Resumos
Diversas espécies de Tabernaemontana têm sido estudadas devido a diversidade de alcalóides com atividade farmacológica. O objetivo desse trabalho foi avaliar a capacidade antimicrobiana in vitro do extrato das cascas do caule de Tabernaemontana catharinensis A. DC.em cepas de Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa, microrganismos causadores de diversas infecções. Os testes de susceptibilidade bacteriana foram realizados usando o método de Kirby Bauer, consistindo na difusão em disco do antibiótico em meio de cultivo Mueller Hinton. Os testes de inibição foram realizados com soluções do extrato bruto seco de T. catharinensis dissolvido em etanol 70% (v/v) na concentração 1,0 mg mL-1, que aplicada nos discos de área 20 mm², apresentaram concentração de 0,005 mg mm-2. Como controle negativo, realizou-se ensaios com placas contendo P. aeruginosa, e discos com etanol 70% (v/v), e como controle positivo, discos com os antibióticos ceftriaxona sódica (0,25 mg mm-2 de área do disco), tetraciclina (0,005 mg mm-2) e cefalexina (0,005 mg mm-2). A solução do extrato na concentração de 0,005 mg mm-2 inibiu o Staphylococcus aureus, com diâmetro médio do halo de 0,6 cm. O halo de inibição para o Pseudomonas aeruginosa foi em média 1,2 cm. A tetraciclina, a cefalexina, e o controle negativo (etanol 70% v/v) não demonstraram ação antimicrobiana. O halo de inibição usando ceftriaxona foi em média 2,2 cm para P. aeruginosa e 1,0 cm para Staphylococcus aureus.
atividade antimicrobiana; Tabernaemontana catharinensis; Pseudomonas aeruginosa; Staphylococcus aureus
Several Tabernaemontana species have been studied due to their several alkaloids with pharmacological activity. The aim of this work was to evaluate the in vitro antimicrobial action of the extract from stem barks of Tabernaemontana catharinensis A. DC. against strains of Staphylococcus aureus and Pseudomonas aeruginosa, microorganisms that cause several infections. Bacterial susceptibility tests were performed by the Kirby-Bauer method, consisting in antibiotic disk diffusion in Mueller Hinton medium. Inhibition tests were performed with solutions of T. catharinensis dry crude extract dissolved in ethanol 70% (v/v) at 1.0 mg mL-1, which became 0.005 mg mm-2 when applied to 20 mm² disks. As negative control, assays were carried out in plates containing P. aeruginosa and disks with ethanol 70% (v/v). Positive control consisted of disks containing the antibiotics ceftriaxone sodium (0.25 mg mm-2 disk area), tetracycline (0.005 mg mm-2) and cephalexin (0.005 mg mm-2). Extract solution at 0.005 mg mm-2 inhibited Staphylococcus aureus, with 0.6cm halo mean diameter. The inhibition halo for Pseudomonas aeruginosa was on average 1.2 cm. Tetracycline, cephalexin and negative control (ethanol 70% v/v) did not show antimicrobial action, whereas ceftriaxone sodium resulted in 2.2 and 1.0cm mean inhibition halo diameters for P. aeruginosa and Staphylococcus aureus, respectively.
antimicrobial activity; Tabernaemontana catharinensis; Pseudomonas aeruginosa; Staphylococcus aureus
Avaliação da atividade antimicrobiana in vitro do extrato de Tabernaemontana catharinensis A. DC
Evaluation of in vitro antimicrobial activity of Tabernaemontana catharinensis A. DC. extract
Gonçalves, D.M.I; Araújo, J.H.B.I,* * jaraujo@utfpr.edu.br ; Francisco, M.S.I; Coelho, M.A.I; Franco, J.MII
IUniversidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Campo Mourão, BR 369, km 0,5, CEP: 87301-006, Campo Mourão-Brasil
IIUniversidade Estadual de Maringá, Avenida Colombo, CEP: 87020-900, Maringá-Brasil
RESUMO
Diversas espécies de Tabernaemontana têm sido estudadas devido a diversidade de alcalóides com atividade farmacológica. O objetivo desse trabalho foi avaliar a capacidade antimicrobiana in vitro do extrato das cascas do caule de Tabernaemontana catharinensis A. DC.em cepas de Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa, microrganismos causadores de diversas infecções. Os testes de susceptibilidade bacteriana foram realizados usando o método de Kirby Bauer, consistindo na difusão em disco do antibiótico em meio de cultivo Mueller Hinton. Os testes de inibição foram realizados com soluções do extrato bruto seco de T. catharinensis dissolvido em etanol 70% (v/v) na concentração 1,0 mg mL-1, que aplicada nos discos de área 20 mm2, apresentaram concentração de 0,005 mg mm-2. Como controle negativo, realizou-se ensaios com placas contendo P. aeruginosa, e discos com etanol 70% (v/v), e como controle positivo, discos com os antibióticos ceftriaxona sódica (0,25 mg mm-2 de área do disco), tetraciclina (0,005 mg mm-2) e cefalexina (0,005 mg mm-2). A solução do extrato na concentração de 0,005 mg mm-2 inibiu o Staphylococcus aureus, com diâmetro médio do halo de 0,6 cm. O halo de inibição para o Pseudomonas aeruginosa foi em média 1,2 cm. A tetraciclina, a cefalexina, e o controle negativo (etanol 70% v/v) não demonstraram ação antimicrobiana. O halo de inibição usando ceftriaxona foi em média 2,2 cm para P. aeruginosa e 1,0 cm para Staphylococcus aureus.
