Resumo
A Escala RASH (relação, autonomia, separação e heteronomia) foi desenvolvida para investigar padrões de self em estudos transculturais. No presente estudo, foi realizada uma análise fatorial da escala RASH em amostras brasileiras e norte-americanas, com o objetivo de fornecer uma medida de quatro fatores com bons índices de ajuste. Buscou-se confirmar o padrão de self autônomo-relacionado nas duas amostras e também a relação entre o nível de escolaridade dos pais e tipos de valores que desejam para seus filhos. Coletou-se dados de 756 participantes (EUA, n = 519, Brasil, n = 237), pais ou responsáveis por alunos de 7 a 14 anos. Foram realizadas análise fatorial exploratória e confirmatória, medidas de invariância e estatísticas básicas como média, desvio padrão e correlação. Os resultados corroboram uma estrutura de quatro fatores do instrumento e os padrões autorrelatados nas duas culturas. O instrumento pode auxiliar em pesquisas transculturais sobre o desenvolvimento de valores e captar diferenças entre culturas.
Palavras-chave:
valores; análise fatorial; self; desenvolvimento moral
Abstract
The RASH scale (which stands for relation, autonomy, separation, and heteronomy) was developed to investigate patterns of self in cross-cultural studies. In the present study, a factor analysis of the RASH scale was conducted in Brazilian and North American samples, with the aim of providing a four-factor measure with good fit indices. The aim was to confirm the pattern of autonomous-relational self in the two samples and also the relationship among the parents’ level of education and the types of values they want for their children. We collected data from 756 participants (n = 519, USA; n = 237, Brazil), parents or guardians of students aged 7 to 14 years. Exploratory and confirmatory factor analyses, invariance measures and basic statistics such as mean, standard deviation, and correlation were performed. The results confirmed the four-factor structure of the instrument and self-reported patterns in the two cultures. The instrument can help in cross-cultural research on the development of values and capture differences between cultures.
Keywords:
values; factor analyses; self; moral development
Resumen
La escala RASH (relación, autonomía, separación y heteronomía) se desarrolló para investigar patrones del self en estudios transculturales. En el presente estudio, se realizó una validación de la escala RASH en muestras brasileñas y norteamericanas, con el objetivo de proporcionar una medida de cuatro factores con buenos índices de ajuste. Se buscó confirmar el patrón de self autónomo-relacionado en ambas muestras, así como la relación entre el nivel educativo de los padres y los tipos de valores que desean para sus hijos. Se recopilaron datos de 756 participantes (n = 519 en EE. UU.; N = 237 en Brasil), padres o tutores de estudiantes de 7 a 14 años. Se llevaron a cabo análisis factoriales exploratorios y confirmatorios, seguidos de medidas de invarianza y cálculos de estadísticas básicas como media, desviación estándar y correlación. Los resultados respaldaron la estructura de cuatro factores del instrumento y los patrones autoinformados en ambas culturas. El instrumento puede ser útil para investigaciones interculturales sobre el desarrollo de valores y para capturar las diferencias entre culturas.
Palabras clave:
valores; análisis factorial; self; desarrollo moral
Parte do desenvolvimento moral de crianças e adolescentes se dá através da socialização de valores, ou seja, pais tendem a fomentar em seus filhos os valores que eles acreditam serem importantes para o futuro da nova geração. A fim de contribuir para o conhecimento acerca dos valores que os pais têm para seus filhos, no presente estudo buscou-se validar a escala RASH (Relação, Autonomia, Separação e Heteronomia), utilizando análise fatorial com amostras de pais dos EUA e do Brasil.
