RESUMO
A presente pesquisa tem como objetivo geral verificar a motivação para aprender de alunos do Ensino Fundamental II e o autoconceito deles relacionados a um fator, crianças acima do peso ideal. Participaram 414 alunos entre 10 a 16 anos de idade, dentre eles 74 com sobrepeso, obesidade ou obesidade grave. Os instrumentos aplicados foram o Questionário de Percepção Corporal, Escala de Motivação e Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil. Os resultados mostram que em relação à motivação escolar, prevaleceu a regulação identificada e em relação ao autoconceito, constatou-se que o autoconceito pessoal teve uma média alta e o autoconceito social obteve a menor média. A correlação de Pearson mostrou relação entre a desmotivação e o autoconceito familiar; a motivação intrínseca também se correlacionou com o autoconceito geral e social. Por fim, a análise de regressão evidenciou relação de dependência entre a motivação intrínseca ao se tratar de autoconceito geral e autoconceito social.
Palavras-chave:
autoconceito; teoria da autodeterminação; obesidade
RESUMEN
La presente investigación tiene como objetivo general verificar la motivación para aprender de los estudiantes de primaria y su autoconcepto relacionado con un factor, los niños con sobrepeso. Participaron 414 estudiantes entre 10 y 16 años, de los cuales 74 tenían sobrepeso, obesidad u obesidad severa. Se aplicaron los instrumentos Cuestionario de Percepción Corporal, Escala de Motivación y Escala de Autoconcepto Infanto-Juvenil. Los resultados muestran que, con relación a la motivación escolar, prevaleció la regulación identificada y con relación al autoconcepto, se encontró que el autoconcepto personal tiene un promedio alto y el autoconcepto social el más bajo. La correlación de Pearson apuntó una relación entre la desmotivación y el autoconcepto familiar, la motivación intrínseca también se correlacionó con el autoconcepto general y social. Finalmente, el análisis de regresión apuntó una relación de dependencia entre la motivación intrínseca cuando se trata del autoconcepto general y el autoconcepto social.
Palabras clave:
autoconcepto; teoría de la autodeterminación; obesidad
ABSTRACT
The present research has as general objective to verify the motivation to learn of Elementary School II students and their self-concept related to a factor, children above ideal weight. For data collection 414 students between 10 and 16 years old participated, among them 74 overweight, obese or severely obese. The instruments applied were the Body Perception Questionnaire, Motivation Scale and Child and Adolescent Self-Concept Scale. The results show that in relation to school motivation, the identified regulation prevailed and in relation to self-concept, it was found that the personal self-concept has a high average and the social self-concept was the lowest. Pearson’s correlation showed a relationship among demotivation and family self-concept, intrinsic motivation also correlated with general and social self-concept. Finally, the regression analysis showed a dependency relationship between intrinsic motivation when dealing with general self-concept and social self-concept.
Keywords:
self-concept; self-determination theory; obesity
INTRODUÇÃO
A obesidade é uma doença crônica relacionada à quantidade excessiva de gordura corporal presente em uma determinada parte do corpo humano ou em sua totalidade, que pode ocasionar complicações metabólicas (Souza, Guedes, & Benchimol, 2015Souza, L. L. Guedes, E. P.; Benchimol, A. K., (2015). Definições Antropométricas da Obesidade. In: M. C. Mancini(Coord.). Tratado de Obesidade (pp. 52-67). Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan LTDA.; Organização Mundial da Saúde [OMS], 2017Organização Mundial de Saúde (2017). Obesidade entre crianças e adolescentes aumentou dez vezes em quatro décadas, revela novo estudo do Imperial College London e da OMS. Disponível em:<Disponível em:https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=featured&Itemid=766&limitstart=750&yr=2017 >. Acesso em: 05 out. 19.
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). Segundo Damiani, Damiani e Cominato (2015Damiani, D.; Cominato, L. (2015). Avaliação da Obesidade na Infância e na Adolescência. In: M. C. Mancini (Coord.), Tratado de Obesidade (3a ed., pp. 581-604). Guanabara Koogan LTDA.) há dois tipos de definições para a obesidade, sendo elas: a endógena, ocasionada por fatores biológicos, como por exemplo, lesões no sistema nervoso central e a exógena, na qual a pessoa ingere mais alimentos do que o necessário para a manutenção da sua energia.
Assim como em qualquer outra doença, para classificar um indivíduo como obeso é necessário passar por avaliações e diagnosticá-lo mediante os resultados obtidos. De acordo com Souza et al. (2015Souza, L. L. Guedes, E. P.; Benchimol, A. K., (2015). Definições Antropométricas da Obesidade. In: M. C. Mancini(Coord.). Tratado de Obesidade (pp. 52-67). Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan LTDA.), os principais meios de verificação são a realização da anamnese, averiguando as medidas antropométricas, além das suas medidas circunferenciais de cintura e quadril. Observa-se que há várias doenças que podem se relacionar com a obesidade nas principais funções no corpo humano, tais como, sistema cardiovascular, respiratório, digestivo, reprodutivo, endócrino, nervoso, dermatológico, neoplasias e funções psicossociais, dentre elas a diabetes, infarto miocárdio, síndrome metabólica, osteoartrose, vesícula biliar, pancreatite aguda, doença hepática gordurosa não alcoólica e depressão (Mancini, 2015Mancini, M. C. (2015). Tratado de Obesidade. (3a ed.). Koogan LTDA.).
