Resumo
Partindo da pergunta “Como tem sido ser mulher e mãe em tempos de pandemia?”, o presente estudo convidou mulheres que são mães, em redes sociais virtuais, a partilhar um relato de suas experiências com a readaptação parental em função do distanciamento social causado pela pandemia de covid-19. O objetivo foi refletir sobre a experiência de ser mulher e mãe em tempos de covid-19 e distanciamento social, apontando algumas ressonâncias do cenário pandêmico na subjetividade dessas mulheres. O estudo teve como base o referencial psicanalítico, tanto na construção da pesquisa e análise dos relatos quanto na sua discussão. A análise dos cerca de 340 relatos coletados, os quais variaram de uma breve frase a longos parágrafos, apontou para uma série de questionamentos, pontos de análise e reflexões. A pandemia, e o decorrente distanciamento social, parece ter colocado uma lente de aumento sobre as angústias das mulheres que são mães, evidenciando sentimentos e sofrimentos sempre presentes. Destacaram-se, nos relatos, a sobrecarga das mulheres com as tarefas de cuidado dos filhos e da casa, a culpa, a solidão, a exaustão, e o sentimento de que não havia espaço nesse contexto para “ser mulher”, sendo isso entendido especialmente a questões estéticas e de vaidade.
Palavras-chave: Mulher; Maternidade; Psicanálise; Pandemia; Covid-19
Abstract
Starting from the question “How does it feel to be a woman and a mother in pandemic times?”, this study invited women who are mothers, in virtual social networks, to share their experiences regarding parental adaptations due to social distancing caused by the COVID-19 pandemic. The objective was to reflect on the experience of being a woman and a mother in the context of COVID-19 and of social distancing, pointing out some resonances of the pandemic scenario in the subjectivity of these women. The study was based on the psychoanalytical framework, both in the construction of the research and analysis of the reports and in their discussion. The analysis of about 340 collected reports, which ranged from a brief sentence to long paragraphs, pointed to a series of questions, analysis topics, and reflections. The pandemic, and the resulting social distancing, seems to have placed a magnifying glass over the anguish of women who are mothers, showing ever-present feelings and suffering. The reports highlighted women’s overload with child and house care tasks, the guilt, loneliness, exhaustion, and the feeling that there was no space in this context to “be a woman,” and it extends to aesthetic and vanity related questions especially.
Keywords: Woman; Maternity; Psychoanalysis; Pandemic; COVID-19
Resumen
A partir de la pregunta “¿cómo te sientes siendo mujer y madre en tiempos de pandemia?”, este estudio invitó por las redes sociales a mujeres que son madres a compartir un relato de sus experiencias sobre la readaptación parental en función del distanciamiento social causado por la pandemia del covid-19. Su objetivo fue reflexionar sobre la experiencia de ser mujer y madre en tiempos del covid-19 y el distanciamiento social, señalando algunas resonancias del escenario pandémico en la subjetividad de estas mujeres. Este estudio se basó en el marco psicoanalítico, tanto en la construcción de la investigación y análisis de los informes como en su discusión. El análisis de los casi 340 relatos, que variaron de una pequeña frase a largos párrafos, generó en las investigadoras una serie de cuestionamientos y reflexiones. La pandemia y el consecuente distanciamiento social parece haber agrandado las angustias de las mujeres que son madres, evidenciando sentimientos y sufrimientos siempre presentes. En los relatos destacan la sobrecarga de las mujeres con las tareas de cuidado de los hijos y del hogar, la culpa, la soledad, el cansancio, así como el sentimiento de que no hay espacio em este contexto para “ser mujer”, relacionado principalmente a cuestiones estéticas y de vanidad.
Palabras clave: Mujer; Maternidad; Psicoanálisis; Pandemia; Covid-19
Introdução
Em 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recebeu o alerta de que casos de pneumonia estavam surgindo na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República Popular da China. A nova cepa (tipo) de coronavírus ainda não havia sido identificada em seres humanos. Os coronavírus (CoV) são uma ampla família de vírus que podem causar uma variedade de condições: de um resfriado comum a doenças mais graves, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e a Síndrome Respiratória. Aguda Grave (SARS-CoV). O novo coronavírus, responsável por causar a doença covid-19, recebeu o nome de SARS-CoV-2, em fevereiro de 2020 (Organização Pan-Americana da Saúde, 2021). Em março de 2020, a Coronavirus Disease-19 (covid-19) foi caracterizada pela OMS como pandemia1. Tal situação colocou o mundo em alerta (National Health Commission [NHC], 2020; World Health Organization [WHO], 2020; European Centre for Disease Prevention and Control, 2020; Roy, Heesterbeek, Klinkenberg, & Hollingsworth, 2020). Logo, foi declarada pela OMS episódio de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (NHC, 2020). O resultado dessa emergência foi, em grande parte do mundo, a suspensão das atividades de trabalhos presenciais não essenciais, além das atividades escolares, com a finalidade de evitar aglomerações e, consequentemente, a transmissão da doença. Em decorrência disso, vários foram e são os desafios enfrentados por mulheres e homens em readaptar suas rotinas e responsabilidades familiares, sendo que, para aqueles que são mães e pais, os desafios enfrentados têm características particulares, já que, além de terem que lidar com suas próprias demandas, precisam lidar com as demandas dos filhos (Vescovi, Riter, Azevedo, Pedrotti, & Frizzo, 2021).
As alterações na rotina de trabalho e de cuidados dos filhos, somadas à convivência familiar 24 horas por dia, sete dias por semana, trouxeram à tona conflitos resultantes de sobrecarga de trabalho das mulheres. Segundo as Nações Unidas (2020), a pandemia causada por covid-19 atinge mulheres e homens de formas diferentes, tendo potencial de aumentar a desigualdade de gênero na criação dos filhos (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2020).
Nesse sentido, uma matéria publicada em abril de 2020 na revista The Lily2 indicava que editores de revistas acadêmicas passaram a perceber que mulheres estavam enviando menos artigos para publicação. Em contrapartida, em algumas revistas o número de artigos enviados por homens teria tido um aumento de 50%. Poderiam ser várias as hipóteses que justificariam tal tendência, porém esse movimento ocorreu em um período em que mulheres e homens, mães e pais, precisavam permanecer em casa em distanciamento social.