Palavras-chave: atividade antimicrobiana, Tabernaemontana catharinensis, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus
ABSTRACT
Several Tabernaemontana species have been studied due to their several alkaloids with pharmacological activity. The aim of this work was to evaluate the in vitro antimicrobial action of the extract from stem barks of Tabernaemontana catharinensis A. DC. against strains of Staphylococcus aureus and Pseudomonas aeruginosa, microorganisms that cause several infections. Bacterial susceptibility tests were performed by the Kirby-Bauer method, consisting in antibiotic disk diffusion in Mueller Hinton medium. Inhibition tests were performed with solutions of T. catharinensis dry crude extract dissolved in ethanol 70% (v/v) at 1.0 mg mL-1, which became 0.005 mg mm-2 when applied to 20 mm2 disks. As negative control, assays were carried out in plates containing P. aeruginosa and disks with ethanol 70% (v/v). Positive control consisted of disks containing the antibiotics ceftriaxone sodium (0.25 mg mm-2 disk area), tetracycline (0.005 mg mm-2) and cephalexin (0.005 mg mm-2). Extract solution at 0.005 mg mm-2 inhibited Staphylococcus aureus, with 0.6cm halo mean diameter. The inhibition halo for Pseudomonas aeruginosa was on average 1.2 cm. Tetracycline, cephalexin and negative control (ethanol 70% v/v) did not show antimicrobial action, whereas ceftriaxone sodium resulted in 2.2 and 1.0cm mean inhibition halo diameters for P. aeruginosa and Staphylococcus aureus, respectively.
Key words: antimicrobial activity, Tabernaemontana catharinensis, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus
INTRODUÇÃO
Os desafios no tratamento de doenças infecciosas vêm crescendo de forma significativa, tendo em vista que bactérias resistentes a múltiplos antimicrobianos representam fonte de incertezas para a cura desses contágios, havendo a necessidade de se buscar novas substâncias com propriedades antibióticas para serem aplicadas no combate a esses microrganismos, abrindo assim caminhos para a evolução das pesquisas no desenvolvimento de novos fármacos efetivos as constantes modificações dos mecanismos de resistência microbiana.
A aplicação da medicina natural tem levado a comunidade científica a investigar a potencialidade de cura de compostos naturais na utilização medicinal. Por outro lado, devido ao desconhecimento da possível existência da ação tóxica, bem como da indicação adequada, as plantas medicinais são muitas vezes usadas de forma incorreta, não produzindo o efeito desejado (Pereira et al., 2004). Dessa forma, conhecer as aplicações fitoterápicas e a fisiologia das espécies vegetais promove maior otimização do uso desses princípios ativos presentes nas plantas, devendo-se determinar o ponto ideal da planta para realizar a coleta, e considerar os períodos de maior produção do mesmo. No entanto, nada impede que sejam feitas coletas do extrato ou látex de plantas em períodos aleatórios ao de melhor coleta para uso imediato.
Segundo Salvagnini et al. (2008), a utilização de plantas medicinais, tem recebido apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS) por se tratar de prática tradicional ainda existente entre os povos de todo o mundo trazendo inúmeros benefícios para quem emprega essas técnicas curativas. São muitos os fatores que vêm colaborando para o desenvolvimento de práticas de saúde que incluam plantas medicinais, principalmente no âmbito econômico e social (Elisabetsky, 1991).
O estudo da resistência bacteriana, geralmente é baseado em microrganismos de importância epidemiológica, tais como Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e fungos leveduriformes, responsáveis por diferentes processos etiológicos tanto em pacientes imunocompetentes quanto em pacientes imunodeprimidos (Antunes et al., 2006).