Por relação compreende-se valores com ênfase na proximidade entre os indivíduos, enquanto separação implica em maior distanciamento dos outros. Autonomia está relacionada com a capacidade de seguir suas próprias regras morais e heteronomia está vinculada à obediência de regras colocadas por terceiros (Kağıtçıbaşı, 2005). Nossa hipótese é que o modelo de quatro fatores apresentaria bons índices de ajuste em ambas as amostras, uma vez que resultados similares já foram encontrados em estudo com EUA e China (Liang et al., 2021). Esperou-se encontrar ênfase em self autônomo-relacionado nas bases verificadas, indicando uma redução dos valores individualistas nos EUA, como já demonstrado em estudo anterior (Nomaguchi & Milkie, 2019). Além disso, esperou-se encontrar uma relação entre o nível de escolaridade dos pais e os valores que eles desejam para seus filhos, sendo que os pais com maiores níveis de escolaridade deveriam favorecer valores da ordem da autonomia (Liang et al., 2021; Merçon-Vargas, 2017). A validação da RASH pode auxiliar a compreender como ocorre o desenvolvimento de valores ao identificar os tipos de valores que vêm sendo socializados entre gerações.
Valores são construções que ocorrem ao longo do desenvolvimento e se estabelecem nas relações entre os indivíduos e a sociedade (Palhares et al., 2018). Em uma escala de valores, os valores positivos como honestidade, gratidão e lealdade se correlacionam positivamente com melhor qualidade de vida (Bono et al., 2019). Sabe-se que os valores se desenvolvem de forma distinta em diferentes sociedades e se consolidam por meio da socialização entre gerações, sendo o papel da família, em especial dos pais, fundamental (Barni et al., 2017; Prioste et al., 2017). Os valores parentais são impactados por mudanças econômicas, políticas, culturais e educacionais, indicando que os valores são suscetíveis aos câmbios do entorno (Doepke & Zilibotti, 2019). Estudos apontam para a importância da socialização de valores como forma de fomentar o desenvolvimento moral de crianças e adolescentes (e.g., Verma & Sunil, 2018).
Diversos estudos constataram uma mudança de valores (Nomaguchi & Milkie, 2019; Stattin & Kim, 2018). Na Itália, os resultados de uma investigação sobre a mudança de valores por meio das gerações apontaram para um processo lento de mudança (Albanese et al., 2016). Na Estônia, o rápido crescimento econômico nas últimas décadas impactou o desenvolvimento de valores voltados para a autonomia e realização (Tulviste et al., 2012). Nos Estados Unidos, a crise econômica da década de 1980 trouxe uma mudança com o crescimento de valores relacionados à sobrevivência e ao trabalho árduo, com menor foco no individualismo e maior na cooperação (Nomaguchi & Milkie, 2019).
Outro exemplo de mudança cultural que vem despontando nos países em desenvolvimento diz respeito ao crescimento, entre as mulheres, dos níveis de escolarização e de participação no mercado de trabalho (Averett et al., 2017). A literatura sugere que quanto menor o nível de escolaridade, maior a tendência a socializar valores pautados na heteronomia (Chen, 2020; Seidl-de-Moura et al., 2017).
A socialização de valores está intimamente ligada ao contexto cultural onde ocorre esse processo, o qual impacta o desenvolvimento humano. Ao mesmo tempo, atualizações de valores podem provocar mudanças culturais (Albert & Trommsdorff, 2014). Para o propósito deste estudo, considera-se a definição proposta por Varnum e Grossmann (2017): um conjunto de normas e comportamentos compartilhados por um grupo de pessoas em determinada região geográfica.
Sabendo que os valores são importantes na vida dos seres humanos e se relacionam com qualidade de vida, os estudos dos valores em Psicologia vêm crescendo ao redor do mundo, sendo o modelo de self autônomo-relacionado (Kağıtçıbaşı, 2005) uma das abordagens muito utilizada (e.g., Fishbane, 2001; Liang et al., 2021; Seidl-de-Moura et al., 2013).