Ao encontro dessa matéria, uma pesquisa realizada pelo grupo Parent in Science acerca dos impactos da pandemia de covid-19 na produção acadêmica dos cientistas brasileiros, considerando fatores como “gênero” e “raça”, mostrou que, apesar do momento ter afetado a produtividade dos pesquisadores como um todo, alguns grupos sofreram maior impacto. A pesquisa, realizada por questionário on-line, incluiu 3.345 participantes, entre docentes, pós-doutorandos e estudantes de pós-graduação, sendo que 68,4% eram mulheres, e 70,7% eram mães ou pais. Os resultados apontaram que parentalidade, gênero e raça mostraram associação com uma menor possibilidade de produção científica (submeter manuscritos dentro dos prazos) durante a pandemia. Mulheres negras, independentemente de terem filhos, e mulheres brancas com filhos (com idade até 12 anos) formaram o grupo mais afetado pela pandemia em relação à produtividade acadêmica (Staniscuaski et al., 2021).
Para além do contexto do trabalho acadêmico, um estudo realizado nos Estados Unidos, a partir de dados do US Current Population Survey, avaliou como casais heterossexuais com dois salários e filhos ajustaram seu horário de trabalho durante a pandemia (Collins, Landivar, Ruppanner & Scarborough, 2021). O estudo apontou que mães com filhos pequenos (de 1 a 5 anos) reduziram suas horas de trabalho de quatro a cinco vezes mais do que os pais no período entre fevereiro e abril de 2020. No subgrupo em que tanto mães quanto pais estavam empregados em ocupações com capacidade para teletrabalho, a redução nas horas trabalhadas por semana foi de quase 4,5 vezes maior para mães do que para pais. Assim, as análises revelam que a desigualdade de gênero nas horas de trabalho dos pais piorou durante a pandemia entre mães e pais com filhos pequenos, mesmo entre aqueles que conseguiam trabalhar à distância.
Nesse sentido, um estudo realizado na Itália sobre exaustão parental durante o lockdown devido à pandemia revelou que a maioria dos pais e mães participantes apresentava um nível clinicamente alarmante de angústia, sendo que mães apresentavam níveis mais elevados de exaustão do que pais (Marchetti et al., 2020). Os níveis mais altos de esgotamento parental se relacionavam aos seguintes fatores: ser solteira(o), ter filhos menores, ter filhos com necessidades especiais, ter grande número de filhos e ser mãe (e não pai). Outro estudo realizado em 2020 em Nova Escócia (Canadá) com mães vivendo o puerpério (com bebês de 0 a 12 meses) apontou para os danos à saúde mental das puérperas decorrentes do enfraquecimento, durante o distanciamento social, das conexões ou recursos de apoio que não estavam dentro do círculo social próximo, mas ainda são vistos pelas mães como confiáveis e valiosos (Ollivier et al., 2021). Ainda sobre a saúde mental de mulheres que são mães no contexto da pandemia, uma pesquisa que contou com a participação de 822 mulheres de todas as regiões do Brasil, com média de idade na faixa dos 37 anos, identificou, por resultados preliminares, que 25% das mães participantes tinham sintomas de depressão; 7%, sintomas de ansiedade; 23%, sintomas de estresse; e 39%, sintomas de estresse pós-traumático (Carvalho & Luchesi, 2021). Ainda nessa mesma linha, um estudo realizado por Schmidt et al. (2020) revelou que o medo de ser infectado pelo vírus afetava o bem-estar psicológico, propiciando sintomas de depressão, ansiedade, estresse, confusão e raiva na população em geral, o que engloba mulheres que são mães. Isso, associado à necessidade de distanciamento social, implica em níveis elevados de estresse, o que compromete a saúde mental das pessoas, em virtude da diminuição das interações sociais e possibilidade de auxílio da rede de apoio, principalmente, em situações de crise (Moraes, 2020).
Embora atualmente esteja se construindo uma nova forma de paternidade, com um ideal de maior participação do homem nos cuidados com os filhos (Silva, Gabriel, Cherer, & Piccinini, 2017), ainda é forte a ideia de que o cuidado da casa e dos filhos é de responsabilidade da figura feminina. Ainda, considerando as diferentes realidades, cabe ressaltar que essa “nova paternidade” é um recorte e diz respeito especialmente a famílias ocidentais, de classe média e de maior escolaridade, e onde há um pai/companheiro presente. Porém, é importante reconhecer que muitas mulheres encaram o sustento do lar, o cuidado com os filhos e as tarefas domésticas sozinhas ou contam com suporte de sua rede de apoio familiar ou comunitária, em geral feminina. Em termos mundiais, encontramos dados importantes - anteriores ao contexto da pandemia - no relatório “Care work and care jobs for the future of decent work” (International Labour Organization [ILO], 2018). O estudo observou dados de 23 países e apontou que, ao redor do mundo, mulheres e meninas realizam três quartos da quantidade total de trabalho não remunerado de cuidado. Além disso, dois terços dos trabalhadores de cuidados remunerados são mulheres. Esse estudo apontou que em nenhum país do mundo homens e mulheres proveem uma parcela igual do trabalho não remunerado de cuidado, ou seja, que a relação de gênero e de cuidado não é equânime.
Assim, a pesquisa que deu origem ao presente artigo surgiu do incômodo com a percepção dessas diferenças entre o trabalho de homens e mulheres durante o período de distanciamento social provocado pela pandemia de covid-19, junto da observação da profusão de relatos de mulheres, nas redes sociais, sobre os desafios de estar em tempo integral com os filhos em casa, sem poder contar com apoios externos como escola, babás e avós, e conciliando os cuidados dos filhos com o trabalho remoto, com as atividades escolares à distância e cuidados da casa.
Diversas foram as indagações que se apresentaram, tanto na construção da pesquisa quanto após a coleta dos relatos. Entre elas, é pertinente destacar: seria a pandemia a causadora do “mal-estar” vivido pelas mulheres, ou o conteúdo por trás dos números e porcentagens das pesquisas diz respeito a algo que se encontra para além do coronavírus e do distanciamento social? Seria esse momento de exceção um período em que se pode mais claramente visualizar a regra?
Somado a isso, mesmo que essa não seja a primeira pandemia enfrentada pela humanidade, ela aconteceu em uma época singular: carregada pela forte presença das redes sociais virtuais, as quais se tornaram uma maneira possível de lidar com a falta da presença física ocasionada pelo distanciamento social (Ollivier et al., 2021), e de compartilhar relatos das vivências que decorrem daquela nova rotina, solo ou familiar. Nesse sentido, considerando que o distanciamento social foi essencial em tal contexto, essa pesquisa buscou legitimar e nomear narrativas que estão para além dos números, reconhecendo e fomentando a potência da escuta nesse contexto imprevisível.
