Resumo
A Romantic Beliefs Scale (RBS) foi desenvolvida para acessar crenças sobre romantismo, que podem impactar na formação e qualidade de relacionamentos românticos. Tais crenças podem ser acessadas por meio de quatro fatores que representam o amor romântico ideal, sendo elas: Um e único, Idealização, Amor à primeira vista e Amor encontra uma maneira. Este estudo buscou evidências de validade para a RBS em um contexto brasileiro baseadas na estrutura interna e relações com as variáveis satisfação com o relacionamento e personalidade (Cinco Grandes Fatores e Investimento Emocional). Responderam a um questionário on-line 818 brasileiros com média de idade de 30,7 anos (DP= 14,1), sendo 73,2% mulheres. A escala apresentou evidências de validade baseadas na estrutura interna do instrumento e na relação com outras variáveis, e melhor ajuste a um modelo de fator de segunda ordem explicando os quatro fatores da escala original. Foram encontradas correlações positivas entre os fatores da RBS-Brasil e os fatores de personalidade Extroversão, Socialização e Realização, a Satisfação com o relacionamento e o Investimento emocional.
Palavras-chave: Crenças; amor; relações interpessoais; personalidade; testes psicológicos
Abstract
The Romantic Beliefs Scale (RBS) was developed to assess beliefs about romanticism, that can impact the formation and quality of romantic relationships. These beliefs can be assessed using four factors that represent the ideal romantic love, which are: One and only, Idealization, Love at first sight, and Love finds a way. This study sought evidence of validity for the RBS in a Brazilian context based on internal structure and relationships with the variables relationship satisfaction and personality (Big Five Factors and Emotional Investment). A total of 818 Brazilians with an average age of 30.7 years (SD= 14.1) responded to an online questionnaire, of which 73.2% were women. The scale showed satisfactory evidence of validity based on the internal structure and relation with other variables, and best fit to a second-order factor model explaining the four factors of the original scale. Positive correlations were found between the factors of RBS and personality factors Extraversion, Agreeableness and Consciousness, Relationship satisfaction and Emotional investment.
Keywords: Beliefs; Love; Interpersonal Relationships; Personality; Psychological tests
Resumen
La Romantic Beliefs Scale (RBS) fue desarrolló para evaluar las creencias sobre el romanticismo, las cuales pueden afectar la formación y calidad de las relaciones románticas. Estas creencias pueden ser accedidas a través de cuatro factores que representan el amor romántico ideal, los cuales son: Único, Idealización, Amor a primera vista y Amor encuentra un camino. Este estudio buscó evidencias de validez para el RBS en un contexto brasileño basadas en la estructura interna y relaciones con variables como la satisfacción con la relación y la personalidad (Cinco Grandes Factores e Inversión Emocional). Respondieron a un cuestionario 818 brasileños con una media de edad de 30.7 años (DE= 14.1), de los cuales el 73.2% eran mujeres. La escala mostró evidencias de validez basadas en la estructura interna del instrumento y en la relación con otras variables, y un mejor ajuste a un modelo factorial de segundo orden que explica los cuatro factores de la escala original. Se encontraron correlaciones positivas entre los factores de RBS-Brasil y los factores de personalidad Extraversión, Amabilidad y Realización, así como con la Satisfacción con la relación e Investidura emocional.
Palabras clave: Creencias; Amor; Relaciones interpersonales; Personalidad; Tests Psicológicos
Uma famosa música brasileira, “Alma gêmea”, diz que, pelo parceiro amoroso, faz-se tudo que puder para que a vida seja mais alegre (Timoteo & Maria, 2003). Acreditar no dever ou não de se fazer tudo pelo parceiro é uma ideia que constitui crenças individuais. Crenças funcionam como esquemas cognitivos e, em relacionamentos românticos, são usadas como parâmetros para se comportar e interpretar o comportamento de um potencial parceiro (Sprecher & Metts, 1989). As crenças românticas funcionam como roteiros de comportamentos a serem adotados e esperados em relacionamentos românticos. Crenças e expectativas sobre relacionamentos românticos podem impactar na qualidade dele (Albino, 2018; Sprecher & Metts, 1999). Essas crenças podem ser acessadas por meio de um instrumento desenvolvido por Sprecher e Metts (1989), a Romantic Beliefs Scale. Este estudo teve o objetivo de adaptar a Romantic Beliefs Scale (Escala de Crenças Românticas) ao contexto brasileiro e buscar suas evidências de validade e indicadores de precisão.
As crenças românticas estão associadas a vários aspectos dos relacionamentos. Por exemplo, Sprecher e Metts (1999) encontraram que pessoas mais românticas amavam mais em seus atuais relacionamentos, estavam mais comprometidas e mais satisfeitas. Ledbetter (2017) demonstrou que comportamentos de manutenção do relacionamento medeiam a relação entre romantismo e qualidade do relacionamento, ou seja, crenças acessadas pela Romantic Beliefs Scale estão positivamente associadas com comportamentos de manutenção dos relacionamentos românticos e, consequentemente, com a melhor qualidade deles (Ledbetter, 2017).
