Open-access Jovens trabalhadores: expectativas de acesso ao ensino superior

Young workers: expectations of access to higher education

Resumos

O presente artigo sustenta que as recentes transformações no ensino superior, especialmente no que se relaciona à ampliação da presença de jovens trabalhadores no meio universitário, tornam fundamental a retomada da categoria juventude nos estudos em torno desse nível de ensino, destacando a centralidade da categoria trabalho para sua constituição no Brasil. Tomando como referência um estudo realizado com jovens de baixa renda do Município de São Paulo, suas dificuldades e expectativas de acesso ao ensino superior, o artigo aponta a relevância e as limitações da atual expansão, bem como necessário um aprofundamento em torno da origem, das experiências e dos projetos dessa nova geração, que traz o ingresso no ensino superior como elemento essencial de sua trajetória desejada.

Educação superior; Trabalho; Juventude


The paper argues that the recent changes within the Brazilian higher education system, especially regarding the increase in the number of young workers, transfrom Youth into an essential category in the present studies of this educational level, highlighting de centrality of Work. Taking a former study that focuses on low income youth in the city of Sao Paulo and their difficulties and expectations to access the university level, the article also discusses the relevance and limits of the recent boom, pointing to a necessary in depth analysis of the origins, experiences and projects of this new generation, that regards the access to the university as an essential goal of their lives.

Higher education; Work; Youth


DOSSIÊ

TENDÊNCIAS E DESAFIOS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

Jovens trabalhadores: expectativas de acesso ao ensino superior

Young workers: expectations of access to higher education

Maria Carla Corrochano

Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo. Professora adjunta do Departamento de Ciências Humanas e Educação e do Mestrado em Educação da UFSCar/ Campus Sorocaba, S.P., Brasil. E-mail: carla.corrochano@gmail.com

RESUMO

O presente artigo sustenta que as recentes transformações no ensino superior, especialmente no que se relaciona à ampliação da presença de jovens trabalhadores no meio universitário, tornam fundamental a retomada da categoria juventude nos estudos em torno desse nível de ensino, destacando a centralidade da categoria trabalho para sua constituição no Brasil. Tomando como referência um estudo realizado com jovens de baixa renda do Município de São Paulo, suas dificuldades e expectativas de acesso ao ensino superior, o artigo aponta a relevância e as limitações da atual expansão, bem como necessário um aprofundamento em torno da origem, das experiências e dos projetos dessa nova geração, que traz o ingresso no ensino superior como elemento essencial de sua trajetória desejada.

Palavras chave: Educação superior. Trabalho. Juventude.

ABSTRACT

The paper argues that the recent changes within the Brazilian higher education system, especially regarding the increase in the number of young workers, transfrom Youth into an essential category in the present studies of this educational level, highlighting de centrality of Work. Taking a former study that focuses on low income youth in the city of Sao Paulo and their difficulties and expectations to access the university level, the article also discusses the relevance and limits of the recent boom, pointing to a necessary in depth analysis of the origins, experiences and projects of this new generation, that regards the access to the university as an essential goal of their lives.

Key words: Higher education. Work. Youth.

No âmbito dos estudos sobre juventude no Brasil, os jovens universitários constituíram-se em um dos grupos privilegiados nas análises em torno da crise e das transformações da sociedade moderna. Foram os estudos em torno desses estudantes e dos movimentos por eles protagonizados ao longo da década de 1960 no contexto da ditadura militar que contribuíram para inaugurar o campo de estudos sociológicos sobre a juventude no País; ainda hoje, a despeito de significativas diferenças de contexto, esses trabalhos trazem contribuições relevantes para o exame de questões atuais relativas aos jovens, à juventude e sua relação com a universidade. No seu clássico livro "A juventude na sociedade moderna", Marialice Foracchi (1972) problematizou a denominada "rebelião da juventude na sociedade moderna" em sua forma predominante – o movimento estudantil. Para a autora, ainda que não fossem os únicos depositários dos problemas da sociedade moderna, era especialmente sobre essa juventude universitária, oriunda das camadas altas e médias da população e para as quais estava garantida a possibilidade de formação universitária, que recairia mais intensamente a crise do sistema político e social naquele momento.

Iniciar este artigo recuperando a importância dos estudos sobre jovens universitários e do legado de Marialice Foracchi não significa tomar como objeto a comparação entre juventudes universitárias no tempo, uma vez que as diferenças entre os contextos econômico, político e social demandariam esforço analítico de outra natureza. Rememorar esta autora, no entanto, parece bastante oportuno por duas razões principais. Em primeiro lugar, uma das diferenças históricas mais significativas em relação ao momento em que Foracchi realizava sua análise diz respeito ao fato de que a universidade brasileira hoje não é mais apenas o lugar das classes médias e das elites de nosso país. Em segundo lugar, e em função das próprias mudanças mais recentes, pode-se dizer que o olhar para a universidade e para os jovens universitários pode se constituir em uma melhor maneira de compreender muitos dos dilemas vividos na sociedade brasileira contemporânea.

No que diz respeito ao primeiro ponto levantado, há uma diversidade de sujeitos que se torna cada vez mais evidente em nossas universidades. O processo de expansão do ensino superior público e privado incorporou jovens e também adultos, homens e mulheres, oriundos de classes sociais, raça/ etnia e regiões de moradia tradicionalmente excluídas desse nível de ensino. Se é certo que este processo ainda apresenta limitações1 e tem sido alvo de relevantes críticas2, não é possível negar o fato da universidade contemplar uma maior parcela da população brasileira e uma maior heterogeneidade social no contexto contemporâneo.

A respeito do segundo aspecto acima destacado, vale notar que um conjunto diverso de estudos e pesquisas tem acentuado a importância da análise dos segmentos juvenis, considerados como a "ponta do iceberg" da "nova sociedade transformada pela mutação" (PERALVA, 1997, p. 23). Portanto, as tensas e intensas transformações no âmbito do ensino superior nas últimas décadas podem tornar profícuo um renovado olhar para os jovens universitários. Ao mesmo tempo, cabe ressaltar que tomar os jovens e a juventude como objeto de estudo empírico não significa afastar-se de temáticas relevantes dos estudos sociológicos da educação do Brasil; nesse sentido, o presente artigo toma a reflexão de Sposito (2003) como ponto de partida, destacando a perspectiva não escolar da abordagem ora colocada. Assim, um renovado olhar para as jovens gerações universitárias pode contribuir para a compreensão de mudanças recentes na sociedade brasileira, e para a reflexão sobre o lugar da universidade neste processo.