O Modelo Autônomo-Relacionado de Kağıtçıbaşı
Com o crescimento das pesquisas sobre valores em diferentes culturas, surge a necessidade de explicações ao nível dos indivíduos e não somente em relação aos aspectos culturais, uma vez que, dentro de uma mesma cultura, pode-se encontrar padrões distintos, os quais enfatizam ora o individualismo ora o coletivismo (Kağıtçıbaşı, 2005). Na década de 2000 Kağıtçıbaşı (2005) propõe a inclusão de aspectos individuais, além das diferenças culturais, na compreensão dos valores, consolidando um modelo baseado no self.
Kağıtçıbaşı (2005) desenvolveu um modelo ortogonal bidimensional para utilização em estudos transculturais em valores. A primeira dimensão é denominada distância interpessoal e reflete o grau de conexão entre os indivíduos ou a forma como se relacionam com os demais, podendo variar de separação (maior distanciamento dos outros) à relação (ênfase na proximidade entre os indivíduos). A segunda dimensão é chamada de agência que varia de autonomia à heteronomia. Esses termos são utilizados de acordo com a interpretação de Kağıtçıbaşı (2005) sobre os estudos desenvolvimento moral de Piaget em sua obra “O julgamento moral da criança” (Piaget, 1932/1994).
Estudos realizados encontraram evidências que deram suporte ao modelo de self autônomo-relacionado, além de indicar que o desejo de valores autônomos não significa necessariamente a valorização de separação, ou seja, o individualismo (Kağıtçıbaşı & Ataca, 2015; Keller et al., 2006). Alguns estudos sugerem que a socialização parental de valores pode enfatizar tanto autonomia quanto relação, por exemplo: desejar que os filhos sigam seus objetivos, mas que contem com a família para ajudá-los (Liang et al., 2021; Merçon-Vargas, 2017).
Segundo Kağıtçıbaşı (2007), autonomia e relação representam necessidades humanas básicas sendo encontradas em estilos familiares mais adaptativos, que reconhecem a importância da autonomia para a vida dos filhos, assim como são capazes de exercer um controle parental com base no afeto e proximidade das relações. Nesse sentido, o self autônomo-relacionado é o tipo ideal por enfatizar tanto a autonomia quanto os relacionamentos interpessoais. Os self s autônomo-separado e heterônomo-relacionado apontam para uma das necessidades básicas não supridas (relação no caso do primeiro e autonomia no caso do segundo). Já o self heterônomo-separado é tido como negligente por não proporcionar nenhuma das duas necessidades básicas. Com base nesse modelo, Kağıtçıbaşı criou três escalas independentes: (a) escala de autonomia, (b) escala de relação e (c) escala de autonomia-relacionada.
Em 2013, as escalas originais de self autônomo, self relacionado e self autônomo-relacionado foram adaptadas para o português brasileiro por Seidl-de-Moura et al. O resultado baseou-se nos valores do alfa de Cronbach, apresentando resultados abaixo do esperado para self autônomo e self relacionado e resultado moderado para a escala self autônomo-relacionado. Em relação à estrutura fatorial, o estudo não informou os índices necessários para avaliar a adequação do modelo testado (e.g., CFI e RMSEA), sendo que essa é uma informação fundamental para investigar a boa adequação de escalas (Seidl-de-Moura et al., 2013).
Pesquisas fundamentadas no modelo autônomo-relacionado apontam para a prevalência do modelo de self autônomo-relacionado em diferentes regiões do país, tais como Sul, Sudeste e Nordeste (e.g., Martins et al., 2015; Seidl-de-Moura et al., 2017; Tudge et al., 2018). Seidl-de-Moura et al. (2017) realizaram um estudo com 107 famílias do Rio de Janeiro cujos resultados indicaram: (a) a presença tanto de autonomia quanto de relação e (b) que mães com maiores níveis de escolaridade tendem a valorizar mais a autonomia.