Em relação à obesidade na infância e na adolescência, nota-se que é um problema grave e exponencial nas últimas décadas (Kobes, Kretschmer, Timmerman, & Schreuder, 2018Kobes, A.; Kretschmer, T.; Timmerman, G.; Schreuder, P. (2018). Interventions aimed at preventing and reducing overweight/obesity among children and adolescents: a meta-synthesis. Obesity Reviews, 19, 1065-1079. http://dx.doi.org/10.1111/obr.12688
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). De acordo com Damiani et al. (2015Damiani, D.; Cominato, L. (2015). Avaliação da Obesidade na Infância e na Adolescência. In: M. C. Mancini (Coord.), Tratado de Obesidade (3a ed., pp. 581-604). Guanabara Koogan LTDA.), 60% a 80% das causas podem ser explicadas por fatores hereditários, mas o que chama a atenção é o aumento desse número de acordo com: as mudanças ambientais; em relação aos responsáveis pela criança; a sociedade à qual pertence e os espaços recreativos de que esta dispõe. Oliveira e Fisberg (2003Oliveira, C. L.; Fisberg, M. (2003). Obesidade na Infância e Adolescência: Uma verdadeira epidemia. Arq Bras Endocrinol Metab, 47(2), 107-108. https://doi.org/10.1590/S0004-27302003000200001
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) argumentam que o aumento do consumo de alimentos de alto fator calórico e a redução de atividades físicas propiciaram o agravamento desse quadro. Os autores relatam que as doenças associadas à obesidade infantil mais comuns são: dislipidemia, hipertensão e intolerância à glicose.
Nessa perspectiva, Moura (2015Moura, N. C. (2015). Influência da mídia no comportamento alimentar de crianças e adolescentes. Segurança Alimentar e nutricional , 17(1), 113-122. http://dx.doi.org/10.20396/san.v17i1.8634805) destaca que as mídias estão influenciando socialmente as pessoas desde muito novas em seus hábitos, inclusive alimentares. Muitas crianças permanecem expostas a comerciais que ofertam alimentos que não são saudáveis, o que pode acarretar uma aprendizagem informal de hábitos não saudáveis na alimentação dessas pessoas, pelo fato de serem mais vulneráveis. Observa-se que além dessas influências que a mídia pode proporcionar à criança e ao adolescente, outro fator que corrobora ao aumento da obesidade infantil é a falta de mobilidade física.
A percepção da imagem corporal é construída durante toda a vida do sujeito, entretanto, é relevante entender que principalmente na adolescência essa construção pode ser mais assídua, por considerar que essa percepção é feita por meio de experiências e sensações internas e externas (Barros, Piekarski, & Mezzomo, 2017Barros, T. M.; Piekarski, P.; Mezzomo, T. R. (2017). Alteração na percepção corporal em adolescentes brasileiros de ensino público.Nutrición clínica y dietética hospitalaria,37(2), 157-161. http://dx.doi.org/10.12873/372mayara
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). Segundo Neves, Cipriani, Meireles, Morgado e Ferreira (2017Neves, C. M.; Cipriani, F. M.; Meireles, J. F. F.; Morgado, F. D. R.; Ferreira, M. E. C. (2017). Imagem corporal na infância: uma revisão integrativa da literatura.Revista Paulista de Pediatria,35(3), 331-339. https://doi.org/10.1590/1984-0462/;2017;35;3;00002
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), a avaliação negativa do próprio corpo ocorre pelo fato de esse indivíduo não reconhecer e não se enquadrar em um modelo, principalmente por levar em consideração a tendência cultural. Um estudo feito por Leite, Ferrazzi, Mezadri e Höfelmann (2014Leite, A. C; Ferrazzi, N. B.; Mezadri, T.; Höfelmann, D. A. (2014). Insatisfação corporal em escolares de uma cidade do Sul do Brasil. Journal of human growth and development, 24(1), 54-61. https://doi.org/10.7322/jhgd.72154
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) mostra que ao avaliar a percepção corporal, encontraram como resultado crianças que não estavam satisfeitas com o corpo, mas ao perguntar diretamente para as pessoas, observaram que há negação dessa insatisfação corporal.