Ainda que as transformações sejam bastante amplas, o foco de nossa atenção neste artigo estará especialmente centrado no olhar dos jovens para o trabalho e para a educação, e especialmente para a educação em nível superior. Defende-se a necessidade de incorporar, nos estudos sobre a universidade e suas transformações recentes, um olhar para os sujeitos sociais. E ainda que esses sujeitos não sejam apenas jovens, uma vez que as análises tornam evidente a incorporação cada vez maior de adultos em seu interior3, o texto aqui proposto tem como foco os segmentos juvenis.

No campo do trabalho, os jovens brasileiros estão transitando para a vida adulta como membros de uma geração que nasceu e está vivendo seu presente em dois contextos significativamente diversos. Nasceram na década de 1990, no ápice de um período marcado pela instabilidade econômica, pela diminuição dos postos de trabalho, especialmente do emprego formal e assalariado, pela introdução de mecanismos de flexibilização das relações trabalhistas, pelos reduzidos rendimentos do trabalho como regra geral (GUIMARÃES, 2011, DIEESE, 2012).

Hoje, vivenciam um cenário caracterizado pela expansão das oportunidades de trabalho, especialmente no mercado formal, que se acentua como tendência desde o inicio dos anos 2000, com relevante ampliação da renda do trabalho e das famílias. Ao mesmo tempo, esses mesmos sujeitos constituem a primeira geração que viveu importantes alterações do sistema educacional, com ampliação do acesso em todos os níveis de ensino, a despeito dos limites que ainda persistem, em especial no tocante à qualidade do ensino. De todo modo, os referidos avanços não parecem ter eliminado os traços desiguais que caracterizam os percursos e trajetórias juvenis, o que fica evidente quando considerados os trajetos, experiências e projetos dos sujeitos do presente artigo: jovens moradores de regiões periféricas do município e egressos de programas públicos dirigidos a jovens de baixa renda. A partir desta breve introdução, o presente artigo pretende tecer algumas considerações em torno das relações entre trabalho, educação e juventude enquanto construções sociais, para em seguida apresentar parte dos resultados de uma pesquisa4 que encontrou dilemas, expectativas e projetos (ou a dificuldade de sua elaboração) em relação ao ensino superior.

A SINGULARIDADE DA RELAÇÃO ENTRE ESCOLA, TRABALHO E JUVENTUDE NO BRASIL

A relação dos jovens com o trabalho e com a escola pode ser concebida como uma construção social, variando de maneira significativa no tempo e no espaço, e de forma dependente do modo de inserção dos indivíduos na estrutura social. Em momentos históricos nos quais a vida, o aprendizado e o trabalho estão intrinsecamente imbricados, esta relação fica desprovida de sentido. É no bojo da constituição do sistema capitalista, com a expansão do assalariamento e da escolarização da população que emerge a necessidade de uma passagem da escola para o mundo do trabalho. A própria condição juvenil estaria na origem desse processo, sendo a juventude marcada como o tempo de dedicação aos estudos e de preparo para a entrada no mundo do trabalho.

Esta condição, porém, atingiu inicialmente os homens e as camadas privilegiadas da população, para apenas no século XX estender-se aos demais segmentos da população. Nessa perspectiva, "a vivência da experiência juvenil passa a adquirir sentido em si, e não mais somente como preparação para a vida adulta" (ABRAMO, 2005, p.43). No entanto, em alguma medida, o modelo aristocrata e burguês de viver e representar a juventude resiste e ainda parece persistir com força, funcionando como padrão ideal de vivência da condição juvenil (ABRAMO, 2005), mesmo em países como o Brasil, onde o próprio trabalho contribui para constituir uma ideia de juventude, como ficará evidente a seguir.

Do mesmo modo, importantes variações na relação escola-trabalho podem ser encontradas considerando os modos como se organizam os sistemas educacionais e os mercados de trabalho em diferentes contextos sociais. Nos países considerados centrais, a análise dessa relação emerge fortemente articulada com a reflexão sobre o processo de inserção ou de transição da escola para o mundo do trabalho. No âmbito dos estudos sociológicos sobre juventude, a temática ganha força no contexto da massificação escolar e da crise e transformações do mundo do trabalho assalariado a partir do final dos anos 1970. Neste contexto, o cenário predominante nas décadas anteriores, de quase imediata aquisição de uma ocupação regular ao final da escolarização obrigatória, dá lugar a um processo de inserção profissional cada vez mais difícil, longo e aleatório. Ainda que diferentes estudos sobre juventude contestem a centralidade que a questão do emprego (e do desemprego) ganha neste momento, é inegável o lugar da crise do trabalho na menor previsibilidade e nas reversibilidades dos percursos para a vida adulta, levando hoje a se falar em "percursos não-lineares" (ou "trajetórias ioiô"), como indica Pais (2001).

No caso brasileiro, as trajetórias não-lineares sempre foram a marca dos percursos profissionais no país, e não apenas dos jovens. Diferentemente dos países europeus, aqui as formas institucionalizadas de proteção e o apoio aos desempregados ainda são bastante frágeis, e os empregos protegidos do setor formal sempre se combinaram a uma grande parcela de atividades informais, comumente chamadas de "bicos". (GUIMARÃES, 2002). Nesse sentido, a realidade da grande maioria de jovens e adultos no mercado de trabalho brasileiro sempre esteve muito mais próxima da instabilidade, das idas e vindas e de um constante "se virar" para conseguir "ganhar a vida".

Aqui não se constituiu como predominante uma transição para o trabalho depois de finalizada a escolaridade básica. Diferentes autores acentuam duas características importantes que marcam o a relação escola e trabalho no país: o ingresso precoce no mercado de trabalho e a conciliação ou superposição de estudo-trabalho. Aqui, boa parte dos jovens envolve com o trabalho, e especialmente com os bicos, desde muito cedo, mobilizando múltiplas estratégias para ganhar a vida. Ainda que nos últimos anos a presença dos jovens na escola básica e na universidade tenha se ampliado de maneira significativa, o trabalho é intensamente presente em seus trajetos.