Endossar crenças românticas mostrou-se associado também à satisfação e ao comprometimento com o relacionamento, no estudo de Vannier e O’Sullivan (2016). No Brasil, Londero-Santos, Natividade e Féres-Carneiro (2020) verificaram que as pessoas que associam companheirismo, afetividade, respeito e diálogo ao esquema de relacionamento amoroso também são mais satisfeitas com seus relacionamentos. Ademais, crenças irrealistas sobre os relacionamentos podem estar associadas a abusos digitais e a padrões disfuncionais/desadaptativos em dinâmicas conjugais (Gomes-Cavalcanti & Coutinho, 2019; Schlösser & Camargo, 2019).
A Mensuração das Crenças Românticas
Indivíduos podem apresentar crenças adaptativas ou desadaptativas sobre os relacionamentos amorosos. Crenças desadaptativas organizam as informações de um indivíduo, podendo influenciar de maneira inadequada na percepção e comportamento (Albino, 2018; Fabio et al., 2021). Tais crenças levam a emoções desajustadas e prejuízos no bem-estar e, consequentemente, a necessidade de intervenções clínicas para alteração destas. Crenças desadaptativas estão, ainda, relacionadas a instabilidade emocional, baixa conscienciosidade, ansiedade, raiva e depressão (McDermut et al., 2019). Escalas usadas para mensurar crenças desadaptativas, como a Irrational Romantic Relationship Beliefs Inventory (IRRBI; Sarı & Korkut Owen, 2015) e a Relationship Belief Inventory (Eidelson & Epstein, 1982) acessam crenças como discordar é destrutivo, ler mentes é esperado, parceiros não podem mudar, perfeccionismo sexual e os gêneros são diferentes. Estudos com esses instrumentos que mensuraram crenças desadaptativas verificaram que elas estão associadas a desfechos negativos para o relacionamento. Por exemplo, Topkaya, Şahin e Mehel (2021) encontraram que crenças irracionais sobre pensar diferente e diferenças de gênero se associam negativamente à satisfação com relacionamento. Kemer, Çetinkaya e Bulgan (2016) encontraram que expectativas irrealistas sobre o relacionamento são preditoras negativas da satisfação com o relacionamento.
Por outro lado, a Romantic Beliefs Scale (RBS; Sprecher & Metts, 1989) tem sido usada para acessar crenças adaptativas sobre os relacionamentos românticos. Essa escala é frequentemente usada para mensurar a ideologia do romantismo. Ela é composta por quatro fatores que representam quatro tipos de crenças que constituem o amor romântico ideal. A crença de que o amor supera barreiras e obstáculos que poderiam levar ao término é denominada “Amor encontra uma maneira”. A crença de que o verdadeiro amor será perfeito é denominada “Idealização”. “Amor à primeira vista” se refere à crença de que o amor pode surgir mesmo antes de alguma interação entre os envolvidos. “Um e único” é o fator que corresponde a existência de uma única pessoa que possa ser verdadeiramente amada.
A Romantic Beliefs Scale já foi adaptada para o polonês, com 15 itens (Adamczyk e Metts, 2014), para o turco com 13 itens (Küçükarslan & Gizir, 2013), ambos com a mesma estrutura de quatro fatores da versão original, além de índices satisfatórios de fidedignidade para os instrumentos adaptados. Os índices de ajuste da versão polonesa (e.g., χ2 /df, GFI, CFI, NFI) para a estrutura de quatro fatores foram adequados, contudo o RMSEA e RMR foram considerados medíocres. Ainda, a RBS foi adaptada para a população espanhola com dois fatores (Verdugo, 2016) e traduzida e aplicada em diversas amostras, como russas, japonesas (Sprecher et al., 1994), chinesas (Sprecher & Toro-Morn, 2002) e belgas (Driesmans, Vandenbosch, & Eggermont, 2016).
Contudo, nem todos os estudos de tradução para outras culturas apresentaram as evidências de validade do instrumento traduzido. Além disso, observa-se uma lacuna no que diz respeito à estrutura do instrumento. Ainda, os estudos com a RBS em diferentes populações contribuem para demonstrar o caráter transcultural das crenças românticas e seus efeitos nos indivíduos e relacionamentos. Por exemplo, estudos com amostras de afro-americanos encontraram estrutura fatorial diferente da original para o instrumento (Weaver & Ganong, 2004). Fornecer dados sobre crenças românticas de uma amostra brasileira pode ajudar na compreensão dessas crenças e uma comparação transcultural.
Diferenças Individuais nas Crenças Românticas
Algumas diferenças individuais e contextuais podem estar relacionadas ao endossamento de crenças românticas. Por exemplo, Zagefka et al. (2021) encontraram que as crenças românticas estão relacionadas a disfuncionalidade da família de origem. Mais especificamente, passar pela experiência de divórcio dos pais foi associado a uma diminuição de crenças positivas sobre a possibilidade de encontrar o amor duradouro. Ainda, Sutton (2020) e Hefner (2018) encontraram que pessoas em um relacionamento, em comparação àquelas que não estão, assim como os homens, em comparação às mulheres, endossavam mais fortemente crenças românticas.