Entretanto, o modelo ortogonal também apresenta limitações, uma vez que pressupõe polos opostos dentro de agência e distância interpessoal. Nesse sentido, Merçon-Vargas (2017) destaca pontos importantes a considerar quanto ao modelo de Kağıtçıbaşı’s (2005). Em primeiro lugar, o estudo de Merçon-Vargas (2017) indicou a presença concomitante de valores heterônomos (e.g., seguir regras sociais) e autônomos (e.g., conquistar independência familiar). Em segundo lugar, alguns itens podem sobrepor as duas dimensões - escores baixos em itens sobre independência podem estar mais relacionados à ênfase na relação que à heteronomia. Além disso, como visto na adaptação brasileira da escala, ainda são necessários estudos de evidência de validade que contribuam com resultados estatisticamente significativos em diferentes culturas (Merçon-Vargas, 2017; Seidl-de-Moura et al., 2013). Desse modo, buscou-se uma alternativa às três escalas de Kağıtçıbaşı (2005). Tudge et al. (2014) desenvolveram uma escala única composta de quatro fatores independentes que pudessem investigar cada construto em separado, possibilitando o entendimento das sobreposições do modelo de agência e distância interpessoal.
Escala RASH (The Related Autonomous Separated Heteronomous Scale)
A RASH abarca quatro fatores separados, proporcionando verificar os escores em cada fator: relação, autonomia, separação e heteronomia (Tudge et al., 2014). A escala já apresenta dois estudos de evidências de validade. O primeiro realizado com participantes dos EUA e o segundo com participantes dos EUA e da China (Liang et al., 2021; Merçon-Vargas, 2017). Em ambos os estudos, utilizou-se como base os resultados de quatro índices para avaliar o modelo proposto: qui-quadrado, root mean square error of approximation (RMSEA), comparative fit index (CFI), e standardized root mean square residual (SRMR).
Merçon-Vargas (2017) analisou dados de 522 participantes norte-americanos. O resultado da Análise Fatorial Confirmatória (AFC) resultou em nove itens alocados em três fatores: relação, autonomia e heteronomia. Os bons resultados psicométricos sugerem que os pais valorizam ora a autonomia e ora a heteronomia, dependendo da situação, da escolaridade dos pais e da idade dos filhos (Merçon-Vargas, 2017). O modelo mostrou boa adequação com CFI = 0,911 (> 0,90), RMSEA = 0,056 (< 0,08), e SRMR = 0,053 (< 0,10). O valor do qui-quadrado foi significativo (χ2 = 485.92, gl = 183, p = 0,000). O resultado da AFC justifica uma escala com base em fatores separados.
O segundo estudo feito com 635 participantes dos EUA e 464 da China, também realizou uma Análise Fatorial Confirmatória da escala RASH. Entretanto, obteve resultado distinto do anterior. A AFC indicou 15 itens divididos em quatro fatores: relação, autonomia, separação e heteronomia (CFI = 0,93, RMSEA = 0,06, com 90% de intervalo de confiança, e SRMR = 0,05). O valor do qui-quadrado foi significativo (215.57, gl = 73, p < 0,05) provavelmente devido ao grande tamanho amostral (n = 1099) (Liang et al., 2021).
Considerando as diferenças apresentadas nos dois estudos anteriores de validação da RASH e compreendendo a importância das evidências de validade baseadas na estrutura interna de escalas transculturais com diferentes amostras em idiomas distintos (e.g., Ferreira, 2014; Liang et al., 2021; Merçon-Vargas, 2017), é importante acrescentar estudos com outras amostras para fundamentar a utilização da escala em estudos transculturais. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo apresentar evidências de validade da escala RASH com participantes dos EUA e do Brasil.