Os estudos que procuraram compreender a relação dos jovens brasileiros com o trabalho e com a escola datam dos anos 1970. Até esse período, eram os jovens estudantes de classe média, e não os trabalhadores que estavam no centro da preocupação de pesquisadores como a já referida Foracchi (1972), dentre outros. Será apenas com a expansão do ensino público e do acesso aos bens de consumo – por meio da disseminação dos meios de comunicação de massa, do crescimento das oportunidades de trabalho e de mecanismos variados de acesso ao crédito – que a identidade jovem é estendida também àqueles que não são apenas estudantes, ou que estudam e trabalham ao mesmo tempo. Já nos anos 1980 emergem estudos buscando compreender os trajetos de estudantes trabalhadores e a importância do trabalho entre os jovens, inclusive para a constituição de uma identidade juvenil (MADEIRA, 1986). Para além da questão da necessidade de sobrevivência ou ajuda à família, o trabalho juvenil permitia que parte da renda proporcionada por ele pudesse ser utilizada pelo jovem para seu próprio consumo, seja para aquisição de vestimentas e calçados, seja para atividades culturais e de lazer, ou mesmo para viabilizar a continuidade de seus estudos (MADEIRA, 1986; MADEIRA; BERCOVICH, 1992, corroborados mais recentemente por outras pesquisas (CORROCHANO, 2001; 2012; DAUSTER, 1992; MARTINS, 1997; SPOSITO, 2005).

A crise dos anos 1990 levou à reversão da tendência que vinha se observando até então, de aumento da presença de jovens em ocupações mais protegidas. Como revela Montalli (2004), análises quantitativas evidenciaramperda de postos de trabalho para aqueles que eram os principais mantenedores das famílias – chefes e seus filhos, bem como filhas maiores de 18 anos. Diante dessa mudança, o fenômeno mais visível é o aumento da participação da cônjuge ou companheira e da mulher chefe de família no mercado de trabalho (MONTALLI, 2004). Por seu turno, os jovens receberam o maior impacto da retração do emprego na segunda metade da década de 1990 e seu patamar manteve-se elevado mesmo após 2005, quando a taxa de desemprego geral tendeu a diminuir.

É especialmente no contexto dos anos 1990 que o debate sobre o papel da educação e da qualificação profissional, bem como sobre a inserção de jovens no mercado de trabalho, ganha visibilidade na cena pública brasileira. Amplia-se o volume de análises que procuram compreender os modos como os jovens vivem e significam o trabalho esua crise com destaques para o desemprego e as especificidades da transição escola-trabalho no Brasil (CORROCHANO; NAKANO, 2009). De modo geral, a maior parte das referidas análises procura evidenciar que o trabalho permanece sendo uma categoria central, em meio às crescentes dificuldades dos jovens para "encontrar um trabalho", e especialmente um "verdadeiro trabalho" (na palavra dos próprios entrevistados), levando à produção de novos e diferenciados sentidos, que refletem perfil, trajetória e contexto social em que se inserem (CORROCHANO, 2012; GUIMARÃES, 2005; TARTUCE, 2010).

Ao mesmo tempo, é nesse contexto que se ampliam as oportunidades escolares, tornando mais complexa a compreensão dos nexos entre escola e mundo do trabalho no Brasil. Tal como afirma Sposito (2005, p. 124), "na crise da mobilidade social via escola, configura-se uma ambiguidade caracterizada pela valorização do estudo como uma promessa de futura e uma possível falta de sentido que encontram no presente", o que fica mais evidente entre os jovens que não estão inseridos em outros espaços de sociabilidade e socialização para além do espaço escolar.

De todo modo, permanece como característica a simultaneidade da participação na escola e no mercado de trabalho: os jovens demoram mais para sair da escola, mas em relação à entrada no mercado de trabalho, a variação é menos expressiva. A juventude brasileira é uma juventude trabalhadora.

Este debate em torno da presença do trabalho na vida dos jovens brasileiros, que combinada com a participação na escola, vem se fortalecendo nas análises e nos debates em torno da educação básica e no ensino médio. A pergunta sobre quem é o aluno do ensino médio, seus trajetos e projetos ganha força5, ainda que persistam limites na compreensão desse sujeito. No entanto, ainda são incipientes os estudos que buscam concentrar sua atenção sobre o novo perfil do estudante do ensino superior. Algumas análises chamam atenção para o aumento da presença do adulto trabalhador neste nível de ensino (COMIN; BARBOSA, 2011); o que podemos dizer do jovem trabalhador? Um outroaspecto bastante investigado diz respeito ao caráter privatizante da expansão do ensino superior, em especial em função do Prouni6, mas poucos procuram, como faz Almeida (2012, p. 11), "integrar, outras dimensões como as vicissitudes do acesso e da permanência de jovens de baixa renda provenientes do ensino médio público, as particularidades dos processos seletivos, a emergência de um novo perfil social de estudante universitário, dentre outros aspectos".

Também parece evidente a importância das análises que acentuam a visão economicista que tem predominado na educação superior, levando alguns autores a chamarem atenção para a geração de um "ethos instrumental utilitário e comercial do conhecimento", que afeta as atividades acadêmicas, pelas recorrentes exigências de valor mercadológico (GEORGEN, 2010, p. 898). Sem desconsiderarmos a importância dessa questão, o que se reitera é a necessidade de articular questões estruturais mais amplas aos trajetos e projetos desse novo público que chega ao ensino superior. Na perspectiva de oferecer uma contribuição nesse sentido, apresentar-se-ão, a seguir, os olhares e os projetos (ou a ausência de projetos) de um dos segmentos que mais ampliam sua presença no ensino superior na última década: o contingente de jovens trabalhadores oriundos de famílias de baixa renda.

TRABALHAR PARA ESTUDAR: O PERCURSO DOMINANTE ENTRE OS JOVENS DE BAIXA RENDA

Para a reflexão proposta, resgata-se no presente tópico uma pesquisa de campo, de caráter qualitativo, realizada junto a jovens inseridos em um programa público no Município de São Paulo, denominado Programa Bolsa Trabalho (PBT)7. Trata-se de um programa através do qual se desenvolveu, na gestão municipal do período 2001-2004, uma estratégia específica de enfrentamento dos crescentes índices de desemprego juvenil: a retirada ou retardamento do ingresso de jovens no mercado de trabalho, por meio da transferência de renda e do incentivo do retorno ou permanência na escola, aliado à oferta de atividades de caráter educativo.