A rejeição da percepção corporal pode ser resultante de diferentes fatores, mas em especial, observa-se a prevalência da obesidade nesse aspecto, podendo-se definir que a obesidade está ligada a fatores da percepção corporal do sujeito. Observa-se que o sexo feminino sofre com maior constância a pressão relacionada a um padrão ideal, tornando a percepção corporal distorcida e negativa (Barros et al., 2017Barros, T. M.; Piekarski, P.; Mezzomo, T. R. (2017). Alteração na percepção corporal em adolescentes brasileiros de ensino público.Nutrición clínica y dietética hospitalaria,37(2), 157-161. http://dx.doi.org/10.12873/372mayara
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; Nogueira-de-Almeida, Garzella, Costa Natera, Ferraz, & Del Ciampo, 2018Nogueira-de-Almeida, C. A.; Garzella, R. C.; da Costa Natera, C.; Almeida, A. C. F.; Ferraz, I. S.; Del Ciampo, L. A. (2018). Distorção da autopercepção de imagem corporal em adolescentes.International Journal of Nutrology,11(2), 61-65. https://doi.org/10.1055/s-0038-1669407
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).
A escola é um local propício para dispor de discussões sobre o tema. Isso porque se trata de um ambiente plural e aliado na promoção e prevenção da saúde (Duré, Borges, Burgos, Garcia, & Krug, 2015Duré, M. L.; Schwanke, N. L.; Borges, T. S.; Burgos, M. S.; Garcia, E. L.; Krug, S. F. (2015). A obesidade infantil: um olhar sobre o contexto familiar, escolar e da mídia. Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, 5(4), 191-196. http://dx.doi.org/10.17058/reci.v5i4.6072
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). Nesse contexto, há que se refletir sobre o quanto a imagem corporal pode afetar a motivação para aprender dos alunos, em especial, quando estes estão matriculados nos últimos anos do Ensino Fundamental, época em que se inicia a adolescência.
A esse respeito, pode-se dizer que a motivação ou motivo, é algo que faz o indivíduo agir, ou seja, circunstâncias que o fazem tomar atitudes de se mover, determinando diferentes comportamentos. De acordo com Oliveira, Bzuneck e Rufini (2017Oliveira, M. F. C.; Bzuneck, J. A.; Rufini, S. E. (2017). Motivação de adolescentes para leitura: estudo com a abordagem centrada na pessoa. Psicologia da Educação, 45, 67-76. http://dx.doi.org/10.5935/2175-3520.20170018dex?option=comcontent&view=featured&Itemid=766&limitstart=750&yr=2017>. Acesso em: 05 out. 19.
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), a motivação tem sido considerada um constructo multidimensional já que pode estar ligada a diversos fatores ou aparecer de maneira isolada de acordo com a situação, destacando que a motivação escolar pode apresentar características específicas que a difere de outros tipos de atividades que necessitam desse constructo. Pode ser entendida como um fator ou um processo que é determinado por efeitos imediatos e efeitos finais. Percebe-se que esse efeito imediato tem relação com o desenvolvimento da motivação no processo de aprendizagem.
Segundo Maieski, Beluce e Rufini (2017Maieski, S.; Oliveira, K. L.; Beluce, A. C.; Rufini, S. E. (2017). Motivation of elementary school students: study of two cultural realities. Psicologia Escolar e Educacional, 21(3), 601-608. http://dx.doi.org/10.1590/2175-353920170213111129.
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), no contexto escolar, os alunos considerados motivados são aqueles que estão envolvidos em algum nível nas atividades propostas em sala de aula. Diferentemente do que acontece com os alunos desmotivados, que realizam as atividades, mas com um rendimento mínimo do que se é esperado, e quando percebem que a atividade exige um pouco mais, acabam desistindo.
Dentre as teorias sociocognitivistas sobre a motivação, destaca-se a Teoria da Autodeterminação (Ryan & Deci, 2017Ryan, R. M.; Deci, E. L. (2017). Self-determination theory: Basic psychological needs in motivation, development, and wellness. Guilford Publications.), que implica em uma teoria organísmica do comportamento e desenvolvimento da personalidade humana. Para diferenciar os tipos de motivação é utilizado o autonomy control continuum, ou seja, o que representa a autonomia versus o controle das regulações. O continuum proposto representa a evolução do comportamento e retrata a motivação para aprender como um processo cíclico (Maieski et al., 2017Maieski, S.; Oliveira, K. L.; Beluce, A. C.; Rufini, S. E. (2017). Motivation of elementary school students: study of two cultural realities. Psicologia Escolar e Educacional, 21(3), 601-608. http://dx.doi.org/10.1590/2175-353920170213111129.
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).
Assim, a desmotivação é definida pela ausência de motivação, ou seja, o indivíduo não reage positivamente. A motivação intrínseca, por sua vez, é caracterizada pelo interesse autônomo pelas atividades (Bzuneck & Boruchovitch, 2016Bzuneck, J. A.; Boruchovitch, E. (2016). Motivação e Autorregulação da Motivação no Contexto Educativo. Psicologia Ensino & Formação, 7(2), 73-84. http://dx.doi.org/10.21826/2179-58002016727584
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; Rufini, Bzuneck, & Oliveira, 2011Rufini, S. E.; Bzuneck, J. A.; Oliveira, K. L. (2011). Estudo de validação de uma medida de avaliação da motivação para alunos do ensino fundamental. Psico-USF, 16(1), 1-9. https://doi.org/10.1590/S1413-82712011000100002.
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).
