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SIGNIFICADOS E AÇÕES FRENTE À AUTOMUTILAÇÃO NO CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO: REVISÃO SISTEMÁTICA

RESUMO

Buscou-se descrever como a automutilação é compreendida pelas instituições de ensino e quais são as ações realizadas frente ao fenômeno, a partir de uma revisão sistemática de literatura. Em busca no Portal BVS, SciELO e no Catálogo de Teses da Capes, utilizando os descritores automutilação, autolesão, comportamento autolesivo e comportamento autodestrutivo, selecionou-se 20 documentos que foram submetidos à análise de conteúdo. Identificou-se que os estudos são recentes, predominantemente qualitativos, influenciados pela Análise do Comportamento e Psicanálise, e desenvolvidos junto a adolescentes de escolas públicas. A automutilação foi compreendida como decorrente de condições fisiológicas, forma de dar sentido ao sofrimento, resultado de contágio social, tentativa de comunicação, manifestação de ideação suicida e comportamento de indivíduos com desenvolvimento atípico. Há poucos relatos de intervenção frente ao problema, abarcando práticas clínicas, preventivas e de formação profissional. Destaca-se a necessidade da ampliação de práticas nas escolas compreendendo a automutilação numa perspectiva social e coletiva.

Palavras-chave:
automutilação; escolas; revisão de literatura

RESUMEN

Se buscó describir cómo la automutilación es comprendida por las instituciones de enseñanza y cuáles las acciones realizadas frente al fenómeno, a partir de una revisión sistemática de literatura. En búsqueda en el Portal BVS, SciELO y en el Catálogo de Tesis de la Capes, utilizándose los descriptores automutilación, autolesión, comportamiento autolesivo y comportamiento autodestructivo, se seleccionó 20 documentos que se sometieron al análisis de contenido. Se identificó que los estudios son recientes, predominantemente cualitativos, influenciados por el Análisis del Comportamiento y Psicoanálisis, y desarrollados junto a adolescentes de escuelas públicas. La automutilación fue comprendida como resultante de condiciones fisiológicas, forma de dar sentido al sufrimiento, resultado de contagio social, tentativa de comunicación, manifestación de ideación suicida y comportamiento de individuos con desarrollo atípico. Hay pocos relatos de intervención frente al problema, abarcando prácticas clínicas, preventivas y de formación profesional. Se destaca la necesidad de la ampliación de prácticas en las escuelas comprendiendo la automutilación en una perspectiva social y colectiva.

Palabras clave:
automutilación; escuelas; revisión de literatura

ABSTRACT

In this article we sought to describe how self-mutilation is understood by educational institutions and what are the actions taken in the face of the phenomenon, based on a systematic literature review. Searching the BVS Portal, SciELO and the Capes Theses Catalog, using the index terms self-mutilation, self-injury, self-injurious behavior and self-destructive behavior, 20 documents were selected and submitted to content analysis. It was identified that the studies are recent, predominantly qualitative, influenced by Behavior Analysis and Psychoanalysis, and developed with adolescents from public schools. Self-mutilation was understood as resulting from physiological conditions, way of giving meaning to suffering, result of social contagion, communication attempt, manifestation of suicidal ideation and behavior of individuals with atypical development. There are few reports of intervention in the face of the problem, covering clinical, preventive and professional training practices. The need to implement interventions in schools, based on social and collective understandings of self-mutilation, is highlighted.

Keywords:
self-mutilation; schools; literature review

INTRODUÇÃO

A automutilação consiste no ato intencional de se machucar, superficialmente ou não, sem intenção suicida consciente. Existem vários meios de se automutilar, como: cortes, perfurações, mordidas, beliscões, espancamentos e outros atos autolesivos movidos, muitas vezes, pela busca pelo alívio das tensões (Cedaro & Nascimento, 2013Cedaro, J. J., & Nascimento, J. P. G. (2013). Dor e Gozo: relatos de mulheres jovens sobre automutilações. Psicologia USP, 24(2), 203-223. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-65642013000200002
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).

Na literatura, existem diferentes terminologias para se referir à automutilação, como autolesão, lesão autoprovocada ou comportamento autolesivo. Apesar de não ser uma prática recente na sociedade (Santos, Barros, Lima, & Costa Brasileiro, 2018Santos, A. A., Barros, D. R., Lima, B. M., & Costa Brasileiro, T. (2018). Automutilação na adolescência: compreendendo suas causas e consequências. Temas em Saúde, 18(3), 116-142. ), vem sendo mais explorada nas últimas décadas por pesquisadores que querem compreender os seus impactos na vida dos indivíduos (Almeida, Crispim, da Silva, & Peixoto, 2018Silva, G. F. B. P., Cardoso, B. S., Franco, K. D., & Moscon, D. C. B. (2018). Os significados do conceito de abordagem teórica e as implicações na prática do psicólogo: um estudo com graduandos de psicologia. UNIFACS, 18, 57-78.).

Os relatos de automutilação têm aumentado entre os adolescentes no contexto escolar, salientando a necessidade de que eles sejam compreendidos como um fenômeno complexo e multideterminado que gera um problema de saúde pública (Almeida et al., 2018Almeida, R. S., Crispim, M. S. S., da Silva, D. S., & Peixoto, S. P. L. (2018). A prática da automutilação na adolescência: o olhar da psicologia escolar/educacional. Ciências Humanas e Sociais, 4(3), 147-160.) e seu enfrentamento se dê por meio da intersetorialidade e interdisciplinaridade, envolvendo diferentes profissionais e a sociedade civil (Quesada, Aragão Neto, Oliveira, & Garcia, 2020Quesada, A. A., Aragão Neto, J., Oliveira, J. M., & Garcia, M. S. (2020). Automutilação: abordagem prática de prevenção e intervenção. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 15 p.).