Entre o primeiro semestre de 2005 e o início de 2006 foram entrevistados 38 jovens com idades entre 19 e 23 anos, egressos do PBT há pelo menos um ano. A chegada até eles foi realizada em etapas, tendo como ponto de partida o banco de dados do programa. Ainda que houvesse certa homogeneidade, especialmente na renda, procurou-se entrevistar jovens de ambos os sexos, identificados de maneira diferenciada em termos de cor/raça8 e níveis de escolaridade.

As narrativas dos jovens investigados foram organizadas em torno de quatro grupos9: (1) "começando a trabalhar cedo"; (2) "do sonho com o trabalho de verdade à busca pelo trabalho possível"; (3) "em busca de melhores empregos"; (4) "para além do trabalho, em busca de novas possibilidades". Embora os jovens estivessem próximos em termos de renda e condições de vida, foi possível observar uma miríade de sentidos atribuídos ao trabalho e à sua ausência, e em particular ao que costumeiramente se denomina desemprego. Essa diversidade pôde ser percebida a partir das inter-relações entre diferentes esferas: do trabalho, da escola, da família. Para alguns dos jovens entrevistados, também se mostrou significativa a experiência de formação pessoal e trabalho de longa duração em uma cooperativa de geoprocessamento de dados. O acesso e os projetos de acesso ao ensino superior, ou suas limitações e ausências, também se apresentaram de maneira diversa para cada um desses grupos – um aspecto a que também dedicaremos especial atenção aqui.

O primeiro grupo – Começando a trabalhar cedo – é constituído por jovens10 cujas experiências de trabalho desde muito cedo, em sua própria expressão, formavam o eixo estruturante de suas narrativas. A recorrência da expressão eu sempre trabalhei parecia indicar a presença de um grupo para o qual o trabalho apresenta-se como dimensão central desde antes do término dos estudos. Embora tenham conciliado durante um período de suas vidas as dimensões do trabalho e do estudo, foi o primeiro o eixo de suas preocupações e também de seus pais. São jovens que começaram a trabalhar cedo, quando ainda pequenos ou moleques, em suas próprias palavras, e para os quais a falta de emprego não é nomeada como desemprego, mas como tempo de inventar o que fazer para obtenção de renda e ocupação. Três deles já eram casados e com filhos, outros dois seguiam solteiros; todos estavam há muito tempo trabalhando e não mais frequentavam a escola. No momento da entrevista um deles trabalhava como "camelô", dois como ajudantes gerais em empresas de pequeno porte e outros dois, um rapaz e uma moça, estavam em busca de trabalho. À exceção de um deles, que havia interrompido os estudos ainda na 4ª série do ensino fundamental, os demais finalizaram o ensino fundamental, mas não lograram concluir o ensino médio. É por meio das intrincadas relações que definiam seus lugares nas respectivas famílias; de eventos marcantes em seus percursos, como a chegada de um filho ou a morte do pai; e de suas relações com a escola, que se torna possível interpretar, e compreender, as razões para a interrupção de seus estudos – razões que vão muito além da necessidade que tinham de trabalhar. Suas histórias parecem sugerir que na inter-relação das diferentes esferas – da família, do trabalho e da escola – os já instáveis equilíbrios se alteram.

É forte, em suas narrativas, a recorrência à viração cotidiana, também encontrada na vida de muitos adultos. Dado que sequer haviam alcançado o ensino médio, os projetos de ingresso no ensino superior não ganharam centralidade em suas narrativas. Ainda assim, o que se notava era umacerta ambivalência quanto à relação entre escolarização e perspectivas de trabalho. Esses jovens ainda atribuíam à escola a possibilidade de subir na vida, ter um futuro e um trabalho melhor, associado a um trabalho que ocupasse mais a mente do que o corpo – principalmente no caso dos jovens que realizavam trabalho que exigia o uso de certa força física. Mas ao mesmo tempo reconheciam sua insuficiência e neste caso ganhavam a cena exemplos de casos de amigos que chegaram até o ensino superior e estavam desempregados.

É instigante notar que a dificuldade em seguirem a escolarização não é apresentada por esses jovens como algo que estivesse relacionado às suas capacidades e disposições individuais. Assim, o fato de terem saído da escola antes de completarem o ensino fundamental ou médio vem sempre relacionado a barreiras mais amplas de ordem social, familiar, econômica e da própria escola. Cabe notar que alguns deles se referiam às dificuldades que passaram a ter ao se matricularem no ensino médio, geralmente em escolas um pouco mais distantes de suas residências, onde não eram conhecidos e não conseguiam negociar os horários de entrada e saída, pontuando a necessidade de escolas mais flexíveis, considerando-se a realidade de trabalho desses jovens. É uma escola que não cabe na vida, uma vida marcada pelo trabalho.

Acho que é meio difícil, assim, caber à escola, mas acho que... sei lá, acho que não depende só da minha vontade, assim, porque realmente se fosse pra estudar não ia ter como eu entregar... se passasse trabalho pra mim, por exemplo, hoje, não ia ter como entregar amanhã ou depois de uns dois dias, a não ser se fosse pra... se arrumasse professor assim pra pegar meus trabalho em fim de semana, ou na sexta-feira, assim, quem tinha como, porque o tempo também é muito corrido assim, aí não dá. (Evaldo, 20 anos, preto, ensino fundamental completo).

Eu terminei a 8ª e aí comecei a estudar no Dulce [nome de uma escola fora do bairro], lá em baixo, que aí [referindo-se à escola mais próxima da sua casa] não tem nem primeiro nem terceiro, né. Tô estudando lá, aí começou já a complicar o horário, né, tipo aqui na escola era bom que eu tinha já uma regalia que eu era conhecido há bastantes anos, tava aí faz tempo, então sempre abriam o portão pra eu entrar quando eu chegava atrasado, já lá no Dulce não teve. Aí eu fui parando, fui parando, fui parando, não tinha como provar que eu tava trabalhando, que é um trampo que não tem como você provar pra ninguém que você trabalha. Aí eu falei: ah, quer saber? Aí eu parei, aí eu parei de estudar. (Wander, 20 anos, pardo, ensino fundamental completo).

