emocionais esperados foi o que apresentou maior poder de relação com os indicadores selecionados do Pfister. Esses dados podem ser visualizados na Tabela 2.

A omissão do nariz se trata de conduta tímida e retraída, com ausência de agressividade manifesta e um escasso interesse social. Esse indicador esteve associado a síndrome fria rebaixada (composta pelas cores azul, verde e violeta), que se vincula a casos patológicos. O rebaixamento da síndrome fria, nesse caso, é conseqüência da cor violeta? e indica a diminuição de tensões e ansiedades.

A omissão da boca teve relação com a síndrome de dinamismo aumentada, em conseqüência da cor amarela?. O indicador do DFH está associado a sentimentos de angústia, insegurança e retraimento, atitude de resistência passiva e incapacidade de comunicação com os demais. Parece estar associada ao medo, à angústia e ao perfeccionismo. Neste estudo, este indicador se relacionou também com o a freqüência da cor azul? (t=-2,094; p=0,039), que pode estar associado a um sentimento de inferioridade, incapacidade, insatisfação e ambivalência.

Outro indicador do DFH que se relacionou significativamente com o Pfister foi a omissão do tronco. Este está associado com a síndrome de estímulo aumentada (vermelho, amarelo e laranja juntos), em função do vermelho? e do laranja?. A omissão do tronco indica imaturidade severa, psicopatologia, atraso mental e disfunções corticais, proporcionadas por intensa ansiedade de castração. A síndrome de estímulo denota tendência ao egocentrismo e à desadaptação.

A omissão dos braços relaciona-se a ansiedade e culpa por controle socialmente inaceitáveis, culpa por hostilidade na sexualidade, depressão e retraimento.

Esse indicador do DFH associou-se à síndrome de estímulo?, em virtude do vermelho?, e à freqüência aumentada do cinza. Esses indicadores já foram comentados e tratam, respectivamente, da tendência ao egocentrismo e desadaptação e da repressão dos afetos como defesa. A conduta de retraimento, indicada pelo DFH, possivelmente acontece em razão da necessidade de defesa contra os afetos.

O indicador omissão das pernas está relacionado com as cores amarelo? e cinza?. O amarelo aumentado significa exagero das manifestações menos espontâneas e mais estilizadas, enquanto o cinza indica timidez e restrições no contato emocional. Deste modo, a omissão das pernas parece associar-se com a dificuldade na expressão afetiva. Por ser rara a presença do indicador ausência das pernas, ele sempre deve ser observado com cautela.

A omissão dos pés denota insegurança e está relacionada com o azul?, indicando falta de controle e adaptação. A omissão do pescoço reflete imaturidade, impulsividade e controle interno pobre, e esteve associada ao aumento da síndrome incolor, em relação ao branco?. Esse indicador do Pfister sugere equilíbrio psíquico frágil, que corresponde a imaturidade, impulsividade e controle interno pobre no DFH.

Em relação aos indicadores cognitivos, foram correlacionados os aspectos formais do teste de Pfister com o nível de maturidade mental na escala de Koppitz e com o valor bruto na escala Sisto. Esses dados permitiram verificar as correlações, que são apresentadas na Tabela 3.

Verificou-se correlação altamente significativa entre o total do escore bruto na escala Sisto (2005) e o nível de maturidade mental de Koppitz (1976). Como podemos verificar na tabela acima, esse dado corrobora evidências de validade dos critérios convergentes para codificação do DFH, em ambas as escalas.

A presença do indicador tapete com início de ordem no Pfister se correlacionou negativamente com o escore total na escala Sisto e com o nível de maturidade mental de Koppitz. Isto é, observa-se que quanto maior a freqüência de tapete com início de ordem, menor é o nível intelectual do grupo de crianças pesquisadas.

O indicador formação em camada multicromática do Pfister teve alta correlação positiva com o escore total da escala Sisto e a presença de estrutura simétrica teve alta correlação positiva com o nível de maturidade mental de Koppitz. Desse modo, esses indicadores do aspecto formal, formação e estrutura estão associados a aspectos cognitivos mais elaborados.

Esses resultados concordam com os achados de Costa (2004), que correlacionou o teste de Pfister com a BPR-05 e encontrou resultados semelhantes. Ademais, é preciso destacar que a presença do aspecto formal tapete com início de ordem indica a busca por uma organização mais estruturada, conforme menciona Villemor-Amaral (2005).

Discussão

Os resultados significativos, do ponto de vista estatístico, viabilizaram compreender alguns aspectos sobre os instrumentos. As correlações encontradas evidenciam alguns indicadores em ambos instrumentos que avaliam os mesmos traços de personalidade. Entretanto, há um número relativamente reduzido de correlações e, por vezes, houve indicadores emocionais, tal como a cor preta no Pfister, que se relacionaram com diversas variáveis do DFH.

A combinação freqüente de determinadas variáveis contribui com a idéia de que um indicador não pode ser analisado isoladamente. No uso cotidiano dos instrumentos, destaca-se a importância de considerar o conjunto de indicadores do teste e o contexto de avaliação como um todo. Do mesmo modo, conforme já mencionado, as técnicas projetivas devem ser analisadas, em pesquisa, de acordo com um conjunto de elementos, formando constelações de indicadores que possibilitem uma compreensão integral do sujeito. Sugere-se, portanto, que em pesquisas futuras correlacionem-se os agrupamentos de indicadores que meçam um mesmo traço de ambos os instrumentos.

Neste estudo, faltou fazer as análises de juízes para codificação independente, que permitiria um estudo de fidedignidade dos instrumentos. Os estudos de fidedignidade têm sido bastante relevantes e permitem afirmar a confiabilidade do instrumento, sendo muito importantes para pesquisas realizadas com técnicas projetivas. Ademais, nota-se que os indicadores do teste de Pfister foram bastante restritos, pois se consideraram apenas aspecto formal, cores e síndromes cromáticas. Há outros indicadores que poderiam ter sido explorados e podem vir a ser alvo de pesquisas futuras.

Contudo, verificam-se evidências de validade convergente entre o Teste de Pfister e o Desenho da Figura Humana. Com base no presente estudo, sugerem-se novas pesquisas que venham a contribuir com mais evidências, bem como estudos de fidedignidade.

Recebido em outubro de 2006

Reformulado em novembro de 2006

Aprovado em novembro de 2006

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  • Endereço para correspondência
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    Lucila Moraes Cardoso é psicóloga, mestre em Psicologia pela Universidade São Francisco.
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    Cláudio Garcia Capitão é psicólogo, professor da Graduação e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Out 2011
    • Data do Fascículo
      Dez 2006

    Histórico

    • Aceito
      Nov 2006
    • Revisado
      Nov 2006
    • Recebido
      Out 2006
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