O projeto de pesquisa XX3 que deu origem ao presente artigo lançou nas redes sociais a pergunta: “Como tem sido ser mulher e mãe em tempos de pandemia?”. A escolha pelos termos “mulher e mãe” buscou evidenciar que “ser mulher” e “ser mãe” não estão colados. A maternidade é parte de um processo de construção da identidade de algumas mulheres, mas nem toda mulher deseja e se constrói subjetivamente como mãe. Sobre as mudanças trazidas pela contemporaneidade, Iaconelli (2019) refere que, para muitas mulheres, os filhos não são o único objetivo. Elas se interessam também por ter um trabalho que as reconheça, ter seu próprio dinheiro, têm projetos pessoais. Os termos “mulher e mãe” ainda sugerem que algumas questões podem dizer da experiência de ser mulher e outras da de ser mãe. Dessa forma, admitir que o que há são percursos de mulheres em meio às tessituras das maternidades é, também, estar atento às modificações da cultura e da sociedade acerca da feminilidade.
A Psicanálise fomentou, ao longo dos anos, um acentuado debate sobre o feminino. Esse debate nasceu a partir da escuta de mulheres e do reconhecimento de que as vozes das mulheres histéricas mereciam ser ouvidas. Ao mesmo tempo, Freud admitia seu próprio limite para compreensão das mulheres. De acordo com o autor (1932; 1996), a maternidade surgia como um dos destinos da mulher, sendo que para muitas o tornar-se mãe seria equivalente ao tornar-se mulher. Dessa forma, tornar-se mãe se constituiria como uma saída para tamponar o vazio e a incompletude da figura feminina.
Revisando a literatura psicanalítica de Freud, encontramos a informação de que o percurso de ideias construído acerca da mulher foi pensado em comparação ao homem, desde os ensaios sobre a sexualidade. Em muitos textos, Freud marcou a mulher com um a menos em sua feminilidade, sendo que em 1926 o autor sinalizou que a reconhecia como um continente negro/obscuro de sua invenção.
Freud (1925/1996; 1931/1996) coloca o complexo de castração no cerne da diferenciação do complexo de Édipo em meninos e meninas, momento no qual as crianças percebem a diferença anatômica entre os sexos. O menino, com receio de perder seu pênis, submete-se à lei da interdição do incesto, dissolvendo seu complexo de Édipo. Já, a menina, percebendo-se castrada, entraria na conflitiva edípica buscando no pai o pênis desejado. Como isso não é possível, a menina se resignaria, mas deslocaria seu desejo de ter um pênis para o desejo de ter um filho, através da equivalência simbólica pênis-filho (Freud, 1932/1996). Esse percurso subjetivo da menina foi pensado por Freud como premissa para a mulher assumir sua função social, a maternidade (Freud, 1924/1996). Nesse sentido, Ferrari, Lopes e Piccinini (2013) apontam que, na obra freudiana, conforme equivalência simbólica e do investimento no filho, a mulher, tornando-se mãe, recuperaria a ferida narcísica oriunda da percepção da castração.
Sobre as contribuições freudianas, Kehl (1998) indica que a questão não seria negar a importância da maternidade, mas não mais tê-la como única solução possível para o destino feminino, já que, de fato, maternar confere um importante lugar a muitas mulheres, porém colocá-lo como via exclusiva limita as tantas outras possibilidades de vir a ser da mulher. Ao falar sobre as mudanças que a contemporaneidade trouxe para a vida das mulheres, Iaconelli (2019) afirma que, entre as mudanças, está o abandono da utilização dos termos mulher e mãe enquanto sinônimos, já que, devido a transformações e aspirações pessoais, financeiras e sociais, tais expressões se tornaram cada vez mais distantes.
Ainda, é primordial dizer que reconhecemos que ser mãe é assimilar para si novas características e habilidades, envolvendo um complexo processo de construção. Porém, não há como negar que a representação social construída em torno da mulher ainda sustenta discursos acerca da figura da mãe, do papel e da função materna colocando sobre a mulher protótipos que coadunam com antigos ideais que, por vezes, servem de alicerce para a invisibilidade da mulher que é mãe, podendo ser fonte de sofrimento social na contemporaneidade (Schulte, 2016).
Frente à necessidade de discussões sobre os desdobramentos da contínua reinvenção das mulheres, realizamos, inicialmente, um reconhecimento das temáticas que se evidenciaram nos relatos compartilhados por mulheres que são mães no contexto desta pesquisa. Portanto, o objetivo deste trabalho foi refletir sobre a experiência de ser mulher e mãe em tempos de covid-19 e distanciamento social, apontando algumas ressonâncias do cenário pandêmico na subjetividade dessas mulheres, a partir do referencial psicanalítico.
Metodologia
Esta é uma pesquisa psicanalítica, o que implica dizer que a transferência, a escuta e o desejo do pesquisador sejam admitidos como motores da pesquisa. De acordo com Iribarry (2003), o campo da pesquisa psicanalítica é o inconsciente, o objeto é o enfoque a partir de uma posição do psicanalista/pesquisador a fim de aceder ao inconsciente, e o método é a transferência. Lacan (1958; 1998) refere que o analista sustenta autenticamente sua práxis, ou seja, está implicado seu fazer com sua leitura e com o seu desejo. Nesse sentido, Iribarry (2003) indica que o pesquisador psicanalítico é o primeiro sujeito de sua pesquisa.
Como meios de obter dados, a pesquisa psicanalítica permite a utilização de diferentes procedimentos, levando em conta a inventividade e a singularidade do pesquisador, e de seu objeto de estudo. A maneira como o objeto de pesquisa vai tocar o pesquisador irá participar dessa construção. Tal posição de abertura foi o que permitiu que o impacto produzido pelos relatos de mulheres em redes sociais sobre a maternidade no contexto de distanciamento social - ampliado pela leitura de notícias sobre a “produtividade” feminina - desse origem à pergunta da pesquisa: Como tem sido ser mulher e mãe em tempos de pandemia?
A partir de redes sociais virtuais (Instagram, Facebook, WhatsApp), mulheres que são mães foram convidadas a partilhar um relato ao estilo de diário de suas experiências de readaptação parental em função do distanciamento social estabelecido como estratégia de combate à pandemia de covid-19. A coleta dos relatos deu-se após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foram utilizadas as redes privadas das pesquisadoras, tendo sido a pesquisa também divulgada em jornal eletrônico da UFRGS. A entrada no link da pesquisa direcionava para um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, cujo aceite levava a um formulário Google, no qual o relato podia ser registrado (sem limite de caracteres). Optou-se por não coletar dados das participantes, mas sim apenas um relato livre, ao invés de um questionário com perguntas. Embora essa opção tenha levado a uma perda significativa de informações, teve o propósito de permitir uma escrita mais impulsiva, como um desabafo, e não colocar a pesquisa em uma posição de mais uma tarefa para as participantes.