Os microrganismos comumente responsáveis pela Pneumonia Adquirida no Hospital (PAH) incluem os patógenos das espécies Enterobacter, Escherichia coli, espécies de Klebsiella, Proteus, Serratia mascescens, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus sensível ou resistente a meticilina. Anualmente, dois milhões de casos de pneumonia ocorrem no Brasil e mais de 33000 brasileiros evoluem para óbito. Pneumonia hospitalar é a mais fatal das infecções hospitalares, com taxas de mortalidade de 30 a 60% (Martins et al., 2008).
Segundo Fuentefria & Einsfeld (2008), a bactéria Pseudomonas aeruginosa (Gram-negativa) é um dos principais microrganismos reavidos de efluentes hospitalares. É um patógeno nosocomial responsável por acarretar infecções em vários sítios do corpo humano, principalmente em passivos imunocomprometidos. Está largamente difundida no ambiente e é capaz de perdurar por longos períodos em lugares adversos e desenvolver resistência a agentes antimicrobianos.
O microrganismo Staphylococcus aureus é uma bactéria Gram-positiva caracterizada por ser um dos maiores responsáveis pelas mortes por infecção hospitalar, sendo o final dos anos 80 e início dos anos 90, o período constatado pela comunidade médica como sendo o de grande aumento do número de doenças infecciosas causadas pelas cepas de S. aureus multirresistentes. A vancomicina é o medicamento de primeira escolha no tratamento de infecções causadas por estes microrganismos. No entanto, há relatos de cepas resistentes a este antibiótico, nos últimos anos (França & Kuster, 2009).
A importância de se estudar a aplicação de novas substâncias obtidas a partir da extração de princípios ativos de diversas espécies vegetais é importante para encontrar formas de inibir ou combater esses patógenos, que constantemente adquirem resistência a antibióticos industrializados.
Em meio a esta busca a espécie Tabernaemontana catharinensis A. DC. (Apocynaceae), nativa da América do Sul, popularmente conhecida no Brasil como leiteiro de vaca, apresenta-se como alternativa. Essa espécie é caracterizada por ser arbusto lactífero ou arvoreta de tamanho de 1-10m, característica da sub-serra e de vasta dispersão na zona da mata pluvial da encosta atlântica, bem como do Vale do Rio do Peixe e Bacia do Rio Uruguai. Frequentemente nas capoeiras dos primeiros estágios, situadas em solos úmidos (seletiva higrófita), orlas das matas e clareiras da região da mata pluvial atlântica e bastante rara na zona do oeste "mata branca" (Markgraf, 1968; Lorenzi et al., 2003).
Almeida et al. (2004) e Veronese et al. (2005) demonstraram que o extrato das raízes frescas da Peschiera fuchsiaefolia, hoje reclassificada como T. catharinensis, pode inibir a letal atividade do veneno da cascavel (Crotalus durissus terrificus) e jararacuçu (Bothrops jararacussu).
Para Almeida et al. (2004), um quarto da base do alcalóide, 12-metoxi-4-methylvoachalotine (MMV) extraído do leiteiro de vaca (T. catharinensis) provou ser capaz de inibir a atividade letal de duas doses de DL 50 do veneno da cascavel (Crotalus durissus terrificus).
Substâncias com atividade antitumoral e tripanocida também foram isoladas a partir desta planta. Além disso, o extrato aquoso de T. catharinensis possui atividade citotóxica humana potente sobre linhas de tumor, como SK-BR-3, MCF-7 e C-8161 in vitro (Almeida et al., 2004).
Este trabalho buscou avaliar a capacidade antimicrobiana in vitro do extrato de T. catharinensis em cepas de Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa e comparar a eficiência frente a antibióticos comerciais.
MATERIAL E MÉTODO
Coleta
As cascas da planta utilizada nos testes foram coletadas entre os dias 18 e 30 de junho, na estação sazonal inverno/primavera de 2008 no período noturno na área central do município de Campo Mourão, sendo esta espécie identificada pelo professor Dr. Marcelo Galeazzi Caxambú, responsável pelo Herbário da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Campo Mourão (HCF), onde foi depositada a exsicata a qual recebeu o número de voucher 5479.