Além disso, diferenças em traços de personalidade, como os cinco grandes fatores de personalidade (Big Five,Natividade & Hutz, 2015) e o investimento emocional (IE, Natividade & Hutz, 2016), podem explicar diferenças no endossamento de crenças românticas. O Modelo dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade explica diferenças individuais nas tendências a experienciar instabilidade emocional (Neuroticismo), buscar por interações sociais (Extroversão), ter disciplina para alcançar objetivos (Realização), ter vontade de experimentar coisas novas (Abertura a experiências) e ter disposição para ser amável e prossocial (Socialização) (Nunes, Hutz, & Nunes, 2010). Já o investimento emocional é um dos sete componentes da Sexy Seven (Natividade & Hutz, 2016). Ele se refere à disposição para investir em um relacionamento amoroso, seja, por exemplo, com tempo ou com recursos materiais (Schmitt & Buss, 2000). Estudos anteriores encontraram correlação positiva entre o IE e a satisfação com o relacionamento (e.g., Mesquita et al., 2020).
Até o momento, nenhum estudo testou a relação do traço investimento emocional com as crenças românticas, no entanto, estudos testaram a relação entre o modelo de investimento e expectativas românticas (Vannier & O’Sullivan, 2017) e entre o modelo de investimento e crenças irrealistas de relacionamentos (Fitzpatrick & Sollie, 1999). Fitzpatrick e Sollie (1999) encontraram que o modelo de investimento mediou o relacionamento entre o comprometimento e as crenças irrealistas de relacionamento. Já Vannier e O’Sullivan (2017) encontraram que um menor investimento, comprometimento e satisfação estavam associados a expectativas românticas não satisfeitas baseadas em um relacionamento ideal e baseadas em um relacionamento alternativo.
Baseando-se nos achados de estudos anteriores, foram, portanto, formuladas as seguintes hipóteses:
Hipótese 1: Serão encontrados adequados índices de ajuste e fidedignidade para o modelo de quatro fatores. Tal qual o instrumento original, assim como as adaptações turca e polonesa da Romantic Beliefs Scale (Adamczyk e Metts, 2014; Küçükarslan & Gizir, 2013; Sprecher & Metts, 1989), espera-se encontrar estrutura de quatro fatores e índices satisfatórios de fidedignidade.
Hipótese 2: Haverá correlação positiva da RBS com a satisfação com o relacionamento. Crenças românticas idealizadas parecem estar positivamente associadas à satisfação com o relacionamento, podendo estar associadas a maior comprometimento e comportamentos de manutenção (Ledbetter, 2017; Sprecher e Metts, 1999; Vannier e O’Sullivan, 2016).
Hipótese 3: Haverá maior endossamento das crenças românticas nos homens. Estudos anteriores encontraram crenças românticas mais intensas nos homens, em comparação com as mulheres (Hefner, 2018; Sutton, 2020).
Hipótese 4: Haverá maior endossamento das crenças românticas em pessoas que estão em relacionamento. Estudos anteriores encontraram crenças românticas mais intensas em pessoas que estão em relacionamento amoroso, em comparação às que não estão (Hefner, 2018; Sutton, 2020).
Hipótese 5: Haverá menor endossamento das crenças românticas em pessoas que passaram por experiência de divórcio ou separação dos pais. Encontrou-se em estudo anterior uma diminuição na intensidade de crenças sobre o amor duradouro em indivíduos que passaram por divórcio dos pais (Zagefka et al., 2021).
Hipótese 6: Haverá correlação positiva entre os fatores da RBS e o investimento emocional. Compreende-se o investimento emocional como uma característica de personalidade que envolve a tendência de investir emocionalmente no relacionamento, ser romântico e carinhoso (Natividade & Hutz, 2016; Schmitt & Buss, 2000). Assim, a definição do investimento emocional aproxima-se do romantismo, mensurado pela RBS.
Fatores de personalidade relacionam-se ao endossamento de crenças, assim como a desfechos no relacionamento amoroso. Por exemplo o fator agradabilidade (socialização) associa-se a crenças sobre teorias da conspiração (Swami et al., 2010), e os fatores neuroticismo, agradabilidade, conscienciosidade e extroversão relacionam-se a satisfação com o relacionamento (Malouff, et al., 2010). No entanto, pela falta de estudos sobre a relação específica entre crenças sobre romantismo e fatores de personalidade, não foram formuladas hipóteses sobre tais relações.
Presente Estudo
O presente estudo buscou adaptar a Romantic Beliefs Scale (Sprecher & Metts, 1989) ao contexto brasileiro e buscar evidências de validade baseadas na estrutura interna e nas relações com outras variáveis para o instrumento adaptado. Para tanto, além de evidências baseadas na estrutura interna do instrumento, buscou-se testar relações entre as crenças românticas, com personalidade (Big Five), investimento emocional, satisfação com o relacionamento, gênero, status de relacionamento do respondente e de seus pais.
