Open-access Uma Revisão sobre Instrumentos de Avaliação do Burnout na Segurança Pública

A Review of Burnout Assessment Instruments in Public Safety

Una Revisión de los Instrumentos de Evaluación del Desgaste en la Seguridad Pública

Resumo

Objetivou-se mapear os instrumentos utilizados na avaliação da síndrome de Burnout em profissionais da segurança pública, indicando os aspectos psicométricos, amostras e variáveis associadas. Foram selecionados 19 estudos nas bases de dados pesquisadas (PsycINFO, PubMED e Google Scholar). Os resultados indicaram a utilização dos instrumentos MBI-GS, MBI-HSS, BM-S, CBI e CESQT, mas apenas um dos instrumentos apresentou evidência de validade nesse contexto. Constatou-se a associação do Burnout com variáveis pessoais, organizacionais e específicas. A comparação dos estudos e dos índices de Burnout foi limitada devido à falta de padronização. A ausência de evidências de validade e de padronização dos resultados acarreta problemas como a falta de suporte empírico das pontuações e dificuldade na comparação dos estudos. Os dados revelam limitações na avaliação dos níveis de Burnout utilizadas no contexto de segurança pública, uma vez que as medidas não apresentam evidências de validade para esse contexto, indicando a necessidade de pesquisas na área.

Palavras-chave:
estresse ocupacional; avaliação psicológica; saúde ocupacional; psicometria

Abstract

Aimed to map the instruments used in evaluating Burnout syndrome in public security professionals, indicating the psychometric aspects, samples, and associated variables. Nineteen studies were selected from the searched databases (PsycINFO, PubMED and Google Scholar). Results indicated that the instruments MBI-GS, MBI-HSS, BM-S, CBI and CESQT, but only one of the instruments showed evidence of validity in this context. Burnout was associated with personal, organizational, and specific variables. Comparison of studies and Burnout indices was limited due to the lack of standardization. The absence of evidence of validity and standardization of results leads to problems such as the lack of empirical support for the scores and difficulty in comparing studies. The data reveal limitations in the assessment of burnout levels used in the context of public safety, as the measures do not present validity evidence for this context, pointing to the need for research in the area.

Keywords:
occupational stress; psychological assessment; occupational health; psychometrics

Resumen

El objetivo fue mapear los instrumentos utilizados en la evaluación del síndrome de Burnout en profesionales de la seguridad pública, indicando los aspectos psicométricos, muestras y variables asociadas. Se seleccionaron diecinueve estudios de las bases de datos buscadas (PsycINFO, PubMED y Google Scholar). Los resultados indicaron el uso de los instrumentos MBI-GS, MBI-HSS, BM-S, CBI y CESQT, pero solo uno de los instrumentos mostró evidencia de validez en este contexto. El Burnout se encuentra asociado con variables personales, organizacionales y específicas. La comparación de estudios e índices fue limitada debido a la falta de estandarización. La ausencia de evidencia de validez y estandarización de resultados conduce a problemas como la falta de soporte empírico para las puntuaciones y la dificultad para comparar estudios. Los datos revelan limitaciones en la evaluación de los niveles de burnout utilizados en el contexto de la seguridad pública, ya que las medidas no presentan evidencia de validez para este contexto, lo que apunta a la necesidad de realizar investigaciones en el área.

Palabras clave:
estrés ocupacional; evaluación psicológica; salud ocupacional; psicometría

Introdução

Na década de 1990, o modelo multidimensional de Maslach e Jackson (1981) para a síndrome de Burnout passou a ganhar notoriedade pela comunidade científica. Nesse modelo, o Burnout possui uma estrutura tridimensional composta pelos fatores exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal. A exaustão emocional se refere ao sentimento de cansaço e esgotamento, enquanto a despersonalização está relacionada a um distanciamento e baixa empatia para com os outros. Por fim, a baixa realização pessoal diz respeito a uma falta de prazer em relação ao trabalho, acompanhada de sentimentos de incompetência e insucesso profissionais (Maslach & Jackson, 1981).

As evidências empíricas apontam que a síndrome de Burnout está relacionada ao sentimento de solidão, impotência, ansiedade, apatia, agressividade, irritabilidade e problemas somáticos, como alterações cardiovasculares, respiratórias, imunológicas, digestivas e do sistema nervoso (Ahola & Hakanen, 2007). A síndrome de Burnout é decorrente do trabalho, sendo possível entender que algumas classes profissionais estejam mais sujeitas a apresentarem sintomas, como é o caso de profissionais da saúde (Esteves, Leão, & Alves, 2019; Jarruche & Mucci, 2021), professores (Magalhães et al., 2021; Silva & Oliveira, 2019) e profissionais da segurança pública, sendo que este último é o foco do presente estudo.