Extrato (preparação e diluição dos extratos)
Para a extração dos alcalóides totais obtidos a partir das cascas retiradas do caule do vegetal utilizou-se o método clássico de Stas-Otto, segundo Rates et al. (1988). As cascas da planta após secagem e trituração foram pesadas para determinação posterior do rendimento de extração. Na primeira extração a proporção de cascas, hidróxido de amônio e clorofórmio utilizada foi de 1:3:3 em massa. Após a primeira extração, a proporção de ácido clorídrico 2% usada na fase clorofórmica foi de 1:1 em volume. A proporção de clorofórmio usada após a fase aquosa ser alcalinizada foi de 1:1 em volume. No final do processo, a fase clorofórmica foi concentrada em evaporador rotativo para recuperação do solvente. A obtenção do princípio ativo no estado sólido foi realizada em estufa com circulação de ar a 50ºC, sendo posteriormente pesada para determinação do rendimento final. Para o preparo das soluções de T. catharinensis, o extrato seco da planta foi dissolvido em etanol 70% até a concentração de 1,0 mg mL-1, elaborando-se por sua vez a solução matriz para ser diluída nas concentrações desejadas.
Cepas utilizadas
Para os testes de atividade antimicrobiana as linhagens utilizadas foram das bactérias Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa obtidas junto ao Laboratório de Análises Clínicas São Gabriel localizado no município de Campo Mourão, sendo conservadas em meio líquido Mueller-Hinton e armazenadas durante as semanas que precederam o estudo em refrigerador a 4ºC. Foi utilizada apenas uma cepa de cada espécie nos testes. Para a utilização dos microrganismos nos testes de atividade antimicrobiana, a cepa era repicada para tubos de ensaio contendo caldo nutriente e incubadas em estufa bacteriológica por 24h a 37ºC para reativação.
Controles utilizados
As soluções dos antibióticos cefalexina monoidratada fabricada pelo laboratório Legrand e cloridrato de tetraciclina produzida pelo laboratório EMS S/A foram preparadas na mesma concentração que a do extrato da planta (1,0 mg mL-1), sendo dissolvidos em água destilada e estéril. O antibiótico ceftriaxona sódica foi preparado de acordo com recomendação do fabricante EMS, sendo de 250 mg mL-1 como sendo o controle positivo.
Teste antimicrobiano
Antes dos testes de atividade antimicrobiana do extrato da planta, foi necessário o preparo do meio de propagação in vitro dos microrganismos utilizados nos testes de susceptibilidade. O meio de cultivo utilizado foi o ágar Mueller-Hinton. Este meio foi formulado no laboratório de microbiologia do campus, seguindo as indicações do Manual "Descrição dos Meios de Cultura Empregados nos Exames Microbiológicos", elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa, 2004).
A atividade antimicrobiana do extrato foi constatada pela técnica de difusão em disco de papel descrito pela metodologia de Kirby-Bauer como citado por Okura & Rende (2008), onde as suspensões dos microrganismos convenientemente diluídas foram inseridas às placas contendo o meio de cultura em estado sólido. Os fatores de diluição foram ajustados a turvação de acordo com a escala 0,5 de Mc Farland (108 UFC mL-1) e em seguida as bactérias foram diluídas 1:1000 para uso no ensaio de atividade antimicrobiana obedecendo as recomendações do National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS, 1997).
Ao final os discos de papel receberam 20 µL das soluções do extrato resultando na concentração de 0,005 mg mm-2 a qual posteriormente foi aplicada as placas e incubadas a 37ºC durante 24 horas em posição invertida. Após o período de incubação foram realizadas leituras visuais observando-se os halos de inibição de crescimento bacteriano e quantificado em milímetros com o auxílio de paquímetro. Foram realizados três ensaios independentes para cada um dos três testes de atividade antimicrobiana.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Rendimento de extração
Após secagem, trituração e extração dos alcalóides da planta determinou-se o rendimento de extração. Foram realizados quatro testes para determinação de rendimento, que foi em média de 0,51% para o extrato bruto seco das cascas do caule do T. catharinensis.
Testes de inibição antimicrobiana
As plantas medicinais têm sido utilizadas como agentes antimicrobianos considerando sua composição e potencial de inibição, uma vez que existe forte tendência para o uso quando aplicadas metodologias capazes de comprovar a eficácia frente aos malefícios provenientes de microrganismos patogênicos. Os ensaios de atividade antimicrobiana in vitro mostraram que a aplicação da medicina popular, representa uma fonte de descoberta para inúmeros fármacos, além de pesquisas relacionadas à procura de atributos terapêuticos trazidas por estas, formando importante ferramenta para elucidação científica das propriedades curativas.
Os resultados obtidos evidenciaram o potencial de inibição microbiana das linhagens testadas de acordo com a técnica de difusão em disco frente à concentração do extrato de T. catharinensis. Na Figura 1 é apresentado o halo de inibição formado após o período de incubação para a bactéria S. aureus.
Na Tabela 1 é possível observar os valores obtidos na inibição do crescimento bacteriano que ocorreu de maneira dose-dependente para os microrganismos, atingindo máximo de inibição com a concentração. Os valores referem-se à média de três experimentos realizados.