Método
Participantes
Participaram 818 adultos brasileiros com média de idade de 30,7 anos (DP= 14,07), sendo 26,4% homens e 73,2% mulheres. Quanto à escolaridade dos participantes, a maioria tinha ensino superior incompleto (44,6%), seguida de ensino superior completo (21,7%), pós-graduação completa (17,7%), ensino médio completo (9,7%), pós-graduação incompleta (4,6%), ensino médio incompleto (0,9%), ensino fundamental completo (0,5%) e ensino fundamental incompleto (0,12%). Ademais, 77,6% dos participantes se declararam heterossexuais; 17,5% bissexuais; 4,1% homossexuais e 0,73% outro.
Entre os participantes, 60,1% relataram estar em um relacionamento, sendo 95,9% do tipo monogâmico e 4,1% do tipo não monogâmico consensual. Desses, 57,4% estavam namorando; 24,1%, casados; 9,7%, em união estável; 5,5%, ficando e 3,3%, em outros tipos de relação. Além disso, 39,8% dos respondentes relataram ter passado pela experiência de divórcio dos pais ou nunca terem tido pais juntos, enquanto 60,1% dos respondentes relataram nunca ter passado pela experiência de divórcio.
Instrumentos
Utilizou-se um questionário on-line disponibilizado em um endereço na internet composto por perguntas sociodemográficas (gênero, idade, escolaridade, orientação sexual, local de residência), sobre o relacionamento (se estavam em relacionamento, tipo de relacionamento) e sobre o relacionamento dos pais (casados, divorciados/separados). Além disso, incluíram-se instrumentos para acessar as crenças sobre relacionamentos românticos, o investimento emocional, os cinco grandes fatores de personalidade e a satisfação com o relacionamento.
Romantic Beliefs Scale (RBS -Sprecher & Metts, 1989adaptada para o Brasil neste estudo). A escala original é composta por 15 itens (a versão final brasileira ficou com 13 itens) e busca acessar quatro tipos de crenças que compõem o construto da idealização romântica, sendo eles: Amor encontra uma maneira; Um e único; Idealização; e Amor à primeira vista. Exemplos de item para cada fator são, respectivamente “Se eu estiver amando alguém, eu sei que poderei fazer o relacionamento funcionar, apesar de quaisquer obstáculos”, “Haverá apenas um único amor verdadeiro para mim”, “O relacionamento que eu tiver com meu “amor verdadeiro” será quase perfeito”, e “Quando eu achar meu “amor verdadeiro”, eu provavelmente saberei disso assim que nos encontrarmos.”. O respondente deve assinalar em uma escala de 7 pontos o quanto concorda com cada frase, sendo 1 =Discordo fortemente e 7 =Concordo fortemente. No estudo de Sprecher e Metts (1989), a escala apresentou alfa de Cronbach total de 0,81, e coeficientes alfa que variaram de 0,57 a 0,80 para os fatores.
I nvestimento Emocional - Inv. Emo (Lima & Natividade, 2020). Escala composta por 16 itens para aferir dois fatores do investimento emocional: Romantismo e Carinho. Exemplos de itens são “Não meço esforços para mostrar o quanto estou apaixonado(a)” (Fator Romantismo) e “Em um relacionamento amoroso, dificilmente sinto vontade de ser afetuoso(a)” (Fator Carinho). O respondente deve assinalar o quanto acredita que cada afirmativa o descreve em uma escala de 7 pontos, em que 1 =Não tem nada a ver comigo e 7 =Descreve-me perfeitamente bem. A escala apresenta adequadas evidências de validade, e coeficientes alfa de 0,84 para o componente Carinho e 0,85 para Romantismo.
Escala de Nível de Satisfação com Relacionamento Amoroso - Revisada - ENSRA-R (Londero-Santos, Natividade, & Féres-Carneiro, 2021). O instrumento é composto por cinco itens em formato de afirmativas e o participante deve assinalar, em escala de 9 pontos, o quanto concorda com cada afirmativa, sendo 0 =Não concordo com nada e 8 =Concordo completamente. Quanto mais alta a pontuação, maior a satisfação com o relacionamento romântico. Um exemplo de item é “Nosso relacionamento me faz feliz”. A escala apresenta coeficiente alfa de 0,91 e estrutura adequada com um único fator.
Escala Reduzida de Descritores de Personalidade - RED5 (Natividade & Hutz, 2015). Escala para aferir os cinco grandes fatores da personalidade: Socialização, Extroversão, Realização, Neuroticismo e Abertura. Ela é composta por 20 itens, quatro para cada fator, e o respondente deve assinalar de 1 =Discordo totalmente a 7 =Concordo totalmente o quanto a característica descrita no item o descreve. Exemplos de itens são: “amigável” (Fator Socialização), “responsável” (Fator Realização), “ansiosa(o)” (Fator Neuroticismo), “extrovertido(a)” (Fator Extroversão), e “que tem curiosidade” (Fator Abertura). No estudo original, a escala apresentou coeficientes alfa variando de 0,59 a 0,84 nos fatores e correlação teste-reteste (seis meses de intervalo) variando de 0,69 a 0,81.