No Brasil, identificamos dados agregados referentes à violência autoprovocada/autoinfligida, que compreende a ideação suicida, automutilações, as tentativas de suicídio e os suicídios. No período de 2011 a 2018, foram notificados 339.730 casos dessas violências, em que 154.279 (45,4%) ocorreram na faixa etária de 15 a 29 anos. Dessas notificações, os meios de autoagressão mais prevalentes foram: o envenenamento (50,4%), seguido pelos objetos perfurocortantes (17,8%) (Ministério da Saúde, 2019Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. (2019). Perfil epidemiológico dos casos notificados de violência autoprovocada e óbitos por suicídio entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil, 2011 a 2018. Boletim Epidemiológico 24. Recuperado de: https://www.ifen.com.br/site/files/198/Nucleo-Especifico---Atuacao-Clinica-Situacoes-Suicidio/247/BE-suic--dio-24-final.pdf
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).

Em 2019, foi criada a Lei N° 13.819Lei Nº 13.819, de 26 de Abril de 2019 (2019, 29 de Abril). Institui a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio. Diário Oficial da União (29-04-2019, Edição 81, seção 1, p. 1). Brasília, DF: Imprensa Nacional. Recuperado de https://www.in.gov.br/web/dou/-/lei-n%C2%BA-13.819-de-26-de-abril-de-2019-85673796
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, que instituiu a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio e passou a considerar as lesões autoprovocadas como problemas de saúde pública passíveis de prevenção. Assim, os serviços de saúde são obrigados a notificar casos em que há a presença de ideação suicida, tentativas de suicídio e de automutilação às autoridades sanitárias. Da mesma forma, os estabelecimentos de ensino públicos e privados são considerados serviços essenciais para o combate a essas problemáticas, devendo notificar os casos ao conselho tutelar.

A inclusão das instituições de ensino no combate e prevenção da automutilação é importante, visto que o contexto escolar tem um impacto significativo na vida das crianças e adolescentes, já que é nesse espaço que eles se relacionam com pares e passam a maior parte dos dias do ano.

Assim, são necessários estudos que ajudem os profissionais, alunos e comunidade a pensarem em formas de enfrentamento da situação e subsidiem o desenvolvimento de políticas públicas frente a essa questão. Revisões de literatura anteriores sobre o tema (Sant’Ana, 2019Sant’Ana, I. M. (2019). Autolesão não suicida na adolescência e a atuação do psicólogo escolar: uma revisão narrativa.Revista de Psicologia da IMED , 11(1), 120-138. http://dx.doi.org/10.18256/2175-5027.2019.v11i1.3066; Vaz, & Vaz, 2019Vaz, R., & Vaz, W. M. (2019). O processo de individuação dos estudantes universitários como manejo do comportamento suicida.Revista Pesquisas e Práticas Psicossociais,14(4), 1-11.) se restringiram aos alunos ou ao psicólogo escolar, não incluindo o contexto educacional brasileiro e todos os atores nele inseridos, bem como não tinham como foco a automutilação. Frente ao exposto, o presente estudo objetivou descrever, a partir de uma revisão sistemática da literatura, como a automutilação é compreendida nas instituições de ensino brasileiras e quais as ações realizadas frente a esse fenômeno.

MÉTODO

O presente trabalho foi fundamentado nos procedimentos propostos por Aveyard (2007Aveyard, H. (2007). Doing a literature review in health and social care: A practical guide. Reino Unido: McGraw-Hill Education.) para a realização de uma revisão de literatura com abordagem sistemática. Nesse sentido, foram empreendidos os seguintes procedimentos: elaboração da questão norteadora, localização, seleção, avaliação, organização e análise dos textos que compuseram o corpus. Assim, buscou-se responder à questão norteadora: “Como a automutilação tem sido compreendida pelas instituições de ensino brasileiras e quais as principais ações e estratégias desenvolvidas frente a esse fenômeno?”. Para tanto, foram realizadas buscas eletrônicas, entre 09 e 22 de setembro de 2020, nas bases de dados Portal Regional BVS, SciELO e no Catálogo de Teses e Dissertações Capes - cuja finalidade foi priorizar bases acadêmicas que contivessem publicação nacional; utilizou-se a combinação dos descritores: automutilação OR autolesão OR comportamento autolesivo OR comportamento autodestrutivo. Optou-se pela não inclusão do descritor “escola”, pois limitava excessivamente o número de textos relevantes encontrados. Além disso, não delimitamos um intervalo de tempo no qual as publicações deveriam se enquadrar.

Localizaram-se 227 referências: 112 no Portal Regional BVS; 43 na SciELO; e 72 no Catálogo de Teses e Dissertações Capes. Do total de textos, foram excluídos 118 trabalhos por não responderem à pergunta de pesquisa. Desses, 41 foram suprimidos por não abordarem a automutilação e 77 por abordarem a automutilação em outros contextos que não o cenário educacional, sendo o contexto clínico mais frequente. Outros trabalhos também foram excluídos: 49 trabalhos por repetição; 17 por serem estudos secundários; 13 por serem desenvolvidos em outros países; seis (06) por estarem incompletos; e quatro (04) pelo tipo de material (vídeos, carta ao editor, reportagens). Assim, foram selecionadas as 20 referências que compuseram o corpus de análise do presente estudo, sendo 12 dissertações, seis artigos científicos e duas teses.