Nos cerca de dois meses nos quais a pesquisa esteve divulgada nas redes sociais, recebemos aproximadamente 340 relatos, os quais variaram de uma breve frase a longos parágrafos. Como já situado metodologicamente, a Psicanálise como método investigativo opera a partir do fenômeno da transferência. Ou seja, trabalha com o que há de inédito no sujeito e, nesse sentido, parte de questões que afloram do particular, prezando pela singularidade do fenômeno e pela não universalização ou padronização dos resultados. Assim, a análise dos relatos recebidos não busca efetuar nenhuma generalização, mas sim apontar elementos que se destacaram no encontro das pesquisadoras com o material. As temáticas de análise não estavam dadas a priori, e sim construídas a partir da leitura de todos os relatos pelas pesquisadoras, e posterior discussão com o grupo de pesquisa, o qual é composto de docentes em Psicologia Psicanálise, psicanalistas com mais e menos experiência e graduandas em Psicologia. A partir de tais discussões, os seguintes temas foram destacados e compõem a análise propriamente dita: “Ser mãe: sobrecarga, culpa, solidão e ambivalência” e “Ser mulher: vaidade, estética e mal-estar”.
Resultados e discussão
A leitura dos relatos destacou algumas temáticas, as quais foram tomadas como pontos de análise para a realização de uma possível interlocução entre o conteúdo dos relatos e a teoria psicanalítica. Em um dos relatos deparamo-nos com a seguinte colocação: “A inversão da frase mudou muito: mãe e mulher, duvido que alguma mãe consiga ser primeiro mulher...” (Relato 153). Partindo da compreensão de que ser mulher e mãe perpassa construções subjetivas, particulares e derivadas da história pessoal de cada mulher, supomos não haver um único caminho que possa explicar o que é ser mulher e mãe, porém partiremos dos relatos para discutir essa temática.
Ser mãe: sobrecarga, culpa, solidão e ambivalência
A palavra “difícil” e seus sinônimos apareceram em grande parte dos relatos recebidos. Por vezes, essa era a única palavra que compunha o relato, sendo que, em outros, explicações acompanhavam-na: “Difícil” (Relato 96); “Tem sido muito difícil conciliar trabalho externo, limpeza da casa, preparo e organização de alimentos, refeições, educação e criação dos filhos” (Relato 113); “Difícil. Sinto-me sobrecarregada. Parece que o mundo gira em torno da mulher, da mãe. Sempre girou, porém agora está mil vezes mais” (Relato 119). A partir disso, podemos pensar nas diversas dificuldades e privações vivenciadas por mulheres que são mães, tendo elas parcerias ou sendo mães solo, já que é visível o quanto as atividades de cuidado recaem sobre a mulher e mãe.
Muitas mulheres relataram que, ao mesmo tempo em que se sentem sozinhas exercendo as funções de cuidadora, do lar, dos filhos e, por vezes, até do companheiro, sentem o desejo de estar só ao menos por alguns momentos. “Na maioria das vezes eu amo amamentar meu filho, amo a conexão, as risadas e os pezinhos imparáveis. Mas seria muito pedir que de vez em quando alguém me substituísse nessa hora? Me sinto sozinha e um pouco presa” (Relato 196), escreveu uma delas. Outra mulher relatou: “Me sinto muito sozinha nesse barco... quero muito estar sozinha, colocar minhas ideias no lugar, ver outras pessoas, conversar, dar risada!” (Relato 79). Isso nos impele a refletir sobre a diferença e transitoriedade entre os conceitos de solidão e solitude, em que o primeiro diz respeito a angústias e sofrimento, e o segundo é fonte de criatividade e conhecimento de si (Mansur, 2006). Quando a mãe se questiona se um outro indivíduo não pode a substituir em um dos momentos de cuidado do filho, esse questionamento não se volta apenas para amamentação, já que, quando realizada pelo seio da mulher, inevitavelmente implica a presença dela, mas torna-se um questionamento voltado para as outras tantas atividades que podem ser divididas com o parceiro, atividades que recaem sobre ela. Ainda, podemos pensar que a expressão do desejo de estar só, presente nos relatos, é pano de fundo para a discussão sobre amor e culpa materna.
A ideia de que haveria um instinto materno reverbera até os dias atuais, sustentada pelo raciocínio de que a maternidade seria herdeira de uma disposição biológica da natureza feminina. Gestar e parir seriam precedentes para o surgimento instantâneo de um instinto que colocaria a mulher em uma situação de aptidão para cuidar e amar um outro. Uma das participantes ao se referir às suas filhas afirma: “Amo estar com elas... mas amo estar sem elas! Será que é pecado falar isso? Será que eu vou pro céu?... Me sinto esgotada delas! Que horror! Isso existe?” (Relato 79). Isso nos remete a pensar na ideia construída de que a relação entre mãe e filho só possa ser permeada por sentimentos de amor, afeto e carinho, sem considerar que essa troca se trata de uma relação e, como qualquer outra, também é composta de amor e ódio.
Badinter (1985), no tocante ao amor materno, reflete que não se trata de uma “condição natural” que estaria presente em todas as mulheres, justificada pelo fato do corpo biológico possuir o aparato para gerar filhos. Ao contrário, refere-se a um sentimento humano, como qualquer outro, incerto, imperfeito, frágil e contingente, sendo algo que se constrói, que é conquistado a partir da vivência, da convivência e do conhecimento e reconhecimento entre mãe e filho. Cabe destacar que, em 1911, a primeira mulher reconhecida e aceita como psicanalista, Margarete Hilferding, já afirmava que não existe amor materno inato, e que o ódio também faz parte dessa relação. Mas sua fala foi pouco compreendida pelos colegas psicanalistas da época, e talvez siga sendo pouco compreendida até hoje.
A culpa foi outro aspecto referido diversas vezes nos relatos analisados, geralmente voltada para a forma como a maternidade é administrada:
Tem sido uma verdadeira montanha russa… Não tem sido fácil conciliar. Fora isso, eu tenho por natureza muita culpa, então me sinto muito culpada pela minha filha estar vendo mais tv, por não estar de repente desenvolvendo o que precisaria (Relato 116).