Uma vez que as escalas de self autônomo-relacionado traduzidas carecem de evidências de validade (Seidl-de-Moura et al., 2013), a escala RASH pode suprir essa lacuna e auxiliar pesquisas que possam melhor caracterizar os tipos de valores importantes em diferentes países. Muitas vezes os valores que os pais têm para seus filhos podem englobar tanto autonomia quanto heteronomia, tanto relação quanto separação, dependendo da situação. Uma escala única com quatro fatores distintos pode dar conta desses dados e ainda manter-se fiel ao modelo teórico proposto por Kağıtçıbaşı (2005). Sendo assim, a hipótese foi que encontraríamos um modelo de quatro fatores com bons índices de ajuste tanto à amostra dos EUA quanto à do Brasil. Esperou-se encontrar ênfase em self autônomo-relacionado nas duas amostras, indicando uma redução dos valores individualistas nos EUA. Além disso, esperou-se encontrar uma relação entre o nível de escolaridade dos pais e os valores que eles desejam para seus filhos, sendo que os pais com maiores níveis de escolaridade deveriam favorecer valores de autonomia (Liang et al., 2021; Merçon-Vargas, 2017).
Método
Participantes
Participaram do estudo 237 pais brasileiros e 519 norte-americanos, com filhos estudantes entre sete e 14 anos de idade. Os pais apresentam diferentes níveis de escolaridade, sendo o grupo 1 de pais com até ensino médio completo (Brasil = 47,2%; EUA = 27,2%) e o grupo 2 de pais com nível superior incompleto ou maior (Brasil = 49,4%; EUA = 69,1%). Entre três e quatro por cento dos participantes não informaram a escolaridade.
Instrumentos
Ficha de Dados Sociodemográficos. Ficha de dados que visa obter informações que possibilitem a descrição da amostra. Essa ficha foi desenvolvida pela equipe da pesquisa e inclui informações, tais como: nível de escolaridade, trabalho, quem é o principal responsável pelo filho(a).
Escala RASH (Tudge et al., 2014). A escala foi desenvolvida com base no modelo de self autônomo-relacionado de Kağıtçıbaşı (2005). Consiste em um questionário de 30 questões em formato de escala tipo Likert de nove pontos. As questões dizem respeito a valores que os pais gostariam que seus filhos desenvolvessem quando adultos. Foi estruturada para medir separadamente as dimensões ortogonais de agência (autonomia e heterenomia) e distância interpessoal (separação e relação), gerando quatro fatores independentes: (a) autonomia (e.g., “É importante que teu/tua filho(a), quando adulto(a), busque alcançar seus objetivos, sem a ajuda de ninguém?”); (b) heteronomia (e.g., “É importante que teu/tua filho(a), quando adulto(a), cumpra seus deveres no trabalho, sem questionar?”); (c) separação (e.g., “É importante que teu/tua filho(a), quando adulto(a), consiga viver de forma independente sem sentir falta de outras pessoas?”) e (d) relação (e.g., “É importante que teu/tua filho(a), quando adulto(a), se importe com o bem-estar dos outros?”). Destaca-se que a construção da escala envolveu cinco países: EUA, Brasil, China, Turquia e Rússia, com representantes nativos de cada país onde seria realizado o estudo, de forma a garantir o entendimento dos itens em várias línguas distintas. A construção foi realizada de forma simultânea para todas as línguas, dispensando assim processos de adaptação e tradução.
Procedimentos
Aspectos éticos: No Brasil e nos EUA, estabeleceu-se contato com a direção de escolas para verificar se possuíam interesse de que seus estudantes participassem do estudo. A partir da autorização, os alunos receberam cópias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), a Ficha de dados sociodemográficos e a Escala RASH. Os pais que consentiram com a participação de seus filhos no estudo, assinaram o TCLE e preencheram os instrumentos, retornando-os à escola. Nos EUA, por considerar-se apropriado, os professores responsáveis pela coleta dos documentos receberam $2 (dois dólares) por cada TCLE retornado, independentemente desse consentimento ter sido obtido ou não.
Análise dos dados: Inicialmente, excluiu-se os participantes que não haviam preenchido no mínimo oitenta por cento dos dados da RASH, resultando em uma amostra 776 participantes. Os dados omissos foram tratados com imputação múltipla por regressão linear.