Sobre a seleção, salienta-se que os títulos e os resumos de todas as publicações foram lidos por pelo menos dois dos pesquisadores, realizando-se assim uma checagem dupla das referências para verificar se comporiam o corpus da revisão. Além disso, todos os autores leram na íntegra os textos que, mesmo após esse primeiro contato, geraram dúvidas quanto à sua relevância para o estudo. Para selecionar as referências, empregaram-se os seguintes critérios de inclusão: artigos, dissertações, teses e/ou monografias com textos completos disponíveis on-line, publicados em português (do Brasil), referentes a pesquisas primárias, que discorressem, diretamente ou indiretamente, sobre a forma que os diferentes atores que integram as instituições brasileiras de ensino compreendem a automutilação e/ou sobre ações e estratégias desenvolvidas nessas instituições frente à automutilação.

As 20 referências selecionadas foram organizadas em tabelas do Excel para a identificação das dimensões de análise que respondiam à pergunta norteadora, a saber: ano e fonte da publicação; universidade de vinculação; área de estudo da revista ou do programa de pós-graduação; características dos autores; perspectiva teórica da pesquisa; metodologia; tipo de instituição de ensino e de participantes pesquisados; principais resultados; significados e sentidos atribuídos à automutilação; características da intervenção. No Quadro 1explicitamos a caracterização geral dos textos selecionados:

Quadro 1
General Characterization of Selected Texts.

Quadro 1
Continuação

Sobre a perspectiva teórica, seis estudos utilizaram a Análise do Comportamento, cinco a Psicanálise, dois a Psicologia Social, dois a Pedagogia/Educação; e a Psicologia Escolar e do Desenvolvimento, Psicologia Analítica/Junguiana e o Interacionismo Simbólico estavam presentes em uma referência cada. Dois estudos não deixaram explícito a perspectiva teórica adotada. Sabe-se que a Psicanálise e a Análise do Comportamento são as duas linhas teóricas mais presentes nas escolhas entre os estudantes e profissionais de Psicologia no Brasil (Silva, Cardoso, Franco, & Moscon, 2018Silva, G. F. B. P., Cardoso, B. S., Franco, K. D., & Moscon, D. C. B. (2018). Os significados do conceito de abordagem teórica e as implicações na prática do psicólogo: um estudo com graduandos de psicologia. UNIFACS, 18, 57-78.), assim, é esperado que os estudos provenientes dessa área utilizem mais essas abordagens em suas pesquisas. Frente a isso, verificou-se que a maior parte dos trabalhos analisados contou com a perspectiva da Psicologia Clínica e/ou da Saúde, contrariando as expectativas de que, devido ao tema pesquisado fossem localizados trabalhos que dialogassem com a Psicologia Escolar e Educacional. Tal situação nos leva a problematizar qual espaço a Psicologia tem de fato ocupado nas escolas, parecendo individualizar o fenômeno ao invés de coletivizá-lo - algo característico da forma como ela começou a se inserir nas escolas (Sant’Ana, 2019Sant’Ana, I. M. (2019). Autolesão não suicida na adolescência e a atuação do psicólogo escolar: uma revisão narrativa.Revista de Psicologia da IMED , 11(1), 120-138. http://dx.doi.org/10.18256/2175-5027.2019.v11i1.3066).

Destaca-se ainda que dos quatro trabalhos publicados na área da Enfermagem, dois utilizaram a Psicanálise e uma Psicologia Social, e dos três trabalhos desenvolvidos na área da Educação, um deles utilizou a Análise do Comportamento, usando assim abordagens tipicamente ligadas à Psicologia.

A metodologia de pesquisa mais utilizada foi a qualitativa, presente em 13 referências. Ainda foram desenvolvidos quatro estudos com metodologia quantitativa, dois com abordagem quali-quantitativa e um com delineamento experimental. Isso pode ser explicado pelo alto número de trabalhos feitos por autores da Psicologia, uma vez que essa área concentra muitas pesquisas qualitativas. Dentre os textos analisados, há a predominância de estudos que objetivam compreender os sentidos atribuídos à automutilação, o que condiz com o uso de uma metodologia qualitativa.

A respeito das instituições de ensino pesquisadas, 13 estudos foram desenvolvidos em escolas de Ensino Fundamental e/ou Médio, três em instituições de Ensino Superior, três em instituições voltadas para o Atendimento Educacional Especializado e um fez um estudo exploratório nas redes sociais para depois sugerir intervenções no cenário educacional. Nota-se que a automutilação tem sido tratada como um problema tipicamente da adolescência, considerando o predomínio das pesquisas realizadas no Ensino Fundamental e/ou médio. Isso pode se dever ao número maior de casos dentre pessoas desse público, conforme salientou Sant’Ana (2019Sant’Ana, I. M. (2019). Autolesão não suicida na adolescência e a atuação do psicólogo escolar: uma revisão narrativa.Revista de Psicologia da IMED , 11(1), 120-138. http://dx.doi.org/10.18256/2175-5027.2019.v11i1.3066). Em relação às instituições, 14 trabalhos foram desenvolvidos em instituições públicas, dois em privadas, um em pública e privada ao mesmo tempo e dois estudos não especificaram. A realização das pesquisas predominantemente em instituições de ensino públicas pode ser decorrente do compromisso social dos pesquisadores, bem como, da maior facilidade de acesso a elas.