A prevalência da síndrome de Burnout nessa população parece ser elevada por compartilhar diversos fatores de risco, entre eles a maior probabilidade de morte durante a atividade profissional, as relações internas das corporações, a sobrecarga de trabalho, o próprio caráter das atividades que realizam, pressões da sociedade para mudanças na forma de policiamento e condições precárias de trabalho (Adlakha, 2019; Binkowski, 2017; Dishon-Berkovits, 2018). As instituições de segurança pública são responsáveis pela manutenção da ordem pública (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988/2001), caracterizando-se como uma atividade altamente estressante. Especificamente, no Brasil, fazem parte desse grupo as polícias federais, civil, militar, rodoviária federal e penitenciária federal, além do corpo de bombeiros militares, como explicitado no artigo 144 da Constituição Federal (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988/2001).

Dessa forma, é essencial que as instituições de segurança pública monitorem a síndrome de Burnout em seus profissionais, e o uso de instrumentos psicológicos com evidências de validade e fidedignidade adequadas pode auxiliar nesse processo (American Educational Research Association [AERA], American Psychology Association [APA] & National Council on Measurement in Education [NCME], 2014). As evidências de validade podem ser definidas como o julgamento ou uma estimativa de quão bem um instrumento mede o que se propõe a medir em um determinado contexto, de forma mais específica, é um julgamento com base na evidência sobre a adequação de inferências extraídas de escores de testes (AERA et al., 2014). Já as evidências de fidedignidade podem ser definidas como a replicabilidade dos escores ao longo do tempo (AERA et al., 2014).

Nesse sentido, o presente estudo teve por objetivo mapear os instrumentos utilizados na avaliação da síndrome de Burnout em profissionais da segurança pública, indicando os aspectos psicométricos (evidências de validade e fidedignidade), amostras estudadas, variáveis associadas e níveis de Burnout.

Método

Revisão da Literatura

Como guia para essa revisão integrativa, foram seguidas as diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) (Galvão, Pansani, & Harrad, 2015). Assim, uma busca eletrônica abrangente foi realizada nas bases de dados PsycINFO, PubMED e Google Scholar, até 04 de junho de 2020. As seguintes combinações de descritores foram utilizadas: “Burnout” and “public security” e “occupational stressandpublic security”. As palavras-chave foram escolhidas por meio das terminologias presentes na BVS-Psi.

Procedimentos para a Seleção dos Estudos e Critérios de Inclusão

Os critérios de inclusão foram: (a) estudos publicados em inglês, português ou espanhol; (b) de abordagem quantitativa; (c) com amostras de profissionais de segurança pública; (d) que tinham ao menos uma medida padronizada para a aferição da síndrome de Burnout e (e) que estivessem disponíveis na íntegra. O ano de publicação não foi limitado e foram excluídos livros e capítulos de livros.

Procedimentos de Análise

Durante a primeira triagem, três revisores independentes (GG, G e S) avaliaram os títulos e resumos dos estudos, excluindo aqueles que não estavam relacionados com Burnout e segurança pública. Em seguida, os estudos restantes foram examinados, por meio de sua leitura completa, para averiguar se estavam alinhados com os critérios de inclusão. Foram incluídos na análise apenas os estudos em que houve concordância dos três avaliadores.

Foram identificados 1.452 estudos na pesquisa inicial. Após todos os procedimentos de triagem, 19 estudos foram revisados e preencheram os critérios de inclusão. A Figura 1 mostra o fluxograma seguido.

Figura 1
Fluxo da informação com as diferentes fases de uma revisão sistemática.

Após examinados, as análises foram realizadas segundo as seguintes categorias levantadas: (1) instrumento utilizado; (2) modelo teórico do Burnout; (3) dimensões mensuradas; (4) número de itens; (5) formato de resposta do instrumento; (6) indicadores de evidências de validade; (7) indicadores de evidências de fidedignidade; (8) variáveis associadas a síndrome de Burnout; (9) níveis de Burnout; (10) tamanho da amostra do estudo; (11) média de idade dos participantes; (12) quantitativo por sexo; (13) tipo de força de segurança pública avaliada e (14) país em que o estudo foi realizado.

Resultado

Dos 19 estudos selecionados, 13 eram artigos publicados em periódicos científicos, quatro dissertações de mestrado, sendo uma na área de ciências policiais, duas em psicologia e uma em gestão estratégica de recursos humanos. Também foi selecionada uma monografia de conclusão de graduação em administração e um trabalho apresentado em conferência internacional de política, economia e direito. Embora não tenha sido limitado o ano de publicação, observou-se que o estudo mais antigo publicado é de 2006 e o mais recente é do ano de 2020. Além disso, foram encontrados cinco instrumentos, sendo dois variações da mesma proposição teórica, todos baseados no formato de autorrelato. Ademais, também foram encontrados estudos que utilizaram versões adaptadas desses modelos de mensuração para suas respectivas culturas, no caso a cultura chinesa (Gong, Yu, Wang, & Zhao, 2018; Ke, Zhou, & Zhu, 2019; Li, 2014; Wang, Zheng, Hu, & Zheng, 2014) e a portuguesa (Afonso & Gomes, 2009; Antunes, 2019; Ascari et al., 2016; Costa, 2011; Esteves & Gomes, 2013; Gonçalves, 2019; Teixeira, 2012). A seguir, serão apresentados os instrumentos encontrados.