Há um empenho inicial na busca pela continuidade da conciliação de estudo e trabalho. Mas, a partir dos diferentes episódios familiares e da própria dificuldade da instituição escolar em atender a esses jovens trabalhadores, eles acabam interrompendo sua escolarização. A expectativa de continuidade dos estudos, inclusive em nível superior passa então a recair sobre os mais jovens da família: irmãos ou filhos – ainda que a possibilidade de retorno à escola para eles não esteja completamente fechada. Aqui se percebeu pouco espaço para que esses jovens pudessem tomar distância das injunções do dia a dia, de modo a se construírem como sujeitos em uma ação contínua sobre si mesmos, confrontando-se de maneira crítica e autônoma em relação à sociedade. Estando eles fortemente enredados pelas necessidades da vida, destaca-se como central a necessidade de criar estratégias para ingressar e permanecer no mundo do trabalho, distanciando-se de qualquer projeto efetivo de continuidade dos estudos.

No segundo grupo encontra-se a maior parte dos jovens11 que foram entrevistados: jovens que haviam passado do sonho com o trabalho de verdade à busca pelo trabalho possível. A recorrência com que argumentaram em torno do nunca trabalheifoi oferecendo pistas para a possibilidade de constituir um grupo diverso dos demais. Diferentemente do grupo anterior, aqui o trabalho parece ter se constituído em questão importante um pouco mais tardiamente. Nesse sentido, o emprego e o desemprego também assumiram conotações diferenciadas. E o ensino superior, embora mais presente em seus projetos em comparação ao grupo anterior, ainda aparece como algo muito distante, apenas possível depois de ser encontrado um "emprego de verdade".

À época da entrevista, todos haviam finalizado o ensino médio, mas não haviam conseguido um trabalho de verdade, um lugar no universo do mundo assalariado com inserção regular e regulamentada. Mesmo que grande parte já tivesse exercido diferentes tipos de trabalho remunerado, especialmente no emprego doméstico e na entrega de panfletos (caso das moças) ou na construção civil e como office boy (caso dos rapazes), era recorrente a declaração de que nunca haviam trabalhado, de verdade. O verdadeiro ingresso no mundo do trabalho aconteceria quando encontrassem um emprego assalariado e com registro em carteira, mas não apenas.

O trabalho de verdade deveria significar jornada, salário regulares e condições de trabalho adequadas. Além disso, deveria permitir tempo para si e as outras dimensões da vida. Dado que moravam em locais distantes daqueles onde se encontravam as vagas, era sempre difícil encontrar aquelas que não significassem preencher toda a sua vida apenas com trabalho. E perambulavam de bico em bico, não apenas para experimentar diferentes trabalhos, mas também porque tentavam escapar de condições aviltantes e salários muito baixos. Ao falar das experiências nesses diferentes bicos, remetiam a situações de exploração, humilhação e assédio sexual (significativo no caso das moças), esboçando uma crítica em relação aos modos de inserção oferecidos, apontando para uma possibilidade de tomar distância dessas injunções e abrindo-se para a dimensão ética de sua experiência individual.

Quando esses jovens finalizaram o ensino médio, o grau de escolaridade alcançada lhes dava a perspectiva de que encontrariam o trabalho de verdade; aliás, isso seria o mínimo, depois de tantos anos de estudos. Cabe ressaltar a recorrência com que enfatizavam que haviam "terminado os estudos" com a conclusão da escolaridade básica. À medida que o tempo passava, as inúmeras dificuldades encontradas nessa busca tornavam-se cada vez mais visíveis e, pouco a pouco, se reduziam as expectativas. Seria preciso algo além do ensino médio? O ensino superior, talvez, mas eram escassas as condições para que frequentassem esse nível de ensino. Restava então projetar a realização de cursos profissionalizantes, o que, para além da já conhecida ideia de "empregabilidade"12, era percebido como maneira de escapar aos estigmas a que estavam sujeitos.

O projeto de acesso ao ensino superior era bastante longo e deveria ser realizado em etapas: em primeiro lugar realizar um curso profissionalizante "forte e em escola de renome", em segundo lugar alcançar "o emprego de verdade" e, talvez, depois de adquirida certa estabilidade, o ensino superior. O ingresso no ensino superior público não emerge como uma alternativa em suas narrativas; do mesmo modo, nenhum programa de apoio à inserção na universidade privada se faz presente. O fato de terem sido entrevistados no início do Prouni, em 2006, pode explicar apenas parcialmente a ausência de referência a qualquer possibilidade de bolsa para frequentar esse nível de ensino, dado que nos grupos que serão considerados adiante, o acesso ao ensino superior se dá por meio de programas de bolsas.

Entre esses jovens se verifica um movimento que toma conta do mercado de trabalho como um todo, a necessidade de formação contínua (TARTUCE, 2010). Todavia, diante das dificuldades de ingressar no mercado de trabalho (dos próprios entrevistados e de muitos de seus amigos referidos), eles começavam a questionar a utilidade dos cursos. O papel da educação nesse processo, fosse do ensino superior, fosse dos cursos de um modo geral, era mais ambíguo. Valeria a pena gastar dinheiro com o ensino superior ou com cursos se mesmo os que os frequentavam não estavam conseguindo trabalho? E aqui emergem os vários relatos de amigos que, mesmo tendo realizado bons cursos, encontravam-se desempregados. As falas também se estendem ao ensino superior, com ambiguidades muito fortes: quem faz faculdade também está sem trabalho e, ao mesmo tempo, fazer faculdade pode significar conseguir um "lugar melhor na fila do desemprego" (HASENBALG, 2003). Além disso, a valorização de uma maior escolaridade, especialmente em relação ao ensino superior, também parecia atrelada à possibilidade de evitar situações de humilhação em uma sociedade que valoriza sobremaneira a formação superior. Esses jovens pareciam saber muito bem disso.

Mas também o problema de não ter curso, não ter faculdade é escutar o patrão te humilhar na frente de todo mundo, escutar pessoas falando, aquele cara não tem curso superior, ele é burro. Aí tem que aguentar essas situações. Ou se não você tá trabalhando de camelô e você escuta, aquele cara ali não teve estudo, é burro, tá ali camelando. (Erasmo, 23 anos, branco, ensino médio completo).

O terceiro grupo – em busca de melhores empregos – também era constituído por jovens13 que haviam finalizado o ensino médio, mas nesse grupo encontramos um rapaz e uma moça que já haviam chegado ao ensino superior. Com exceção de um único jovem, todos haviam alcançado um trabalho com registro em carteira, ao menos em algum momento de seus trajetos. Esse não era visto, porém, como o ponto final ou como o ápice de seus percursos profissionais. Chama a atenção o desejo de partir (ainda que não imediatamente) em direção a outras experiências de trabalho, que lhes permitissem não apenas ter melhores salários e condições de trabalho, mas também a possibilidade de alcançar seus projetos de formação e realização profissional, tendo o ensino superior um papel significativo aqui.