Para verificar a possibilidade de realização de uma análise fatorial, analisou-se a adequação da amostra através da medida de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), o índice de esfericidade de Bartlett, eigenvalues, scree plot e Análise Paralela. A literatura sugere como aceitável KMO superior a 0,8 e eigenvalues superiores a 1 (Cabrera-Nguyen, 2010; Hair et al., 2000; Worthington & Whittaker, 2006). Para um modelo fatorial satisfatório, o eigenvalues e o scree plot, auxiliam na determinação do número de fatores a serem retidos (Damásio, 2012; Lorenzo-Seva & Ferrando, 2013).
Realizou-se a Análise Paralela por meio do software RStudio (RStudio Team, 2020) para confirmar o número de fatores a serem retidos sendo mantidos os itens com cargas fatoriais superiores a 0,40 (Lorenzo-Seva & Ferrando, 2013).
O arquivo resultante foi dividido em duas amostras aleatórias, possibilitando a realização da Análise Fatorial Exploratória (AFE) (n = 374) e a Análise Fatorial Confirmatória (AFC) (n = 402). Conduziu-se a AFE com os 30 itens da Escala RASH através da função fa (RStudio Team, 2020) com rotação Oblimin e método de máxima verossimilhança (Damásio, 2012). Os critérios utilizados na AFE foram o comparative-fit-index (CFI) superior a 0,90, o root mean square error aproximation (RMSEA) inferior a 0,06, gamma Hat superior a 0,95 (Cabrera-Nguyen, 2010) Com a segunda amostra procedeu-se a AFC pelo software RStudio (R Core Team, 2021). Em função dos dados serem ordinais, optou-se por utilizar o estimador “DWLS” (Diagonal Weighted Least Square), observando-se os mesmos critérios da AFE.
Após a AFC, realizou-se a medida de equivalência ou invariância (ME/I) utilizando a função measeq.syntax com os pacotes lavaan e semTools no RStudio (R Core Team, 2021) para verificar a equivalência da escala RASH entre os dois grupos. Esse tipo de análise vem crescendo em importância, principalmente, quando se trabalha com estudos transculturais (Svetina & Rutkowski, 2019). A ME/I avalia a invariância configural (estrutura do instrumento e sua adequação para cada grupo utilizado), invariância métrica (cargas fatoriais entre grupos) e a invariância escalar (cargas e intersecções do modelo). Os critérios utilizados serão a diferença de CFI e a diferença de gammaHat, que não devem exceder 0,01 (Milfont & Fisher, 2010).
Com a amostra total, realizou-se cálculos de médias e desvio padrão para cada fator da escala RASH. Por fim, usou-se correlação de Pearson entre escolaridade dos pais e os tipos de valores elegidos na escala RASH.
Resultados
A adequação amostral e o teste de esferecidade apresentaram resultados favoráveis à fatoração (KMO = 0,833; Bartlett χ2 = 3100,578; df = 120; p < 0,001). Realizou-se a AFE com a primeira amostra (n = 374) e os resultados de eigenvalues maiores que 1,00 indicaram seis fatores para extração. Entretanto, a análise do scree plot mostrou quatro componentes antes do ponto de inflexão. Procedeu-se à Análise Paralela, a qual confirmou a presença de cinco fatores. Entretanto, após a análise do gráfico, pode-se observar que um dos fatores apresentou carga inferior ao randomizado, o que sugere que pode ter ocorrido por erro amostral, restando, como esperado, quatro fatores para extração (Lorenzo-Seva & Ferrando, 2013).
Após a rotação, excluiu-se os itens que apresentaram: (a) cargas inferiores a 0,40 e (b) carga fatorial em um fator distinto àquele a qual pertencia originalmente (Hair et al., 2000). Dessa forma, obteve-se uma escala com 14 itens divididos em quatro fatores, com uma variância explicada de 40%. Para os índices de adequação, a escala apresentou χ2 (120, n = 373) = 1299,09, p < 0,001; TLI = 0,91, CFI = 0,98; RMSEA = 0,049 (IC 90% 0,035 - 0,062). O resultado da consistência interna revelou um alfa de Cronbach = 0,81, com um índice satisfatório para a escala como um todo assim como para cada fator (Relação = 0,76; Autonomia = 0,75; Separação = 0,71 e Heteronomia = 0,69).