Maslach Burnout Inventory - General Survey (MBI-GS) e Human Services Survey (MBI-HSS)

O MBI-GS e o MBI-HSS foram utilizados em 11 (57,8%) e três (15,7%) dos 19 estudos analisados, respectivamente. Com isso, observa-se que o modelo de Maslach foi o mais utilizado nos estudos analisados (73,7%). O MBI-GS foi originalmente elaborado para ser aplicável a trabalhadores de modo geral e é composto por 16 itens respondidos em uma escala do tipo Likert de sete pontos. Já o MBI-HSS é apresentado como um instrumento específico para profissionais de serviços humanos, sendo composto por 22 itens também respondidos em uma escala tipo Likert de sete pontos (Campos, Pereira, Schiavon, & Alves, 2020). Ambos os instrumentos foram concebidos para avaliar as três dimensões da síndrome de Burnout conforme o modelo multidimensional de Maslach e Jackson (1981): (i) Exaustão emocional, composta por cinco itens na versão MBI-GS e nove itens na versão MBI-HSS; (ii) Despersonalização, com cinco itens em ambas as versões; (iii) Eficácia profissional, composta por seis itens na versão MBI-GS e (iii) Realização pessoal, composta por oito itens na versão MBI-HSS.

Evidências de Validade e Fidedignidade do MBI-GS e MBI-HSS

No tocante às evidências de validade e fidedignidade das dimensões das escalas, dos estudos que utilizaram o MBI-GS, apenas três reportaram evidências de validade (Afonso & Gomes, 2009; Gonçalves, 2019; Li, 2014) por meio da estrutura interna, indicando a existência de três dimensões. Esses estudos observaram que os fatores explicaram entre 56,7% (Gonçalves, 2019) e 62,1% (Afonso & Gomes, 2009) a variância dos itens. Já com relação aos índices de fidedignidade das escalas, apenas quatro estudos reportaram coeficientes de confiabilidade por meio do método do alfa de Cronbach (Afonso & Gomes, 2009; Costa, 2011; Gonçalves, 2019; Li, 2014). Os valores apresentados para os alfas de Cronbach variaram de 0,58 (Costa, 2011) a 0,92 (Gonçalves, 2019) para exaustão emocional, de 0,64 (Afonso & Gomes, 2009) a 0,77 (Gonçalves, 2019) para despersonalização e de 0,49 (Li, 2014) a 0,85 (Afonso & Gomes, 2009) para eficácia profissional. A maioria dos estudos reportou índices considerados aceitáveis e excelentes (Hair, Black, Babin, Anderson, & Tatham, 2009). No entanto, especificamente os índices apresentados para as dimensões de exaustão emocional e despersonalização nos estudos de Costa (2011) e Li (2014) foram abaixo do esperado

Os estudos que utilizaram o MBI-HSS não indicaram evidências de validade da medida e apenas um estudo informou os índices de fidedignidade para a amostra utilizada, reportando alfas de Cronbach de 0,85 para exaustão emocional, de 0,74 para despersonalização e de 0,79 para realização pessoal (Queirós, Kaiseler, & Silva, 2013). Esses índices podem ser considerados aceitáveis (Hair et al., 2009).

Burnout Measure Short (BM-S)

O BM-S foi utilizado em três estudos (15,7%). Ele foi desenvolvido para a avaliação de Burnout em trabalhadores e não trabalhadores, considerando um estado de exaustão física, emocional e mental (Pines, 2005). O BM-S é composto por 10 itens, respondidos em uma escala tipo Likert de sete pontos, divididos entre sintomas físicos, composto por três itens, emocionais, composto por quatro itens e cognitivos, composto por três itens (Pines, 2005).

Evidências de Validade e Fidedignidade do BM-S

Os estudos analisados que utilizaram o BM-S não indicaram evidências de validade da medida. Esses estudos reportaram apenas a fidedignidade para a pontuação geral da escala, por meio do coeficiente alfa de Cronbach. O menor coeficiente observado foi de 0,83 (Pines & Keinan, 2006) e o maior de 0,92 (Pines & Keinan, 2007), considerados bons e excelentes, respectivamente (Hair et al., 2009).

Inventário de Copenhagen (CBI)

O CBI foi observado em apenas um dos 19 estudos analisados (5,3%). Ele foi elaborado de modo generalista e com a possibilidade de que seus itens sejam adaptados a diversas profissões (Kristensen, Borritz, Villadsen, & Christensen, 2005). O CBI foi desenvolvido para avaliar a fadiga e a exaustão em três domínios, a saber: (i) Desgaste pessoal, composto por seis itens que avaliam o grau de fadiga e exaustão física e psicológica experimentada pela pessoa; (ii) Desgaste relacionado ao trabalho, com sete itens que avaliam o grau de fadiga e exaustão física e psicológica que a pessoa percebe em relação ao seu trabalho; e (iii) Desgaste relacionado ao cliente, composto por seis itens que avaliam o grau de fadiga e exaustão física e psicológica que a pessoa percebe em relação ao seu trabalho com os clientes (Kristensen et al., 2005). Esse inventário é composto por 19 itens, respondidos em uma escala Likert que vai de 1 - Nunca até 5 - Sempre.