Maieski et al. (2017Maieski, S.; Oliveira, K. L.; Beluce, A. C.; Rufini, S. E. (2017). Motivation of elementary school students: study of two cultural realities. Psicologia Escolar e Educacional, 21(3), 601-608. http://dx.doi.org/10.1590/2175-353920170213111129.
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) apontam que a desmotivação e a motivação intrínseca são dois polos e no meio deles encontra-se a motivação extrínseca, responsável pelos graus de autodeterminação, apresentadas em quatro tipos: Regulação Externa, ou seja, a realização de algumas tarefas nas quais serão obtidas recompensas ou para evitar punição; Regulação Introjetada, que está ligada a autoestima do sujeito para o cumprimento da proposta; Regulação Identificada, na qual acontece o reconhecimento e identificação dos objetivos propostos na realização das atividades; e Regulação Integrada, por meio da qual o indivíduo reconhece a importância de uma determinada atividade e assume a responsabilidade de cumpri-la.
Desse modo, fomenta-se que tanto a motivação para aprender, quanto o autoconceito escolar pode estar associado ao peso corporal. O autoconceito, não é inato, mas sim resultado da relação entre as interações do indivíduo durante a vida, considerando o contexto social e a forma com que esse se autoavalia ao considerar suas habilidades, experiências e representações. Verifica-se que o autoconceito também está relacionado ao impacto sofrido pela opinião alheia. Nesse sentido, trata-se de um fenômeno que pode sofrer modificações e se reestruturar de acordo com o desenvolvimento humano, sendo assim, não pode ser considerado estático (Conte, Ciasca, & Capelatto, 2016Conte, G.; Ciasca, S. M.; Capelatto, I. V. (2016). Relação entre autoconceito e autocontrole comparados ao desempenho escolar de crianças do ensino fundamental. Revista Psicopedagogia, 33(102), 225-234. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-84862016000300002&lng=pt&nrm=iso
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; Sisto & Martinelli, 2004Sisto, F. F.; Martinelli, S. C. (2004). Escala de Autoconceito Infanto - Juvenil (EAC- IJ). São Paulo, SP: Vetor.). Ademais, os autores citam que pode existir um autoconceito para cada interação que esse indivíduo possui, como o autoconceito escolar, o autoconceito familiar, o autoconceito em relação aos professores, entre outros (Schiavoni & Martinelli, 2017Schiavoni, A.; Martinelli, S. C. (2017). O autoconceito de estudantes aceitos e rejeitados no contexto escolar. Psicologia Argumento , 30(69), 297-305. https://doi.org/10.7213/psicolargum.v30i69.23285
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).
Braz e Castro (2016Braz, F. P. R.; Castro, P. F. (2016). Avaliação da personalidade e do autoconceito em crianças com obesidade. Revista Psicologia e Saúde, 8(2), 17-28. https://dx.doi.org/10.20435/2177-093X-2016-v8-n2(02)
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) analisaram quais características de personalidade e autoconceito descrevem uma criança obesa. Participaram 25 crianças diagnosticadas obesas entre 8 e 10 anos de idade. Foram empregadas a Escala de Traços de Personalidade para Crianças - ETPC (Sisto, 2004Sisto, F. F.; Martinelli, S. C. (2004). Escala de Autoconceito Infanto - Juvenil (EAC- IJ). São Paulo, SP: Vetor.) e a Escala de autoconceito Infanto-Juvenil - EAC-IJ (Sisto & Martinelli, 2004) e os resultados evidenciaram que essas crianças possuem prejuízo em relação a autoconceito escolar, pessoal e familiar, mas em relação ao autoconceito social é uma constituição positiva. Além disso, não houve correlação significativa entre os instrumentos.
Schiavoni e Martinelli (2017Schiavoni, A.; Martinelli, S. C. (2017). O autoconceito de estudantes aceitos e rejeitados no contexto escolar. Psicologia Argumento , 30(69), 297-305. https://doi.org/10.7213/psicolargum.v30i69.23285
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) observam que investigar o autoconceito no ambiente escolar faz-se relevante, pois a escola possui diversas interações sociais que podem contribuir tanto positiva quanto negativamente em sua constituição. De acordo com Sisto e Martinelli (2004Sisto, F. F.; Martinelli, S. C. (2004). Escala de Autoconceito Infanto - Juvenil (EAC- IJ). São Paulo, SP: Vetor.), a criança precisa lidar tanto com as demandas cognitivas como com a interação com o “novo mundo social” por se tratar de um ambiente que possibilita componentes para o autoconhecimento.
Dessa forma, ao considerar as especificidades inerentes ao sobrepeso e a obesidade crescentes no Brasil (Kobes et al., 2018Kobes, A.; Kretschmer, T.; Timmerman, G.; Schreuder, P. (2018). Interventions aimed at preventing and reducing overweight/obesity among children and adolescents: a meta-synthesis. Obesity Reviews, 19, 1065-1079. http://dx.doi.org/10.1111/obr.12688
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), aliado à relevância da motivação e do autoconceito no ambiente escolar, a presente pesquisa tem como objetivo verificar a motivação para aprender de alunos do Ensino Fundamental II e o autoconceito em crianças com sobrepeso, obesidade e obesidade grave. Buscou-se, ainda, analisar diferenças na motivação para aprender e o autoconceito considerando o ano escolar dessas crianças e a correlação entre os instrumentos. Por fim, utilizou-se a análise de regressão linear simples para verificar o efeito entre a motivação e o autoconceito nesse grupo.