Na sequência, utilizou-se a segunda amostra de dados (n = 402) para realizar a AFC do modelo gerado. Os resultados apontam para bons índices de ajustamento com CFI = 0,93, RMSEA = 0,05 com intervalo de confiança de 90%, gamma Hat = 0,96 e valor de χ2 significativo (241,112; gl = 98; p < 0,001), esperado para o tamanho da amostra utilizada (Nye & Drasgow, 2011). O resultado das cargas fatoriais encontradas após a AFC é apresentado na Tabela 1.
Os resultados das medidas de equivalência foram satisfatórios para o modelo configural e métrico. O critério utilizado foi o DCFI e DgammaHat igual ou inferior a 0,01. Os resultados são apresentados na Tabela 2.
Calculou-se os escores de cada dimensão da RASH (Relação, Autonomia, Separação e Heteronomia). Os resultados indicam que, tanto nos EUA quanto no Brasil, os valores relacionados à separação apresentam menores índices. Em ambos os países, os escores apontam para a prevalência de valores de relação e autonomia (Tabela 3).
Quando analisados de acordo com o nível de escolaridade dos pais, os resultados sugerem que maior escolaridade aponta para menor ênfase em valores relacionados à heteronomia e menor foco em valores de separação. As correlações entre os níveis de escolaridade e os escores da RASH podem ser vistas na Tabela 4
Discussão
O presente trabalho buscou trazer evidências de validade da escala RASH com duas amostras distintas (Brasil e EUA) através de análise fatorial. Realizou-se os passos de fatoração encontrados na literatura: (a) análise fatorial exploratória, seguida por (b) fatorial confirmatória e, por fim, (c) análise de invariância de medida. Chegou-se a uma versão satisfatória da escala que representa os quatro fatores em separado: relação, separação, autonomia e heteronomia. Esse resultado possibilita ampliar o conhecimento acerca dos valores que os pais desejam que seus filhos desenvolvam, pois permite o acesso de valores que eram tidos como opostos em modelos anteriores, tanto autonomia e heteronomia quanto relação e separação.
Os resultados obtidos por meio da AFE da escala RASH indicam boa adequação do modelo de quatro fatores compostos por 14 itens, com KMO superior a 0,8, explicando uma variância de dados considerável, acima de 50%, significando que cada fator da escala realmente reflete um construto independente (Cabrera-Nguyen, 2010). Utilizou-se o estimador “DWLS” por proporcionar uma adequação mais robusta ao modelo com dados provenientes de escalas (Xia & Yang, 2019) e os índices obtidos (CFI, RMSEA, gamma hat e χ2) sugerem um modelo com bom ajustamento tanto na amostra geral quanto nas amostras separadas por país (Hair et al., 2000). O resultado obtido neste estudo aproxima-se daquele de Liang et al. (2021), no qual foram encontrados 15 itens divididos em quatro fatores. O modelo de Liang et al. (2021) mostrou bom ajuste com CFI = 0,93, RMSEA = 0,06 (IC 90% 0,05 - 0,07), e SRMR = 0,05. O valor de qui-quadrado foi significativo (215,57, gl = 73, p < 0,05). Em estudos transculturais, a evidência de validade de escalas em diferentes amostras auxilia a conferir evidência estatística, sugerindo que pode ser uma boa medida em diferentes culturas (Ferreira, 2014).