Evidências de Validade e Fidedignidade do CBI

O único estudo que utilizou o CBI não reportou evidências de validade ou índices de fidedignidade para nenhuma dimensão ou escore geral.

Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo (CESQT)

O CESQT foi observado em apenas um (5,3%) dos 19 estudos analisados. Ele foi elaborado para profissionais que trabalham em contato com pessoas. A definição de síndrome de Burnout subjacente a esse modelo de mensuração compreende a perda de motivação, decorrente da deterioração cognitiva, uma baixa realização pessoal no trabalho, decorrente do esgotamento emocional, o surgimento de atitudes e condutas negativas frente aos clientes e à organização e, por vezes, sentimento de culpa (Gil-Monte, Carlotto, & Câmara, 2010).

O CESQT é composto por 20 itens, respondidos em uma escala Likert de cinco pontos, distribuídos em quatro fatores, a saber: (a) Ilusão pelo trabalho, identificado como a expectativa do indivíduo em alcançar metas do trabalho por isso ser fonte de realização pessoal; (b) Desgaste psíquico, definido como o esgotamento físico e emocional acarretado pelo trabalho; (c) Indolência, que compreende a presença de atitudes negativas de indiferença, bem como um cinismo dirigido a clientes e organizações; e (d) Culpa, descrito como um sentimento de culpa em decorrência das atitudes negativas existentes no trabalho (Gil-Monte et al., 2010).

Evidências de Validade e Fidedignidade do CESQT

O único estudo que utilizou o CESQT não reportou evidências de validade e indicou apenas que o índice de fidedignidade alfa de Cronbach para a pontuação total da escala foi aceitável, com α > 0,70, mas não indicou o valor exato (Corrêa, Lopes, Almeida, & Camargo, 2019).

Variáveis Associadas com a Síndrome de Burnout em Profissionais de Segurança Pública

Variáveis Associadas ao MBI-GS e ao MBI-HSS

De todas as pesquisas que adotaram o MBI-GS para avaliação da síndrome de Burnout, quatro eram dissertações e sete, artigos publicados em periódicos revisados por pares, totalizando 11 estudos.

Todas as quatro dissertações foram realizadas com amostras da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Portugal e avaliaram as relações entre a síndrome de Burnout e a vulnerabilidade ao estresse (Antunes, 2019; Costa, 2011; Teixeira, 2012) e a perturbações da personalidade (Costa, 2011). Entre os achados reportados nesses estudos, as dimensões do MBI-GS apresentavam os seguintes resultados:

  1. Exaustão emocional apresentou associações fracas e positivas com as perturbações da personalidade autodestrutiva, borderline, ansiedade, distimia, depressão e depreciação (Costa, 2011). Já com relação à vulnerabilidade ao estresse, a exaustão emocional apresentou associações positivas e fracas com as seguintes dimensões: carência e condições adversas e; associações positivas e moderadas com as seguintes dimensões: perfeccionismo, inibição, dramatização, subjugação e deprivação (Costa, 2011; Teixeira, 2012).

  2. Eficácia profissional apresentou associações fracas e negativas com as perturbações da personalidade esquizoide, ansiedade e depressão. Já com relação à vulnerabilidade ao estresse, a eficácia profissional apresentou associações negativas e fracas com perfeccionismo, carência, condições adversas, dramatização e subjugação e associações positivas e moderadas com inibição e deprivação (Costa, 2011; Teixeira, 2012). No estudo realizado por Teixeira (2012), não houve associação significativa entre a eficácia profissional e as dimensões de vulnerabilidade de carência, condições adversas, dramatização e subjugação.

  3. Despersonalização apresentou associações fracas e positivas com as perturbações da personalidade autodestrutiva, borderline, distimia, depressão, esquizoide, fóbica, passiva-agressiva, esquizotípica, paranoide, abuso de álcool, alterações de pensamento e delírios psicóticos (Costa, 2011). Já com relação a vulnerabilidade ao estresse, a despersonalização apresentou associações positivas e fracas com o perfeccionismo, inibição, carência, condições adversas, dramatização, subjugação e deprivação (Costa, 2011; Teixeira, 2012).