Sobre os participantes das pesquisas, 13 estudos foram desenvolvidos com os alunos e seis com os professores. Desses, nove trabalhos foram com estudantes do Ensino Fundamental e/ou Médio, dois com discentes do Ensino Superior e dois com alunos com desenvolvimento atípico, além de quatro estudos realizados com educadores do Ensino Fundamental e/ou Médio, um com docentes do Ensino Superior e um com professores do Atendimento Educacional Especializado. Assim, observa-se que o foco das pesquisas sobre automutilação tem sido os alunos, em especial, os adolescentes. Em contrapartida, seis trabalhos foram desenvolvidos com professores e nenhuma pesquisa com os pais ou outros profissionais das instituições de ensino, que são atores importantes no enfrentamento da automutilação (Quesada et al., 2020Quesada, A. A., Aragão Neto, J., Oliveira, J. M., & Garcia, M. S. (2020). Automutilação: abordagem prática de prevenção e intervenção. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 15 p.). Nesse sentido, considerando a perspectiva crítica da Psicologia Escolar e Educacional, é importante refletir sobre a necessidade de envolvimento dos diferentes atores para produzir análises mais complexas sobre esse fenômeno, evitando concepções que focalizam apenas os adolescentes.

Sentidos da automutilação

Os trabalhos analisados trouxeram diferentes sentidos sobre o fenômeno da automutilação que foram categorizados nas seguintes temáticas: Prática decorrentes de condições fisiológicas; forma de dar sentido ao sofrimento; resultado de um contágio social; tentativa de se comunicar com o outro; manifestação associada à ideação suicida; comportamento recorrente em indivíduos com “desenvolvimento atípico”.

O primeiro tema compreende a automutilação como prática decorrente de condições fisiológicas. Santos (2017Santos, L. C. S. (2017). Condutas autolesivas e bullying em adolescentes de Sergipe (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão-SE.) traz que mudanças bioquímicas corporais desempenham um papel relevante na autolesão, podendo resultar de alguma ação específica (ingestão de substâncias psicoativas, por exemplo) ou mesmo condições médicas como insônia, fadiga, doenças ou anomalias da tireoide ou hormonais, síndrome pré-menstrual e outros fatores que possam aumentar a vulnerabilidade ao estresse psicológico e, consequentemente, o risco de engajar-se em comportamentos autolesivos para lidar com essas sensações. Para o autor, a excitação fisiológica típica de eventos estressores parece ser mais exacerbada em indivíduos que se automutilam.

Já na segunda temática “forma de dar sentido ao sofrimento”, a prática de autolesão entre os jovens é compreendida como: a) uma representação de conflitos (Fonseca et al., 2018Fonseca, P. H. N. D., Silva, A. C., Araújo, L. M. C. D., & Botti, N. C. L. (2018). Autolesão sem intenção suicida entre adolescentes.Arquivos brasileiros de psicologia , 70(3), 246-258. Recuperado em 19 de julho de 2022, de Recuperado em 19 de julho de 2022, de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v70n3/17.pdf
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); b) uma forma de explicitar no corpo os sentimentos que os adolescentes não conseguem elaborar como ansiedade, tensão e raiva (Lopes, 2017Lopes, L. d. S. (2017). A escola como cenário de narrativas da adolescência: Escuta analítica de adolescentes que praticam automutilação (Dissertação de Mestrado). Universidade de Fortaleza, Fortaleza-CE.; Lopes & Teixeira, 2019Lopes, L. D. S., & Teixeira, L. C. (2019). Automutilações na adolescência e suas narrativas em contexto escolar.Estilos da Clínica , 24(2), 291-303. https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v24i2p291-303
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); c) uma tentativa dolorosa de ritualizar a passagem para a idade adulta (Navarro-Vasconcellos, 2019Navarro-Vasconcellos, A. P. (2019). Oficina do Conviver: preocupações prementes de adolescentes do ensino médio sob o olhar da psicologia analítica (Dissertação de Mestrado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo-SP.); d) uma forma de morte simbólica (Rodriguez, 2010Rodriguez, C. F. (2010).Falando de morte na escola: o que os educadores têm a dizer?(Tese de Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo-SP.); e) uma possibilidade de superação, fuga e escape da dor (Gonçalves, 2016Gonçalves, J. N. (2016). “Vocês acham que me corto por diversão?” Adolescentes e a prática da automutilação (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia-MG.). Segundo Barbosa et al. (2019Barbosa, V., Lollo, M. C. D., Zerbetto, S. R., & Hortense, P. (2019). A prática de autolesão em jovens: uma dor a ser analisada.Reme: Revista Mineira de Enfermagem , 23, e-1240. https://dx.doi.org/10.5935/1415-2762.20190088
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), externalizar essa dor gera alívio do estresse e das pressões vividas, fazendo-os querer repetir essa ação, porém, Fonseca (2019)Fonseca, P. H. N. D., Silva, A. C., Araújo, L. M. C. D., & Botti, N. C. L. (2018). Autolesão sem intenção suicida entre adolescentes.Arquivos brasileiros de psicologia , 70(3), 246-258. Recuperado em 19 de julho de 2022, de Recuperado em 19 de julho de 2022, de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v70n3/17.pdf
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sinaliza que o sujeito sente, ao mesmo tempo, alívio e arrependimento pelo ato, criando uma dicotomia alívio-culpa. Assim, os trabalhos compreendem a automutilação como um modo de dar sentido ao sofrimento a partir da ressignificação ou da fuga.