Procedimentos
De tradução. A escala original Romantic Beliefs Scale (Sprecher & Metts, 1989) em inglês foi, a princípio, traduzida para o português, independentemente, por três pesquisadores bilíngues português-inglês. Dois outros pesquisadores, em conjunto, compararam as traduções e as compilaram em uma única versão. Em seguida, outro pesquisador fez uma tradução reversa dessa versão compilada. As versões em português, retrotraduzida e original foram apresentadas a um grupo de 20 pesquisadores de psicologia (estudantes de graduação, pós-graduação e professores) para que julgassem a adequação dos itens. Após discussões sobre o entendimento de cada item, a comparação das versões em inglês e sugestões de reformulações de redação, chegou-se à versão final pronta para ser posta à prova empírica. O instrumento foi, então, aplicado em um grupo de estudantes de graduação que julgaram o entendimento das instruções e do conteúdo dos itens, em um estudo piloto.
De coleta. O questionário era respondido de maneira on-line, uma vez disponibilizado em um endereço na internet. Desse modo, os participantes foram recrutados por meio da divulgação do questionário em redes sociais (WhatsApp, Instagram, Facebook etc.). Os participantes deveriam consentir em participar da pesquisa, sendo essa participação anônima e voluntária de acordo com os termos do Comitê de Ética. Na primeira página do questionário estava disponível o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e informações gerais sobre o estudo, como o tempo estimado para resposta.
De análises. Primeiramente, foi feita a limpeza de dados, excluindo-se os participantes que não responderam corretamente às perguntas-controle ou que não completaram o questionário. Em busca de evidências de validade para a versão adaptada ao Brasil da Escala de Crenças Românticas, foram feitas análises fatoriais confirmatórias para conhecer a estrutura fatorial da versão brasileira da RBS. Foram testados ao todo seis modelos, três com todos os itens do instrumento original e três sem alguns itens que diminuíam o ajuste dos dados aos modelos. As especificações dos modelos eram as seguintes: um modelo de quatro fatores conforme a versão original, um modelo com um fator de segunda ordem explicando os quatro fatores originais, e um modelo com um fator geral. Em todos os testes utilizou-se o estimador robusto Weighted Least Square Mean and Variance Adjusted (WLSMV), por ser adequado a dados ordinais. As análises foram conduzidas com o pacote lavaan (Rosseel, 2012), versão 0.6.9, no software R, versão 4.1.1 (R Core Team, 2021). Também foram testadas relações com outras variáveis por meio de testes de correlação de Pearson entre os fatores da RBS e satisfação com o relacionamento, investimento emocional e Big Five. Por fim, foram testadas diferenças nas médias da RBS entre gêneros, status de relacionamento e pessoas que passaram pela experiência de divórcio/separação dos pais.
Resultados
Inicialmente, inspecionou-se a distribuição das respostas aos itens da Romantic Beliefs Scale - Brasil e verificou-se que a assimetria variou entre -1,36 e 1,19, já a curtose variou entre -1,24 e 1,53 para os itens. Esses valores estão dentro dos limites aceitáveis para considerar os dados normalmente distribuídos (e.g., assimetria < 3 e curtose < 10; Kline, 2016). Apesar disso, os testes multivariados de normalidade Mardia indicaram violação da assimetria (1729,9; p< 0,001) e curtose (11,5; p< 0,001). Por conta disso, utilizou-se um estimador robusto e adequado a dados ordinais para as análises fatoriais confirmatórias (estimador Weighted Least Square Mean and Variance Adjusted - WLSMV).
Para definir a estrutura fatorial mais adequada à versão brasileira da Romantic Beliefs Scale, três modelos foram testados, inicialmente. Em seguida, testou-se o ajuste dos dados aos modelos após a exclusão de dois itens: item 1 - Eu preciso conhecer uma pessoa por um tempo antes de me apaixonar por ela, do fator Amor à primeira vista, carga fatorial = 0,16, e o item 2 - Se eu estivesse apaixonado(a) por alguém, eu me comprometeria com ele(a) mesmo se meus pais e amigos desaprovassem o relacionamento, do fator Amor encontra uma maneira, com carga fatorial = 0,32. Optou-se por excluir esses itens por conta das suas cargas fatoriais abaixo de 0,35 e por conta de alterarem de maneira importante o ajuste dos dados aos modelos testados. Os índices de ajuste para os modelos com e sem esses itens podem ser vistos na Tabela 1. O modelo que obteve melhor ajuste foi o modelo com um fator de segunda ordem, com a retirada dos dois itens. A Figura 1 ilustra o modelo mais ajustado e as cargas fatoriais dos itens.