Os sete artigos publicados em periódicos revisados por pares, cinco foram realizados com amostras de policiais (não especificados nos manuscritos), policiais penitenciários e policiais rodoviários de províncias da China e apenas dois desses artigos utilizaram amostras da Guarda Nacional Republicana (GNR) e PSP de Portugal. Esses artigos também apresentaram uma maior variação dos objetivos e variáveis associadas, a saber: (i) analisar a experiência de estresse laboral numa amostra de profissionais de segurança pública (Esteves & Gomes, 2013); (ii) analisar o estresse ocupacional em militares da GNR (Afonso & Gomes, 2009); (iii) explorar o impacto do conflito entre trabalho e família nas intenções de rotatividade sob os papéis de suporte organizacional e esgotamento de empregos (Ke et al., 2019); (iv) explorar o impacto das características do trabalho no esgotamento do trabalho entre agentes penitenciários (Hu et al, 2015); (v) compreender a exaustão do trabalho dos policiais (Gong et al., 2018); (vi) analisar o esgotamento no policial rodoviário (Li, 2014); e (vii) examinar a relação entre estresse, satisfação no trabalho, exaustão no trabalho e lócus de controle relacionados ao trabalho policial (Wang et al., 2014).

Com relação à síndrome de Burnout, os resultados desses artigos indicaram que o estresse ocupacional, a avaliação cognitiva do trabalho como perturbador, pouco estimulante, a avaliação dos recursos pessoais para lidar com o trabalho e do controle de decisão sob seu trabalho foram variáveis importantes na predição da síndrome de Burnout (Esteves & Gomes, 2013).

Além dessas variáveis, a pontuação geral de estresse, coping e o desejo por abandonar o local de trabalho conseguiram predizer as dimensões de exaustão emocional e despersonalização, mas a realização pessoal só foi predita pelo coping e pelo comprometimento organizacional (Afonso & Gomes, 2009). Ademais, exaustão emocional apresentou uma correlação significativa, moderada e positiva com as intenções de rotatividade e como mediadora na relação entre intenções de rotatividade e conflito trabalho-família (Ke et al., 2019). Outrossim, o desequilíbrio entre esforço e recompensa no trabalho, e a ameaça percebida, se associaram positivamente com a exaustão emocional e a despersonalização (Hu et al., 2015). Esse mesmo estudo indicou que um elevado comprometimento estava positivamente associado principalmente à exaustão emocional e à eficácia profissional (Hu et al., 2015).

Variáveis Associadas ao BM-S

Todas as três pesquisas que adotaram o BM-S para avaliação da síndrome de Burnout são artigos publicados em periódicos revisados por pares realizados em Israel. Essas pesquisas objetivaram mapear os estressores que afetam a polícia da fronteira (Pines & Keinan, 2006), identificar estressores típicos que afetam os policiais penitenciários, avaliar os resultados decorrentes desses estressores (Keinan & Pines, 2007) e o estresse na polícia israelense durante a revolta da palestina (Pines & Keinan, 2007).

Nessas pesquisas, foram apresentadas evidências de que a síndrome de Burnout, em policiais da fronteira de Israel, está associada de modo moderado e positivo a aspectos negativos no trabalho, condições difíceis de trabalho, relações problemáticas com os comandantes e alta burocracia (Pines & Keinan, 2006). Além disso, a síndrome de Burnout também foi associada moderada e positivamente, em policiais penitenciários, com contatos estressantes com não internos, contatos estressantes com os presos, estressores organizacionais e práticas imprudentes por parte da gerência (e.g. carga horária elevada, realização de turnos extras sem compensação e atitudes preferenciais dos superiores) (Keinan & Pines, 2007). Por fim, no estudo que investigou o estresse em policiais israelenses durante a revolta da Palestina, a síndrome de Burnout foi associada, de modo moderado e positivo, com os fatores estressantes, como contato próximo com criminosos, tempo de trabalho irregular, baixas recompensas e burocracia (Pines & Keinan, 2007). Vale ressaltar ainda que, apesar do BM-S apresentar uma estrutura de três dimensões, os autores dos estudos aqui analisados só reportaram as pontuações totais deste instrumento.

Variáveis Associadas ao CBI

O estudo que utilizou o CBI para avaliar a síndrome de Burnout é uma monografia que avaliou policiais penitenciários de uma unidade prisional do interior no Brasil, com o objetivo de analisar os tipos e níveis de Burnout (Sobreira, 2014). O autor desse estudo não indicou as pontuações médias dos participantes nas dimensões da escala ou da pontuação geral. A análise foi realizada apresentando as médias de pontuações nos itens do CBI, reportando que “a síndrome de Burnout encontra-se coletivamente em um estágio inicial ou no nível aceitável” (Sobreira, 2014, p. 4). Ademais, nenhuma outra variável foi associada à síndrome de Burnout.

Variáveis Associadas ao CESQT

O único estudo que utilizou o CESQT para avaliação da síndrome de Burnout é um artigo publicado em periódico revisado por pares, realizado com policiais penitenciários de um estado do Brasil (Corrêa et al., 2019). Essa pesquisa buscou realizar uma análise da relação entre as dimensões do bem-estar no trabalho e a síndrome de Burnout, na perspectiva dos servidores penitenciários do Rio Grande do Sul (Corrêa et al, 2019). Como resultado, o desgaste psíquico, a indolência e a culpa se mostraram associadas, de modo moderado e positivo, com afeto negativo e, de modo moderado e negativo, com afeto positivo e realização (Corrêa et al., 2019). Já a ilusão pelo trabalho se correlacionou, de modo moderado e positivo, ao afeto positivo e realização e, de modo moderado e negativo, ao afeto negativo (Corrêa et al., 2019).