Badinter (2011) expõe que, no contexto ocidental, a construção da figura materna possui como elemento a culpa, a qual ocupa também lugar de coerção para que a maternidade seja exercida dentro daquilo que se configura como desejável socialmente. Nesse sentido, se estabelece que a mulher que é mãe assuma a responsabilidade pelos filhos de forma amorosa e sem conflitos, pelo menos não em público. Toda essa imposição cultural e contemporânea pelo exercício da maternidade acaba por colocar mulheres que são mães sob altas expectativas (pessoais e sociais), potencializando frustrações, como podemos verificar no seguinte relato: “... a culpa deita comigo e quase todos os dias lágrimas também” (Relato 117). Assim, da mesma forma que associar os termos amor e materno desconsidera a contingência desse amor que é construído, os sentimentos de culpa e ambivalentes a respeito do maternar colam-se ao mau desempenho materno.
O seguinte trecho de um relato demonstra o quanto o cuidado dos filhos ainda é visto como responsabilidade exclusiva da mãe:
Enquanto respondo este questionário estou amamentando meu filho. Desde que acordei não tive nenhum tempo para mim e assim se repete por vários dias. Limpei, lavei a louça, fiz o almoço, o pai ajudou um pouco, mas só ajuda quando quer. A mãe não tem querer, a mãe tem fazer e esquecer de si mesma (Relato 148).
A partir disso, percebe-se que é fato que o imaginário social compartilhado em torno da maternidade sustenta a ideia de que aquela que deve cuidar é a mesma que gera, pari, amamenta e educa. Em outro relato, temos: “Porque se deixar, aqui em casa pelo menos, meu filho só sabe chamar meu nome, às vezes atravessa pelo pai pra me pedir algo” (Relato, 153).
A Psicologia reconhece que após o nascimento do bebê a mulher se defronta com um vazio de sentido, de significação, mas ao mesmo tempo cheio de fantasmas das relações idealizadas na infância (Leal, 2017). Esse vazio marcado pela quebra do psiquismo materno entre o pré-natal e o puerpério provoca uma ruptura que diz respeito a um tempo psíquico onde pode advir o campo materno (Drossart, 2012). Depreende-se disso, então, que esse campo não nasce juntamente com o bebê no momento do parto, mas faz parte de um processo psíquico que deve ocorrer para que o encontro entre mãe e bebê possa acontecer. Assim, conceber que “a maternidade é um acontecimento que requer processos outros, que passam pelo biológico, mas que não são determinados por ele” (Leal, 2017, p. 95), é reconhecer o fato de que gestar um bebê não garante que uma mulher se identifique como mãe. São necessários processos psíquicos e de reconhecimento que farão com que o materno seja possível e venha a ascender.
Diversos relatos chamam a atenção para uma espécie de engolfamento da mulher pela maternidade: “Me sinto em total falta comigo, enquanto pessoa, já que tantos dias percebo que nem escovei o cabelo ainda e já são 11 horas da manhã! Me sinto em falta enquanto profissional, já que como eu disse, eu trabalho a hora que dá” (Relato 79); “O papel de mãe se sobrepõe ao de mulher... O papel de mulher fica de lado” (Relato 81); “Como mulher acabei me abandonando, o que é bastante negativo” (Relato 164); “Sinto que tem horas que preciso optar por ser ‘eu ‘mulher’ ou ‘eu ‘mãe’. Na maioria das vezes o ‘eu mulher’ perde” (Relato 196); “Digamos o lado mulher, aos poucos foi esquecido” (Relato 210). Com base nesses recortes, parece-nos que não há um trânsito entre ser mulher e ser mãe, mas sim um discurso marcado por uma polarização, em que ou se é mulher ou se é mãe, não possibilitando que mulher e mãe coabitem. E a mulher sempre sai perdendo.
Na perspectiva da Psicanálise, as formulações freudianas em torno da noção de feminilidade voltaram-se para um caminho descrito como imprevisível e indizível. Conforme referido anteriormente, foi forte a influência da Psicanálise na manutenção do discurso da maternidade como destino para a mulher, o que afetou outros autores para além de Freud. A ideia da “maternidade como destino” perdurou por muito tempo, porém tal teoria também sofreu e sofre até hoje diversas críticas que podem ser traduzidas pelas palavras de Daniela Teperman: “O bebê ocupa o corpo da mulher, e esta não pode ser relegada à condição de um organismo que produz um bebê” (Teperman, 2015, p. 11). Ou seja, olhar aquela que pari um filho não apenas como um corpo que reproduz, mas também como uma mulher, considerando seus fantasmas, suas sombras e sua história, é potente para que a vinculação entre mãe e filho ocorra, mas também e, principalmente, vê-la em sua integridade, não somente em parte, validá-la e reconhece-a enquanto mulher.
Centralizar na mulher a condição de cuidadora dos filhos como uma tarefa que não possa ser delegada a um outro é colocar a maternidade como possível fonte de sofrimento. Isso se dá, em decorrência das diversas funções impostas ao seu exercício e na tentativa de conciliar a vida de mãe com a vida de mulher. Uma das participantes, que viveu o puerpério em 2019 e esperava “sair dele”, descreveu:
Eu achava que 2019 tinha ficado pra trás, e eu passaria a me sentir uma pessoa novamente, e não só uma estrutura familiar. Todos meus planos vieram abaixo com a pandemia... Continuo sendo só um pilar em 2020... Com fé que em 2021 voltarei a ser uma pessoa, e não só uma estrutura (Relato 37).
Diante disso, é possível pensar que o estar em casa enquanto obrigatoriedade para a manutenção da segurança e da saúde da família teria potencializado situações camufladas pela ida das crianças à escola, bem como pela proximidade da rede de apoio. Com a leitura dos relatos e interlocução com a leitura de autores atuais sobre o tema, tendemos a pensar que a colocação da mulher no discurso social como a responsável pelos cuidados ainda persiste. A diferença nesse período de distanciamento social é que a rede de apoio foi posta em suspenso (escolas, babás, tias e avós). Os relatos mostram que, no ambiente privado, geralmente ainda são as mulheres que se dedicam a cuidar dos outros, deixando o cuidado de si próprias muitas vezes em segundo plano. É interessante ressaltar que essa rede de apoio, oferecida fora do período pandêmico, é formada em sua maioria por mulheres. Há, sim, um movimento de colocar os homens que são pais também na posição de se responsabilizarem pelos cuidados dos filhos, e isso aparece em alguns relatos, mas esse é um movimento ainda tímido, em processo de início de uma inscrição no discurso e na prática da vida social.