Nas medidas de equivalência, o modelo configural e o métrico apresentaram resultados satisfatórios, indicando estrutura e cargas fatoriais equivalentes para os grupos avaliados (Svetina & Rutkowski, 2019). A equivalência escalar não foi satisfeita. Segundo a literatura (e.g., Liang et al., 2021; Marsh et al., 2018), esse tipo de resultado é frequentemente encontrado com escalas em estudos transculturais e pode estar relacionado com aspectos muito subjetivos de cada grupo de respondentes. As comparações entre diferentes culturas devem ser realizadas com cautela principalmente quando, de acordo com o modelo teórico, são esperados resultados diferentes nos dados obtidos entre países (Trimble & Vaughn, 2013). Destaca-se que o estudo de Liang et al. (2021) encontrou resultados similares nas medidas de equivalência, embora esses autores tenham utilizado como critérios o CFI e o RMSEA (CFI = 0,93; RMSEA = 0,06) e métrico (CFI = 0,93; RMSEA = 0,05) com valores significativos e modelo escalar (CFI = 0,84; RMSEA = 0,08) com resultado não significativo.
Pode-se afirmar que o modelo ortogonal de duas dimensões proposto por Kağıtçıbaşı (2005) trouxe grandes avanços para as pesquisas transculturais em valores, na área da psicologia do desenvolvimento. Entretanto, o modelo também apresenta algumas limitações ao colocar cada dimensão como diametralmente oposta, uma vez que estudos anteriores detectaram a presença concomitante de valores autônomos e heterônomos, sugerindo que ambos se alternam nas preferências dos pais (Liang et al., 2021; Merçon-Vargas, 2017). A correlação entre as dimensões sugere que os quatro construtos não são opostos, isto é, a valorização de autonomia não implica em menor valor para a heteronomia, ou alta relação não se associa necessariamente com baixa separação, como foi constatado em outros estudos (Liang et al., 2021; Merçon-Vargas, 2017). Os valores que os pais desejam para seus filhos confirmam o padrão de self autônomo-relacionado no Brasil e também nos EUA, sendo congruentes com aqueles encontrados em estudos anteriores (Liang et al., 2021; Martins et al., 2015; Seidl-de-Moura et al., 2017).
O nível de escolaridade dos pais está associado com o tipo de valores que eles desejam para seus filhos (e.g., Chen, 2020; Seidl-de-Moura et al., 2017). O presente estudo reafirma esses achados quando indica que o nível de escolaridade dos pais apresenta uma correlação significativa negativa com os valores de heteronomia e separação. Kağıtçıbaşı (2007) entende que os valores de autonomia e relação refletem as necessidades básicas humanas e se apresentam em famílias com estilos mais adaptativos. Talvez, a maior escolaridade dos pais permita maior acesso às informações o que pode levar a padrões familiares focados nessas necessidades básicas.
Considerações Finais
A análise fatorial da escala RASH sugere que esta pode ser um bom instrumento de medida para analisar os valores que os pais desejam que seus filhos desenvolvam no futuro. Os resultados deste estudo indicam que o instrumento é satisfatório.
Com relação às limitações, os dados foram coletados em apenas uma cidade no Brasil. Considerando o tamanho e as diferenças regionais dentro de cada país, os resultados devem ser analisados com parcimônia. Além disso, a amostra contou com maior número de pais com alto nível de escolaridade, o que pode influenciar nos valores selecionados. Estudos futuros devem ampliar as amostras a fim de obter maior variabilidade de dados.
Apesar disso, o presente estudo avança na área de estudos transculturais de valores, na medida em que sugere uma nova medida que pode ser útil nessa investigação. Os resultados obtidos com a RASH superam as limitações encontradas no modelo bidimensional de Kağıtçıbaşı (2007), permitindo a presença concomitante de valores que seriam vistos como opostos. Isso pode ampliar o conhecimento acerca dos valores que os pais desejam para seus filhos. Importante destacar que a construção da escala RASH envolveu pesquisadores de diferentes culturas, sendo pensada como um instrumento transcultural desde sua concepção. Reunir evidências de validade de instrumentos como a RASH pode auxiliar em estudos futuros sobre o tema, possibilitando que as informações obtidas sejam mais perto do real.
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