Índices de Burnout segundo o País e o Tipo de Força de Segurança Pública

Nos estudos analisados, duas forças policiais de Portugal foram consideradas, a saber, a Polícia de Segurança Pública (PSP; Antunes, 2019; Costa, 2011; Gonçalves, 2019; Queirós et al., 2013; Teixeira, 2012) e a Guarda Nacional Republicana (GNR) (Afonso & Gomes, 2009; Esteves & Gomes, 2013). Nesses estudos, para a PSP, os maiores níveis nas dimensões do MBI-GS, que variam em uma escala tipo Likert de 1 (nunca) até 5 (todos os dias), foram de M = 2,00 (DP = 1,51) para exaustão emocional, M = 1,87 (DP = 1,44) para despersonalização (Gonçalves, 2019) e M = 4,73 (DP = 1,01) para realização pessoal (Queirós et al., 2013). Já para a GNR apenas um dos estudos indicou os níveis para as dimensões do MBI-GS, a saber: M = 1,68 (DP = 1,34) para exaustão emocional, M = 1,82 (DP = 1,36) para despersonalização e M = 4,69 (DP = 1,43) para realização pessoal (Afonso & Gomes, 2009).

No contexto da China, foram encontradas amostras de forças policiais de Pequim (não especificada no manuscrito; Ke et al.,2019), de duas províncias de Shandong (Liaocheng e outra não especificada; Gong et al., 2018; Li, 2014), uma província do nordeste da China que não foi especificada (Hu et al., 2015) e de uma região autônoma da China, também não especificada (Wang et al., 2014). Nesses estudos, foi utilizado o MBI-GS e apenas um dos estudos indicou os níveis médios para suas dimensões, a saber: M = 10,59 (DP = 7,51) para exaustão emocional, M = 9,75 (DP = 6,56) para despersonalização e M = 23,90 (DP = 9,39) para realização pessoal (Hu et al., 2015).

No contexto de Israel, foram encontradas amostras da polícia penitenciária (Keinan & Pines., 2007), polícia fronteiriça (Pines & Keinan, 2006) e uma força policial sem maior especificação (Pines & Keinan, 2007). Nesses estudos, foi utilizado o BM-S e em todos eles apenas a pontuação geral foi reportada, indicando uma média de 3,80 (DP = 1,42) para policiais penitenciários (Keinan & Pines., 2007), M = 4,15 (DP = 1,85) para policiais fronteiriços (Pines & Keinan, 2006) e M = 3,05 (DP = 1,43) para a força policial não especificada durante a revolta da palestina (Pines & Keinan, 2007).

No contexto brasileiro, foram encontradas amostras de policiais penitenciários (Corrêa et al., 2019; Sobreira, 2019) e policiais militares (Ascari et al., 2016). Foram utilizados três instrumentos diferentes: MBI-HSS, CBI e CESQT. Contudo, apenas um deles, utilizando o CESQT, apresentou as pontuações médias nas dimensões, mas não os desvios padrão, a saber: M = 44,04 para desgaste psíquico, M = 34,79 para indolência, M = 66,50 para ilusão pelo trabalho e M = 27,16 para culpa (Corrêa et al., 2019).

De todas as pesquisas recuperadas na revisão, apenas uma avaliou policiais penitenciários da província de Alberta no Canadá (Gould et al., 2013). Nesse estudo, foi utilizado o MBI-HSS e reportou pontuações médias de 33,53 (DP = 12,47) para exaustão emocional, M = 19,01 (DP = 7,17) para despersonalização e M = 38,16 (DP = 7,31) para realização pessoal (Gould et al., 2013).

Características Gerais das Amostras Utilizadas

A maioria dos estudos foram realizados com amostras compostas majoritariamente por policiais do sexo masculino e provenientes de Portugal (ƒ = 7; 36,8%) e da China (ƒ = 5; 26,3%), sendo apenas três (15,7%) realizados no contexto brasileiro. Além disso, nota-se uma expressiva quantidade de estudos que não reportaram as médias de idade dos participantes (ƒ = 9; 47,3%) e o sexo dos participantes (ƒ = 3; 15,7%) (Ver Tabela 1).

Tabela 1
Características das Amostras Utilizadas nos Estudos Analisados

Discussão

O objetivo desta revisão integrativa foi mapear os instrumentos utilizados na avaliação da síndrome de Burnout em profissionais da segurança pública, indicando os aspectos psicométricos (evidências de validade e fidedignidade), características das amostras estudadas, variáveis associadas e níveis de Burnout. Os resultados das buscas nas bases de dados PsycInfo, PubMED e Google Scholar retornaram 1.452 estudos que, após triagem, resultaram em 19 estudos elegíveis. Esse dado indica que, ainda que a síndrome de Burnout seja amplamente estudada em diversos contextos, são poucas aquelas pesquisas que focaram em agentes de segurança pública.