Em contraposição ao segundo tema, o terceiro discute a automutilação como procedente de um potencial contágio social. Nesse sentido, segundo os textos analisados, a autolesão: a) é um elo de identificação e aproximação emocional entre um grupo de amigos (Lopes, 2017Lopes, L. d. S. (2017). A escola como cenário de narrativas da adolescência: Escuta analítica de adolescentes que praticam automutilação (Dissertação de Mestrado). Universidade de Fortaleza, Fortaleza-CE.); b) pode ser copiada pelos adolescentes que presenciam outras pessoas fazendo e ganhando atenção (Gabriel et al., 2020Gabriel, I. M., Costa, L. C. R., Campeiz, A. B., Salim, N. R., Silva, M. A. I., & Carlos, D. M. (2020). Autolesão não suicida entre adolescentes: significados para profissionais da educação e da Atenção Básica à Saúde.Escola Anna Nery , 24, e20200050. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0050); c) pode ser estimulada nos espaços virtuais, pois há um amplo compartilhamento da prática entre os adolescentes nas redes sociais (Gonçalves, 2016Gonçalves, J. N. (2016). “Vocês acham que me corto por diversão?” Adolescentes e a prática da automutilação (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia-MG.; Rigo, 2015Rigo, K. F. (2015). Vamos começar pelo fim?: a pedagogia cemiterial como projeto educativo no espaço escolar (Tese de Doutorado). Faculdades EST, São Leopoldo-RS.).

O quarto tema traz a automutilação como tentativa de comunicação, visto que, entre os adolescentes, essa prática pode ser uma tentativa de convocar o olhar das outras pessoas para si e/ou para os cortes realizados (Lopes, 2017Lopes, L. d. S. (2017). A escola como cenário de narrativas da adolescência: Escuta analítica de adolescentes que praticam automutilação (Dissertação de Mestrado). Universidade de Fortaleza, Fortaleza-CE.), como um pedido de socorro, por amor e carinho e/ou um apelo aos adultos próximos (Araújo, 2018Araújo, V. L. M. (2018). A prática pedagógica transdisciplinar e sua importância para sala de aula com adolescentes-jovens em processos de automutilação (Dissertação de Mestrado). Universidade de Pernambuco, Pernambuco-PE.). Segundo Fonseca (2019Fonseca, P. H. N. D. (2019). Adolescentes contemporâneos: questões sobre os desdobramentos subjetivos da autolesão (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de São João del-Rei, Divinópolis-MG.), os jovens que se autolesionam têm dificuldade em pedir ajuda diretamente ao adulto, por medo da desaprovação e julgamento. Assim, eles enfrentam barreiras na comunicação com os familiares por conflitos (Tardivo et al., 2019Tardivo, L. S. D. L. P. C., Rosa, H. R., Ferreira, L. S., Chaves, G., & Pinto Júnior, A. A. (2019). Autolesão em adolescentes, depressão e ansiedade: um estudo compreensivo.Boletim-Academia Paulista de Psicologia , 39(97), 159-169. Recuperado em 19 de julho de 2022, de Recuperado em 19 de julho de 2022, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-711X2019000200002&lng=pt&tlng=pt .
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) e com os professores devido à ausência de confiança, por receio desses exporem os casos para a direção e outros docentes (Araújo, 2018). Segundo Rigo (2015Rigo, K. F. (2015). Vamos começar pelo fim?: a pedagogia cemiterial como projeto educativo no espaço escolar (Tese de Doutorado). Faculdades EST, São Leopoldo-RS.), o adolescente encontra-se desamparado emocionalmente e, sem lugares de escuta, utiliza o espaço virtual para compartilhar suas dores com jovens que passam pela mesma situação. Consoante a isso, Costa, Silva e Vedana (2019Costa, J. S., Silva, A. C., & Vedana, K. G. G. (2019). Postagens sobre autolesão não suicida na internet.Adolescência & Saúde,16(1), 7-12.) identificaram que, diante da negação da dor existente no mundo contemporâneo, a automutilação é um pedido de socorro indireto.

No quinto tema, sobre a automutilação associada à ideação suicida, os textos discutem que a autolesão pode expressar tanto um desejo de morte quanto um substituto do suicídio, pois é uma forma de contornar a dor e manter a vida (Barbosa et al., 2019Barbosa, V., Lollo, M. C. D., Zerbetto, S. R., & Hortense, P. (2019). A prática de autolesão em jovens: uma dor a ser analisada.Reme: Revista Mineira de Enfermagem , 23, e-1240. https://dx.doi.org/10.5935/1415-2762.20190088
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). Para os professores, a automutilação é a principal atitude suicida no contexto escolar, percebida através do isolamento, da tristeza e das relações familiares conflituosas (Brito et al., 2020Brito, M. D. L. D. S., Silva Júnior, F. J. G. D., Costa, A. P. C., Sales, J. C., Gonçalves, A. M. D. S., & Monteiro, C. F. D. S. (2020). Comportamento suicida e estratégias de prevenção sob a ótica de professores.Escola Anna Nery , 24, e20200109. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0109
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). Segundo Brito et al. (2020)Brito, M. D. L. D. S., Silva Júnior, F. J. G. D., Costa, A. P. C., Sales, J. C., Gonçalves, A. M. D. S., & Monteiro, C. F. D. S. (2020). Comportamento suicida e estratégias de prevenção sob a ótica de professores.Escola Anna Nery , 24, e20200109. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0109
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, distinguir quais comportamentos estão associados ou não à ideação suicida é um desafio vivenciado pela escola na identificação dos sinais de alerta.