MÉTODO
Participantes
A pesquisa contou, inicialmente, com a participação de 414 alunos, com média de idade de 11 anos e 8 meses (DP = 1,2). A idade mínima foi de 10 anos e a máxima 16, sendo esses devidamente matriculados no Ensino Fundamental II de uma escola pública estadual de uma cidade do interior do Estado do Paraná. Do sexo feminino participaram 219 sujeitos (52,9 %) e do masculino 195 (47,1%). A distribuição dos participantes por ano escolar ocorreu da seguinte forma: 6º (n = 109; 26,3%), 7º (n = 104; 25,1%), 8º (n = 103; 24,8%) e 9º (n = 98; 23,6%).
Os alunos tinham em média 51,0 quilos (DP = 14,7), sendo o peso mínimo 20,4 quilos e o peso máximo 109,0 quilos. A altura média era 1,5m (DP = 0,09) sendo a altura mínima 1,23m e a máxima 1,86m. Os dados estão distribuídos na Tabela 1. Os dados de avaliação negada e aluno ausente se refere a aqueles que não passaram pela avaliação física. Já a classificação diz respeito a um erro durante a avaliação de um estudante, sendo este não especificado.
Após a coleta dos dados com a amostra geral de estudantes e aferição das medidas de IMC (conforme Tabela 1) estimou-se selecionar 50% da amostra que compunha as categorias: sobrepeso, obesidade e obesidade grave (n = 168), ou seja, esperava-se trabalhar com 84 alunos, metade da amostra. Contudo, por conta de intercorrências durante a coleta dos dados, foi possível efetivar a seleção das categorias com 44,0% (n = 74) desta amostra para se atender aos objetivos do presente estudo. +
Instrumentos
A coleta de dados foi realizada a partir de um questionário elaborado pelos autores com o foco na Percepção Corporal e mais dois instrumentos de medida. O questionário continha 16 itens que abordavam assuntos referentes à idade, sexo e ano escolar e a percepção do aluno acerca de seu corpo, imagem e alimentação.
A motivação foi verificada por meio da Escala de Motivação elaborada por Rufini et al. (2011Rufini, S. E.; Bzuneck, J. A.; Oliveira, K. L. (2011). Estudo de validação de uma medida de avaliação da motivação para alunos do ensino fundamental. Psico-USF, 16(1), 1-9. https://doi.org/10.1590/S1413-82712011000100002.
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) que contém 25 itens baseados na Teoria da Autodeterminação e distribuídos em cinco dimensões, variando desde a desmotivação até a motivação intrínseca. O instrumento possui evidências de validade de estrutura interna e os índices de consistência interna foram considerados satisfatórios, a saber, desmotivação α = 0,85, motivação extrínseca por regulação externa α = 0,67, por regulação introjetada α = 0,76, por regulação identificada α = 0,88 e motivação intrínseca α = 0,81.
A Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil, construída por Sisto e Martinelli (2004Sisto, F. F.; Martinelli, S. C. (2004). Escala de Autoconceito Infanto - Juvenil (EAC- IJ). São Paulo, SP: Vetor.) objetiva avaliar os níveis de autoconceito de crianças e jovens de 8 a 16 anos. A escala é composta por 20 frases, divididas em autoconceito pessoal “Acho que sou muito preocupado”, autoconceito escolar “imagino que sou o mais bondoso da classe”, autoconceito familiar “Tomo muito cuidado com as coisas em casa” e autoconceito social “Sinto-me mais esquisito do que os outros”. Além disso, é possível realizar uma avaliação do Autoconceito geral. As propriedades psicométricas do instrumento se referem à consistência interna, em que os 20 itens foram distribuídos nos 20 fatores explicando 41,09% da variância. Os coeficientes de consistência interna variaram de α = 0,59 a α = 0,62 para os fatores e para a pontuação total foi de α = 0,78.
Outro aspecto que também foi trabalhado foi o registro das medidas de peso, altura e IMC (com a seguinte classificação: pesos normais, sobrepeso, obesidade, obesidade grave, discrepância, avaliação negada - alunos que se recusaram, aluno ausente e magreza). Os dados foram fornecidos pelo prontuário oriundo da aula de Educação Física, realizado bimestralmente pelo docente da referida disciplina, conforme averiguado anteriormente a coleta dos dados.
Procedimentos e Análise de dados
A pesquisa encontra-se respaldada na Resolução 466/2012 e em seus complementos do Conselho Nacional de Saúde e aprovada pelo Comitê de Ética com Seres Humanos de uma universidade do Norte do Paraná sob o número do Parecer 3.076.068 (CAAE: 03157118.2.0000.5231). Os instrumentos foram aplicados após a assinatura do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido - TALE pelos alunos e do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE assinado pelos responsáveis.