Após analisados os efeitos inibitórios do do extrato, foram realizados ensaios para fins comparativos com os medicamentos comercialmente produzidos ceftriaxona sódica, cefalexina e tetraciclina, sendo estas drogas as responsáveis pelo combate ao S. aureus e P. aeruginosa. A bactéria P. aeruginosa apresentou maior sensibilidade ao medicamento apresentando halos de inibição de 2,2 cm, já para o S. aureus a média dos diâmetros de inibição foi de 1,0 cm.
Quando confrontados os resultados nota-se que o medicamento ceftriaxona sódica possui maior potencial de inibição, uma vez que a composição é definida para tratamento desses patógenos, já para os medicamentos cefalexina e tetraciclina não ocorreram a formação dos halos de inibição uma vez que essas drogas foram substituídas no mercado por não causarem o efeito desejado frente as cepas testadas, porém a inibição dos microrganismos aplicando-se o extrato de T. catharinensis mostra-se como sendo uma nova fonte fitoterápica de combate a essas bactérias, uma vez que a aplicação do extrato apresenta efeitos inibitórios significativos quando comparado ao medicamento. Justifica-se ainda pela proximidade entre os valores de inibição do S. aureus para ceftriaxona sódica na concentração de 0,25 mg mm-2 e o extrato na concentração de 0,005 mg mm-2.
Como forma de elucidar os resultados foi realizado o controle negativo, dessa forma comprovou-se que o solvente utilizado nas diluições não interferiu nos resultados obtidos, uma vez que não produziu halos de inibição, demonstrando que o solvente (etanol 70%) não influenciou na formação do diâmetro de inibição produzido pelo extrato.
A T. catharinensis é uma planta medicinal conhecida pela composição rica em alcalóides indólicos. Os alcalóides derivados de metabólitos secundários possuem várias atividades biológicas, podendo até reverter o mecanismo de múltipla resistência a drogas em microrganismos (Prado et al., 2008).
Os alcalóides indólicos isolados de Aspidosperma marcgravianum mostraram atividades antimicrobiana e citotóxica, enquanto aqueles isolados das cascas das raízes de Aspidosperma excelsum Benth apresentaram atividade antimicrobiana frente a Bacillus subtilis e Staphylococcus aureus, sendo ambas espécies da mesma família da T. catharinensis (Pereira et al., 2007).
A produção de alcalóides indólicos representa os metabolitos secundários que a planta produz, sendo típico das espécies da família Apocynaceae, os alcalóides são derivados de aminoácidos aromáticos (triptofano, tirosina), os quais são derivados do ácido chiquímico, e também de aminoácidos alifáticos (ornitina, lisina) (Peres, 2004).
Segundo Bezerra (2008), a presença dos alcalóides na espécie Piptadenia stipulacea foi o responsável pela inibição das cepas dos microrganismos S. aureus e P. aeruginosa, demonstrando maior sensibilidade ao extrato etanólico obtido da planta em questão, sendo realizados testes com antibióticos comercialmente produzidos como no caso da vancomicina, onde os efeitos obtidos foram superiores ao do extrato da planta.
CONCLUSÃO
Este trabalho comprovou a atividade antimicrobiana in vitro do extrato de Tabernaemontana catharinensis de maneira dose-dependente frente aos microrganismos Staphyloccocus aureus e Pseudomonas aeruginosa. Além disso, em comparação com a atividade antimicrobiana do antibiótico ceftriaxona sódica, o extrato da planta demonstrou-se eficiente. É possível atribuir a formação dos halos de inibição à presença dos metabólitos secundários presentes na espécie T. catharinensis. Porém, outras pesquisas devem ser realizadas para confirmar a ação da planta no combate a outros tipos de microrganismos, e um número maior e mais representativo de cepas, isolado de diversos pacientes e ambientes, devem ser testados em futuros trabalhos. Além disso, deve-se realizar a separação dos constituintes da planta por meio de cromatografia, e testar a ação antimicrobiana de cada constituinte para confrontar com os resultados obtidos pelos autores acima descritos quanto aos alcalóides indólicos e identificar outros compostos responsáveis pela atividade de inibição do crescimento dos microrganismos, ou ação antiofídico, como expressado por "raizeiros", e por pessoas que fazem uso do látex para fins medicinais.
Recebido para publicação em 19/08/2009
Aceito para publicação em 23/09/2010
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
02 Ago 2011 -
Data do Fascículo
2011
Histórico
-
Recebido
19 Ago 2009 -
Aceito
23 Set 2010