A análise dos estudos elegíveis indicou que o instrumento mais utilizado para mensuração da síndrome de Burnout foi o MBI-GS (ƒ = 11; 57,8%) que, juntamente com o MBI-HSS (ƒ = 3; 15,7%), é fundamentado no modelo proposto por Maslach, Jackson e Leiter (1996). Apesar de amplamente difundido (Cardoso, Baptista, Sousa, & Goulart Júnior, 2017), os instrumentos que têm por base esse modelo não foram os únicos utilizados para avaliação da síndrome de Burnout em profissionais de segurança pública entre os estudos elegíveis, sendo encontrados também o BM-S (ƒ = 3; 15,7%), o CBI (ƒ = 1; 5,3%) e o CESQT (ƒ = 1; 5,3%).

Nesse contexto, é importante destacar que o MBI-GS foi elaborado para trabalhadores de modo geral (Maslach et al., 1996), o MBI-HSS para profissionais de serviços humanos (Campos et al., 2020), o BM-S para utilização em trabalhadores e não trabalhadores (Pines, 2005), o CBI foi elaborado para ser generalista e facilmente adaptado a diversas profissões (Kristensen et al., 2005) e o CESQT para profissionais que trabalham em contato com pessoas (Gil-Monte et al., 2010). Ademais, chama a atenção a indicação do autor do BM-S de que o instrumento foi construído para avaliação do Burnout em não trabalhadores, uma vez que o trabalho é uma condição essencial para o Burnout.

De modo geral, pode-se dizer que a utilização desses instrumentos em amostras de profissionais de segurança pública resulta em evidências limitadas sobre essa população, dada a ausência de evidências de validade nessa população. Além disso, as evidências de validade de um instrumento são contextuais, isto é, a adequação de um instrumento a uma população depende da quantidade de evidências de validade que ele apresenta nesse contexto (AERA et al., 2014). Desse modo, nos estudos analisados, só foram reportadas evidências de validade baseada na estrutura interna de um dos instrumentos utilizados para avaliar a síndrome de Burnout, o MBI-GS, que apresentou adequação da estrutura fatorial no contexto português da PSP, GNR e na polícia rodoviária da província de Shandong (Afonso & Gomes, 2009; Gonçalves, 2019; Li, 2014). A utilização de instrumentos sem evidências de validade para determinada população e contexto acarreta falta de suporte empírico para interpretação das suas pontuações (AERA et al., 2014). Assim, ainda que os objetivos dos estudos que utilizaram o MBI-HSS, BM-S, CBI e o CESQT não tenham sido apresentar evidências de validade, a ausência desse objetivo indica uma carência de instrumentos com evidências de validade em profissionais da segurança pública, fragilizando as inferências realizadas com as pontuações provenientes desses instrumentos.

Ademais, dos 19 estudos analisados, apenas sete deles reportaram os índices de fidedignidade para as amostras estudadas (Afonso & Gomes, 2019; Costa, 2011; Gonçalves, 2019; Li, 2014; Pines & Keinan, 2006; Pines & Keinan, 2007; Queirós et al., 2013) e um deles apenas indicou que a fidedignidade foi aceitável, não tendo apresentado o valor exato (Corrêa et al., 2019). Todos os índices apresentados nesses estudos foram coeficientes alfa de Cronbach e a maioria podem ser considerados aceitáveis e excelentes (Hair et al., 2009). Entretanto, é importante destacar que uma das características que influenciam o coeficiente alfa de Cronbach é o tamanho da amostra, isso porque quanto maior o tamanho da amostra, maior a variância esperada, logo, maior o valor do alfa (Duhachek & Lacobucci, 2004; Marôco & Garcia-Marques, 2006). Nesse contexto, pode-se observar que a maioria dos valores de alfa de Cronbach considerados como excelentes foram obtidos em estudos em que as amostras foram superiores a 100 participantes (Gonçalves, 2019; Pines & Keinan, 2006; Pines & Keinan, 2007; Queirós et al., 2013) e apenas um deles, realizado com uma amostra inferior a 100 participantes, indicou um valor de alfa considerado excelente (Afonso & Gomes, 2009). Além disso, assim como houve escassez de evidências de validade, o baixo número de estudos que reportaram índices de fidedignidade aponta para uma limitação que pode indicar a presença de erros aleatórios de medição (AERA et al., 2014). Ainda no tocante à fidedignidade, chama a atenção a grande variabilidade no coeficiente alfa de Cronbach encontrado para o instrumento MBI-GS, o que pode ser atribuído a uma dificuldade na adaptação cultural dos itens do instrumento, como apontado previamente por Kristensen et al. (2005).