Após a verificação da normalidade dos dados e homogeneidade da variância, os dados foram submetidos às estatísticas descritivas e inferenciais, por meio do programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 22.0. Inicialmente foi realizada uma análise de frequência para verificar as médias, desvios-padrão, pontuação mínima e máxima obtida pelos participantes. Na sequência, realizou-se a averiguação das diferenças por ano escolar em relação à motivação e o autoconceito de alunos com sobrepeso, obesidade e obesidade grave empregando a Análise de Variância - ANOVA e o teste de post-hoc de Tuckey.
Por fim, foi realizada a correlação de Pearson entre os escores dos dois instrumentos, considerando as magnitudes de Cohen (1988Cohen, J. (1988). Statistical power analysis for the behavioral sciences. Hillsdale, NJ: Erlbaum.) e verificadas as relações de dependência entre a motivação para aprender e o autoconceito dos estudantes por meio da análise de regressão linear simples pelo método enter.
RESULTADOS
Ao descrever o nível de motivação em alunos no Ensino Fundamental II, recorreu-se a estatística descritiva. No que se refere à Desmotivação a média foi de 9,7 (DP = 4,5), a pontuação mínima foi de 5 e a máxima 24. Ao verificar a variável de Regulação Externa, a média foi de 11,9 (DP = 4,6), sendo que a pontuação mínima foi 5 e a máxima 25. Em relação a Regulação Introjetada, a média foi de 12,7 (DP = 5,1), sendo a menor pontuação 5 e a maior 25. A média da Regulação Identificada foi de 22,6 (DP = 3,1), observou-se que a pontuação mínima foi de 10 e a máxima de 25. Por último, a média da Motivação Intrínseca foi de 18,3 (DP = 4,9), sendo a menor pontuação 5 e a maior pontuação 25.
No que se refere ao nível de autoconceito dos estudantes com sobrepeso, obesidade e obesidade grave, foi utilizada a análise descritiva, mostrando que o autoconceito pessoal foi de 4,5%, autoconceito escolar, 3,8%, autoconceito familiar teve uma porcentagem de 5,7% e, por último, o autoconceito social com 7,7%. A descrição detalhada desses resultados pode ser vista na Tabela 2.
Ao considerar que os fatores de autoconceito apresentam números diferentes de itens, faz-se necessário dividir a média de pontos pelo número de itens dos fatores (pessoal, familiar, social, escolar e geral). Nessa direção, cabe esclarecer que quando se compara uma dimensão com a outra, é favorável notar que a maior pontuação de amostra foi na dimensão de autoconceito pessoal e a menor em autoconceito social.
No que se refere às diferenças em alunos com sobrepeso, obesidade e obesidade grave por ano escolar na motivação, foi possível notar que a diferença estatística é significativa entre os anos, considerando a Análise de Variância - ANOVA. A diferença estava no grupo de alunos com sobrepeso nas motivações introjetada F(3,407)=4,315, p=0,005; Identificada F(3,407)=4,9, p=0,002 e Intrínseca F(3,408)=4,413, p=0,005. O teste post-hoc de Tuckey mostra onde está a diferença, que pode ser observada na Tabela 3. No grupo de obesidade e obesidade grave não houve diferença significativa na motivação dos participantes por ano escolar.
Para verificar se havia diferença na amostra de sobrepeso, obesidade e obesidade grave entre as dimensões do autoconceito, empregou-se a ANOVA. Os dados indicaram não haver diferença significativa entre os grupos. Entretanto, ao verificar o grupo de obesidade e obesidade grave, houve diferença no autoconceito pessoal, sendo marginal F(3,34)=2,808, p=0,054. O teste post-hoc de Tukey indicou que a diferença estava entre as dimensões do 6°(M = 5,1) e 9°(M = 2,5) anos, tendo em vista p = 0,040.
Para verificar a correlação entre a motivação para aprender e o autoconceito dos estudantes, recorreu-se à correlação de Pearson, considerando as magnitudes de Cohen (1988Cohen, J. (1988). Statistical power analysis for the behavioral sciences. Hillsdale, NJ: Erlbaum.). Os dados indicaram relação positiva e significativa entre a desmotivação e o autoconceito familiar (r = 0,233, p = 0,043) e entre a motivação intrínseca e o autoconceito familiar (r = 0,269, p = 0,021), ambas de magnitude pequena. Ainda, houve correlação negativa e significativa entre a motivação intrínseca e o autoconceito social (r = -0,305, p = 0,001), de magnitude média e correlação positiva e significativa entre a motivação intrínseca e o autoconceito geral (r = 0,350, p = 0,002), também de magnitude média.
Recorreu-se à análise de regressão linear para verificar o efeito entre a motivação e o autoconceito. De acordo com a Tabela 4, observou-se que a motivação intrínseca entra no modelo de regressão, explicando 11% da variância para autoconceito geral da amostra. Ainda, a motivação intrínseca entra no modelo de regressão de 13% para o autoconceito social. A descrição dos dados pode ser observada na Tabela 4.