O sexto tema é o que mais se diferencia dos anteriores, pois aborda a autolesão como uma prática comum entre indivíduos que apresentam “desenvolvimento atípico”. Congruentemente com os trabalhos selecionado, Abreu (2006Abreu, M. C. F. (2006). Desenvolvimento de conceitos científicos em crianças com deficiência mental. (Dissertação de Mestrado). Universidade Católica de Brasília, Brasília.) considera que indivíduos com “desenvolvimento atípico” são aqueles que têm algum comportamento fora dos padrões normais ou típicos do desenvolvimento e que podem ter origens diferenciadas como deficiência intelectual e transtornos na aprendizagem. Nesse aspecto, Cordeiro (2018Cordeiro, G. O. (2018). Formação docente em análise funcional baseada em tentativas para avaliação de comportamentos-problema (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina-PE.), Souza (2014Souza, E. P. (2014). Análise funcional do comportamento autolesivo em uma pessoa com desenvolvimento atípico (Dissertação de Mestrado). Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia-GO.) e Ausec (2013Ausec, I. C. O. (2013). Capacitação comportamental informatizada para professores universitários: inclusão no ensino superior (Dissertação de Mestrado). Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR.) compreendem a automutilação como uma classe de respostas específicas que pode se configurar como comportamentos-problema, resultantes de processos de aprendizagem e reforçados por meio de atenção social e/ou consequências sensoriais (Santos, 2017Santos, L. C. S. (2017). Condutas autolesivas e bullying em adolescentes de Sergipe (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão-SE.), podendo contribuir para a estigmatização social da pessoa com deficiência intelectual (Cordeiro, 2018Cordeiro, G. O. (2018). Formação docente em análise funcional baseada em tentativas para avaliação de comportamentos-problema (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina-PE.). Santos (2017)Santos, L. C. S. (2017). Condutas autolesivas e bullying em adolescentes de Sergipe (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão-SE., traz que a conduta autolesiva é comum em pessoas com autismo, funcionando como uma forma de se expressar e comunicar. Por fim, Garcia (2015Garcia, M. V. F. (2015). Análises funcionais experimentais do comportamento autolesivo em uma instituição brasileira (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG.) entende o comportamento autolesivo como um mecanismo de fuga mantido pelo reforçamento negativo.

Apesar de apresentarem diferentes possibilidades de compreensão da automutilação, as referências analisadas expressam uma preocupação com a causalidade desse fenômeno, focalizando tipicamente em aspectos individuais (orgânicos ou psicológicos). Dessa forma, observa-se que as perspectivas presentes nos estudos pouco discutem os aspectos sócio-históricos importantes para compreensão da automutilação. Ressaltamos que tais compreensões a partir de um único aspecto individualizam o fenômeno, considerando que as problemáticas estão apenas no indivíduo e que só podem ser resolvidas através dele. Nesse sentido, perde-se de vista o papel da sociedade, das instituições de ensino, das políticas públicas e sociais que poderiam contribuir para um entendimento mais completo frente a essas situações. Frente a isso, Quesada et al. (2020Quesada, A. A., Aragão Neto, J., Oliveira, J. M., & Garcia, M. S. (2020). Automutilação: abordagem prática de prevenção e intervenção. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 15 p.) ressaltam a importância de um olhar para a automutilação enquanto fenômeno complexo, multifacetado e multidimensional.

Intervenções Desenvolvidas Frente à Automutilação

O presente trabalho buscou compreender também quais intervenções estão sendo realizadas frente à automutilação nas instituições de ensino brasileiras. Das 20 referências selecionadas, apenas sete relataram intervenções, as quais podem ser divididas em: Práticas Clínicas, Práticas Preventivas e Práticas de Formação Profissional.

As práticas clínicas são compostas pelas intervenções realizadas com jovens que apresentavam comportamentos autolesivos, sendo consideradas formas de tratamento a partir de práticas individuais. Lopes (2017Lopes, L. d. S. (2017). A escola como cenário de narrativas da adolescência: Escuta analítica de adolescentes que praticam automutilação (Dissertação de Mestrado). Universidade de Fortaleza, Fortaleza-CE.) e Lopes e Teixeira (2019) desenvolveram uma intervenção em contexto escolar a qual nomearam como “escuta qualificada na escola”. Essa ação consistiu em sessões individuais com os adolescentes que se automutilavam, realizadas pela psicóloga/pesquisadora no setor de Psicologia da escola, normalmente, depois de finalizadas as atividades escolares. Os jovens eram encaminhados por professores, coordenação, pais ou por vontade própria e durante os encontros podiam falar livremente de suas angústias e incômodos.

Garcia (2015Garcia, M. V. F. (2015). Análises funcionais experimentais do comportamento autolesivo em uma instituição brasileira (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG.) utilizou a Análise Funcional Experimental para identificar e agir sobre situações que poderiam estimular a autolesão em jovens que apresentam “comportamentos atípicos” no contexto da Educação Especial. Primeiramente, realizou-se uma Análise Funcional Experimental, expondo o participante a condições que poderiam incitar a ocorrência da autolesão. Após essa avaliação, planejou-se alterações nas contingências ambientais para controlar o comportamento do participante. Ao final, foi possível observar uma diminuição na frequência da prática autolesiva.

De modo semelhante, Souza (2014Souza, E. P. (2014). Análise funcional do comportamento autolesivo em uma pessoa com desenvolvimento atípico (Dissertação de Mestrado). Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia-GO.) baseou sua intervenção na avaliação de vários tratamentos para diminuir o comportamento autolesivo de pessoa com “desenvolvimento atípico”. Inicialmente, realizou-se: entrevistas com a mãe e a professora da participante, sessões de observação direta e avaliação funcional para identificar os reforçadores dos comportamentos autolesivos. Depois, aplicaram-se estratégias de reforçamento não-contingente e reforçamento diferencial para estimular a ocorrência de comportamentos apropriados e a diminuição de autolesão.