Para eles, a questão era não se acomodar, crescer, correr atrás: palavras e expressões muitas vezes repetidas. Aqui mais claramente se observa a tensão entre as demandas de inserção social, as estratégias instrumentais e o trabalho crítico de si mesmo. Estes jovens procuravam integrar-se socialmente correndo atrás, buscando as estratégias mais adequadas em função de seus interesses e ao mesmo tempo, tentavam um distanciamento crítico em relação aos seus empregos. O fato de terem alcançado um emprego com registro formal não os impedia de apontar os problemas vividos e de tecerem críticas às suas condições de trabalho e de salário. De todo modo, percebiam-se como jovens trabalhadores transitando em direção a melhores oportunidades de vida e de emprego (um emprego na área e/ou um emprego de que gostem); o ensino superior estava no horizonte, bem como nas expectativas de suas famílias:

Eu queria muito que a Anita fizesse faculdade porque eu acho que ela fazendo uma faculdade o mercado de trabalho vai abrir mais, sabia? E realmente melhora bastante, você pega o jornal você vê, é estágio pra, é vaga de estágio para quem tá cursando tal ano da faculdade né? Aí tem lá as opções administração, dentista, médico, mais outras áreas que eu não conheço, tem lá um monte de coisas, então eu acho que é mais oportunidade pra quem terminou ou tá cursando. O mercado de trabalho tá muito competitivo... O mercado de trabalho tá muito competitivo, sabe? Se você tem uma faculdade, tem outro lá na frente que tem pós-graduação, tem duas faculdades, tem mais não sei o que, então eles não vão dar preferência pra você, vão dar pra ele e assim, vai fulano vai passando fulano, você tem que ter perseverança, tem que ser persistente, sabe? Tem que ter bastante qualidade, provar que você sabe, mesmo que aquele tenha duas ou três faculdades, você tem uma? Você tem que falar pra você 'eu sou melhor, eu vou conseguir', mesmo que você não consiga, mas pro seu eu, pra sua auto-estima. (Isaura, mãe de Anita).

Como é possível observar, em especial para suas famílias e mais particularmente para suas mães, é a preocupação com o "mercado de trabalho" e com a integração nesse mercado que ganha força nos relatos. Entre os próprios jovens desse grupo, outra dimensão assume mais força em seus depoimentos: a dificuldade em decidir que graduação realizar. Nesse aspecto, as relações estabelecidas nos locais de trabalho e a própria experiência de trabalho, pareciam contribuir para a construção de algum projeto. Foi em uma experiência de trabalho que uma das jovens pôde, por exemplo, conviver com jovens que faziam faculdade e assim obter mais informações sobre o ensino superior, algo que ainda hesitava em realizar não apenas pela falta de recursos financeiros, mas também porque não sabia ao certo que curso realizar e lamentava o fato de o ensino médio não tê-la ajudado nesse sentido. Essa dificuldade em realizar escolhas estava muito presente entre os jovens desse grupo e também aqui o ensino superior público não figurava entre seus planos.

Pra coisa acontecer, eu falei: ó eu vou ter que mover os pauzinhos assim, sei lá, correr atrás do prejuízo aí. Aí tive que, sei lá, procurar cursos, sempre fui meio indeciso com questão à faculdade, até hoje eu não fiz faculdade por causa da minha indecisão, eu acho que faculdade é uma coisa... pô, você traçou aquilo durante quatro anos, vai determinar, pô, uma profissão pra você seguir pro resto da vida, eu sempre fui indeciso, mudei até em várias áreas e muitas coisas que eu quero fazer, eu não decidi ainda. Não queria dedicar quatro anos pra fazer uma coisa que, de repente, eu não fosse usar no futuro. [...] Eu ainda estou um pouquinho na dúvida... Se tivesse condições assim de encarar uma Fuvest aí, ou uma Unesp, então eu até daria as caras lá pra fazer medicina, mas eu não tenho essa preparação, talvez no futuro eu tenha, mas hoje não. (João, 20 anos, branco, ensino médio completo).

Os dois jovens que cursavam o ensino superior privado o faziam por intermédio de uma bolsa de estudos do Programa Escola da Família14. Ainda que apontassem a importância do Programa para o acesso a esse nível de ensino, reclamavam da necessidade da contrapartida pela bolsa recebida: trabalhar, todos os finais de semana, em escolas do bairro. Ambos percebiam claramente os limites de uma ação pública dessa natureza: estavam trabalhando precariamente nos finais de semana, o que, além de excluir a possibilidade de contratação de um profissional regular para o trabalho exercido, também diminuía enormemente o tempo para estudo e para vivência de outras dimensões importantes da vida – família, lazer, cultura.

Quando comparados aos jovens dos demais grupos, estes indicam ter maiores chances de escolha. Mas essas possibilidades também variavam fortemente, dada a condição material de suas famílias: uma pequena alteração nessa esfera acabava por produzir mudanças na relação dos jovens com as demais esferas, o que implicava considerar os constrangimentos estruturais aos quais estavam sujeitos. Mas o que também se observa é que mesmo quando a condição material de suas famílias dificultava suas possibilidades de experimentação, eles apostavam com mais força nas melhores perspectivas no futuro. Mesmo com limites, a esperança de que ainda poderiam realizar coisas e projetar um futuro melhor despontava como suporte em suas vidas, para além daquele encontrado na família. Ocorre que parte importante da construção desse futuro era percebida como uma tarefa fortemente individualizada, o que também poderia levá-los a se sentirem responsáveis por seu próprio fracasso (DUBET, 2002).

ESTUDAR PARA TRABALHAR NA ÁREA

No quarto grupo15 analisado –para além do trabalho, em busca de novas possibilidades –,o olhar para o mundo do trabalho e para a educação, especialmente para a educação superior, apresenta-se de maneira um pouco diversa dos demais grupos. Trata-se de um grupo composto de jovens orientados pelo distanciamento das demandas mais imediatas, construindo uma experiência que permite o alargamento de sua capacidade crítica, aproximando-os da figura do indivíduo ético caracterizada por Dubet (2005). Todos já haviam finalizado o ensino médio e nenhum deles havia conseguido uma experiência de trabalho formal. Esse não era, contudo, o centro de suas preocupações à época da entrevista: suas expectativas eram fortemente direcionadas à busca por um trabalho na área correspondente ao curso que almejavam realizar, um trabalho profissional, atrelado à realização do ensino superior.