Gestar, parir, aleitar e educar obrigaram a mulher ao confinamento (antes de qualquer pandemia) e, para além disso, sua figura permaneceu associada aos cuidados da prole e ao desenvolvimento infantil, promovendo a construção de um saber que foi sendo passado de mulher para mulher, de geração em geração (Iaconelli, 2012). Entendemos que, como uma extensão da responsabilidade por tudo o que envolve os filhos, a mulher ainda recebe como incumbência o cuidado do lar como se fosse esse o espaço social destinado a ela, ou seja, o ambiente privado da casa e da família. Os relatos demonstram que, apesar das conquistas das mulheres, a cultura ainda carrega esse discurso: “Fui criada numa cultura cujo papel da mulher sempre esteve atrelado ao fazer das atividades domésticas” (Relato 136); “Começo a entender porque o número de cientistas e pesquisadores homens é bem maior que o de mulheres, pois no geral eles não têm de dar conta de tantas atribuições, têm mais facilidade para simplesmente ficar nas leituras e pesquisas dias e horas a fio sem interrupções domésticas e corriqueiras. A cobrança é sempre maior para as mulheres” (Relato 136). O relato dessa participante está em total consonância com os resultados das pesquisas mencionadas na introdução deste artigo (Collins et al., 2021; Staniscuaski et al., 2021).
Os resultados do presente estudo mostram-se também de acordo com os obtidos por Aiello-Vaisberg, Gallo-Belluzzo e Visintin (2020), os quais evidenciaram as fantasias que circundam ser mulher e mãe nesses tempos de pandemia e de distanciamento social, por meio da análise de dois tópicos: “Fazendo tudo e mais um pouco” e “Meu filho, minha felicidade”. Em relação ao primeiro tópico, a fantasia gira em torno do dever da mãe de ocupar-se de todas as atividades domésticas, profissionais e familiares para evitar o contágio da família, ou seja, o estudo sinaliza que as responsabilidades das mulheres aumentaram significativamente nesse período. Em contrapartida, o segundo tópico traz a fantasia da realização materna em relação à tarefa de cuidar dos filhos e da família.
Ainda, este relato demonstra o quanto a manutenção da ideia de que as mulheres nasceram para cuidar dos filhos ou da casa naturaliza na figura feminina uma posição de subordinação: “Cuidar das crianças já fazia parte da minha rotina e participar intimamente da educação deles é um papel que me enche de orgulho, mas ser mulher neste momento está me colocando em um papel de submissão” (Relato 91). Isso, somado à suposição de que há uma predisposição natural para que a mulher seja mãe, evidencia o quanto a liberdade e o desejo das mulheres são controlados, ou seja, ao se naturalizar as funções de cuidado colando-as a papéis de gênero se mantém uma estrutura, necessariamente, hétero e nucleonormativa (Silva, Bezerra, & Belo, 2016).
Ser mãe e exercer a função materna como sinônimos trouxe diversos benefícios para a sociedade ao longo da história, pois, a partir do controle da mulher e do seu destino como cuidadora de outrem, pôde-se justificar teorias, ideais, funções e papéis endereçados àquela detentora de um suposto saber que lhe seria natural. A criação da expressão “função materna” supõe haver uma ligação direta desta com a mulher que é mãe, colocando-a como sujeito-alvo da operação e sendo condição para exercê-la. Essa conexão estabelece que ser mulher é ser mãe, e ser mãe é exercer, inevitavelmente, a função materna (Iaconelli, 2012), gerando uma série de confusões no entendimento atual dos conceitos psicanalíticos de função materna e paterna.
Iaconelli (2018) nomeia as funções materna (que diz do desejo necessário a ser investido no bebê, da alienação constitutiva) e paterna (que diz da introdução da lei, do terceiro, da interdição, da cultura nesse processo de constituição do sujeito no bebê) como funções parentais, buscando enfatizar o descolamento entre funções, papéis e figuras parentais. A autora define por função parental a atuação de um ou mais sujeitos que visam proteger física e moralmente um outro sujeito em constituição. É o exercício de uma dedicação suficientemente abnegada, contínua no tempo e consistente em qualidade, considerando este outro sujeito semelhante humano. Isso implica oferecer condições para a constituição de um sujeito, bem como dar espaço para o sujeito que vai se constituindo, o que diz respeito à transmissão simbólica que ele herda dos pais. A autora e psicanalista também reflete que a função parental supõe um reconhecimento social desta, articulado aos papéis parentais, não podendo ser exercida isoladamente sem prejuízo ou mesmo o impedimento de sua realização (Iaconelli, 2018).
Porém, parece que no discurso social a responsabilidade por maternar, cuidar dos filhos (e da casa) ainda recai mais fortemente sobre a mulher. Em um relato uma mulher diz que seu companheiro divide as tarefas dos cuidados da casa e dos filhos, mas o nome que é mais chamado durante o dia é mãe: “Estar as 24 horas com ele, sempre, cansa porque é ‘mãe’ o tempo todo. Meu marido reconhece que é a palavra mais falada na casa, é motivo de risos entre nós” (Relato 213).
Em “O ato psicanalítico”, Lacan (1967; 1968) indica que muitos impasses ocorrem no exercício das funções parentais, pois desempenhá-las remete o sujeito à sua própria biografia como sujeito sexuado (dividido, faltante). Observa que, mais do que nunca, as posições subjetivas do ser são colocadas à prova quando os sujeitos se tornam pais. Podemos pensar, assim, que as operações subjetivas que uma pessoa irá conseguir desempenhar com seu filho exigem certas condições, como nos situa Iaconelli (2019), mas também colocam o ser em impasses que dizem de sua própria biografia e dos discursos da cultura onde está inserida.
Ser mulher: vaidade, estética e mal-estar
Se pudéssemos traçar uma linha de prioridades referidas pelas mulheres que são mães teríamos, na seguinte ordem: filhos, casa, trabalho, companheiro e, por último, si próprias. As participantes pareceram compreender o ser mulher fortemente marcado como o campo da vaidade, como sinônimo de fazer o cabelo, as unhas, de cuidados com o vestir-se e com o corpo.
O relato a seguir parece nos mostrar que ou ser mulher ou ser mãe precisará ficar em segundo plano para que o outro possa se sobressair: “No momento estou me dedicando mais a ser mãe” (Relato 92). Como forma de justificar a manutenção de um único papel a ser exercido, criou-se a ideia de que a mulher deveria ser compensada por aquilo que abdica e, ao passo que ela perde sua liberdade e se compromete com o cuidado permanente demandado, quando realiza sua função de acordo com os ditames sociais é reconhecida e ganha um lugar de pertencimento social. A tempo, é preciso dizer que o lugar de reconhecimento social é o lugar de mãe, e não o lugar de mulher.