Embora uma variabilidade de instrumentos tenha sido utilizada nos estudos analisados, chama a atenção o número reduzido de estudos encontrados que foram realizados em amostras de profissionais de segurança pública (apenas 19 estudos). Algumas das evidências encontradas nesses estudos parecem indicar que elevados níveis da síndrome de Burnout estão associados com variáveis pessoais, organizacionais e específicas da profissão. Em relação às variáveis pessoais, observou-se a associação com níveis elevados de diversas perturbações da personalidade e vulnerabilidade ao estresse (Antunes, 2019; Costa, 2011; Teixeira, 2012). Com as variáveis organizacionais, foram observadas associações negativas com comprometimento organizacional e eficácia profissional (Afonso & Gomes, 2009; Hu et al., 2015). Com relação a variáveis que são específicas da profissão, foram observados maiores níveis de Burnout em profissionais que ocupam posições de liderança em comparação com aqueles que não ocupam essas posições (Li, 2014). Além disso, níveis elevados da síndrome de Burnout foram associados a intenções de rotatividade e desejo por abandonar locais de trabalho (Afonso & Gomes, 2009; Ke et al., 2019). Esses resultados indicam que os níveis mais elevados de Burnout estão associados com aspectos negativos em diferentes níveis organizacionais, prejudicando a saúde mental dos profissionais de segurança pública e onerando as instituições.

Outro resultado que chama a atenção é o baixo número de países encontrados nos estudos analisados. Dos cinco países nos quais os estudos foram realizados, Portugal foi o que apresentou a maior quantidade de estudos (ƒ = 7; 36,8%), seguido pela China (ƒ = 5; 26,3%), Brasil (ƒ = 3; 15,7%), Israel (ƒ = 3; 15,7%) e Canadá (ƒ = 1; 5,2%). Ainda sobre esses estudos, a falta de padronização na utilização dos instrumentos dificulta a comparação dos resultados, por exemplo: nos três estudos realizados com amostras brasileiras, foram utilizados três instrumentos diferentes. Ademais, outra característica que prejudica a comparação desses estudos é o modo como os dados são reportados. Em um (5,2%) dos estudos analisados não foi reportado o tamanho da amostra, em nove (47,3%), não foi indicada a idade dos participantes e, em três desses (15,7%), também não foi indicado o quantitativo da amostra por sexo. Além disso, seis (31,5%) dos estudos aqui analisados não indicaram a pontuação média, geral ou das dimensões, dos participantes para a síndrome de Burnout e três (15,7%) reportaram apenas as pontuações médias gerais.

Entre os profissionais de segurança pública que foram pesquisados, apenas em dois casos é possível estabelecer uma comparação por terem utilizado o mesmo instrumento e serem populações portuguesas. Assim, é possível estabelecer um comparativo da PSP e a GNR, que, quando comparada às maiores pontuações reportadas nas dimensões do MBI-GS, indicaram que os níveis de exaustão emocional, despersonalização e eficácia profissional da PSP (Gonçalves, 2019; Queirós et al., 2013) são superiores aos da GNR (Afonso & Gomes, 2009). Outro comparativo possível é entre a pontuação geral das forças policiais de Israel que foram avaliadas pelo BM-S, indicando que os maiores níveis de Burnout foram reportados, em ordem decrescente, para policiais fronteiriços, para força policial durante a revolta da Palestina e para policiais penitenciários, respectivamente (Malach-Pines & Keinan, 2006; Keinan & Pines, 2007).

Considerações Finais

A realização de novas pesquisas com foco na avaliação da síndrome de Burnout em profissionais de segurança pública é imprescindível. Nesse sentido, essa revisão foi delineada para tentar abranger, a partir de uma estratégia de busca ampla, o maior número de estudos em consonância com o objetivo proposto. Entretanto, é possível que algum estudo não tenha sido identificado. Além disso, a presente revisão focou apenas em estudos quantitativos, o que não se configura como uma limitação, mas não abrange evidências que possam ter sido apresentadas em avaliações qualitativas.

Considera-se também que os achados aqui reportados alertam para uma realidade que deve ser observada com o devido cuidado, a ausência de instrumentos para avaliação do Burnout com evidências de validade para o contexto da segurança pública. Essa ausência faz com que os resultados dessas avaliações possam apresentar algum tipo de erro de mensuração. Nesse contexto, faz-se necessário a elaboração de instrumentos específicos para avalição do Burnout na segurança pública e a apresentação e evidências de validade e fidedignidade.

Por fim, estudos futuros devem buscar suprir as limitações aqui encontradas nos estudos analisados, como ausência de instrumentos para avaliar a síndrome de Burnout específicos e/ou a identificação de evidências de validade para profissionais de segurança pública, o baixo número de países em que a síndrome de Burnout foi avaliada nos profissionais de segurança pública e uma maior padronização na apresentação dos resultados.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2023

Histórico

  • Recebido
    28 Jun 2021
  • Revisado
    02 Dez 2021
  • Aceito
    14 Fev 2022
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