DISCUSSÃO
Quando se trata da análise descritiva da motivação para aprender da amostra, por meio do Continuum Infantil, a desmotivação escolar está com média baixa, ou seja, quando referir-se que o constructo motivação é intencional (Ryan & Deci, 2017Ryan, R. M.; Deci, E. L. (2017). Self-determination theory: Basic psychological needs in motivation, development, and wellness. Guilford Publications.), relacionado com a verificação dos dados gerados, observa-se que as condições sociais dentro da escola estão produzindo satisfação para esses alunos, de modo que a dinâmica do seu comportamento está conduzindo para uma ação positiva. Houve média alta em Regulação Identificada; sendo assim, esses alunos possuem uma relação de motivação para aprender a partir do ponto de vista da identificação com algum tipo exigência ou regra imposta no ambiente escolar como Maieski et al. (2017Maieski, S.; Oliveira, K. L.; Beluce, A. C.; Rufini, S. E. (2017). Motivation of elementary school students: study of two cultural realities. Psicologia Escolar e Educacional, 21(3), 601-608. http://dx.doi.org/10.1590/2175-353920170213111129.
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) referem em seus estudos quando trata-se desse tipo de motivação, o que mostra a responsabilidade e a representatividade dessa autoridade que está presente no convívio escolar, já que nesses alunos pesquisados predomina esse tipo de regulação.
Pode-se constatar que a segunda maior média dos resultados da análise descritiva é que esses alunos tendem a ter a motivação intrínseca nos seus comportamentos motivacionais na sala de aula, o que demonstra o interesse autônomo por realizar as atividades propostas (Bzuneck & Boruchovich, 2016Bzuneck, J. A.; Boruchovitch, E. (2016). Motivação e Autorregulação da Motivação no Contexto Educativo. Psicologia Ensino & Formação, 7(2), 73-84. http://dx.doi.org/10.21826/2179-58002016727584
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), ou seja, esse aluno tem a compreensão da atividade que ele precisa realizar e se responsabiliza para o cumprimento desta. Então, a análise que pode ser feita é que esses alunos precisam de uma identificação, mas há alguns momentos em que assumem a responsabilidade para si, compreendendo o valor intrínseco da tarefa.
Ao verificar o nível de autoconceito da amostra, os resultados indicam que esses alunos possuem uma média alta em seu autoconceito pessoal, o que pode ser considerado um resultado positivo, haja vista que a percepção de si mesmo nos tempos atuais é um elemento indiscutível e perceber que esses alunos estão com média alta, mostra que apresentam uma análise positiva de si mesmos. Com base em Sisto e Martinelli (2004Sisto, F. F.; Martinelli, S. C. (2004). Escala de Autoconceito Infanto - Juvenil (EAC- IJ). São Paulo, SP: Vetor.), tal resultado indica que os estudantes da amostra pesquisada conseguem lidar de forma saudável com seu modo de agir em diferentes situações. O resultado é importante, especialmente porque esta pesquisa procurou avaliar o autoconceito de alunos com obesidade e, assim, mostra que de certa forma esse sujeito irá buscar uma forma de lidar com alguma situação problemática que não era esperada se levar em consideração seu autoconceito.
No entanto, ao verificar qual destas influências do autoconceito é menor, observa-se que se trata do autoconceito social, que leva em consideração que o autoconceito está ligado à percepção que o outro tem sobre o indivíduo (Sisto & Martinelli, 2004Sisto, F. F.; Martinelli, S. C. (2004). Escala de Autoconceito Infanto - Juvenil (EAC- IJ). São Paulo, SP: Vetor.). Desse modo, não se pode considerar esse resultado um fator positivo, afinal, a subescala em questão encontra-se diretamente ligada ao desenvolvimento do autoconceito desse aluno e pode repercutir em sua vivência nos mais variados contextos, inclusive no ambiente escolar, em que a demanda social, somada ao período da adolescência é bastante significativa (Barros et al., 2017Barros, T. M.; Piekarski, P.; Mezzomo, T. R. (2017). Alteração na percepção corporal em adolescentes brasileiros de ensino público.Nutrición clínica y dietética hospitalaria,37(2), 157-161. http://dx.doi.org/10.12873/372mayara
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; Moura, 2015Moura, N. C. (2015). Influência da mídia no comportamento alimentar de crianças e adolescentes. Segurança Alimentar e nutricional , 17(1), 113-122. http://dx.doi.org/10.20396/san.v17i1.8634805).