O lugar construído para a mulher voltado para a maternidade passou a dar indícios em meados da virada do século XX, em que o espaço privado do lar, de dona de casa, de cuidado dos filhos e, por ora, do companheiro, não lhe parecia suficiente (Arteiro, 2017). Exemplificando tal transformação, Badinter (1985, p. 356) afirma: “Hoje as mulheres não só já não desejam ter filhos para merecer o título de ‘mulher realizada’, como exigem, para aceitar procriar, que se partilhem com elas todos os encargos da maternagem e educação”. Ou seja, é possível identificar que a maternidade aparece disputando espaço com outros modos de ser da mulher, tais como trabalho, ideais sociais e políticos, capital e poder (Arteiro, 2017).
Mas o que existe na cultura - para - além da maternidade - que - revela o que é “ser mulher”? Foram diversos os relatos que trouxeram aspectos voltados à aparência da mulher que é mãe, principalmente vinculados à ideia de que para que a mulher possa se sentir uma “mulher de verdade” é necessário que o seu corpo esteja de acordo com os padrões estabelecidos socialmente e adequado a uma série de exigências que são divulgadas em massa pelos meios de comunicação. Como refere Novaes, “os corpos são produzidos pelas sociedades em uma dialética sujeito/cultura.... A experiência do corpo é sempre modificada pela experiência da cultura” (2006, p. 32).
As questões estéticas fazem parte da construção social e dos discursos vigentes, os quais ditam o que é belo e o que é feio, impactando na forma como homens e mulheres se relacionam com o próprio corpo:
Além disso tudo, algo me incomoda demais: estou muito fora do meu peso ideal! E estando em casa o dia todo, eu como o dia todo, sem regras, sem horários... É uma fuga minha, pois sinto um acolhimento imediato comendo... que passa logo quando me olho no espelho ou subo na balança! (Relato 79).
Ao se observar o cenário social atual é de fácil percepção a existência de um movimento em busca de um ideal de perfeição estética fundamentado em um culto ao corpo belo e perfeito. Uma das participantes, ao se referir às mudanças que estão acontecendo no seu corpo durante o período de distanciamento social, apresenta uma série de soluções utilizadas anteriormente para a manutenção de um corpo magro e jovem: “não consigo mais tempo/ânimo para yoga, dieta e work out. Isso tá afetando um pouco o fato de não dar conta de tudo e ver que o corpo está mudando (engordando/envelhecendo), o que atrapalha o lado ‘mulher’” (Relato 222). Esse ideal recai sobre as mulheres conforme a harmonia da tríade “beleza-saúde-juventude”, influenciada, de forma especial, pela mídia, compondo a identidade do corpo das mulheres (Del Priore, 2009) e tornando-se expressão da beleza feminina.
Para Kehl (2000), esse ideal funciona como um Outro no registro imaginário, portanto, é inegável o impacto que tais representações assumem para as mulheres: “Na parte de ser mulher me sinto com autoestima baixa, sem vontades de muitas coisas, principalmente me arrumar” (Relato 89). Nesse sentido, Novaes (2006) afirma que “A imagem da mulher na cultura confunde-se com a da beleza. Esse é um dos pontos mais enfatizados no discurso sobre a mulher: ela pode ser bonita, deve ser bonita, do contrário não será totalmente mulher” (2006, p. 85). Isso nos faz pensar que, além da maternidade, o lugar social da mulher é marcado pelas questões estéticas, porém esse lugar só se torna acessível quando a mulher se encaixa no padrão de beleza vigente na época e na cultura em que ela vive, do contrário, ela não é considerada mulher, não existindo enquanto uma. Ou seja, mesmo quando não vista apenas como mãe, a mulher segue não sendo reconhecida como sujeito, mas sim como objeto de desejo do homem.
Talvez uma das formas pela qual a mulher venha a denunciar o mal-estar dos tempos atuais seja por meio do seu corpo que subverte o discurso social, ou seja, ao passo em que goza da “liberdade” a respeito dele, torna-se escrava dele, já que para mantê-lo adequado ao que é considerado belo esteticamente é necessário que haja investimento psíquico (Valença, 2003). Esse processo interno de investimento psíquico é afetado por um arsenal midiático a respeito do corpo: “Cuidar menos de aspectos da nossa estética afeta nossa autoestima, mas também nos faz refletir sobre o quanto a sociedade exige da mulher e o quanto nos estimula o consumo de bens que não necessitamos verdadeiramente” (Relato 40). Acerca disso, Carreteiro (2005) aponta que, não por acaso, existe todo um mercado designado à beleza estética feminina com a finalidade de favorecer a mulher ao alcance desse ideal.
Porém, se tratando de um ideal, entramos no campo da impossibilidade de acesso, e essa dificuldade em manter ou atingir os ideais de feminilidade atuais pode acarretar na mulher doses de angústia, baixa autoestima, ansiedade, medo de exclusão, entre outros problemas: “Como mulher, vejo que a vaidade se perdeu um pouco. Como se já não bastasse toda a questão da gestação e ganho de peso, sinto falta de me arrumar, o que levanta a nossa autoestima” (Relato 219). Ou seja, a partir do momento que o culto ao corpo é evocado e essa mulher não se enquadra nesse modelo, sua subjetividade é bombardeada por padrões de beleza construídos (Novaes, 2010).
A partir da leitura dos relatos obtidos nesta pesquisa, percebe-se que ser mulher e mãe é estar acompanhada do imperativo da locução verbal “ter que”. Contamos com cerca de 340 relatos de mulheres que são mães e mostraram o quanto alguns imperativos sociais marcam a sua experiência subjetiva, mesmo em um contexto de pandemia: ter que maternar, ter que ser boa mãe, ter que cuidar dos filhos, ter que educar os filhos, ter que alimentá-los no peito ou ter que limpar a casa, ter que estar bonita e magra, ter que estar arrumada, entre outras demandas que englobam ser ao mesmo tempo mãe, mulher, dona de casa e profissional.
Considerações Finais
Ao propormos a realização da pesquisa que deu corpo a este artigo, buscamos analisar a experiência de ser mulher e mãe em tempos de pandemia, bem como algumas ressonâncias do cenário pandêmico na subjetividade dessas mulheres. Consideramos, também, o atravessamento da cultura e dos discursos sociais acerca da mulher e da maternidade ao longo da história, partindo das contribuições da Psicanálise na construção e transformação do lugar social destinado e ocupado por mulheres.