Modelo com Um Fator de Segunda Ordem e Cargas Fatoriais de 13 itens para a Romantic Beliefs Scale - Brasil
Adicionalmente, testou-se a invariância do instrumento entre homens e mulheres. O modelo configural, que não impõe restrições de invariância, apresentou um satisfatório ajuste aos dados, χ²(122) = 118,0; CFI = 0,956; RMSEA = 0,044. O modelo de invariância de cargas fatoriais, que impõe a restrição de que as cargas fatoriais sejam iguais entre os grupos, também apresentou um ajuste adequado, χ²(134) = 140,9, Δχ²(12) = 5,34, p= 0,95, ΔCFI = 0,017, ΔRMSEA = -0,011. No entanto, o modelo de invariância de interceptos, que impõe a restrição adicional de que os interceptos dos itens sejam iguais entre os grupos, apresentou um ajuste pior que o modelo de invariância de cargas fatoriais, χ²(142) = 200,4; Δχ²(8) = 57,9; p< 0,001; ΔCFI = -0,025, ΔRMSEA = 0,012. Os resultados sugerem que as cargas fatoriais são invariantes entre homens e mulheres, contudo, os interceptos dos itens não são.
No que diz respeito à fidedignidade do instrumento, para o fator Amor encontra uma maneira encontraram-se os seguintes valores de coeficiente alfa 0,78 (IC95%, 500 amostras bootstrap: 0,76 - 0,81) e ômega 0,80 (IC95%, 500 amostras bootstrap: 0,78 - 0,82). Para o fator Um e único encontraram-se os seguintes valores de coeficiente alfa 0,65 (IC95%, 500 amostras bootstrap: 0,60 - 0,70) e ômega 0,71 (IC95%, 500 amostras bootstrap: 0,67 - 0,74). Para o fator Idealização encontraram-se os seguintes valores de coeficiente alfa 0,61 (IC95%, 500 amostras bootstrap: 0,56 - 0,66) e ômega 0,62 (IC95%, 500 amostras bootstrap: 0,56 - 0,68). Para o fator Amor à primeira vista encontraram-se os seguintes valores de coeficiente alfa 0,61 (IC95%, 500 amostras bootstrap: 0,56 - 0,66) e ômega 0,62 (IC95%, 500 amostras bootstrap: 0,56 - 0,68). Por fim, o valor do coeficiente ômega para o fator de segunda ordem (omega-higher-order) foi de 0,85.
Além das evidências de validade baseadas na estrutura interna do instrumento, buscaram-se evidências de validade baseadas nas relações de crenças românticas com outras variáveis. Encontraram-se correlações positivas entre todos os fatores da Romantic Beliefs Scale - Brasil (RBS-Brasil) e os fatores Romantismo e Carinho do investimento emocional, exceto para o Carinho e o fator Amor à primeira vista. Também se verificaram correlações positivas entre o fator de segunda ordem da (RBS-Brasil) e os dois fatores do investimento emocional. Os resultados podem ser vistos na Tabela 2.
Também foram testadas as relações entre a da Romantic Beliefs Scale - Brasil (RBS-Brasil), a satisfação com o relacionamento e os fatores de personalidade do modelo Big Five. Destaca-se que todos os fatores da RBS-Brasil, incluindo o fator de segunda ordem, se correlacionaram positivamente com a satisfação com o relacionamento. Também foram encontradas correlações positivas entre o fator Extroversão e o fator Amor à primeira vista, o fator Socialização e o fator Amor encontra uma maneira, e o fator Realização e todos os fatores da RBS-Brasil, inclusive o fator de segunda ordem, e relação negativa entre o fator Abertura e o fator Um e único.
Foram, ainda, testadas diferenças de médias nos fatores da RBS entre grupos de participantes formados a partir de características demográficas e tipo de relacionamento amoroso vivenciado. Encontrou-se que os homens endossaram mais crenças românticas que as mulheres em todos os fatores. Os resultados podem ser vistos na Tabela 3. Não foram encontradas diferenças em crenças românticas entre aqueles que estavam em um relacionamento amoroso e aqueles que não estavam, ou entre aqueles cujos pais estavam juntos e aqueles cujos pais nunca estiveram juntos ou se divorciaram. Contudo, esses resultados são inconclusivos por conta da ausência de invariância de interceptos entre esses grupos.
Discussão
Foram encontradas satisfatórias evidências de validade para a Romantic Beliefs Scale - Brasil (RBS-Brasil) baseadas na estrutura interna do instrumento e na relação com outras variáveis. Os dados mostraram melhor ajuste ao modelo com um fator de segunda ordem explicando os quatro fatores da RBS-Brasil, tais quais os quatro fatores da versão original da Romantic Beliefs Scale (Sprecher & Metts, 1989). Os quatro fatores na versão brasileira foram nomeados: Um e único, Idealização, Amor encontra uma maneira e Amor à primeira vista. Diferentemente da versão original e da versão polonesa (Adamczyk & Metts, 2014), a versão brasileira mostrou melhor ajuste com 13 itens, tendo sido excluídos dois itens que diminuíam o ajuste dos dados.