Das referências analisadas, apenas uma desenvolveu intervenções focadas na prevenção da automutilação. Navarro-Vasconcellos (2019Navarro-Vasconcellos, A. P. (2019). Oficina do Conviver: preocupações prementes de adolescentes do ensino médio sob o olhar da psicologia analítica (Dissertação de Mestrado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo-SP.) realizou duas oficinas com duração de 40 minutos cada e com 29 alunos do Ensino Médio de uma escola pública. Os encontros foram feitos em períodos regulares de aula, em uma sala sem carteiras para a composição do grupo em círculo. Utilizou-se recursos expressivos/simbólicos e roda de conversa sobre diferentes temáticas relacionadas à adolescência. O tema da automutilação surgiu durante a discussão sobre “comportamentos e sentimentos autodestrutivos”. Segundo a autora, as oficinas foram importantes, pois propiciaram um espaço de conversa e reflexão sobre as vivências dos alunos.

Em relação às Práticas de Formação Profissional, as intervenções foram realizadas com os professores no contexto do Atendimento Educacional Especializado, voltadas para alunos com “desenvolvimento atípico”. Cordeiro (2018Cordeiro, G. O. (2018). Formação docente em análise funcional baseada em tentativas para avaliação de comportamentos-problema (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina-PE.) utilizou a Análise Funcional Baseada em Tentativas (TFBA) para a diminuição dos comportamentos-problema, alterando eventos ambientais. Os treinos ocorreram por dois meses com seis professoras e para cada uma foram atribuídos dois estudantes. Inicialmente, cada professora realizava com um dos alunos, sem treinamento prévio, os procedimentos que constavam em uma ficha. Em seguida, elas faziam um dos treinamentos:1) Vídeo feedback - feedback quanto à implementação do TBFA; 2) Vídeo modelo - demonstração gravada em vídeo. Depois, as docentes aplicavam o TBFA com um segundo estudante para verificar se as competências aprendidas seriam transferidas para novas situações. Apesar de cinco educadoras não atingirem o nível de aprendizagem, relataram mudanças em suas posturas nas salas de aula, e houve melhora no repertório de aplicação do TBFA.

Ausec (2013Ausec, I. C. O. (2013). Capacitação comportamental informatizada para professores universitários: inclusão no ensino superior (Dissertação de Mestrado). Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR.) buscou avaliar a eficácia do Software ENSINO, que fornece conceitos e situações-problema que simulam comportamentos que podem ocorrer no cotidiano de alunos, para capacitar docentes a lidarem com estudantes universitários que apresentavam problemas de comportamento, como autolesão, indisciplina e agressividade no ambiente escolar. A capacitação foi realizada com quatro docentes e ocorreu durante quatro encontros com duração média de 70 minutos. Os professores receberam instruções básicas sobre como utilizar o computador para a capacitação no primeiro contato com o software. Ao final, observou-se que os docentes se tornaram aptos a identificar os comportamentos adequados e inadequados.

A análise das intervenções estudadas mostra o predomínio de práticas clínicas focalizadas no indivíduo, desconectadas do contexto escolar, responsabilizando os jovens pelo ato de se automutilarem. Martins (2003Martins, J. B. (2003). A atuação do psicólogo escolar: multirreferencialidade, implicação e escuta clínica. Psicologia em Estudo, 8(2), 39-45. https://doi.org/10.1590/S1413-73722003000200005
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) defende o uso da escuta clínica pelos psicólogos, desde que possibilite a criação de situações coletivas e espaços de reflexão. Contudo, como vimos, houve apenas uma prática grupal, de natureza preventiva, realizada por meio de oficinas. Além disso, é importante que as escolas promovam ações que integrem também setores de saúde e famílias no combate à automutilação e invistam na capacitação de sua equipe e no desenvolvimento de protocolos de intervenção em situações de crise (Quesada et al, 2020Quesada, A. A., Aragão Neto, J., Oliveira, J. M., & Garcia, M. S. (2020). Automutilação: abordagem prática de prevenção e intervenção. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 15 p.). Nesse sentido, foram localizadas apenas duas intervenções voltadas aos professores, porém, no contexto do comportamento autolesivo associado ao “desenvolvimento atípico”. Faltaram trabalhos voltados para a capacitação de professores do ensino regular e/ou ações conjuntas com as equipes das escolas e as famílias.