Neste grupo, diversamente dos demais, tanto os projetos de trabalho, quanto de realização do ensino superior, algo conquistado por dois deles, afastavam-se de uma lógica mais instrumentalizada. Eram jovens que expressavam importantes críticas tanto ao trabalho assalariado, quanto aos cursos em nível superior que conseguiam frequentar. Se nos demais grupos a relação dos jovens com o trabalho e a ausência de trabalho apresentou-se inter-relacionada às esferas da família e da escola, aqui, verificou-se a entrada de um quarto elemento: a participação desses jovens na experiência de formação de uma cooperativa. Enquanto experiência de formação pessoal e profissional mais duradoura, marcou fortemente o modo como passaram a perceber e se relacionar com as esferas do trabalho e da educação. Cabe ressaltar, no entanto, que não se está falando aqui de quaisquer experiências educativas ou da miríade de projetos e cursos oferecidos aos jovens nos últimos anos (SPOSITO, 2007). O fato de participarem de uma experiência que lhes possibilitou maiores chances de circulação, ampliação dos repertórios e de contatos, acesso a informações, habilidades na área de geoprocessamento e em outras áreas, experiências de trabalho, também pode ter impactado suas vidas de uma maneira significativa.

Mesmo que não mostrassem adesão irrestrita e incondicional à experiência da cooperativa, a mudança de olhar a partir dessa vivência foi significativa. De fato, esses jovens estavam se esforçando intensamente para imprimir alguma direção a seus destinos. Uma das falas, sobre o tão demandado "trabalho com registro em carteira" sintetiza a diferença de suas percepções:

Aí a cooperativa mudou tudo, né? Não é somente a carteira assinada pra dar o seu RG de trabalho, o seu RG de trabalho não é só carteira assinada e sim o seu conhecimento e a coisa que você tá desenvolvendo. Eu sou totalmente diferente, do pensar da minha mãe, que minha mãe pensa carteira assinada e ponto final, eu penso vírgulas e aí depois carteira assinada. (Alessandro, 22 anos, preto, ensino médio completo).

O que eu não quero é alguns tipos de trabalho mais exploradores, que fique focado em uma coisa só, pra mim tá fora de cogitação [...] a cooperativa abriu uma visão pra esse lado, tipo, do sistema que a gente vive, da forma de trabalho, como que tá... então, eu acho que eu tô com a mente bem aberta pra isso. (Cleiton, 20 anos, preto, ensino médio completo).

A possibilidade de "trabalhos menos exploradores" estava na cooperativa, mas também no ensino superior, no "trabalho na área". Era também a perspectiva de se tornarem "mais cidadãos" que os mobilizava na busca por uma graduação, marcando uma diferença em relação aos demais grupos. No entanto, o passar do tempo e as dificuldades em encontrar apoio material na cooperativa, nas famílias e no Estado, faziam com que a perspectiva de busca de um "emprego explorador" voltasse a figurar em seus planos, uma vez que seria o emprego a "ponte" para o financiamento da faculdade e da possibilidade de um "trabalho na área".

Emprego, emprego, emprego... Pra mim é assim, é meio que assim... é como uma escada. Eu pensava em algo pra alcançar algo, tipo uma ponte, né? Eu pensava assim, eu trabalharia em um supermercado de sol a sol sim, mas para quê? Pra conseguir dinheiro pra fazer faculdade pra arrumar emprego melhor. Tinha consciência que ia fazer faculdade, tinha perspectiva de fazer faculdade já... Por isso que eu me excluo da maioria porque a maioria não tem perspectiva mesmo... eu sei como que é a realidade, sei disso, entendeu? De você perguntar pra uns amigos, e aí: o que você vai fazer? 'Vou fazer nada, que faculdade que nada.' Acontece muito. Mas eu tinha sempre esse pensamento de fazer faculdade, tal, não sei o que, tal... E aí se eu arrumasse um emprego e tal, mesmo que trabalhasse direto pra mim era isso, tal... Mas aí, hoje em dia, agora assim, que eu quero fazer faculdade... O problema é que sou muito ansioso às vezes, sei lá, ansiedade, de você ver as coisas acontecendo... Você vê... um colega arrumou um emprego legal, fez faculdade, outro comprou uma moto. E eu estou na cooperativa... cooperativa... cooperativa... e o negócio não anda... [risos]. É que todo mundo tem um sonho individual também, né? É um sonho antigo, nosso trabalho também já é o social também, nosso trabalho se mantém e com isso, também ajuda toda a população, nosso trabalho é super legal, mas também quero ver a coisa como indivíduo. Como falei, jovem quer ver, quer dinheiro agora... também o pessoal tem a maior pressão em casa... (Cleiton, 20 anos, preto, ensino médio completo).

Um ano depois, quando voltamos a entrevistar esses jovens, dois deles haviam alcançado o ensino superior privado e, muito embora tendo conseguido bolsa de estudos por intermédiodo Prouninão deixaram de pontuar as dificuldades para arcar com os outros custos: o transporte, alimentação, a compra de material, dentre outros aspectos. Soma-se a isso a dificuldade em alcançar o "trabalho na área" e a qualidade duvidosa dos cursos nas instituições que alcançaram. A família permanecia como um suporte central, mas também aqui, foco de algumas tensões: enquanto tentavam driblar as dificuldades para permanecer na faculdade sem um trabalho que lhes ocupasse todo o tempo, eram pressionados a encontrar um "trabalho de verdade", com jornada integral e maiores salários.

De todo modo, a despeito das dificuldades, entre os jovens desse grupo as esperanças consolidadas na ideia do ensino superior, no desejo em dar continuidade à escolaridade, inclusive em nível de pós-graduação, operavam suporte de extrema relevância. E se pareciam mais otimistas em virtude da abertura de horizontes a partir das experiências que haviam vivenciado, não se pode ignorar as possibilidades de perdas nessa busca de realização de si e de seus projetos, diante de chances tão restritas de efetivá-los.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vivendo em um contexto de mutação e fragilização das instituições tradicionais no processo de socialização, um aspecto comum sinalizado pelos jovens dos quatro grupos estudados relaciona-se à necessidade e ao desejo da maior presença de outras instituições em suas vidas, para além do grupo familiar, na perspectiva de tornar menos dramáticos e solitários os seus percursos em direção à vida adulta. Não necessariamente instituições como "grandes orquestras, com um deus escrevendo a partitura ou um chefe sendo intérprete" (DUBET, 2002, p.403), mas mediações institucionais para que não permanecessem tão restritos ao âmbito do privado, o que também poderia levá-los a se sentirem mais responsáveis por seus fracassos.