Os índices de fidedignidade, comparativamente aos índices encontrados na versão original da Romantic Beliefs Scale (Sprecher & Metts, 1989), assim como em sua adaptação polonesa, turca e demais traduções, podem ser considerados satisfatórios. Os fatores Um e único, Idealização e Amor encontra uma maneira apresentaram coeficiente alfa abaixo da versão original, enquanto o alfa do fator Amor à primeira vista foi superior a ela. Apesar disso, os valores de ômega ficam abaixo de 0,70 apenas para os fatores Idealização e Amor encontra uma maneira. Diante disso, a hipótese 1 foi parcialmente corroborada. Recomenda-se que, em estudos futuros, novos itens sejam acrescentados para acessar esses fatores. No que diz respeito ao fator de segunda-ordem, observou-se satisfatória fidedignidade. Pode-se concluir que a versão adaptada para o Brasil da RBS apresenta razoáveis indicadores de precisão. Diante disso, considera-se a RBS-Brasil útil para ser usada em pesquisas futuras, assim como em contexto clínico com usos como rastreio do endossamento de crenças românticas e instrumento de reflexão sobre elas.
Em relação às diferenças individuais na intensidade de crenças românticas, encontrou-se que os homens, em comparação às mulheres, endossam mais todas as crenças românticas (Idealização, Amor encontra uma maneira, Amor à primeira vista, Um e único e o fator de segunda ordem da RBS-Brasil). Esses resultados corroboram a hipótese 3 e sugerem que os homens acreditam mais fortemente que seu verdadeiro amor será perfeito, que encontrarão um jeito de ficarem juntos de seu verdadeiro amor, que se apaixonarão antes mesmo de uma interação e que há um único verdadeiro amor. Contudo, ressalta-se que não se verificou invariância de interceptos entre homens e mulheres para a RBS-Brasil. Diante disso, pode-se dizer que as diferenças encontradas são inconclusivas e sugere-se que mais estudos investiguem essas diferenças.
Apesar da impossibilidade de conclusões sobre as diferenças encontradas entre homens e mulheres nas crenças românticas, esses achados vão ao encontro de resultados do estudo original, no qual ser homem foi preditor das crenças Idealização, Amor encontra uma maneira e Amor à primeira vista (Sprecher & Metts, 1989) e a estudos anteriores que acharam que homens têm crenças românticas mais intensas que mulheres (e.g., Hefner, 2018; Sutton, 2020). Por outro lado, Adamczyk e Metts (2014), na Polônia, não encontraram diferenças entre homens e mulheres nas crenças românticas.
As mulheres, tipicamente, são mais criteriosas e seletivas na escolha de parceiros amorosos, em comparação aos homens (Altafim et al., 2009). Isso pode ser explicado pelo modelo do investimento parental, em que essa escolha se justifica pelo custo envolvido na gravidez, amamentação e cuidado com os filhos e, sendo assim, a mulher busca por características que indicam melhores condições na criação de uma prole. É provável, então, que mulheres, por serem mais criteriosas, encontrem mais dificuldade em satisfazer suas expectativas de um parceiro romântico ideal e, assim, tenham crenças românticas menos intensas.
Em contrapartida, não foram encontradas diferenças de médias nas crenças românticas entre pessoas em um relacionamento amoroso e aquelas que não estavam em relacionamento; ou entre aqueles cujos pais estavam juntos e aqueles cujos pais nunca estiveram juntos ou se divorciaram. Esses resultados refutam as hipóteses 4 e 5, e não estão de acordo com estudos anteriores, que encontraram que pessoas em um relacionamento endossam mais crenças românticas (e.g., Hefner, 2018; Sutton, 2020), e que passar pela experiência de divórcio dos pais está associado a uma diminuição de crenças românticas (Zagefka et al., 2021). Supõe-se que, ao se esforçar e investir em seus relacionamentos amorosos visando a sua manutenção, pessoas em um relacionamento idealizem menos suas relações, entendendo o amor como mais próximo de uma construção e menos próximo de uma fantasia romântica. Ademais, experiências anteriores com os cuidadores podem ter um impacto nas crenças românticas, mas esse impacto pode desaparecer com o tempo. Incentivam-se mais estudos sobre essas relações a fim de compreender o efeito das experiências dos pais e dos relacionamentos amorosos nas crenças românticas de indivíduos.
A respeito das relações entre crenças românticas, personalidade e satisfação com o relacionamento, foram encontradas correlações positivas entre satisfação com o relacionamento e todos os fatores das crenças românticas (Um e único, Idealização, Amor encontra uma maneira e Amor à primeira vista) e o fator de segunda ordem da RBS-Brasil. Esses achados estão conforme o esperado, pois corroboram os achados de estudos anteriores a respeito de crenças românticas e satisfação com o relacionamento (Ledbetter, 2017; Sprecher & Metts, 1999; Vannier & O’Sullivan, 2016), assim como corroboram a hipótese 2. Nesse sentido, é possível que pessoas mais satisfeitas em seus relacionamentos apresentem crenças românticas mais intensas e/ou que pessoas com crenças românticas mais endossadas sejam mais satisfeitas em seus relacionamentos amorosos. Ter crenças românticas intensas, portanto, parece impactar positivamente nos relacionamentos amorosos, porém mais estudos experimentais são necessários para essa afirmação.