No que tange as diferenças entre os anos escolares quanto a motivação, observa-se que, nos alunos com sobrepeso, a regulação introjetada se diferencia preponderantemente do sétimo ano aos dois anos posteriores, o que demonstra que os estudantes com sobrepeso do sétimo ano buscam realizar mais as atividades mediante sua autoestima para o cumprimento da proposta. O fato mais interessante é que do 6° ao 9° ano houve variação na regulação intrínseca dos alunos com sobrepeso, com média mais alta para o 6° ano. Tal fato pressupõe que no início do Ensino Fundamental II os estudantes se encontram mais motivados pelo valor intrínseco da tarefa, ou seja, eles as realizam por interesse próprio (Bzuneck & Boruchovitch, 2016Bzuneck, J. A.; Boruchovitch, E. (2016). Motivação e Autorregulação da Motivação no Contexto Educativo. Psicologia Ensino & Formação, 7(2), 73-84. http://dx.doi.org/10.21826/2179-58002016727584
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). Tendo em vista a importância da motivação ao contexto escolar, sobretudo em estudantes de uma amostra tão específica como a do presente estudo, há que se mencionar que a diferenciação entre os anos escolares evidencia importantes contribuições para se compreender como a motivação se altera ao longo da escolarização.
Quando se verifica o resultado do autoconceito durante os anos escolares, não foram verificadas diferenças, porém, ao se tratar do autoconceito no grupo de pessoas com obesidade, pode-se observar uma diferença mínima. Essa diferença se encontra entre os alunos dos 6º e 9° anos, sendo que o 6º se sobressaiu, o que indica quem entre os alunos com obesidade desse ano escolar o autoconceito pessoal, relacionado a questões ligadas apenas ao próprio indivíduo, encontra-se mais prevalente (Sisto & Martinelli, 2004Sisto, F. F.; Martinelli, S. C. (2004). Escala de Autoconceito Infanto - Juvenil (EAC- IJ). São Paulo, SP: Vetor.).
Em face à análise da correlação entre a motivação e autoconceito dos estudantes, observa-se um resultado positivo e significativo entre a desmotivação e a motivação intrínseca com o autoconceito familiar. Isso significa que a desmotivação escolar e a autonomia do indivíduo diante da realização das atividades escolares podem estar relacionadas com as situações enfrentadas pelo aluno em seu cotidiano familiar.
Além disso, a motivação intrínseca e o autoconceito social também apresentaram correlação. Ao considerar que se trata de um tipo de motivação autônoma e o autoconceito social está relacionado a essa percepção de si mesmo, pode-se considerar coerente o resultado evidenciado. Somado a isso, a correlação entre a motivação intrínseca e o autoconceito geral também se mostrou significativa, evidenciando o que a literatura de ambos os construtos propõe quanto à necessidade de uma construção interna do indivíduo, obtendo satisfação na atividade por si mesma (Ryan & Deci, 2017Ryan, R. M.; Deci, E. L. (2017). Self-determination theory: Basic psychological needs in motivation, development, and wellness. Guilford Publications.).
A partir da análise de regressão, verificou-se que a motivação intrínseca pode explicar 11% da variância para autoconceito geral da amostra e 13% para o autoconceito social. Como Oliveira et al. (2017Oliveira, M. F. C.; Bzuneck, J. A.; Rufini, S. E. (2017). Motivação de adolescentes para leitura: estudo com a abordagem centrada na pessoa. Psicologia da Educação, 45, 67-76. http://dx.doi.org/10.5935/2175-3520.20170018dex?option=comcontent&view=featured&Itemid=766&limitstart=750&yr=2017>. Acesso em: 05 out. 19.
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), enfatizam, a motivação para aprender pode estar relacionada a diversos fatores. Esses resultados contribuem na confirmação dessa teoria, principalmente por estar relacionando um construto diferente, conforme a verificação dessa motivação para aprender.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em face do exposto, verifica-se a necessidade de reconhecer os fatores que influenciam no desenvolvimento do aprendizado do aluno, principalmente no que se refere ao início da escolarização. Faz-se necessário compreender a importância do contexto escolar, não apenas em relação a resultados dos estudantes mediante as notas obtidas, mas sim, em todas as situações presentes nesse cenário e que podem interferir nas atividades escolares, nas interações sociais e ambientais, tais como a motivação para aprender.
Em relação ao sobrepeso e a obesidade, conjectura-se para a falta de investigações científicas que debrucem sobre a temática, sendo que essa possui grande relevância para a autoimagem do indivíduo e para sua saúde, posto que se trata de uma doença que precisa ser tratada com a devida importância. Ademais, a falta de estudos que contemplam a questão, aliada a motivação dos estudantes e a outros fatores psicoeducacionais também se mostra como questão, evidenciando a relevância do presente estudo e suas dificuldades no que tange à comparação dos achados com a literatura científica.
Ressalta-se que o presente estudo não se encontra livre de limitações. A esse respeito, tem-se, principalmente a homogeneidade da amostra, sendo que o desenvolvimento de pesquisas futuras deve abarcar a temática com diferentes regionalidades, uma amostra maior e com outras faixas de escolarização, como Ensino Fundamental I e Ensino Médio. Com isso, tem-se a possibilidade de ampliar o conhecimento sobre os níveis de motivação e autoconceito dos estudantes com sobrepeso e obesidade e averiguar formas de prevenção e remediação.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
20 Out 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
10 Ago 2020 -
Aceito
16 Maio 2021