Especialmente em relação ao ensino superior, observa-se que, mesmo diante da inegável ampliação do acesso a esse nível de ensino nos últimos anos, ainda que majoritariamente no ensino superior privado, há um contingente significativo de jovens que sequer projetava a realização desse nível de ensino, ao mesmo tempo que não encontra possibilidades de formação em outros tempos e espaços, permanecendo fortemente premidos pela necessidade de responder às necessidades materiais de existência.

Para outra parcela dos entrevistados, ainda que o ensino superior aparecesse como uma possibilidade futura, acentuava-se a necessidade de percorrer um longo e solitário caminho para seu alcance. É o alcance de uma inserção ocupacional mais duradoura, em um futuro longínquo, que poderá possibilitar o alcance desse nível de ensino. Aqueles que efetivamente atingem o ensino superior não deixam de pontuar seus limites, seja na perspectiva de uma formação cidadã de qualidade, seja na perspectiva da realização de seus projetos de "trabalho na área".

As limitações do ensino médio para a orientação e realização dos projetos de inserção e de continuidade de estudo desses jovens são fortemente presente. É apenas uma experiência educativa, no contexto não escolar – a cooperativa de geoprocessamento de dados – que provoca a reflexão sobre a realidade e os projetos de educação e de trabalho de uma parte desses jovens, tornando evidente a necessidade de maiores suportes nessa direção.

Por fim, os bloqueios, a diversidade de sentidos e de projetos presente nos trajetos desses jovens, especialmente no que se relaciona ao ensino superior, reiteram a necessidade de um aprofundamento do olhar para as novas gerações que ampliam sua presença nesse nível de ensino. Entender a origem, as experiências, os projetos e os sonhos desses jovens trabalhadores estudantes, para construir uma educação superior que amplie as perspectivas pessoais e profissionais de um amplo contingente da população, persistindo na trajetória política de sua efetiva democratização, são, portanto desafios contemporâneos dos estudos sobre juventude, trabalho e educação.

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  • 1
    Conforme o Censo Demográfico de 2010 houve um aumento de pessoas com nível superior completo no Brasil, ainda assim, o percentual permanece baixo, girando em torno de 7,9% da população. Disponível em <
  • 2
    Especialmente pelo fato de a expansão ocorrer predominantemente pelo setor privado. Sobre este aspecto, ver Dias Sobrinho (2010), Martins (2009) e Almeida (2012).
  • 3
    Em recente artigo Comin e Barbosa (2011), analisando dados das PNADS, destaca que boa parte dos "novos graduados" são trabalhadores e adultos, que acessam o ensino superior em função das condições do mercado de trabalho e da inserção ocupacional já conquistada.
  • 4
    Refiro-me à tese de doutoramento que apresentei à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Fapesp, em 2008. O estudo tinha como objetivo central compreender o lugar do trabalho e da falta de trabalho entre jovens de baixa renda do Município de São Paulo, bem como suas inter-relações com a família e a esfera educacional (CORROCHANO, 2012).
  • 5
    Sobre o alcance dessa preocupação em entender o ensino médio e seus sujeitos, ver Portal Em Diálogo – Ensino Médio em Diálogo. Disponível em: <
    www.emdialogo.uff.br>. Acesso em:14 dez. 2012)
  • 6
    O Programa Universidade para Todos (Prouni) tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação, em instituições privadas de educação superior. Foi criado pelo Governo Federal em 2004 e regulamentado pela Lei n. 11.096, em 13 de janeiro de 2005. Oferece, em contrapartida, isenção de alguns tributos às instituições que aderem ao Programa, um aspecto que tem mobilizado um conjunto significativo de críticas (ALMEIDA, 2012).
  • 7
    Doravante nomeado como PBT.
  • 8
    Utiliza-se aqui o conceito sociológico de raça na perspectiva de Antonio Sergio Guimarães (2003).
  • 9
    Para detalhes sobre os caminhos da análise, ver Corrochano (2012).
  • 10
    Este grupo era composto por quatro rapazes e uma moça; três deles declararam-se pretos e dois pardos. A classificação em termos de cor/ raça seguiu o padrão do IBGE (branco, preto, pardo, amarelo) por meio de auto-declaração.
  • 11
    18 jovens (13 moças e 5 rapazes), predominantemente negros (10 pretos e 4 pardos).
  • 12
    "[...] No plano ideológico, desloca-se a responsabilidade social para o plano individual. Já não há políticas de emprego e renda dentro de um projeto de desenvolvimento social, mas indivíduos que devem adquirir competências ou habilidades no campo cognitivo, técnico, de gestão e atitudes para se tornarem competitivos e empregáveis. Os desempregados devem buscar 'requalificação' e 'reconversão profissional' para se tornarem empregáveis ou criarem o auto-emprego no mercado informal ou na economia de sobrevivência" (FRIGOTTO, 1998, p. 15).
  • 13
    Cinco mulheres e dois homens, com idades entre 19 e 23 anos. Quanto à cor/raça, três deles declararam-se brancos, dois pardos e duas jovens pretas.
  • 14
    O Programa Escola da Família (implementado pela Secretaria Estadual da Educação do Estado de São Paulo) tem por objetivo a abertura, aos finais de semana, de escolas da Rede Estadual de Ensino para atividades esportivas, culturais, de saúde e de qualificação para o trabalho. Desde que oriundos da escola pública, universitários até 24 anos podem candidatar-se para atuarem como voluntários no desenvolvimento das atividades, conseguindo com isso uma bolsa para financiar parte da mensalidade de seus cursos. Disponível em: <
  • 15
    Constituído por quatro jovens, três rapazes e uma moça, todos declarando-se pretos.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Mar 2013
    • Data do Fascículo
      Mar 2013
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    Publicação da Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior (RAIES), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Universidade de Sorocaba (UNISO). Rodovia Raposo Tavares, km. 92,5, CEP 18023-000 Sorocaba - São Paulo, Fone: (55 15) 2101-7016 , Fax : (55 15) 2101-7112 - Sorocaba - SP - Brazil
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