O arranjo cultural da pandemia de covid-19, marcado pelo distanciamento social que implicou a realização do trabalho profissional no ambiente doméstico e a permanência 24 horas por dia, sete dias por semana, das mães, pais e filhos em casa, trouxe diversas repercussões na vida de homens e mulheres, manifestas em sintomas de depressão, ansiedade e estresse, e sentimentos de confusão e raiva, como tem sido apontado por pesquisas recentes (Carvalho & Luchesi, 2021; Marchetti et al., 2020; Moraes, 2020; Ollivier et al., 2021). Partindo da riqueza do material formado pelos relatos, levando em conta o campo do inconsciente e da transferência entre o material e as pesquisadoras como método, e da análise realizada de todo esse conteúdo, é possível afirmar que não foram poucos os impactos da pandemia nas maternidades (ou parentalidades). No contexto da pandemia, evidenciaram-se questões que parecem estar presentes na vida de mulheres e homens há muito tempo e que são atravessadas pela hierarquia de gênero. Nesse sentido, determinadas situações foram colocadas sob uma lente de aumento, como é o caso do tamponamento do ser mulher pelo ser mãe, a possibilidade de “existir socialmente” dada à mulher, o discurso social acerca da maternidade idealizada, o estabelecimento de que a função materna seja exercida pela mãe; e a função paterna, pelo pai, atravessadas por ideias culturais que surgem como uma tentativa de manutenção dos tradicionais papéis e funções realizados pelas mulheres e homens, mães e pais.
A partir dos relatos ficou evidente que, durante o distanciamento social, as responsabilidades de mulheres que são mães aumentaram, escancarando uma sobrecarga de trabalho. Se antes da pandemia essa sobrecarga era mascarada pelo apoio recebido - em geral - de outras mulheres - na - realização do cuidado dos filhos e do lar, com a pandemia e a necessidade de se manter dentro de casa, sem poder contar com uma rede de apoio, foi colocada sobre a mulher a incumbência de ser aquela que cozinha, limpa a casa, lava e passa as roupas, faz a lista e as compras, cuida dos filhos, acompanha-os durante as aulas on-line e, se sobrar tempo, conforme referenciado em alguns relatos, assumir as tarefas profissionais e de cuidado pessoal. Ou seja, os relatos apresentaram uma visão clara de que a pandemia descortinou a já marcada divisão de gênero na sociedade contemporânea, onde as mulheres são as que cuidam daquilo que envolve o lar e os filhos.
Aqui é importante destacar que a pesquisa, não intencionalmente, mas em função de seu método, tem um recorte socioeconômico que precisa ser considerado. As mulheres que expuseram seus relatos são mães provavelmente de classe média, que puderam, em sua maioria, manter-se em distanciamento social, e cujas principais preocupações não se centravam na renda, moradia e manutenção do emprego/trabalho. E que, fora do contexto da pandemia, podiam pagar por serviços de cuidado dos filhos e da casa - sendo a falta destes, aliás, ponto importante de sofrimento. É cada vez mais evidente que a pandemia também aprofundou as desigualdades sociais, inclusive entre as mulheres, mas a discussão de tal temática está para além do escopo do presente trabalho. Contudo, como a estratégia de coleta de dados não incluiu a obtenção de dados gerais das respondentes, não é possível conhecer o seu perfil sociodemográfico, sendo essa uma limitação da pesquisa.
O conteúdo dos relatos sinalizou ainda o quanto a maternidade é idealizada e como as vivências e os sofrimentos das mulheres muitas vezes não são reconhecidos. Como é o caso da ambivalência materna, apontada por Hilferding (1911) já em 1911, a culpa e o cansaço, atravessados pela crença da existência de instinto materno, a qual coloca sobre as mulheres a condição natural de gestar, parir, amar e cuidar, incondicionalmente do seu bebê, bem como a não possibilidade de desejar para além do filho.
Assim, destacamos que a pandemia, e o decorrente distanciamento social, parecem ter colocado uma lente de aumento sobre as angústias das mulheres/mães, evidenciando sentimentos e sofrimentos sempre presentes. A pandemia ressalta os desafios impostos a muitas mulheres que são mães assinalando a necessidade de questionarmos ideais e teorias enraizadas na cultura e nos discursos sociais, a respeito da tomada da maternidade como lugar social destinado à mulher, da dissociação entre ser mulher e ser mãe e das interseções de gênero.
Destacamos ainda que a pandemia tem produzido efeitos psicológicos relevantes, como estresse, sentimentos de incerteza, medo e ansiedade (Brooks, Weston, & Greenberg, 2020; Wang, Zhang, Zhao, Zhang, & Jiang, 2020) e compartilhar experiências nessas situações de crise e de sofrimento psíquico pode promover certo alívio, o que favorece a manutenção da saúde (Moraes, 2020). Assim, acreditamos que a própria iniciativa de recolher relatos das mulheres que são mães constitui-se em uma postura clínica e política de acolhimento das experiências dessas mulheres como sujeitos, assim como redes sociais e perfis que abordem os desafios da maternidade podem se constituir em uma forma de rede de apoio.
Por fim, sendo a experiência da pesquisa em Psicanálise marcada pela transferência, é importante situar, ao final deste escrito, que aquilo que se constituiu como material de análise assim se fez em função do campo transferencial estabelecido entre as pesquisadoras e o material presente nos relatos. Ou seja, no encontro entre as pesquisadoras e os relatos, as questões aqui apontadas foram as que encontraram ressonância, neste momento. Contudo, os relatos trouxeram temáticas outras que podem ser analisadas a posteriori, conduzindo a novos estudos e fomentando novas reflexões.
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Esse termo refere-se à distribuição geográfica da doença e não à sua gravidade, o que significa dizer que diversos países e regiões do mundo notificaram a existência de surtos de covid-19 (Organização Pan-Americana da Saúde, 2021).
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Matéria intitulada “Women academics seem to be submitting fewer papers during coronavirus: ‘Never seen anything like it,’ says one editor”, publicada em 24 de abril de 2020. https://www.thelily.com/women-academics-seem-to-be-submitting-fewer-papers-during-coronavirus-never-seen-anything-like-it-says-one-editor/
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Informações omitidas para garantir a avaliação duplo-cega.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
30 Jun 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
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Recebido
26 Jun 2021 -
Aceito
20 Dez 2021