Ademais foram encontradas relações entre os fatores da RBS-Brasil e os fatores de personalidade. Quanto ao Investimento Emocional, a hipótese 6 foi corroborada, uma vez que se encontraram correlações positivas de todos os fatores da RBS com os dois fatores do Investimento Emocional, exceto entre o fator Carinho do Investimento Emocional e o fator Amor à primeira vista da RBS. Tais correlações sugerem que pessoas mais românticas e carinhosas tendem a endossar mais fortemente crenças românticas (e vice-versa), o que fornece evidências de validade baseadas na relação com outras variáveis para o instrumento adaptado.
Quanto aos fatores do Big Five, o fator Extroversão mostrou-se positivamente relacionado com o fator Amor à primeira vista, o que pode indicar que pessoas mais extrovertidas, por valorizarem mais interações sociais (Nunes et al., 2010), intensifiquem mais a crença do Amor à primeira vista, que ocorre, naturalmente, em uma primeira interação social. Já o fator Socialização se relacionou positivamente ao fator Amor encontra uma maneira. Como pessoas com altos níveis de Socialização tendem a ser mais amáveis e querer agradar seus pares, é possível que pessoas mais sociáveis não queiram desapontar o parceiro amoroso e evitem conflitos numa relação amorosa, endossando mais a crença de que se encontrará uma maneira para ficarem juntos.
Uma vez que indivíduos com altos níveis de Abertura (Big Five) tendem a buscar por novos estímulos e experiências, é possível compreender que eles buscarão por mais potenciais parceiros e relacionamentos, a fim de se adquirir mais experiências e estímulos. Nesse sentido, o fator Abertura foi negativamente associado à crença Um e único, o que significa que a Abertura a novas experiências está relacionada a desacreditar na ideia de que só há um verdadeiro amor. Por fim, o fator Realização se relacionou positivamente aos fatores Idealização, Amor encontra uma maneira e Amor à primeira vista. Assim, é possível que pessoas com altos níveis de Realização, por serem mais organizadas e direcionadas a metas (Natividade & Hutz, 2015), procurem relações mais estáveis na vida e tenham crenças mais românticas e idealizadas de um relacionamento.
Sprecher e Metts (1989) sugeriram testar a personalidade como uma potencial contribuidora do endossamento de crenças românticas. Sendo assim, este estudo superou limitações de estudos anteriores e trouxe avanços à literatura sobre a compreensão de crenças românticas com dados de uma amostra brasileira. Recomenda-se a investigação da relação dessas crenças com outras variáveis em amostras brasileiras, como autoestima, traços de impulsividade e perseverança, e a intensidade de afetos.
No entanto, o presente estudo apresenta limitações. É preciso cautela na abrangência da representação da amostra, dada a diversidade brasileira, uma vez que a maioria dos participantes eram mulheres e tinham ensino superior. O fator Amor à primeira vista, apesar de fidedignidade razoável, contou com apenas dois itens e há falta de evidências de validade de conteúdo. Além disso, por se tratar de um estudo correlacional, não é possível inferir relações de causalidade para os resultados encontrados, e muitas correlações encontradas ficaram abaixo de 0,30. Estudos futuros podem superar tais limitações, com a formulação de itens adicionais para o fator Amor à primeira vista e a realização de estudos de evidência de validade de conteúdo mais específicos (e.g., cálculo de coeficiente de validade de conteúdo) a fim de aprimorar o instrumento.
Apesar disso, este estudo mostrou a adequação de um instrumento a um contexto brasileiro e apresentou inovações teóricas, tais como as relações entre as crenças românticas e aspectos individuais e dos relacionamentos amorosos. Sendo assim, como diz a famosa canção brasileira a qual o título deste artigo se refere, acreditar que os parceiros amorosos devem ser “carne e unha, alma gêmea”, não parece ser prejudicial ao relacionamento, isto é, “fazer bater mal o coração”.
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Anexo 1
Romantic Beliefs Scale - Brazil
Abaixo você encontrará uma série de afirmações. Por favor, indique o quanto você concorda ou discorda de cada uma delas. Quanto mais você concordar com a frase, mais perto do número sete (7) você deve responder; quanto menos você concordar com a frase mais perto do número um (1) você deve responder. Tenha em mente que o número um (1) significa “discordo fortemente” da afirmação, e o número sete (7) significa “concordo fortemente” com a afirmação.
Cálculo das médias nos fatores:
Para calcular as médias, faça a soma dos números assinalados nos itens e divida pelo número de itens de cada fator. Não há itens com valores invertidos nessa escala.
Amor encontra uma maneira: itens 3, 7, 9, 11 e 13
Um e único: itens 1, 2 e 8
Idealização: itens 5, 6 e 12
Amor à primeira vista: itens 4 e 10
Fator geral: Média dos quatro fatores.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
28 Jun 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
-
Recebido
09 Jun 2022 -
Revisado
14 Jul 2023 -
Aceito
12 Dez 2023