Além desses poucos relatos de intervenções realizadas, os estudos selecionados discorreram sobre possíveis ações frente à automutilação, os quais abarcavam: a) práticas diagnósticas, envolvendo o mapeamento dos comportamentos autolesivos (Santos, 2017Santos, L. C. S. (2017). Condutas autolesivas e bullying em adolescentes de Sergipe (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão-SE.), identificação dos sinais e sintomas da automutilação (Barbosa, 2017Barbosa, V. D. S. (2017). A prática de autolesão em jovens: uma dor a ser analisada (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Paulo-SP.) e reconhecimento dos adolescentes dos grupos de risco (Rigo, 2015Rigo, K. F. (2015). Vamos começar pelo fim?: a pedagogia cemiterial como projeto educativo no espaço escolar (Tese de Doutorado). Faculdades EST, São Leopoldo-RS.); b) práticas dialógicas e coletivas que permitam a escuta, o acolhimento e o suporte aos alunos (Gabriel et al., 2020Gabriel, I. M., Costa, L. C. R., Campeiz, A. B., Salim, N. R., Silva, M. A. I., & Carlos, D. M. (2020). Autolesão não suicida entre adolescentes: significados para profissionais da educação e da Atenção Básica à Saúde.Escola Anna Nery , 24, e20200050. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0050; Gonçalves, 2016Gonçalves, J. N. (2016). “Vocês acham que me corto por diversão?” Adolescentes e a prática da automutilação (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia-MG.) por meio de diferentes estratégias e com parcerias entre familiares, profissionais da educação e da saúde (Barbosa, 2017Barbosa, V. D. S. (2017). A prática de autolesão em jovens: uma dor a ser analisada (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Paulo-SP.); c) práticas de capacitação para conscientizar e auxiliar os professores na proposição de diálogos, na promoção de intervenções e no acolhimento dos alunos, bem como discussões de casos de educadores e estudantes mobilizados pela ocorrência de mortes na escola (Araújo, 2018Araújo, V. L. M. (2018). A prática pedagógica transdisciplinar e sua importância para sala de aula com adolescentes-jovens em processos de automutilação (Dissertação de Mestrado). Universidade de Pernambuco, Pernambuco-PE.; Rodriguez, 2010Rodriguez, C. F. (2010).Falando de morte na escola: o que os educadores têm a dizer?(Tese de Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo-SP.); e d) práticas de (re)estruturação pedagógica que promovem a inserção de ações dialógicas no projeto político-pedagógico da instituição (Araújo, 2018Araújo, V. L. M. (2018). A prática pedagógica transdisciplinar e sua importância para sala de aula com adolescentes-jovens em processos de automutilação (Dissertação de Mestrado). Universidade de Pernambuco, Pernambuco-PE.; Lacerda, 2019Lacerda, E. P. (2019). Possibilidades de superação do suicídio entre estudantes do ensino fundamental (Dissertação de Mestrado). Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF/GO.) e a produção e/ou utilização de materiais pedagógicos voltados para a discussão da automutilação, da morte e do suicídio (Rigo, 2015Rigo, K. F. (2015). Vamos começar pelo fim?: a pedagogia cemiterial como projeto educativo no espaço escolar (Tese de Doutorado). Faculdades EST, São Leopoldo-RS.; Rodriguez, 2010Rodriguez, C. F. (2010).Falando de morte na escola: o que os educadores têm a dizer?(Tese de Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo-SP.).

Sobre as ações propostas, as referências enfatizaram o papel das instituições de ensino frente à automutilação enquanto espaços de formação responsável pelo bem-estar físico e mental dos seus alunos, devendo propiciar ações de desenvolvimento, fortalecimento, proteção, reflexão, valorização da vida e solução de problemas. Entretanto, observa-se que poucos instrumentos são disponibilizados aos atores escolares e as ações são muito individualizadas e focadas neles.

Ressalta-se a importância de que instituições escolares busquem amplas estratégias de enfrentamento deste fenômeno, não individualizando-o. Assim, as ações devem centrar-se tanto na dimensão psicoeducativa quanto psicossocial, superando o modelo clínico e levando em consideração a realidade brasileira, sua complexidade e desafios (Martinez, 2009Martinez, A. M. (2009). Psicologia Escolar e Educacional: compromissos com a educação brasileira. Psicologia Escolar e Educacional, 13(1), 169-177. Recuperado em 19 de julho de 2022, de Recuperado em 19 de julho de 2022, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572009000100020&lng=pt&tlng=pt .
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; Sant’Ana, 2019Sant’Ana, I. M. (2019). Autolesão não suicida na adolescência e a atuação do psicólogo escolar: uma revisão narrativa.Revista de Psicologia da IMED , 11(1), 120-138. http://dx.doi.org/10.18256/2175-5027.2019.v11i1.3066). Percebe-se que as ações possíveis frente à automutilação não são as que estão efetivamente sendo feitas, levantando as seguintes questões: Quais as dificuldades encontradas para colocar as ações possíveis em prática? Quais os contextos, as políticas públicas e os investimentos públicos em Saúde e Educação que influenciam na viabilização ou não dessas práticas?

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo analisar como a automutilação é compreendida no contexto das instituições de ensino brasileiras e quais as ações realizadas frente a esse fenômeno. Observa-se um número pequeno de trabalhos que buscaram explorar a interface da automutilação com a Educação e, mesmo esses, demonstraram que as pesquisas sobre esse fenômeno no contexto educacional têm sido feitas predominantemente pela área da saúde. Ressalta-se que os estudos tiveram como participantes apenas alunos (em sua maioria, adolescentes) e professores, sinalizando a necessidade de que novos trabalhos sejam realizados com outros atores que compõem as instituições de ensino, como coordenadores e familiares.

Foi possível perceber ainda que a automutilação assume diferentes significados no contexto educacional, devendo ser tratada como um fenômeno complexo e multideterminado. Em relação às intervenções, poucas ações têm sido realizadas nas instituições de ensino brasileiras e aquelas feitas possuem, em sua maioria, caráter individual e clínico. Ainda assim, os estudos apontam várias possibilidades de ações, trazendo uma visão ampla e social de enfrentamento da automutilação, o que sinaliza uma contradição entre as intervenções realizadas e aquelas sugeridas. Frente a isso, destaca-se a necessidade de que outros trabalhos sejam desenvolvidos nas instituições escolares, especialmente, no Ensino Regular, compreendendo a automutilação a partir de uma perspectiva social e coletiva. Além disso, é necessário questionar o papel das políticas públicas e sociais em relação ao fenômeno da automutilação.

Entre as possíveis limitações da pesquisa estiveram: não incorporar trabalhos cujos textos não se encontravam on-line; analisar um baixo número de estudos, devido à escassez de publicações e ainda, apresentar algum viés de publicação não identificado. Apesar disso, consideramos que esse trabalho apresenta informações que auxiliam na reflexão sobre a automutilação, das intervenções realizadas e possíveis, e no desenvolvimento de políticas públicas que reforcem o papel das instituições de ensino frente a essa problemática.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    18 Jan 2021
  • Aceito
    18 Ago 2022
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